Episode Transcript
[00:00:00] Speaker A: Anos dos 30 é um podcast do Automóvel Clube Portugal que pretende dar a conhecer jovens talentos que se destacam nas mais diversas áreas da sociedade. Esta série tem o apoio da Ibanez.
Sejam muito bem-vindos a mais um podcast do Automóvel Clube Portugal. Eu sou o Francisco Gonçalves e hoje temos um convidado com uma profissão muito específica.
Diogo Desiderio é religueiro e é o mais jovem e o com o maior nível de formação técnica em Portugal. Diogo, antes de mais, muito obrigado por teres vindo cá hoje e vamos começar pelo início. Como é que começou este interesse pela religuaria e como é que esta paixão nasceu?
[00:00:38] Speaker B: Primeiro desde já, muito obrigado pelo convite. É uma honra estar aqui. Como é que tudo começou? Muito honestamente, começou desde que eu era mesmo, mesmo muito miúdo. Ou seja, eu sou o filho, provavelmente, do rolojoeiro mais importante de Portugal.
Essencialmente, quando o meu pai voltava do trabalho, eu sempre fui um miúdo muito curioso. E no fim do dia, quando os nossos pais falam das peripécias do dia a dia, eu fui sempre perguntando, porque raio que o meu pai estava meio mal-humorado ou chateado com uma máquina de um rolojo, e sempre perguntei a todos os detalhes, sempre acompanhei o meu pai às férias de relogioria, sempre tive a curiosidade em perceber quais é que eram os modelos novos que saíam, porque fazia parte do trabalho dele, não é? E à medida que fui crescendo, quando entrei no décimo ano, tirei um curso técnico, um curso profissional técnico de relogioria, e pronto, essencialmente o plano dos meus pais era Eu atravessei ali uma fase que não era assim o melhor aluno, digamos.
E o plano dos meus pais era, vais tirar um curso de técnico de relogioria como o teu pai e no futuro, quando ingressares na faculdade, caso não consigas ter uma carreira de sucesso ou algo que te faça feliz, te encheva aqui uma porta de entrada na relogioria.
Mal sabia eu que aos 16 anos, já no último ano do meu curso, foi quando abrimos a ERPN, a minha empresa, nossa empresa familiar, e foi no último ano que eu aos fins de semana já acompanhava o meu pai no ateliê para fazer companhia e para ir a entender mais ou menos no que é que consistia. E em boa verdade foi quando me deparei com a realidade de todo o esforço que os meus pais faziam para me dar a qualidade de vida que eu tinha, que me apercebi que achava que havia aqui uma missão a cumprir, e foi depois de concluir o curso que então comecei a trabalhar.
[00:02:27] Speaker A: E se existir alguma dúvida de que não poderia ser algo de sucesso, vocês representam nove marcas de destaque. Podes só dizer-nos quais são?
[00:02:36] Speaker B: Sim, nós representamos a Ebel, Cartier, IWC, Montblanc, Frédéric Constant, Bois MMRC, Panerai, Jaeger LeCoultre. Faz pergunta, já a falhar aqui nenhum.
[00:02:48] Speaker A: Não são marcas para um jovem... Ou seja, a responsabilidade de trabalhar com estas peças é muita, principalmente para alguém tão jovem, não é?
[00:02:58] Speaker B: Sim, ou seja, eu creio que... Ou seja, essencialmente estas marcas atribuem a representação técnica oficial normalmente a empresas que estejam diretamente associadas para quem vende os relógios novos. Ou seja, para termos a distribuição de uma marca destas num país temos que obrigatoriamente ter uma assistência técnica. E muitas destas grandes empresas criam outras empresas de assistência técnica. E o que acabou por se passar aqui foi O meu pai, como foi o responsável do serviço de pós-venda do grupo Richemont, que é proprietário de muitas das marcas que eu mencionei aqui, não todas, mas a grande maioria, quando abrimos o ateliê, o meu pai propôs ao grupo, porque essencialmente houve um despedimento coletivo, o grupo Richemont achou que não fazia sentido a determinado momento.
gestões de grandes empresas e de grandes grupos que um dia faz sentido, no dia a seguir deixa de fazer. Houve um despedimento coletivo, acharam que tinha que ser tudo tratado a partir de Espanha e pronto. E o meu pai teve aqui duas situações. Ou trabalhava por conta própria, ou ia trabalhar para uma outra empresa. E como o meu pai sempre sentiu que esta profissão nunca foi bem valorizada, essa foi uma das grandes missões da ERPN, foi elevar o nível qualitativo da Revolucionária de Portugal e trazer dignidade à nossa profissão.
as pessoas que trabalham nesta área terem orgulho daquilo que fazem.
