Episode Transcript
[00:00:00] Speaker A: Anos dos 30 é um podcast do Automóvel Clube Portugal que pretende dar a conhecer jovens talentos que se destacam nas mais diversas áreas da sociedade. Esta série tem o apoio da Ibanez. Sejam bem-vindos a mais um podcast do Automóvel Clube Portugal. Eu sou o Francisco Costa Santos e hoje na série Anos dos 30 temos Francisco Galrão, que é documentador, jornalista, estudante e um grande entusiasta pelas duas rodas, pelo mundo do desporto motorizado. Francisco, muito obrigado por teres vindo e vamos começar pelo início. Quantos anos é que tu tens e como é que isto começou?
[00:00:35] Speaker B: Bem, desde já, obrigado, Srótimo, ao Volcão de Portugal pelo convite. Eu tenho 22 anos e as coisas começaram no mundo do desporto motorizado há relativamente pouco tempo. No mundo das duas rodas há mais tempo. O mundo das duas rodas apareceu na minha vida aos 4 anos, no dia precisamente em que fiz 4 anos, em que os meus pais me ofereceram a primeira moto. E não foi um amor à primeira vista.
Não foi o amor à primeira vista, ofereceram-me o equipamento todo, o equipava-me todo, tudo pronto para andar, assim o meu pai punha a moto a trabalhar. Álex, já se faz tarde, porque tinha medo do barulho. Portanto, as coisas não começaram como um grande amor. Andámos aqui uns anos em que, ok, tinha a moto, mas... não era a minha paixão. Fiz outros esportes quando era mais miúdo. E depois quando comecei a crescer, comecei a ganhar um bocadinho a gostar da coisa. Os motores sempre tiveram uma presença muito vincada em minha casa, tanto em termos de restauros como clássicos. Depois o meu pai também voltou a ter moto a passar alguns anos depois de ter estado alguns anos sem moto. E fui voltando a ganhar, chegou a estar coisa.
[00:01:35] Speaker A: Sempre na perspectiva de hobby, nunca na parte desportiva de piloto.
[00:01:41] Speaker B: Sim, sim. Sempre como perspectiva de hobby, até porque na altura o meu pai tinha uma pista de motocross e eu era rara a vez que ia treinar, para ser sincero. Portanto, nunca olhei muito para o desporto motorizado como a parte da competição.
para mim, olhei para a competição dos outros e sempre me fascinei muito com a parte de competição, de acompanhar a competição em si, não tanto de fazer parte dela. É verdade que depois chove aqui um uma turbulenciazinha nesta mentalidade e houve uma altura em que de facto quis competir, comecei a fazer perforação, comecei a fazer tudo isso. Depois houve também uma questão de saúde que me impediu de estar a 100% e olhei para as muletas na altura como escape e não como um objetivo de trabalho ou de competição. E quando estás dentro da competição percebes também que às vezes aquilo não é o mundo cor-de-rosa que as pessoas imaginam. Começas a perceber aquilo que se passa realmente dentro da competição, os valores que envolvem a competição. Sejam eles monetários ou emocionais, chamemos de assim.
[00:02:46] Speaker A: É mais do que paixão pelo desporto?
[00:02:47] Speaker B: É muito mais. É muito mais do que tudo isso. É um trabalho extra, ou trabalho que toda a gente já tem. em Portugal é muito difícil ser piloto a tempo inteiro e por isso mesmo a competição ficou de parte. Não quer dizer que não continuo, de vez em quando, a alinhar numa provazinha ou outra. Vou este fim de semana, por exemplo, estar presente no cartón de Évora, fazer uma prova de brincadeira. Mas lá está, é apenas isso. Não consigo olhar neste momento para as motos, para os carros, para o que quer que seja em termos de competição motorizada e olhar para aquilo como um objetivo.
[00:03:20] Speaker A: Calculo que faças track days?
[00:03:21] Speaker B: Sim, sim. Continuo a fazer. Este ano, com menos tempo, Tenho uma agenda bastante mais preenchida do que tinha nos últimos anos, o que não é nada mau. É um excelente indicador, mas corta-me aqui um bocadinho as vases nesse aspecto, porque os trackdays acabam por-te limitar um pouco em termos de datas, porque eu já tenho poucos fins de semana e ainda tenho que coincidir com o fim de semana em que haja evento. Nesse aspecto, limita aqui um bocadinho a coisa. Mas arranjam-se outras soluções. Não são track days. Passa pelo off-road, passa por outras competições. Mas isto lá está, porque eu continuo a ter presente a minha vida do desforte motorizado como um escape daquilo que é o dia-a-dia, a minha realidade todos os dias, apesar de estar ligado à competição, não nas pistas, mas nos microfones. Continuo a olhar para as pistas como os capos.
