"Viajar é para Todos": Mónica Rodrigues e a coragem de adaptar os sonhos

Episode 81 June 11, 2025 00:24:32
"Viajar é para Todos": Mónica Rodrigues e a coragem de adaptar os sonhos
ACP - Automóvel Club de Portugal
"Viajar é para Todos": Mónica Rodrigues e a coragem de adaptar os sonhos

Jun 11 2025 | 00:24:32

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Show Notes

Neste episódio do podcast "Viajar é para Todos", Sofia Martins entrevista Mónica Rodrigues, fotógrafa, designer e amante de viagens, que partilha a sua inspiradora história de superação após o diagnóstico de esclerose múltipla.

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Episode Transcript

[00:00:02] Speaker A: Viajar é para todos é um podcast do Automóvel Clube Portugal que vem mostrar que viajar é mesmo para todos, independentemente das condições e características de cada um. Eu sou a Sofia Martins, sou autora do blog Just Go By Sofia, Sou paraplégica, adoro viajar, já visitei mais de 40 países e concretizei o sonho de dar uma volta ao mundo. Aqui trago convidados com outras visões e outras necessidades, esperando contribuir para que outras pessoas descompliquem na hora de escolher o destino e partir. Este podcast tem o patrocínio da Max Finance. Olá, bem-vindos ao Viajar é para Todos, um podcast do Automóvel por Portugal. A minha convidada de hoje é a Mónica Rodrigues. Olá, Mónica. [00:00:50] Speaker B: Olá, Sofia. [00:00:51] Speaker A: Obrigada por aceitares vir nesta viagem comigo. [00:00:55] Speaker B: Obrigadinha. [00:00:56] Speaker A: Vamos fazer o check-in? [00:00:57] Speaker B: Sim. [00:00:58] Speaker A: E para onde é que vamos? [00:00:59] Speaker B: Vamos para a Islândia. [00:01:00] Speaker A: A Islândia, talvez o destino mais escolhido aqui do Viajar é para Todos e eu percebo porquê. [00:01:05] Speaker B: Também, também. [00:01:07] Speaker A: A Mónica não dispensa um acessório, a sua máquina fotográfica. Diz que tem duas paixões, a captação e a criação de imagem, e fez delas a sua profissão. A Mónica é fotógrafa e designer. E eu acrescentaria aqui outra paixão, as viagens, talvez. Há um ano descobriu que sofre de uma doença crónica degenerativa, esclerose múltipla, que lhe trocou as voltas, ou talvez não, é o que vamos tentar perceber. Mónica, fotografia e viagem estão quase sempre ligadas, pelo menos comigo estão. Como é que é Mónica, fotógrafa e viajante? Levanta-se às 5 da manhã para ir apanhar o nascer do sol, como é que é? [00:01:52] Speaker B: Não, não, não. Para a minha vida normal tento não ser muito chata porque lá estar normalmente não viajo sozinha, portanto também não quero aborrecer quem está comigo. [00:02:01] Speaker A: Eu sei bem o que é isso. [00:02:02] Speaker B: Também não quero aborrecer, mas estou sempre com a máquina na mão. [00:02:07] Speaker A: Sempre, máquina. [00:02:07] Speaker B: Eu vou lá tirar fotografias, portanto é mesmo uma paixão. Fotografia acabou por ser uma forma de Deu ver o mundo de outra maneira. Ajudou-me a ver as coisas ao pelo menor. E isso por ser bom também para as viagens, não é? Porque por ver muita coisa que se calhar me passava despercebido. Que eu acabo de gostar de ver para... Não para captar fotografia, porque a fotografia acaba por ser um complemento da memória. Mas pronto, acho que me ajuda muito. [00:02:38] Speaker A: E o que é que vem antes, a fotografia ou as viagens? [00:02:41] Speaker B: Veio a fotografia. Eu só comecei a viajar aos 18 anos, portanto não viajava muito com os meus pais, porque eles também não tinham... Nunca nos faltou nada, mas pronto, lá está, as viagens eram uma coisa que não acontecia. Só por cá, de carro. E então só aos 18 anos é que fomos à Disney, os quatro, eu, os meus pais e a minha irmã. Portanto, foi quando eu comecei a