E pronto, e essencialmente, nesta altura do campeonato, o meu pai propôs ao Grupo Richemont ter a representação e tinha-lhe dito que ele tinha que fazer um refresh, ou seja, refazer as formações todas.
E a dado momento, é uma história curiosa, que não houve nenhuma data selecionada, apareceu um técnico vindo da Suíça que entrou na loja e disse que ia fazer uns exames.
E o meu pai, na altura, não me tinha bem explicado qual é que era o modo desoperante da coisa.
E o meu pai estava ocupado com um cliente, não podia mesmo falhar. E entretanto, eu disse, e se eu fizer os testes? E o homem ficou a olhar para mim e disse, mas te esquivavo. Eu na altura tinha 23 anos, mais ou menos. E o homem meio que não ia ficar ali especado a olhar para mim. Pronto, efectuou-me os exames. E eu passei aos exames todos.
e fui chamado à Suíça para a primeira formação, nesta vez foi à Cartier, e fiz não só a formação de rojoeiro como fiz a formação de polidor.
Fiz as duas num só que é um bocadinho atípico, ou seja, Os rolujoeiros, dada, digamos, a experiência com trabalhos manuais, têm mais facilidade em fazer trabalho de polimento. Mas polimento e rolujoeiro são duas profissões completamente distintas, apesar de andarem de mãos dadas.
E o que aconteceu foi, normalmente, quando se efetua uma formação destas, existe um período experimental de um ano e meio para perceberem se nós nos estamos a ambientar bem com a assistência técnica. E a Cartier, sendo uma marca, não vou dizer, menos exigente em termos técnicos, O que acabou por acontecer é que eu passado um ano e meio deveria fazer uma formação noutra marca e o que acabou por acontecer é que com o feedback que eles receberam da marca da Cartier fui chamado para outras e em 4 anos fiz 15 formações.
[00:05:53] Speaker A: Foste sendo cada vez mais especializado.
[00:05:55] Speaker B: Por ser tão novo.
[00:05:57] Speaker A: Exatamente.
Com 23, 24 anos.
[00:06:00] Speaker B: Sim, foi quando comecei.
[00:06:02] Speaker A: Explicando, até para o nosso público que está a ver e que pode ser mais leigo na área dos relógios, a assistência que vocês fazem não é trocar pilhas, vai muito para além disso, não é?
[00:06:15] Speaker B: Porque eu digo isso na brincadeira. As pessoas perguntam-me, mas o que é que tu faz assim? Mas tu queres a versão do LinkedIn? Ou queres a versão postensa?
[00:06:23] Speaker A: O que é que distingue basicamente uma peça de alta reluzbaria de um relógio tradicional típico?
O que é que dá tanto valor a certas peças?
[00:06:34] Speaker B: Ou seja, aqui há vários segmentos na relogeria e existem pelo menos dois termos que muitas vezes muita gente faz confusão, que é um relógio de luxo e um relógio de alta relogeria.
Um relógio de luxo normalmente está associado ao valor. Ou seja, pode haver um relógio todo em ouro que tem um valor muito elevado e é um relógio de luxo.
[00:06:56] Speaker A: Alguma marca que se caracterize por relógios de luxo?
[00:06:59] Speaker B: Muitas, muitas marcas. A maior parte das empresas de alta luxuria, ou seja, um relógio de alta luxuria é um relógio de luxo, mas um relógio de luxo pode não ser um relógio de alta luxuria.
E portanto, depende um bocadinho do segmento, ou seja, normalmente os relógios vão a sério, entre aspas, usando assim uma linguagem um bocadinho mais rápida. Os relógios mais a sério são relógios mecânicos, 100% mecânico, tal como funcionava o relógio dos nossos avós.
E o que é que acaba por acontecer aqui? São marcas muitas vezes centenárias, com várias complicações a nível técnico.
digamos que é o pico da engenharia micromecânica, só que muitas das vezes as pessoas acabam por ter aquela opinião de, mas uma telefone também dá horas, portanto, porquê? Só que no caso dos relógios, especialmente da alta relogeria, obviamente que o primeiro propósito não é ver as horas, basicamente é uma peça de arte que conseguimos usar no pulso.
Essencialmente é isso.
[00:07:53] Speaker A: Exatamente. Perfeito. Não conseguiríamos ter aqui uma explicação melhor. Por ser uma profissão tão específica e tão rara, se quisermos, acabas por trabalhar com a polícia judiciária para ajudar a descobrir relógios roubados. Como é que esse processo começou e qual é a tua função no meio desse processo?