[00:04:13] Speaker A: Enquanto não como piloto, continuas como pé dentro do paddock porque quem está a ver há de reconhecer a tua cara da Sport TV. Como é que deu esta passagem? Como é que foi feita esta passagem? Como é que entraste no mundo da televisão? Como é que entraste para comentador de desporto?
[00:04:31] Speaker B: Bem, eu cheguei à televisão, e eu digo isto muitas vezes, completamente a cair de paraquedas. Porque na altura, isto estamos a falar há sensibilmente 4 anos, mais ou menos, a Sport TV tinha um formato de fim de semana no Mundial de Superbikes em que todos os fins de semana recebia um piloto, um mecânico, quer que fosse alguém que tivesse ligação com o Campeonato Nacional de Velocidade de Motos. para fazer parte desse fim de semana, comentar o sábado e o domingo, maioritariamente, as corridas das classes rainhas, porque, a verdade seja dita, também não havia muita gente que acompanhasse as classes inferiores, como acontece na maioria dos esportes, e então recebia-se sempre alguém ligado ao Campeonato Nacional para fazer parte dos fins de semana. E num dos fins de semana, e esta é a parte caricata da história, eu tinha de sair à noite, num sábado, cheguei casa às tantas da manhã, e quando acordei estava a dar a corrida de Superbikes em Donington.
E eu não estava na equipa de comentadores, estava na altura o Dinis Boras, piloto da SuperSport 300, que este ano também não está a competir, mas na altura piloto da SuperSport 300. Tinha sido convidado do Sport TV nesse fim de semana. E houve uma queda a envolver o Álvaro Dias, na altura não me consigo lembrar se foi no ano em que o Álvaro Dias ganhasse 300 ou se já estava nas 600. Mas há uma queda caricata, o piloto veio de 200 metros a 300 metros a lutar com o Amata, sem ninguém perceber muito bem o que é que se estava a passar. Moto Incendies, Piloto Alleges, Bandeira Vermelha, um filme.
[00:05:56] Speaker A: Um filme de falha mecânica.
[00:05:57] Speaker B: Um grande filme. E na cabine, nós muitas vezes temos que estar com o olho em 5, 6 ecrãs e falha-nos. Se naquele segundo não estivermos a olhar para o ecrã correto, já não é o suficiente para conseguirmos explicar aquilo que aconteceu. E a SuportV sempre teve a conectividade com o público, através das hashtags. A hashtag SPK para na SuportV, MotoGP na SuportV. E foi através da hashtag que eu expliquei o que tinha acontecido. Porque tinha percebido em casa que tinha saltado a tampa do João. Olhei na roda de trás. Daí o pior é ter tantos metros a lutar com um moto e depois saber o que era. Ou seja, identificaste-os e... Expliquei aquilo que se passou. Na altura o comentador que estava na cabine agradeceu e no fim do dia mandou-me mensagem. Olha, obrigado. E fomos falando. Percebemos que tínhamos mais ligação do que...
poderia acontecer à primeira instância, porque ele estudou no mesmo colégio que eu, apesar de ser ligeiramente mais velho do que eu, e é comissário na Autódromo de Sorilo. Portanto, foi juntar o útil ao agradável. Um dos dias que eu estava em pista, combinámos e encontramos. E surgiu, passado uns tempos, o convite para ir fazer um desses fins de semana. Se eu não me engano, na Ronda da Catalunha, acho que foi na Catalunha desse ano, surgiu a oportunidade de ir fazer esse fim de semana, experimentar o que era a televisão.
[00:07:11] Speaker A: Na altura, com 18 anos.
[00:07:12] Speaker B: Sim, sim, por aí. Não tenho certeza se ainda tinha 17, se já tinha 18. Mas sim, nessa altura. E apareceu esse convite e eu, ok, vamos experimentar uma coisa diferente. Não há muita gente que possa dizer, eu fiz televisão ou sei o que é fazer televisão, vou experimentar. Foi nesse intuito. e fui fazer o sábado, ainda sem saber sequer qual era o botão em que se carregava para falar para a emissão.
[00:07:36] Speaker A: Como é que correu? Como é que foi essa estreia?
[00:07:38] Speaker B: Sábado correu a Nervos. A minha primeira frase na televisão, se eu não me engano, foi tipo... Bom dia pelo convite. Uma coisa assim.
[00:07:45] Speaker A: Um bom dia pelo convite.