viajar e a partir dali veio aqui um bichinho de... Adorei. E então quero mais. E foi só quando comecei a trabalhar com o meu engenheiro é que comecei a viajar. [00:03:12] Speaker A: Eu vi agora as tuas fotografias de Nova Iorque, lindíssimas. Que me levaram até lá e parecia que estava dentro de um filme. Realmente estão lindíssimas. Como é que foi Nova Iorque? [00:03:24] Speaker B: Foi espetacular. Eu ficava lá. Eu acho que a frase que eu mais disse foi, ai adoro. Enquanto ia às coisas, o meu namorado só me diz, já percebi, já ouvi. Mas estava completamente encantada. Fiquei ali, incrível. Eu trabalho por conta própria, portanto eu trabalho em casa sozinha, eu gosto muito do meu sossego, mas a verdade é que chegando lá eu acho que na primeira hora eu vi mais pessoas do que nos últimos seis meses, aquilo é mesmo muita gente, muita coisa a acontecer e eu adoro essa... Esse oposto, não é, da minha vida aqui acabou por ser muito interessante também nesse sentido de repente aquela injeção de informação e de pessoas e de vida a acontecer. [00:04:09] Speaker A: Sim. [00:04:10] Speaker B: E eu adorei aquele momento. E lá está, é isso. Eu senti-me que estava dentro do vão. [00:04:15] Speaker A: É, não é? É um bocadinho, mas nós já vimos tantos filmes em Nova Iorque que acabamos por ter essa sensação. E eu acho óbvio. E para a fotografia também é um bom destino, não é? [00:04:29] Speaker B: Eu acho que qualquer fotografia... Publiquei agora há pouco tempo umas do metro e toda a gente disse que parece que foi assim uma coisa... Eu disse que foi super espontânea, não fiz uma sessão, não é? Não fui lá perder tempo. Quando estava à espera do metro fui tirando umas fotografias, portanto é mesmo aquilo que é muito cinematográfico, é um cenário ao ar livre. [00:04:49] Speaker A: Então, lindíssimo. Olha e fala-me mais um bocadinho das tuas viagens. Onde é que costumas ir? O que é que gostas mais? [00:04:56] Speaker B: Eu normalmente prefiro viagens de natureza, que pronto, que acabamos por bater aqui um bocadinho com esta questão da esclerose, que afetou a minha perna, portanto inicialmente foi assim um choque de repente fazer trilhos, fazer esse tipo de coisa. Não é que faça trilhos muito difíceis, porque eu viajo com o meu namorado... Mas era algo que távamos de fazer. Caminhar em zonas mais naturais. E pronto, é por ser assim destinos que eu gosto mais. Procuro muito nesse sentido coisas que tenham mais natureza. Mas pronto, gosto obviamente também de viajar aqui pela Europa, pelas cidades. Eu gosto de tudo. Eu sou uma vendida, eu gosto de tudo. Vou tanto de lado e gosto de tudo. [00:05:35] Speaker A: É, não é? Eu como eu também. Apesar de gostar de mais cidades, também gosto de todos os destinos. Mónica, passou-me muito pouco tempo desde que tu tiveste o diagnóstico, eu creio que foi há um ano mais ou menos. Nós trocámos algumas mensagens que até me tocaram porque na altura disseste que quando recebeste o diagnóstico te lembraste de mim. talvez por aquilo que eu passo nas minhas redes sociais e no meu blog, como é que foi ter esse diagnóstico e pensar que talvez isso te pudesse afetar, que possa vir a afetar ou não, as tuas viagens e até o teu dia-a-dia, não é? [00:06:22] Speaker B: Foi tudo muito repentino, foi efetivamente há um ano, foi em fevereiro do ano passado, foi de um dia para o outro, acordei com o lateral do corpo dormente, quer dizer, eu fui-me deitar já com uma dormência nesta zona que é onde tem o nervo que está afetado, mas achei que tinha sido uma má posição, está dormente, ok, tipo, estive aqui dobrada, pronto, fui-me deitar a pensar que ia passar e quando acordei estava, não só estava pior da lestrada, como pronto, estava muito completamente melhor. dormente, não perdi a força, mas como estava