[00:08:18] Speaker B: Ou seja, nós no nosso ateliê tentámos sempre munirmos do máximo de ferramentas para sermos o número um em tudo, não é? E cá em Portugal acaba por acontecer algo...
No meio da lei há ali uma lacunazinha que é misturam muito metais preciosos com relógios. Ou seja, o relógio, apesar de ser feito de muitos deles de metais preciosos, não é vendido, ou seja, o seu preço não se deve exclusivamente ao metal precioso, mas sim a um todo, a uma peça num todo.
Mas segundo a lei portuguesa não faz bem essa distinção.
E, por causa disso, nós, no nosso ateliê, tornámos-nos avaliadores oficiais da Casa da Moeda e, por causa disso, numa determinada ocasião, a polícia judiciária veio ter connosco porque apreendeu uns quantos relógios de uma pessoa que não praticou bem e, entretanto, eles estavam a ter dificuldade em arranjar técnicos que conseguissem fazer a apreciação da peça.
[00:09:13] Speaker A: Neste caso...
Desculpe-me, Roberto, ou até mesmo perceber se há uma falsificação ou não, porque acredito que seja muito comum e que seja difícil distinguir.
[00:09:21] Speaker B: Exatamente. Neste mercado, com o nível das contrafações, já tens um nível tal que, sabermos apenas as referências, conseguirmos olhar e entender que, dar um exemplo de uma marca mais fácil de identificar, por exemplo um Rolex, nós percebemos, certo, se aquele relógio nunca foi feito com um mostador vermelho, se tiver um mostador vermelho, nunca foi feito, é uma contrafação. Agora, no nível que as contrafações começam a aparecer cada vez com mais frequência, ou somos um técnico de um determinado nível qualitativo e que trabalhamos com este género de máquinas no dia-a-dia, se não for nestes parâmetros, não conseguimos ver. E, portanto, a Polícia Judiciária, inclusive, foi ao distribuidor da marca, eles recusaram-se a fazer esta apreciação e foi quando nos contactaram. Daí então fizemos uma parceria, com todo gosto, porque o nosso objetivo também é ajudar a entidade que previne, porque o comércio de contrafações é crime, não é? E, portanto, queremos sempre ajudar a entidade que vai limitando cada vez mais o comércio deste tipo de peças.
[00:10:20] Speaker A: E é um trabalho recorrente?
[00:10:23] Speaker B: Sim, sim, sim. Ou seja, depende um bocadinho do volume. Eu até agradeço quando eles não aparecem com tanta frequência, que é bom sinal. Mas talvez, pelo menos uma vez por mês, garantidamente que sim.
[00:10:35] Speaker A: Voltando à questão técnica, vocês fazem reconstruções de relógios. Quais são as maiores dificuldades em arranjar peças? Como é que esse processo ocorre?
[00:10:46] Speaker B: Ou seja, na relogiaria, fazendo aqui, já que estamos na ACIP, acho que encaixa aqui tem uma luva, existe uma noção de que os relógios são muitas vezes equiparados aos carros em termos de mecânica. Eu não sou mecânico de automóveis, mas sou de relógios e, portanto, sei que, vamos supor, eu se quiser fazer a manutenção ao meu automóvel, eu sabendo a referência da peça, posso ir diretamente à marca e pedir uma peça e comprá-la. Pronto, depois eu faço bem a manutenção ou não, isso já é um problema meu. No caso da rujoria, não. As marcas suíças, especialmente, criam ali um género de um monopólio que todos os dias dá problemas a nível internacional, porque a única maneira de obter peças é ter a distribuição oficial das marcas, tal como nós temos destas nove. E o que acaba por acontecer é que um técnico que esteja habituado a trabalhar nestas marcas, estas empresas normais de assistência técnica, estão habituados a quê?
ao mínimo problema, vamos trocar esta peça, a outra, a outra, a outra. E o que há por acontecer é que vão-se desenvolvendo não relogioeiros, não técnicos de relogioria, mas sim trocadores de peças.
[00:11:54] Speaker A: Substituição de peças.
[00:11:54] Speaker B: Exatamente. Ou seja, desmontam e montam o relógio e se por alguma razão o relógio não funcionar, eles não vão procurar onde é que está o problema. Não vão procurar saber a origem do problema. Nada disso. E o que há por acontecer é que quem não tem a assistência técnica oficial destas marcas, que são muito, muito poucos, somos nós e provavelmente mais duas ou três empresas aqui em Portugal, especialmente deste nível, vão ter muita dificuldade em fazer a manutenção. E portanto, o que é que consiste uma manutenção como nós fazemos no nosso ateliê? Vai variar um bocadinho de relógio para relógio, porque um relógio moderno não requer o género de... não requer de uma manutenção tão extensa como um relógio vintage, e depende também das complicações e do problema que o relógio tem, obviamente. Mas de um modo geral, um relógio é desmontado na íntegra. Eu acho que isso é, digamos, uma noção um bocadinho errada. As pessoas acham que nós tiramos o movimento da caixa, colocamos um bocadinho de óleo, superamos um bocadinho e fazemos magia. Mas não. Todo o relógio, desde bisel, bracelete, vidro, juntas, tubo, coroa, tije, Desmonte-se tudo, o movimento desmonte-se na íntegra.