[00:07:46] Speaker B: Uma coisa assim do género. Completamente a Nervos. Mas lá está a competição, sobretudo estes campeonatos de motos, havendo muitas categorias, nós passamos muitas horas nas cabines. E isso para quem se está a estrear, é verdade que é um pouco pesado aguentar 6, 7, 8 horas seguidas dentro da cabine, seguidas com o ritmo, mas ao mesmo tempo dá-te aqui algum calo e vai-te matando o nervosismo logo nos primeiros dias, porque tens tanto tempo para te ir acalmando e para te ires habituando, que as coisas vão fluindo cada vez mais naturalmente. E foi um bocadinho isso que me aconteceu. Eu iniciei no sábado a nervos. Passei no domingo já sabia com aquilo que estava a contar e fui um bocadinho mais soltinho, chamamos-lhe assim. A coisa correu melhor e assim senhor, acabei o dia, agradeci, mochilinha às costas, vou-me embora, estou despachado e vim a entrar para o elevador quando depois um dos editores da SportTV, na altura o Pedro, o Pedro Ricardo Martins, me chamou e disse pá, a coisa correu bem.
era bom vir cá mais umas vezes, se tiver disponibilidade, fazer mais uns testes e depois a gente conversa. E foi assim que a coisa começou. Depois fiz até o fim dessa temporada. A Catarunha foi mais ou menos ao meio da temporada. Fiz o resto da temporada quase toda.
[00:08:54] Speaker A: Então foi mesmo sucesso.
[00:08:56] Speaker B: Depois ainda fiz mais metade da temporada a seguir. Metade, vá. Primeiro terço da temporada a seguir. E depois o SportTV ofereceu-me uma proposta na altura de começar com o Junior GP, o campeonato mais pequenino de motas, também com menos visibilidade, para poder ir ganhando à vontade de estar na cabine e sobretudo de estar sozinho na cabine. E eu aceitei na altura e desde então faço a quarta temporada do Junior GP este ano.
Já passei pelo Mundial de Fairbikes. Alguns campeonatos ainda faço, outros já não os faço, mas comecei com o Junior GP, depois no ano a seguir aos Junior GP juntaram-se a Rookies Cup e o MotoE. No fim do ano apareceram os Superbikes. Fiz 3 ou 4 provas de Superbikes, já não consigo precisar, não é certo? E este ano surgiu a oportunidade de fazer Moto3, Moto2. Mantendo o Rookies Cup, fiz o Junior GP. E é isso que temos estado a fazer ao longo deste ano.
[00:09:46] Speaker A: E em casa, calculo que o pai ficou contente com esta decisão?
[00:09:51] Speaker B: Sim, os meus pais suportam sempre muito aquilo que eu faço e aquilo que são as minhas decisões. É natural que em algum ponto haja alguma discussão ou... Discussão não necessariamente no nosso sentido, atenção. No sentido de... Às vezes a decisão que eu tomei não era aquela que eles queriam, mas depois, passado um tempo, eles conseguem entender o porquê de eu ter tomado essa decisão e...
Nunca há muito aquela parte da crítica propriamente dita do não faças isto, faz isto. E nesse aspecto os meus pais nunca me tentaram levar ou não, deixa a televisão de lado, vai acabar o curso o mais rápido possível.
[00:10:27] Speaker A: É porque era isso que eu tinha a dizer, tu estavas numa altura em que... Estavas ali no fim do secundário, não é?
[00:10:31] Speaker B: Não, eu já estava na faculdade. Entrava de faculdade com 17.
[00:10:34] Speaker A: Ok, mas mesmo assim, início de faculdade é um salto muito grande. É preciso ter maturidade para conseguir gerir as coisas e era a próxima questão para onde íamos que como é que tu geres Esta agenda de comentador, jornalista, entusiasta de motas, trackdays e faculdade.
[00:10:52] Speaker B: Sim, é um bocadinho complicado de gerir. E como eu tinha dito há pouco em off, há sempre alguma coisa que tem que sair ligeiramente prejudicada. E na altura, quando surgiu a SportTV pelas primeiras vezes, ainda sem sequer sonhar com ficar lá a trabalhar, quando fazia ainda altura de testes, porque, querendo ou não, foi quase um ano. Não chegou a ser um ano, mas foram, se calhar, nove meses ou dez meses que eu estive lá a fazer corridas em que, simplesmente, aquilo eram testes. Portanto, eu não tinha garantia nenhuma que sequer ficava lá a trabalhar. Foi, entre aspas, como convidado e foi assim que as coisas foram fluindo.
[00:11:25] Speaker A: Pensavas que fosse ser só uma vez e pronto.