dormente procurei logo ajuda médica nesse dia. [00:06:59] Speaker A: Sim. [00:07:00] Speaker B: E acho que foi melhor que fiz. Felizmente encontrei uma médica que foi espetacular no sentido de, ok, não sabemos o que é, Podemos fazer aqui uma série de exames, mas temos aqui já alguns... Ela encaminhou-me logo para uma ressonância magnética, que eu acho que foi a melhor opção para descobrir logo o que é que era. Porque podia... Obviamente houve aqui também análise ao sangue e tudo mais, mas pronto, mas houve logo um... um sentido de vamos mais a fundo porque pode ser aqui uma série de coisas. Não sei se ela suspeitou logo disso, mas a verdade é que logo na primeira ressonância não houve certezas, porque depois foi preciso fazer mais uma série de exames, mas houve logo a suspeita de... Quase certeza que é. E pronto, para mim foi um grande choque, porque eu não conhecia ninguém que tivesse a doença. Era um nome que assusta, porque depois a verdade é que quando não conhecemos ninguém, vamos ao Google. O Google é a pior coisa que podemos ver, não é? Toda a gente sabe, mas acabamos todos por ir lá. [00:07:58] Speaker A: Fazíamos todos isso, sim. [00:07:59] Speaker B: E pronto, então acabou por ser aquele choque de o que é que me vai acontecer. Nesse processo desde a dormência eu comecei a perder força na perna. Eu já tinha alguns sinais antes da dormência, portanto eu de vez em quando ia andar e falhava-me um bocadinho a perna. Mas como eu faço aulas de dança, associei que pudesse ser alguma coisa mais muscular. Coloquei algum ajeito, alguma esforça a mais, portanto fui ignorando. Mas a verdade é que depois efetivamente a perna falhou. E aí acho que foi o meu grande choque de... Ok, agora não consigo andar. Como é que eu vou fazer? É certo que foi só uma perna, andava com muletas na altura, mas é aquele choque de realidade de repente de não conseguir. E sendo fotógrafa também, para além do design, obviamente que o design conseguiria fazê-lo sentada, Eu sei que estás a fazer. [00:08:52] Speaker A: Um tratamento que te está a ajudar. O que consiste em quê? [00:08:58] Speaker B: É assim, de seis em seis meses eu vou ao hospital e pronto, que é intravenoso. É uma medicação que, pronto, não existe cura, mas o que esta medicação faz é ajuda a controlar surtos, possíveis surtos. Portanto... ajuda a manter esta doença um bocadinho estagnada. No meu caso, felizmente, é o que está a acontecer. Pode não acontecer. Cada pessoa é uma pessoa. A verdade é que esta doença não é linear, portanto, ninguém me consegue dizer, olha, vai acontecer assim e assado. Isto foi também uma das coisas que me assustou muito. No início foi que ninguém me conseguia dar a resposta de o que é que vai acontecer, mas pronto, felizmente está a resultar bem e pronto que é isso. Em seis meses vou ao hospital, fico lá umas horas a levar a medicação. [00:09:45] Speaker A: E indo daqui às viagens? Como é que isso te afeta? Se é que te afeta alguma coisa, o que é que implica viajar com o masclerose múltiplo? [00:09:56] Speaker B: Teve que haver aqui um pequeno ajuste da minha realidade, porque eu sou conhecida por ser a louca que não para e que quer ver tudo e que anda sempre a correr. É certo que desde que fui mãe tive que reduzir o ritmo, mas a verdade é que mesmo assim o meu filho felizmente foi habituado deste pequeno no nosso ritmo, portanto sempre esteve habituado, vamos para ali, vamos para aquilo lá, e ele acompanha. E agora tivemos que reduzir mais um bocadinho porque, pronto, lá está. Posso, de repente, acordar um dia que estou muito mais cansada. Se não a diga, pode vir de repente. Por exemplo, agora em Nova Iorque, ao final do dia, eu ando sempre com a minha bengala. Não preciso dela, felizmente, agora para caminhar do dia a dia, mas a