Todas as peças sofrem uma pré-lavagem, em que limpamos em benzina limpa, com um pincel. Todos os furos são palitados com um palito. E vai-se descobrindo qual a origem do problema à medida que se desmonta. Pois ao montarmos, todas as peças são individualmente lubrificadas. Em determinados relógios chegamos a ter 10 lubrificantes diferentes, com base na sua função e desempenho.
E o que há para acontecer é que temos que ter cuidado a descobrir os problemas antes, porque uma vez montando e lubrificando, se desmontarmos temos que limpar.
tudo novo e, portanto, é um processo um bocadinho mais trabalhoso do que muitas pessoas assumem que é.
[00:13:34] Speaker A: Então, integralmente, o relógio é totalmente desmontado?
[00:13:36] Speaker B: Sim, todos. Mesmo uma manutenção. Ou seja, aquilo que as pessoas chamam, por exemplo, aos automóveis, uma daquelas manutenções que é a troca do óleo e dos filtros, no caso da relogeria, é sempre desmontar o relógio.
[00:13:46] Speaker A: É sempre um restauro total se quisermos passar para o lado dos automóveis.
Essa tendência de trocar as peças é uma tendência mais atual? Não, não, não.
[00:13:56] Speaker B: É uma coisa... Ou seja, é um...
[00:13:59] Speaker A: A substituição de peças, por acabar por ser mais fácil, acredito, do que estar a tentar reparar.
[00:14:06] Speaker B: Sim, ou seja, porque vem mesmo diretamente das fábricas, portanto nós não nos podemos esquecer que a relogeria e a alta relogeria contribui imenso, neste caso, na Suíça, é uma indústria de renome, e nas próprias fábricas, culturalmente é muito diferente de Portugal, ou seja, os jovens, à medida que vão estudando, vão fazendo vários estágios nas várias marcas e fábricas de relogeria, e podem muitas das vezes ir começando a tirar o curso de relogeria, que é oferecido pelas marcas, e no caso de quererem ingressar na faculdade, as próprias marcas investem nos alunos para depois, quando voltarem para as fábricas, terem lá o seu posto.
E muitas das vezes acaba por ser mais fácil fabricar muito mais componentes e na eventualidade haver um problema trocar por uma peça nova.
do que estar a formar malta, porque nós não nos podemos esquecer que isto é uma profissão que tem como base o trabalho manual.
E muitas das vezes uma pessoa muito nova requer um investimento muito grande, de muitos anos, para conseguir ter, digamos, ser um mestre da profissão.
Acaba por ser muito mais fácil trocar os componentes, só que vai-se desenvolvendo esta cultura da troca de peças e esta profissão de técnico, de rogadoria mesmo, vai-se perdendo cada vez mais.
[00:15:21] Speaker A: Diogo, como é o dia-a-dia do Diogo Desiderio? Quais são as ferramentas essenciais para um dia de trabalho?
[00:15:29] Speaker B: O meu dia-a-dia é um bocado aquela filosofia de é mais do mesmo, mas todos os dias diferente.
Ou seja, responder a muitos e-mails, muitas propostas de compra e venda de relógios. Nós também nos dedicamos à compra e venda de relógios, de alta relogeria em segunda mão.
Mas no que toca a assistência técnica, muitos orçamentos. Ou seja, a minha vida é cabeça na bancada, pecinhas para frente e para trás. E em termos de ferramentas, por acaso usamos muitas, muitas, muitas ferramentas. Ou seja, em termos de pinças, temos vários, com pontas de madeira. Eu uso, pode-se usar uma pinça de aço inoxidável, eu uso mais de níquel por uma questão de utilização. Tem sempre diferenças.
[00:16:08] Speaker A: Estamos a falar de coisas microscópicas.
[00:16:10] Speaker B: Sim, sim, sim.
[00:16:11] Speaker A: Praticamente, não é?
[00:16:12] Speaker B: Ou seja, aquilo que tradicionalmente seria um parafuso muito pequeno para a maior parte das pessoas, para nós é um parafuso enorme. Estamos a falar de termos, chegamos a ter parafusos. E não, estamos a falar dos mais pequeninos, que são centésimos de milímetro.