[00:11:27] Speaker B: Sim, foi aparecendo a oportunidade de ir repetindo e, depois, lá está. Tu também consegues perceber, e fazendo a autoavaliação daquilo que estás a fazer, Eu pensei, ok, isto se calhar cada vez mais está a surgir a oportunidade de isto se tornar um trabalho, em vez de ser só uma brincadeira de fim de semana, que eu venho aqui uma vez, praticamente. E então eu tive que tomar a minha decisão e na altura, quando eu entrei na faculdade, foi o ano em que estava o Covid em altas. Portanto, o meu início de faculdade não foi um início normal de faculdade. Um ano atípico, em que não conheces os teus colegas, conheces os teus professores, não conheces nada disso. E as coisas não correram... Espetacularmente bem, mas também não correram mal, nesse primeiro ano. Mas depois custou-me um bocadinho a adaptação no segundo semestre, que foi quando toda a gente regressou. Custou-me um bocadinho a adaptação, porque era um mundo completamente diferente. E eu estava muito habituado a estudar na minha zona, e da minha zona a Lisboa são 20, 25 minutos de carro. De transportes, uma hora, uma hora e pouco. e implica-te aqui um bocadinho nessa rotina e na altura quando a televisão aparece, eu fazia a minha vida completamente normal em termos de faculdade, mas quando começas a perceber que ok, eu já entrei neste mundo, eu tenho a possibilidade de me manter neste mundo e tens noção de que se calhar tens que repensar um bocadinho a tua vida naquilo que queres fazer porque chega-te uma proposta que tens duas opções, ou agarras ou não agarras, é um comboio que passa uma vez, muito provavelmente, e se calhar tens de pôr alguma coisa em stand-by para agarrar já este, já que já apanhaste o outro comboio, acalmas um bocadinho o ritmo e vais apanhar mais um e tentas andar com eles a par e passa. E a faculdade foi um bocadinho assim, eu tive que deixar a faculdade, não de lado, mas tive que acalmar um bocadinho a faculdade, sobretudo porque tinha muitas avaliações de sábados, sextas-feiras, e tinha sempre que perder as sextas e os sábados para fazer estes campeonatos. Hoje em dia já consigo ajustar isso com... Desponhorar os meus horários de forma a que consiga ter as aulas, imagina, em vez de sexta-feira ter aulas das 8h às 2h, se calhar estão lá das 8h até às 5h30, às 6h da tarde, para me compensar ter a sexta-feira livre para poder fazer os grandes prémios. Claro que depois também vai diferir. Ou, aliás, vai variar a maneira mais correta, tendo em conta também onde é o grande prémio que estás a fazer. Se tiveres um grande prémio, por exemplo, na Ásia, vais estar a madrugada toda. Mas se for um grande prémio, por exemplo, na América já é durante a tarde. Num Europeu já vai ser durante a manhã. Portanto, deixa-me cujar aqui um bocadinho com essas coisas. Agora, a parte mais difícil de gerir foi entender onde é que eu preciso estar agora e onde é que eu posso estar, tendo em conta as alterações ou as duas opções que tenho na minha vida neste momento, onde é que eu posso estar daqui a dois, três, quatro, cinco anos.
E eu tive que, e na altura sabia que era uma decisão que não ia agradar a muita gente, acalmar um pouco o lado da faculdade porque há aqui uma oportunidade que eu daqui a uns anos, mesmo acabando o curso, tenho a possibilidade de juntar um trabalho normal a isto, que é o que a maioria dos meus colegas fazem dentro dos comentadores. Nós, na grande maioria, temos um trabalho normal durante a semana e ao fim de semana vamos fazer comentários. Portanto, havendo essa possibilidade de ter esse trabalho ao fim de semana, e tendo noção também daquilo que são os valores que implica tudo isso, fazia-me sentido conseguir manter a televisão, conseguir manter o curso mesmo que isso implicasse levantar um bocadinho o pé do acelerador, e daqui a uns tempos poder colher tudo. Hoje em dia é muito mais fácil para mim gerir isso, apesar de ter mais trabalho e cada vez mais, infelizmente, cada vez mais trabalho, é mais fácil gerir porque também já tens aqui alguma experiência, já sabes com o que é que podes contar. E depois destas brincadeiras de manter a televisão, vais conhecendo muita gente e a parte boa da competição é essa. Eu mesmo antes de fazer parte das equipas de comentários e tudo mais, já conheci muita gente dos padogos. como passava muito tempo nos circuitos, percebes como passava quase todos os fins de semana em circuitos, provas, pistas de motocross, o que quer que fosse, já tinhas muito conhecimento em termos de, ok, quem é, preciso de não sei o que, ok, vou falar com isto, preciso de alguém que me ajude com uma coisa qualquer na pista, vou falar com isto, pronto.