verdade é que ao fim de 20 mil passos num dia, ao fim do dia já andava com ela porque pronto, a perna começa a pesar um bocadinho. Sim. E então é mais nesse sentido e eu a ter medicação diária, que eu não estava habituada, eu sou aquela pessoa que detesta tomar comprimidos e todos os dias eu tenho que tomar comprimido para controlar. [00:11:02] Speaker A: Em termos de passagem de aeroporto e isso, não há qualquer... [00:11:09] Speaker B: Não, inicialmente eu tive algum receio. Eu tenho sempre algum receio por causa. [00:11:12] Speaker A: Da bengala, não é porque eu quero. [00:11:13] Speaker B: Ser uma pessoa que passa com uma bengala. Mas, pronto, até ver, ninguém me sequer pergunta o que é que é, porque não conseguem perceber. E a verdade é que, pronto, também levo sempre a medicação, apesar de levar tudo, faço a separação dos líquidos, mas levo sempre uma bolsa transparente à parte com a minha medicação. [00:11:32] Speaker A: Levas contigo? [00:11:34] Speaker B: Levo sempre comigo. Levo sempre a mais também, isso é uma coisa importante que é a noção de pode haver algum atraso, eu tenho que ter a minha medicação comigo para a tomar. Portanto, levo sempre a mais dias do que vou. [00:11:44] Speaker A: Tens de levar receitas ou alguma declaração médica? [00:11:47] Speaker B: Não, não. Pelo menos os destinos que eu tenho feito, não. Até agora não tive nenhum problema. Levei na primeira porque não sabia o que é que era, mas nunca me pediram. [00:11:56] Speaker A: Nunca te pediram? [00:11:57] Speaker B: Nunca me perguntaram nada assim, foi sempre. [00:11:58] Speaker A: Muito... Às vezes, por causa da quantidade, eu também não levo, mas não sei. [00:12:04] Speaker B: Pois. [00:12:05] Speaker A: Acho que arrisco um bocadinho. Sei que também adotaste o cordão dos girassóis, não sei se é assim que se diz, para as doenças e para as deficiências invisíveis. Queres explicar um bocadinho o que é isso? Te ajuda de alguma maneira? [00:12:21] Speaker B: Eu descobri por causa da doença que não fazia, não o conhecia de todo. Eu acho que é uma coisa muito importante de toda a gente conhecer, mesmo quem não tem doenças, nem que seja para... Claro. para ajudar quem tem, não é? E pronto, esse cordão para descobrir que é um projeto que é destas doenças invisíveis, que é para identificar as pessoas, para as pessoas conseguirem ser identificadas onde vão, onde quer que vão, terem o cordão para Quem vê, saber que a pessoa tem alguma coisa que a incapacita de alguma maneira. Eu, no meu caso, não tenho um cartão, mas existe um cartão que podemos ter a nossa identificação, dizer qual é a doença que temos e quais são as nossas incapacidades. Que é para o caso de acontecer alguma coisa, facilmente identificam e sabem o que é que é. Eu tenho sempre comigo, tenho ali. [00:13:12] Speaker A: Cordão e um cartão. [00:13:13] Speaker B: Para pôr ao pescoço e temos o pontinho. Pronto, aquilo dá para pôr na ponta da fita. [00:13:18] Speaker A: Sim, sim. [00:13:19] Speaker B: Com a identificação das doenças, por exemplo. Até pode ser uma coisa muito simples porque aquilo tem várias opções para pôr. Até pode ser uma coisa muito simples como não consigo estar muito tempo em pé ou preciso de assistência ou posso ter que ir mais vezes à casa de banho ou não vejo muito bem. E isso está lá tudo identificado com símbolos. É fácil de identificar as pessoas o que é que têm. Estando sozinha, por exemplo. [00:13:43] Speaker A: Até por uma questão de prioridades, não é? [00:13:44] Speaker B: E também. No meu caso é o que tem sido mais, eu noto mais no aeroporto até, que acabam por me dar prioridade porque tem a fita comigo e pronto, tendo a questão também da perna, acabo por não conseguir estar. Eu consigo, mas nem sempre, não é? Porque lá está, como