É mesmo uma coisa que, por vezes, nós, na brincadeira com os clientes, posamos o parafuso e dizemos, olha, está aqui um parafuso e o som é doido.
[00:16:32] Speaker A: Mas tem que utilizar lupas lentes.
[00:16:35] Speaker B: Nós usamos três tipos de lupa.
A primeira lupa que se usa vai depender um bocadinho do gosto pessoal.
Pode-se usar duas vezes e meia, que é o que eu utilizo, ou quatro vezes, ou cinco vezes. E depois temos a de 10 vezes e 12 vezes e meia. A de 12 vezes e meia é meio que um microscópio, só que por vezes o microscópio ocupa muito espaço na oficina, nós temos dois, para fazer outro tipo de testes, mas a de 12 vezes e meia cabe para ser mais prática e ver-se mesmo muito ao detalhe.
[00:17:03] Speaker A: Então ferramentas indispensáveis, pinça... Temos tanto.
[00:17:06] Speaker B: Temos pinça, temos uma peça que nós chamamos que é a ponta de apoio, essencialmente se formos destros é a mão esquerda do rolojoeiro, se formos cadernos é a mão direita do rolojoeiro, que serve essencialmente para encaminhar algumas peças na montagem, servir de apoio, depois temos um conjunto de chaves, Chaves essas que, para quem não está habituado, são chaves muito, muito, muito pequeninas mesmo. E depois temos várias ferramentas que vamos usando no dia-a-dia. São muitas mesmo. Os oleadores para lubrificar, um rodículo para limpar, dadeiras, que são, digamos, para termos mais facilidade se na eventualidade de virarmos o movimento ao contrário no suporte das máquinas, não ficarem as dedadas, qualquer dada. Ou seja, o nosso suor em contacto com o metal cria oxidação. Portanto, é evitar ao máximo tocar com as mãos. Ao mínimo toque tem que se limpar.
[00:17:53] Speaker A: Ou seja, perto da reluzaria, o restauro de um automóvel torna-se muito mais simples e claro.
[00:17:58] Speaker B: É um trabalho mais clean.
[00:18:01] Speaker A: Falando agora do mercado luxo e dos relógios como investimento.
Na opinião do Diogo, quando vai continuar a ser um bom investimento, os relógios estão sempre a valorizar.
Quais os modelos a procurar para investir?
[00:18:16] Speaker B: O investimento na relogiaria acho que cadece numa explicação um bocadinho mais tensa, ou seja, se formos ver o investimento como uma definição, vai ser uma definição mais corrente, essencialmente neste caso é um investimento de dinheiro, com vista numa futura valorização. O que há para acontecer nos relógios, de uma forma geral, é que quando passa no mercado dos novos para os usados, nesta transição, é onde existe a maior desvalorização.
e todos os anos as marcas aumentam o valor do preço novo dos seus produtos e o mercado dos usados acompanha. Portanto, é muito comum, de uma forma geral, neste mercado, nós adquirirmos um relógio com base no nosso gosto, se o utilizarmos durante 5 ou 10 anos, passados estes 5 ou 10 anos, se formos ver o valor de mercado, praticamente que se manteve. Obviamente que, se nós formos vender a uma empresa revendedora como nós, Nós vamos ter que ter a nossa margem, temos encostos para pagar, faturas a passar, garantias, etc. E pronto, a pessoa, no fim disto tudo, pode acabar a perder um bocadinho de dinheiro. Mas do ponto de vista de eu adquirir um produto que usei livremente durante 5, 10 anos e quando o fui vender mantive o meu valor, para mim é um investimento. Agora, vai depender.
O que é que acaba por acontecer, e isto é uma das tendências que se instalou, que alterou um pouco o mercado. Que é o quê? Foi um pouco antes de situação Covid, não é? Muitas pessoas começaram a despertar para os relógios. Nomeadamente instalou-se a tendência dos relógios desportivos, ou seja, relógios normalmente em aço, metal não precioso, todos em aço ou com pulsar em borracha, muito mais versáteis. em vez de a pessoa ter 5, 6 ou 7 tinha apenas 1, dava mais ou menos para tudo. E foram se informando e foram descobrindo que os relógios de luxo e alta luxuria não nasceu ontem. Muitas marcas são centenárias.
E hoje em dia, ter apenas um produto vistoso, um produto bonito ou um produto com qualidade não chega. Muitas vezes o que vende é heritage, a história. É o mesmo que os carros.