[00:15:27] Speaker A: Ainda voltando ao teu curso, desculpa, estás relacionado com veículos, diz-nos qual é o teu curso e responde-me a uma questão. É para te ajudar também a compreender melhor as máquinas ou é uma paixão que tu já irias acabar lá de qualquer das formas?
[00:15:45] Speaker B: Portanto, eu estou a estudar Engenharia Mecânica. Estou a acabar a licenciatura. Já devia ter acabado. Já devia ter acabado. Não tenho problema nenhum em dizê-lo. Mas ainda não acabei. E a Engenharia Mecânica surgiu na altura. E, como eu disse, as motos, os carros, a parte mecânica sempre esteve presente na minha vida porque os meus pais sempre tiveram, sobretudo no início, carros antigos. Se levava em armas, ainda mais a K7, o meu pai sempre teve jeep. E mudava muito jeep. Se fosse preciso, duas em duas semanas tinha um jeep. E andava muito no mato com os amigos. A minha mãe nunca me limitou também de fazer parte disso. Aliás, inclusivamente, eu tenho algumas fotos em miudinho em provas de trial com eles nos Jibes. Portanto, a minha família, apesar de não estar propriamente ligada à competição, sempre teve a parte do desporto motorizado presente. E foi um pouco por aí. Depois, eu em miúdo, o meu pai começou a ter alguns clássicos. Na altura, eu lembro-me dele ter tido um Mazda, um 729.
que o restauram em casa, foi daí que eu acho que surgiu um bocadinho a parte mais mecânica.
[00:16:46] Speaker A: Juntavas-te a ele e vias o restaurar?
[00:16:49] Speaker B: Não tanto o fazer, mas acompanhar um bocadinho o processo de, ok, esta semana o carro estava assim, na semana a seguir o carro já mudou isto tudo.
[00:16:56] Speaker A: É porque com 17 anos reparas que um parafuso do cárter salta e isso origina um acidente é porque tu já tinhas o gosto pela mecânica e pelas máquinas.
[00:17:04] Speaker B: Sabes que fascina-me entender como é que as coisas funcionam. E hoje em dia também, sobretudo, estou muito ligado mais à competição de protótipos, sobretudo no MotoGP, em que cada vez tens mais uma revolução de engenharia, mais descarga aerodinâmica, mais as zonas cinzentas do regulamento e fascina-me entender o porquê das marcas optarem por isto em vez disto ou porquê que trazem uma asa na frente em vez de trazerem um sidepod e eu gosto de perceber genuinamente o porquê das coisas funcionarem assim. Isto vem um bocadinho de miúdo surgiu-me na altura nessas brincadeiras que o meu pai ia fazendo em casa, porque também os restaurantes nunca foram ao trabalho dele, sempre foi como hobby, e depois com as motas tentar perceber onde é que eu consigo tirar tempo e porque é que eu consigo tirar tempo, o que é que eu tenho que fazer para tentar ter a condução mais eficiente possível. E a parte mecânica fascina-me nesse aspecto, se calhar também por nunca ter tido uma estrutura a trabalhar comigo. ter sido uma estrutura muito mais caseira, ou seja, com os meus pais, a minha mãe ajudar-me com a parte de relações públicas, o meu pai mais ligado à parte mecânica, mas tentar perceber com ele também o que é que eu precisava de mudar na moto, como é que as coisas funcionavam, e por ter passado também, e eu acho que hoje em dia é o que difere sobretudo para os miúdos da minha idade, é que como passei pelos clássicos, consigo perceber onde é que começou a inovação, por exemplo, dos carburadores para a injeção e da injeção para os mapas, os pequenos saltos que houve na evolução do desporto motorizado, tanto nos carros quanto nas motos.
[00:18:33] Speaker A: As travagens, as embraiagens, o esse todo.
[00:18:34] Speaker B: Sim, sim, já sabes tudo isso, percebes? E eu acho que isso ajuda muito hoje em dia a conseguir partir em partes aquilo que está a acontecer e aquilo que está a chegar de inovações, porque consegues entender de onde é que elas vieram. Eu lembro-me de ser miúdo, devia ter aí 14 anos ou assim, e tinha uma amiga minha que hoje em dia concorre no Campeonato Mundial de Velocidade Feminina, a Madalena Simões. Ela tinha começado a competir nesse ano, na altura, com as Moto 5. Portanto, uma classe muito de iniciação. Eu lembro-me perfeitamente de ter ido ver uma corrida dela ao Autódromo do Estrelo, no ano de estreia das Moto 5 no Campeonato Nacional, e de estar na bancada C, na curva número 1, lembro-me de ver a moto dela passar a falhar e vir a correr para a boxe para avisar não vão ver o carburador dela porque está qualquer coisa a falhar e conclusão tinha um problema na boia do carburador confirmou-se é um daqueles episódios que não marcou nada em específico mas tu recordas disto ter acontecido por.