isto não é uma doença muito certa, Eu hoje posso estar aqui muito bem e amanhã ter que andar com vingala porque dói a minha perna, porque estive mais cansada, mais estressada e pior. E pronto, portanto eu ando sempre com a fita. E pronto, e no aeroporto acabam por ter esse cuidado de dizer... Às vezes eu até estou na fila normal e eles chamam mesmo. Olhe, venha aqui, pode passar. [00:14:25] Speaker A: E tu achas que reconhecem o cordão? [00:14:30] Speaker B: Sim, é assim, na primeira viagem que eu fiz com ele não o reconheciam, agora nesta última já quase foi reconhecido por todas, tanto cá como nos outros países. Em certos sítios, por exemplo, em museus. Alguns sim, outros não. Acho que depende de quem é que está. [00:14:48] Speaker A: E vês diferença de Portugal para outros destinos, onde vais? [00:14:53] Speaker B: Sim, cá não... [00:14:54] Speaker A: Cá ninguém conhece. [00:14:55] Speaker B: Não conheci mesmo de todo. Do que eu percebi, no Brasil acho que é onde se conhece mais. [00:15:01] Speaker A: Sim. [00:15:01] Speaker B: E cá na Europa não sei muito bem. Na Dinamarca eu notei que sim. [00:15:06] Speaker A: Lá reconheci, é. Porque é muito importante, não é? [00:15:08] Speaker B: Sim, sim. [00:15:09] Speaker A: Eu acho que tem que se sensibilizar mais para essa questão porque é importantíssimo. Já tiveste alguma situação assim de mais aflição em viagem? [00:15:19] Speaker B: Aflição, aflição acho que não a nível da doença em si. Já tive algumas situações mais de frustração pessoal. Sim. Não tanto propriamente de problema médico. Foi mesmo eu que queria fazer uma coisa e não estava a conseguir e pronto e tive que contornar de outra maneira. [00:15:36] Speaker A: Claro. Então isso, de alguma forma, limita a escolha dos destinos? Ou não? Há pouco falaste que gostas de fazer natureza e trilhos, é importante, se calhar agora tens que pensar de maneira diferente quando escolhes o destino. [00:15:54] Speaker B: Eu sou um bocadinho inconsciente nesse sentido, não penso muito. Não, obviamente que eu acho que é mais a gestão da expectativa, tenho que pensar um bocadinho de, ok, eu quero ir ali. Se calhar posso não conseguir, mas vou tentar. E pronto, depois quando chego lá é que giro e percebo, ok, hoje não dá. [00:16:12] Speaker A: Sim. [00:16:12] Speaker B: Pronto, não vou. Óbvio que não é assim tão simples, que no momento fico muito mais frustrada, mas é uma aceitação e acho que no fundo é o principal desta doença, é a aceitação. [00:16:27] Speaker A: E há sempre alternativas, não é? [00:16:29] Speaker B: E lá está, e às vezes não consigo em 5 minutos, consigo numa hora, pronto. Claro, claro, claro. [00:16:36] Speaker A: E isso, quer dizer, também afeta aí um bocadinho o ritmo da família, mas até porque não viajas sozinha, não é? [00:16:43] Speaker B: Ah, é tranquilo, porque eu é que sou a pessoa que quer correr e eles são super tranquilos. Eles por eles vão. Eu digo, vamos ali eles vão. [00:16:52] Speaker A: Essa viagem que falas da Dinamarca foi... muito impactante? [00:16:58] Speaker B: Foi, foi porque foi a primeira que tive, eu já tinha a viagem marcada, portanto foi em Abril, foi muito colada ao diagnóstico, porque eu em Fevereiro tive o surto, em Março tive o diagnóstico confirmado. Aliás, não, eu em Abril quando fui já tinha praticamente confirmação mas ainda não estava mesmo no papel, mas a médica já me tinha dito que não havia grande dúvida, exato. Mas eu estive até à última a pensar que isto não vai acontecer, porque eu andava em exames médicos, vacinas, um monte de coisas de exames, portanto fiquei até à última com aquela sensação de, bom, esta é uma viagem que eu quero tanto fazer. e não vai acontecer. Felizmente aconteceu. Mas lá está, ao ser a primeira nesta realidade. [00:17:50] Speaker