Por isso é que há determinadas marcas como temos a Porsche, a Ferrari. Basta mencionar ou não, não é preciso haver introduções. E na relogia também existem essas marcas. Agora, esta relogia mais virada para o investimento era um bocadinho um nicho e acabou por deixar de o ser. Ou seja, o all-of-odd virou-se para a relogia e o relógio deixou de ser apenas um bem de luz, que muitas vezes era visto como luz meio que superficial e passou a ser uma currency, uma moeda de troca, não é?
E o que acabou por acontecer é que ao desconfinarmos, as pessoas foram às lojas para adquirir e muitas destas marcas não tinham e não têm o volume de produção anual dada a procura que se instalou.
E o que nós assistimos e que teve o pico ali mais ou menos em 2021, 2022, foi que determinados relógios de algumas marcas, ao comprarmos novos na loja, Estamos a falar tudo de relógio na casa das dezenas de milhares. Ao sairmos valiam 3, 4 vezes.
E muitos negócios começaram com base no comércio, especificamente Rolex. Porque ao se ter instalado esta trend de relógios desportivos, Rolex é provavelmente das únicas marcas que produz quase na íntegra relógios desportivos. Portanto, foi uma trend que encaixou que nem uma luva. As pessoas quem tinha acesso comprava o relógio novo, assim que saiam conseguiam lucrar uns quantos milhares de euros. E tentou-se perpetuar isto. E, portanto, o que se instalou foi, e uma das tendências que se alterou muito, e isto vai um bocadinho de acordo com aquilo que me estava a perguntar sobre a questão do investimento, que é, na tomada da decisão da aquisição de um relógio, o mais importante passou a ser o lucro que advém da revenda deste produto e não o meu gosto pessoal.
e o que é que é para acontecer? Muitas pessoas pensaram que eu não vou comprar um relógio em segunda mão se não for para ganhar dinheiro, quando na verdade isto é uma exceção à regra.
Muito provavelmente não é o meu mercado, mas fazendo sempre aqui um paralelo com os automóveis, para nós conseguirmos adquirir um automóvel que tenha história, tenha importância no mercado e que vá valorizando ao longo dos tempos, Há sempre ali um valor de investimento inicial muito elevado porque há aqui uma quantidade de fatores que são determinantes e que na lujoria só algumas marcas é que os têm e só algumas marcas é que produziam este género de bens.
[00:22:27] Speaker A: Tiogo, já que estamos a falar de automóveis, sabemos que no mercado dos automóveis certos modelos que saem são específicos e que os clientes têm de estar numa lista de espera para os receber e que quando os recebem, se os venderem, podem lucrar, tal como no mercado dos relógios, mas podem sofrer algumas repercussões do género.
[00:22:47] Speaker B: Ferrar a lista negra.
[00:22:48] Speaker A: Exatamente, pronto. Basicamente era isso que eu queria saber, porque nós sabemos que existem algumas condicionantes no mercado dos relógios e também acontece.
[00:22:56] Speaker B: Sim, ou seja, aqui em Portugal acaba por ser um bocadinho uma exceção porque estas marcas de topo normalmente não têm um distribuidor, têm a sua própria boutique diretamente nos grandes capitais. O que acaba por acontecer é que as pessoas entram para terem acesso, digamos, ao Holy Grail, como se costuma dizer, há uma prática que Em boa verdade eu também não concordo, mas parece que as marcas forçam os clientes a adquirir 5, 6, 7 produtos, dependendo da marca, que não são bem aquilo que nós queremos, não é bem o produto que nós procuramos, mas vamos em busca daquela tal peça que desejamos ter.
E sim, o que há por acontecer é se tivermos acesso hoje em dia às plataformas internacionais.
As pessoas conseguem se saber muito rápido se o relógio foi vendido e a quem e por quanto e etc. E no caso de vendermos uma destas peças, que foi muito complicado de se conseguir, ficamos na lista negra. Mas pronto, em determinados aspectos, vendendo essa peça, a pessoa fica ali com uma pequena reforma garantida.
[00:23:54] Speaker A: Diogo, aproveito para perguntar. Nos últimos 10 anos assistimos a um fenómeno que foi a ascensão dos smartwatch.
Se quiser acabar a conversa aqui, podemos acabar já porque acredito que existe algum sentimento negativo faça um smartwatch. Como é que vocês encaram esta nova tendência de relógios?
É algo que possa ter algum futuro? Existem modelos especiais dentro destes relógios digitais?