[00:19:29] Speaker A: Saberes a parte mecânica consegues avaliar só pelo som sim, eu acho que hoje.
[00:19:33] Speaker B: Em dia ajuda-me muito não só no trabalho da Sport TV mas no trabalho da MotoJornal era aí que eu queria.
[00:19:38] Speaker A: Chegar, tu atualmente escreves para o MotoJornal e como é que está a funcionar, como é que está a correr.
[00:19:44] Speaker B: É algo que eu gosto muito de fazer. E sou-te completamente sincero. Não é nada pelos valores monetários, é mesmo por amor à camisola. Estou-te a ser o mais sincero possível. O jornalismo em Portugal hoje em dia ainda é um bocadinho assim. A verdade seja dita. Há que ser apaixonado por aquilo que fazes mais do que qualquer coisa. É necessário. E eu nas motas, eu gosto muito de testar motas novas, mas particularmente eu gosto de fazer ensaios de clássicas. E tem sido onde eu me tenho focado mais. Eu tenho feito artigos de clássicas. Comecei com motas minhas.
[00:20:14] Speaker A: Fazes testes de estrada, tens as motas, vais testar e depois dás a tua opinião.
[00:20:18] Speaker B: Sim, eu gosto muito da história dos modelos, porque imagina, E eu para perceber o porquê de hoje termos, vou dar um modelo para o ar, porque foi o último modelo que fizemos, por exemplo, saiu uma Moto Guzzi V7 nova. Eu tenho uma V7 Califórnia de 73. E eu disse ao Vitor Martins na altura, quando estávamos a fazer o planeamento da revista, já que vocês vão pôr a nova, deixa-me pôr a antiga, falar um bocado da história e vocês fazem o ponto para a nova. Porque eu gosto genuinamente de perceber a história das marcas, o porquê de terem surgido, qual é o background das marcas. Muitas vezes são marcas que nós nem temos noção de onde é que elas começaram. No caso da Moto Guzzi, que acaba por ser um bocadinho desconhecida em Portugal, chamamos-lhe assim. As pessoas não têm noção da dimensão que a Moto Guzzi tinha há uns anos naquilo que nós hoje chamamos de Moto GP, no campeonato mundial de velocidade. ganharam um monte de troféus. O que hoje nós olhamos enquanto inovações aerodinâmicas é que a Motoguzi foi pioneira. Teve tunel de vento muito cedo. A Motoguzi andou em 1921 e começou a ter tunel de vento muito cedo e as motos refletem isso mesmo. Tive a oportunidade de estar no museu deles há cerca de dois meses.
e perdiam lá horas.
[00:21:29] Speaker A: É marca de eleição ou não é inclusive?
[00:21:31] Speaker B: Mais ou menos. É uma marca que eu tenho um carinho muito especial por ter sido a primeira moto restaurada pelo meu pai em casa.
[00:21:37] Speaker A: Ok.
[00:21:37] Speaker B: Na altura depois da transição já dos carros para as motos. Restaurar um carro que seja muito bonito envolve muito espaço e muitas horas de trabalho e o dobro das peças das motos são mais duas rodas, mais tudo.
[00:21:48] Speaker A: Claro que sim.
[00:21:49] Speaker B: E tenho um carinho especial pela moto Aguzzi.
[00:21:51] Speaker A: Os carros têm interior que também é uma coisa... Sim, sim, sim.
[00:21:55] Speaker B: Não, sem dúvida, é muito mais trabalhoso fazer um restauro num carro do que numa moto. E a coisa fascina-me um pouco, mas tenho um carinho especial por aquela moto em específico, já tive mais motos dessa marca.
[00:22:06] Speaker A: Qual é a cilindrada da moto, desculpa?
[00:22:07] Speaker B: É uma 8.5. 8.5, ok. P2, 8.5.
[00:22:11] Speaker A: Ok, uma moto grande até para a época.
[00:22:13] Speaker B: Sim, sim, era uma moto utilizada pela polícia americana.
[00:22:15] Speaker A: Ah, ok, ok.
[00:22:17] Speaker B: A minha moto em específico era do José Negro. acaba por ter também aqui uma marca especial.
[00:22:25] Speaker A: E são motos distintas? Aquele motor é diferencialogo?