A: Ela teve algum impacto mais psicológico, não é? [00:17:54] Speaker B: Sim. [00:17:54] Speaker A: Do que físico. [00:17:56] Speaker B: Sim, sim, sim. E, pronto, na altura ainda tinha bastante dificuldade em caminhar. Portanto, andava muito mais com a bengala do que agora. Era mais o tempo que andava com ela do que aquele que não andava. Mas fez-se. E lá está, e aí nesse momento tive que efetivamente ajustar o roteiro, porque já estava todo planeado. Tive que ajustar de, ok, se cá não vou conseguir fazer estas cinco coisas neste dia, vou ter que reduzir para três. E fui um bocadinho a sugerir de tudo. Depois tive uma situação, lá está, mais frustrante, que eu queria ir a um sítio e que não conseguia de todo, porque era preciso caminhar numa praia longa. E eu vi assim ao longe e eu assim, ok, queria ir ali ao fundo. Mas eu não conseguia, não conseguia andar na areia, era completamente inviável para mim naquele momento. E então foi, pronto, lá está, foi aquele gerir das primeiras frustrações de perceber que ok, agora tenho aqui uma limitação que não tinha. [00:18:53] Speaker A: Ao mesmo tempo também foi ver que... que dá para ir e dá para fazer e dá para contornar. [00:18:59] Speaker B: É tudo muito... um trabalho muito interno, acho eu. É mais do que o físico, é... obviamente que a parte física de fisioterapia e tudo mais é importante, mas a parte psicológica de... de gerirmos as nossas expectativas, no fundo é isto, e a nossa realidade e aceitar. [00:19:17] Speaker A: É isso. É ir gerindo. [00:19:19] Speaker B: Sim. [00:19:19] Speaker A: E ir fazendo, não deixar de ir no menor momento. É o meu lema. [00:19:24] Speaker B: Também, também. [00:19:25] Speaker A: Como tu já disseste, cada pessoa é uma pessoa e cada doença afeta a pessoa de uma maneira diferente, mas que sugestão darias a uma pessoa que que acaba de ter esse diagnóstico? [00:19:40] Speaker B: Que é possível, não é? No fundo que é possível voltar a uma normalidade, mesmo que não seja uma normalidade que era da pessoa, porque eu senti muito isso. As pessoas disseram muito de... Ah, mas é possível ter uma vida normal com o tratamento? E eu sei que sim. E eu sabia que sim. Mas a verdade é que este normal não era o meu normal, portanto eu tive que haver aqui um ajuste e eu acho que eu diria às pessoas, respira fundo, é possível, mas vai haver aqui um processo que vais ter que aceitar, vais ter que perceber e aceitar que vai haver aqui uma mudança na tua vida. É certo que é uma mudança, não vai ser tudo igual. [00:20:17] Speaker A: Claro. [00:20:17] Speaker B: Mas é possível as coisas depois ficarem bem de outra maneira, mas ficam bem. [00:20:24] Speaker A: Estamos a chegar à Islândia. Porquê a Islândia? [00:20:28] Speaker B: Que é espetacular. [00:20:30] Speaker A: Já foste? Ou estavas de ir? [00:20:32] Speaker B: Depois já fui. Era a minha viagem de sonho. [00:20:34] Speaker A: Sim? [00:20:34] Speaker B: Sim. E eu estive anos a sonhar em ir. Depois estive dois anos a planear a viagem. [00:20:42] Speaker A: A sério? [00:20:43] Speaker B: E depois quando chegou o momento, veio o Covid. E eu tive que adiar mais dois anos, portanto. [00:20:49] Speaker A: Então isso foi? [00:20:50] Speaker B: Mas quando lá cheguei foi finalmente. Estou aqui. [00:20:53] Speaker A: E como é que é? Como é que foi a viagem? [00:20:55] Speaker B: Foi incrível. Foram 18 dias. [00:20:58] Speaker A: 18 dias na Islândia e deram a volta à ilha. [00:21:01] Speaker B: Foi muito calmo, foi muito ao ritmo. Ainda não tinha a doença, mas fizemos tudo um ritmo mesmo para viver o país. Aquilo é outro planeta, acho que é o que eu costumo dizer às pessoas, eu senti que estava num outro planeta, que aquilo é incrível. [00:21:20] Speaker A: E eu acho que estão vários planetas