[00:24:19] Speaker B: Vou tentar ser o mais transparente possível aqui, ou seja, para quem trabalha nesta área, o smartwatch nós não consideramos bem um...
pode-se dizer que é um concorrente direto, porque muitas pessoas que nós vemos, até clientes que têm peças muito, muito boas, no dia a dia acabam por usar um smartwatch. Porquê? Porque tem todo um conjunto de funções que um relógio mecânico não tem, obviamente, não é? Agora, nós olhamos para o smartwatch como um device e não tanto um bem como o relógio. Muitas pessoas, no segmento daquilo que eu tinha dito há bocado, muitas pessoas chegavam-me por dizer, pois ok, mas horas todos os outros relógios dão.
A questão é que, neste segmento da alta relogiaria, as pessoas não adquiriam o relógio para ver horas.
É muito mais do que isso, não é? E aí o smartwatch cai por ser um gadget. Agora, se podemos dizer que um smartwatch roubou mercado à relogiaria mais tradicional, sim, creio que sim. Malta jovem que começou a despertar para os relógios, muitas das vezes na tomada de decisão daquela gama de entrada ali até vá, até ali aos mil euros, aqueles produtos da relogiaria suíça, etc.
Estamos a falar que nesta fase da sua vida é um investimento financeiro muito grande e por vezes, em vez de tomarem a decisão de comprar um tissu ou algum gin que depois vai estimulando o bichinho e se calhar daqui a 5 ou 10 anos vão adquirir uma outra peça, se calhar ficam-se pelo smartwatch porque desempenha uma...
é muito mais funcional e prático para o seu dia-a-dia e vai roubar uma clientela. Agora, o smartwatch é uma realidade que nós vamos ter que saber viver com ela e até agora Estamos perante a altura em que nunca se vendeu tantos relógios de alta velocidade e de luz. Portanto, é um concorrente direto, mas não creio que...
[00:26:04] Speaker A: Não ameaça...
Não é sequer um...
Pois, acaba por nem ser um concorrente.
[00:26:09] Speaker B: Sim, vai sempre roubar alguma clientela, porque as pessoas, na tomada de decisão, como eu estava a dizer, muitos têm ambos. Portanto, vai sempre roubar um bocadinho de clientela, mas nada assim de trágico.
[00:26:19] Speaker A: Se houvesse um relógio que eu pudesse escolher para a sua coleção, qual seria?
[00:26:28] Speaker B: É pá, essa é daquelas perguntas que.
[00:26:31] Speaker A: Não é escolher um filho favorito, mas é algo idêntico.
[00:26:35] Speaker B: Dentro da relogia existem vários segmentos e para quem trabalha com esta relogia mais de topo há determinadas marcas que nos fascinam pela parte técnica, pela exclusividade e uma coisa que eu tenho vindo a desenvolver cada vez mais no meu gosto é a descrição. São relógios que No dia-a-dia as pessoas acabam por nem saber o que é, não se apercebem, só nós é que sabemos e de repente vamos escolher um maluquinho que sabe o que é e bem, faz-se ali uma festa. Pessoalmente gosto muito de uma marca que é um bocadinho de nicho, que é FP Journ, uma marca que tem uma produção anual muito, muito, muito reduzida, fazem relógios Podem ser complicados, mas eu pessoalmente gosto de complicações que sejam utilizáveis. Portanto, um relógio simples, com reserva de marcha, que é como se fosse o ponteiro do combustível do carro, que permite-nos ver quanta energia o relógio tem.
As máquinas, que são das poucas marcas que a máquina é toda feita em ouro 18 quilados. Portanto, mesmo na montagem do relógio, na concessão do relógio, É preciso ser um técnico muito experiente para conceber e para montar um relógio todo daqueles na perfeição. E depois estamos a falar que é provavelmente top 3 das marcas mais exclusivas do momento. É mesmo muito difícil ter acesso a comprar um relógio desses novo.
Assim que saímos da loja são valores pornográficos e efetivamente são relógios discretos que a pessoa pode usar e é sempre uma moeda de troca e um ótimo investimento.
[00:27:57] Speaker A: Que conselho é que, para alguém que nos esteja a ouvir e que tenha paixão pela área, que conselho é que o Diogo pode dar sobre como é que se pode entrar no mundo da relojoaria?
[00:28:11] Speaker B: Se for do ponto de vista de quem quer comercializar ou...
[00:28:14] Speaker A: Profissionalmente, exatamente.