[00:22:28] Speaker B: Para quem quer ter aquela moto é para quem consegue ter aquela moto. Não é pelo valor, não é por nada, mas aquilo não é uma moto japonesa. A caixa é diferente, é mais seco, trava diferente, dá mais problemas, a parte elétrica dá mais problemas, portanto aquilo não é para quem quer uma moto fiável. para andar todos os dias, esquece. Aquela moto que te transmite, que te vibra por todo lado, transmite vibrações, mas também é isso que a torna especial. Eu gosto muito da Moto Guzzi, nesse aspecto. A minha marca que me toca, aliás, a marca que me toca mais no coração, tendo em conta aquilo que me acompanhou nos meus pequenos passos, é a Yamaha, nunca a escondi. Foi a minha primeira moto de estrada, a minha primeira moto de cartódromo, minha primeira moto de autódromo, portanto, vou sempre ter um carinho especial pela marca.
Claro, como eu não sou bairrista da marca, não sei apreciar todas as marcas, todos os modelos, mas há um carinho especial. E isso, claro, na minha vida profissional, fica ao lado. É uma questão de eu ser profissional e não tenho que puxar a brasa à sardinha de ninguém, até porque eu não ganho nada com isso. Simplesmente, há aquela marca, como todos nós temos.
[00:23:31] Speaker A: Claro, identificamos mais com umas do que com outras. Exatamente. Diz-me uma coisa, como é que tu, e para quem está a ouvir, porque agenda é uma coisa que vimos que a tua é bastante complicada, como é que tu geres tudo isto e conta-nos como é que é um dia teu, porque nesta série gostamos de saber, já que tens uma profissão diferente do normal, conta-nos como é que é um dia na tua vida e como é que organizas estudo, escrita, comentador na Sport TV, como é que consegues organizar tudo isto?
[00:24:01] Speaker B: A tentar desaliar um bocadinho as tuas horas mortas, ou antigas horas mortas para que conseguisse encaixar tudo. Porque eu se começar, por exemplo, nesta semana que tive grandes prémios e tive testes da MotoJornal para fazer, é uma semana um bocadinho atípica. Porque eu, por exemplo, tive na segunda-feira... Aliás, comecei no domingo a fazer o MXGP em Águeda, não havia cabines disponíveis para fazer o Junior GP que foi no Circuito Estoril nesta semana também e por isso mesmo eu tive de fazer em Tifo Ferido na segunda-feira. E não era suposto eu fazer o Junior GP esta semana só que o comentador que era suposto fazer não podia fazer à segunda então eu tive que ir compensar. Eu fiz no domingo a MXGP, na segunda-feira fui às aulas de manhã, entrei à uma da tarde para fazer o Junior GP, fiz seis horas saídas de cabine, saí da cabine, editei logo as peças que tinha para fazer para os programas de quinta-feira à noite Na terça-feira fui para Madrid para ir conhecer uma marca nova, um modelo de uma marca chinesa, que é a Vogue. Lançaram uma escuta nova. Fui pela MotoJornal para Madrid na terça-feira. Fiz as apresentações na terça-feira. Na quarta-feira de manhã fui fazer um percurso de 150 km a testar a moto e mais algumas apresentações da moto. Cheguei cá na quarta-feira à noite. Quinta-feira fui ter alvos como uma pessoa normal.
compensar algumas das aulas que perdi na terça e na quarta para depois na sexta de manhã já estar a fazer o grande prémio do Le Mans em moto a dois e moto a três. Portanto, aqui é só te dar um bocadinho de um lado para o outro. Mas, naturalmente, sexta, sábado e domingo do Le Mans. Ontem tive aulas durante o dia. Ao fim da tarde fui fazer o podcast de rescaldo do Le Mans e, entretanto, hoje acabei por não ter aulas porque estou numa semana de laboratórios. Portanto, tinha tido aulas de manhã também e depois vim aqui ter convosco para fazer o podcast. Portanto, Isto é numa semana atípica. Numa semana normal, tenho aulas de segunda a quinta, tento compensar como eu te disse, tendo aulas até mais tarde, em alguns dias, para na sexta-feira, depois de estar livre, fazer sábado e domingo com as competições.
[00:25:57] Speaker A: O futuro do desporto motorizado? Há alguma prova que gostasses de participar enquanto piloto? Vais tentar lutar por isso? Porque acredito que, sendo amante de motas e tanto ligado ao desporto motorizado, Há provas que de certeza que queres fazer, que gostarias de fazer, não a nível profissional, mas enquanto piloto.
[00:26:18] Speaker B: Então de brincadeira, mas com o objetivo de participar.
[00:26:20] Speaker A: Tens alguma já presente que gostarias de fazer?