dentro de um planeta, não é? [00:21:23] Speaker B: Sim, sim, sim. [00:21:24] Speaker A: Vai mudando muito. [00:21:25] Speaker B: É a rapidez com que muda de uma paisagem para outra. De repente estamos no meio de um mosco, depois passamos por um deserto de areia preta, depois já é tudo, sei lá, amarelo. Não sei, aquilo é incrível. [00:21:36] Speaker A: Deve ter tirado quantas mil fotografias. [00:21:39] Speaker B: Muitas, muitas. Aquilo estava imparável, completamente. [00:21:43] Speaker A: Não, é lindíssimo. [00:21:44] Speaker B: Sim. [00:21:45] Speaker A: É espetacular. Gostavas de voltar? [00:21:47] Speaker B: Gostava. [00:21:48] Speaker A: Sim? [00:21:49] Speaker B: Muito. E? [00:21:49] Speaker A: Há alguns planos? [00:21:50] Speaker B: Eu só não digo que mudava-me para lá porque é muito frio. [00:21:53] Speaker A: Pois é, sim. É a pior parte da Islândia. [00:21:56] Speaker B: Se bem que depois é aceitável, porque na verdade nós quando chegámos estávamos todas encasacadas, mas ao fim de três dias já estávamos sem casar, porque já andávamos, já nos tínhamos habituado ao ambiente, mas de qualquer maneira acho que no inverno... Domingo não aconteceu. [00:22:07] Speaker A: Nenhum foi no verão. [00:22:08] Speaker B: Nós fomos em maio, mas eu acho que no inverno não ter muitas horas de sol ia me custar. Ia me custar muito. [00:22:17] Speaker A: Sim. [00:22:17] Speaker B: É incrível. [00:22:19] Speaker A: Muito vento e dá ali uma sensação ainda de mais frio. [00:22:23] Speaker B: Não apanhámos muito. Lá numa zona específica, a zona mais este, é que apanhámos um bocadinho mais de vento, depois de resto foi tranquilo. Não apanhámos quase vento nenhum. Foi uma viagem muito marcante. [00:22:34] Speaker A: E as próximas? [00:22:35] Speaker B: Só tenho uma viagem marcada, vou a Milão com as minhas amigas porque fomos todas fazer, eu fiz agora, mas fazemos todas 40 anos este ano, então dissemos, das 40 anos vão todas viajar juntas, deixamos os maridos e os filhos e vamos. [00:22:47] Speaker A: Mas achas que vais continuar a fazer natureza ou agora estás mais inclinada para a cidade? [00:22:54] Speaker B: Vou continuar a fazer natureza, acho que não. Não há como. [00:22:58] Speaker A: Nem Nova Iorque mudou. [00:23:00] Speaker B: Não, não, não. Gostei muito, gostei muito. Foi muito incrível. Mas foi... a sensação que eu tive de Nova Iorque foi que foi muito ligada àquilo que eu também gosto na natureza, que é curioso. Que é... eu adoro montanhas. Já sabe, pronto, a Islândia é aquela coisa de montanhas gigantes, as cascatas gigantes. Tudo o que me faz sentir pequena. Eu acho muito a piada aquela coisa de nós pequeninos no mundo, não é? E então, eu acho que foi essa a piada de Nova Iorque também, não é? Aquela sensação de eu estou aqui. [00:23:29] Speaker A: Desarranhar céus. [00:23:30] Speaker B: Isto é tudo gigante, é tudo em grande. E a sensação de eu posso fazer o que eu quiser aqui, que ninguém repara que isto é um mundo, as pessoas estão na vida delas, estão a passar, tipo, há pessoas a cantar na rua, há pessoas a dançar na rua, ninguém olha, ninguém quer saber, está cada um na sua. Eu acho que é muito, foi muito essa sensação de somos pequeninos no mundo. [00:23:51] Speaker A: Sim, e ali no meio daqueles arranha-céus. É a sensação que nós temos, não é? E mais do que Milão? [00:24:00] Speaker B: Ainda não. [00:24:01] Speaker A: Ainda não. [00:24:02] Speaker B: Nada planeado. [00:24:04] Speaker A: Obrigada Mónica, foi um prazer ter-te aqui. Nos próximos episódios vamos abordar outras condições e outras características. Pode acompanhar o podcast nas plataformas habituais de podcast ou no site do Automóvel por Portugal ou no meu justgo.com.pt. Até à próxima!

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