[00:28:16] Speaker B: A relojaria, ou seja, se nós nos focarmos em marcas como a Rolex e assim, obviamente que tem que haver o conhecimento básico da relojaria, os modelos, a importância dos modelos, onde investir, etc.
ter algum dinheiro, obviamente que estamos a falar de investimentos já assim um bocadinho mais a sério. Agora, a relojaria tem como base a técnica seja um produto mais simples ou mais complicado, mais desportivo, mais clássico, vintage ou moderno, tem como base a técnica. E o que acabou por acontecer no mercado foi abrir-se muitos negócios de comércio de Rolex e o que acabou por acontecer é que Quando o relógio dá algum tipo de problemas, não existe uma garantia original, ou seja, verdadeira. Não sabem como solucionar os problemas, não sabem a quem ir, etc. E portanto, para se ter sucesso nesta área, tem que haver um domínio completo da vertente técnica, que é uma coisa que é cada vez mais rara.
[00:29:10] Speaker A: Pois, exatamente.
Por fim, vamos deixar aqui uma questão que é como é que o Diogo vê o futuro da relógia em Portugal e qual a função do Diogo neste legado?
[00:29:24] Speaker B: O futuro, ou seja, um bocadinho em sequência do que eu acabei de falar, de terem aberto muitos negócios de comércio de relógios, pessoas que muitas das vezes não têm sequer empresa, têm algum dinheiro, têm clientes a quem entregar as peças, tiveram acesso e têm acesso a algumas peças.
[00:29:40] Speaker A: E que o fazem como hobby?
[00:29:42] Speaker B: Mais ou menos. Mais ou menos. Ou seja, muitos deles ao longo da vida conseguiram ganhar algum dinheiro com este negócio e vão tentando perpetuar. Só que o que acaba por acontecer é que este mercado é cíclico.
Estes maluquices de valores que nós temos vindo a assistir têm acalmado. Pode às vezes passar a impressão de que os ROJs estão a desvalorizar, mas não, são mercados cíclicos. E quando tudo se talizar, não vai haver apenas uma marca. As marcas que cometeram erros no passado estão agora a tomar as decisões mais acertadas.
vão ganhar, outras marcas vão ganhar muita força, vai haver. Na verdade há sempre mercado para todos, desde que as pessoas sejam profissionais e sérias e a concorrência é uma coisa muito saudável. É aí que é um bocadinho no sucesso dos outros começamos a ver o que nos falta.
E pronto, no futuro acho que as lojas que vão vender este género de produtos vão ser um bocadinho mais limitadas, com mais competências, mais séries.
e o meu papel nisto tudo sou uma pessoa muito jovem Nenhuma das missões da ERPN, mais uma vez, foi trazer dignidade à nossa profissão.
Creio que elevámos o nível de alta do relógio IK em Portugal, ou seja, existe muito esta ideia de que um relógio, para ser bem reparado, pelo menos nesta indústria, tem um serviço para ser bem feito, o relógio tem que ir à Suíça. E muitas vezes esquecemos que a probabilidade, e é uma coisa curiosa, quando eu comecei a ir à Suíça, de dizerem que, vai, curiosas pessoas ficam com uma imagem da Suíça, mas a probabilidade de um relógio sair de Portugal para ser reparado na Suíça e ser reparado por um português, é muita!
E portanto, desde muito cedo que eu uni todas as ferramentas, fui aprender inglês, fui aprender francês, desenvolver o social media da minha empresa, entrena Forbes.
Acho que tenho desempenhado um papel fundamental.
Neste caso, bring awareness nesta profissão e todo o potencial e toda a beleza e a história que está por trás desta profissão. E, essencialmente, o nosso objetivo é ser, inquestionavelmente, o número 1 de assistência técnica em Portugal.
E, mais uma vez, para quem quiser comprar uma peça em que está 100% em condições, 100% verificada, tudo como deve ser, com uma garantia como deve ser, que venha à RPN falar com o Diogo.
[00:31:57] Speaker A: A RPN tem uma página de Instagram?
[00:32:00] Speaker B: Sim, essencialmente a nossa página de Instagram. Eu faço conteúdo maioritariamente em inglês para atrair um público um bocadinho mais internacional. Onde acabo por fazer reviews um bocadinho diferentes de peças. Tento explicar o que é que é tecnicamente muito complexo de uma forma um bocadinho simples e didática. E pronto, tento explicar um pouco de todo este mundo da relogiaria para os amantes e entusiastas desta área.
[00:32:24] Speaker A: Diogo, muito obrigado por esta verdadeira aula de relojoaria, uma profissão muito diferente e que felizmente está a ter um legado com jovens no nosso país. Obrigado também a quem nos teve a assistir e já sabem, se quiserem ver este ou outros podcasts, podem entrar no site do Automóvel Clube Portugal ou nas redes sociais como o Spotify ou o Apple Podcast. Muito obrigado, Diogo.
[00:32:47] Speaker B: Obrigado, Leo.
[00:32:48] Speaker A: E muito obrigado a quem nos assistiu.