[00:26:23] Speaker B: Tenho. Tenho algumas provas que eu gostava de fazer. Umas um bocadinho mais distantes, outras nem tanto. Eu gosto muito de carros. Nunca neguei isso. Adoro carros. Adoro fazer parvoíços com carros. E quando digo parvoíços, nas brincadeiras, por exemplo, das 24 horas de fronteira, eu faço as ligações de Louras até fronteira pela terra em carros velhos, a que ir aos pecados. Portanto, eu gostava de fazer aqui uma série de coisas. Eu sou fascinado pela resistência. Eu gosto muito de resistência. O campeonato do mundo de resistência, tanto em carros como em motos. E as provas de resistência, eu acho que são, para além das sprints, que nós costumamos ver, É mais que qualquer coisa. É a resistência do ser humano, a resistência da equipa, a resistência da máquina e isso fascina-me. Tendo noção da tareia que me leva uma moto ou um carro numa prova normal de 40 minutos fazer uma prova de 8 horas, 12 horas, 24 horas é fascinante aquilo aguentar até ao fim e a gestão que tens que fazer. Portanto, eu gostava um dia de participar nas 24 Horas de Fronteira.
Em termos de modas, gostava de fazer uma prova de recense. Uma prova que existia na altura, até há uns anos, as três horas do estúdio, por exemplo, gostava de ter participado. Já não há algum tempo, mas gostava de participar um dia. E depois, quem sabe, assim o sonho mais distante de todos, eu gostava de um dia fazer um Dakar. Não necessariamente em duas rodas, mas gostava de um dia fazer uma prova como o Dakar ou a África com o Race, gostava de fazer uma coisa do género.
[00:27:46] Speaker A: Francisco, obrigado. Vou-te só pedir para deixares aqui uma mensagem para quem está a ouvir e para quem tem esta paixão e que quer entrar neste mundo. Qual é a tua mensagem que partilhas aqui para poder incentivar alguém ou ajudar alguém a dar um passo para este mundo?
[00:28:01] Speaker B: Eu acho que, acima de tudo, quem tem interesse em fazer parte deste mundo tem que ter os pés assentos na terra e perceber que existem hierarquias que têm de ser respeitadas. e que até chegarmos a algum passo temos que passar pela base da pirâmide e subir pouco a pouco. E não é subir com elevador, é subir escadas com degraus altos. Portanto, vai dar trabalho. Vai precisar de muitas horas de trabalho em casa. Estudar notícias, estudar aquilo que se passou, perceber a parte técnica, ler arrumbamentos. Portanto, eu acho que isso é muito importante. E é importante perceber que não é por eu agora não poder receber, ou por receber pouco, ou por ter muito trabalho e receber pouco, não quer dizer que daqui a uns anos as coisas não mudem. E é preciso haver um bocadinho esse espírito de sacrifício.
de perceber, ok, eu agora estou a ter mais trabalho, que se calhar não é tão recompensado, mas daqui a uns anos, onde é que eu me vejo? E eu acho que isso é muito importante neste meio, porque há muita gente que não está disposta. Ok, agora tenho que fazer um ano sem receber nada. E talvez para o ano tenha uma oportunidade. Não, não estou disposto a isto, porque não me quero suspeitar a isso. E às vezes eu acho que falta isso, sobretudo na malta mais nova. Eu noto muito isso, eu faço palestras também em escolas. E note que há um bocadinho isso, a falta de aceitar o sacrifício que tenho de fazer agora a curto prazo para daqui a médio e longo prazo colher os frutos. Portanto, a melhor dica que eu posso dar é relíquias e mantenham-se humildes. Ou eles são os mais velhos, a verdade é essa. Ou eles são os mais velhos porque eles têm muita experiência disto e sabem perfeitamente o que é que se pode e o que é que não se pode fazer. E, acima de tudo, mantenham um bom ambiente de trabalho por onde passam. Porque por onde querem que passem, se tiverem um bom ambiente de trabalho, alguma coisa que precisem, perguntam a um colega, um superior, qualquer coisa do género. Pessoa com mais experiência e eles vão sempre estar dispostos a ajudar.
[00:29:42] Speaker A: Obrigado, obrigado pela mensagem Francisco. E já sabem, se quiserem acompanhar o trabalho do Francisco basta passarem na SportTV, no MotoJornal ou nas suas redes sociais. O teu Instagram queres deixar aqui?
[00:29:52] Speaker B: Sim, o meu Instagram é peco68. O X é o contrário, é 68peco. E no Facebook Francisco Camarão.
[00:30:02] Speaker A: Ótimo. E é isto. Se quiserem saber, se quiserem ver mais podcasts do Automóvel Clube Portugal, basta passarem nas nossas redes sociais, no site do Automóvel Clube Portugal, onde tem lá uma parte dedicada aos nossos podcasts. Francisco, muito obrigado, um desejo de bom trabalho e continua com essa excelente organização de trabalho.
[00:30:18] Speaker B: Obrigado.