Episode Transcript
[00:00:06] Speaker A: Bem-vindos a mais um podcast do Automóvel Clube Portugal. Sou o Mário Vasconcelos e hoje temos como convidado o Rafael Ligeiro, autor e encenador. Rafael, muito obrigado por ter aceitado o nosso convite. Esta nossa conversa faz parte de uma série de podcasts que tem como tema Lisboa dos anos 80, uma altura em que o Rafael nem por sombras era nascido, mas já deu o seu contributo. ao escrever e encenar uma peça sobre um dos lugares mais emblemáticos dessa Lisboa dos anos 80. Que lugar era esse em relação ao qual escreveu e encenou a peça?
[00:00:37] Speaker B: Hoje é conhecido como Galão 2, uma postularia no rei, mas o seu auge terá sido o rock rendezvous, que era um icónico quadro de rock, uma grande sala de concertos e de espetáculos, onde passaram diversas bandas que hoje em dia são as bandas que nós conhecemos como as grandes bandas de rock português, o Rádio Macau, o Chutes e Pontapés, o próprio Rui Veloso que começou por abrir o rock rendezvous. grandes nomes e quase todos os nomes rock português que passaram por esta sala emblemática dos anos 80.
[00:01:09] Speaker A: E como é que surgiu essa ideia?
[00:01:11] Speaker B: Esta ideia acaba por surgir como um convite da produtora do espetáculo, que sempre foi muito fascinada pelo rock dos anos 80, pela imagética dos anos 80, portanto, lançou-me só um desafio assim, de uma forma mais geral, de escrever um espetáculo sobre os anos 80, onde o ambiente musical fosse o rock. Eu comecei a perfolhar as páginas do LX80, que é o livro que faz quase um glossário dos anos 80 de tudo o que aconteceu e acaba por estar em duas páginas assim, uma coisa muito curtinha com o Rock Rendezvous e começo a ler, começo a olhar para as imagens, aquilo começa a fazer algum sentido e então começa a surgir uma pequena vontade, uma curiosidade de perceber o que é que era isto que faz, o que é que era o Rock Rendezvous, então começa a pesquisar sobre O.
[00:02:02] Speaker A: Projeto começou inicialmente pela encenação e depois acabou por ter de escrever a peça. Aceitar, ter escrito.
[00:02:08] Speaker B: A terceira escrita da peça foi a encenação. O primeiro desafio foi sempre só escrever este texto.
[00:02:18] Speaker A: Numa das recentes entrevistas que deu, disse que nem sequer tinha ouvido falar, que não conhecia, essa famosa sala de espetáculos que é o Rock Rendezvous, que aliás fechou portas em 1990 e o Rafael só nasceu... Exatamente. Isso foi um grande desafio para si, uma vez que não tinha referências Sim. Para além da pesquisa, obviamente.
[00:02:41] Speaker B: Tudo o que eu puder auxiliar foi na pesquisa. Depois há uma ideia, uma noção de memória que tenho que recuperar e uma memória que eu não tenho. Há um espetáculo, agora espero não estar a dizer mal o nome do Teatro do Vestido, que era aquilo que ouvíamos e que também tratava muito da memória e do que é que eram aqueles jovens de uma época, dos 80, 70, 90, e das suas memórias musicais e como é que isso os influenciava. mas essas pessoas tinham essa memória, em princípio, era mais plausível que eu estivesse assim. Eu como uma pessoa de 24 anos claramente não tenho nenhuma memória sequer dos anos 90 quando sou muito menos dos 80 enquanto existiu, portanto foi a tentativa de criar essa memória também nunca assumindo que eram minhas, porque não podem ser, então foi sempre esse exercício fictício de criar um universo e uma base, porque o espetáculo é muito... não é nostálgico, mas tem uma base de recordação e de voltar um pouco atrás no tempo, que é algo que... a única coisa que eu me posso permitir é tentar ou falsear este voltar atrás no tempo e não dizer que estive lá ou que... que presenciei, ou que vivi, ou que curti.
[00:03:58] Speaker A: Mas que história é que pretendeu contar nesse espetáculo?
[00:04:03] Speaker B: O que me fascinou mais no Vogue Rendezvous, enquanto dimensão espetáculo, foi o favela. Com toda a minha pesquisa, não conseguir encontrar uma razão concreta para um facho. Isso me interessa de um modo imenso, ao invés de início, que é um espaço sem um fim. E se o espaço não tem fim, eu posso dar-lhe um fim. Posso procurar encontrar as razões pelas quais ele fechou. Há momentos da peça em que diz a água, as finanças, a luz, os vizinhos, a polícia, as contas. Podem haver 50 razões para aquilo ter fechado, eu não sei quais são. E então o espetáculo anda muito à volta, essa história...
acaba por ser, em parte, uma reflexão sobre o fecho de um espaço e é... a linha onde eu me acredito que o espectáculo anda é simplesmente um olhar de como é que os espaços fecham, como é que as coisas acabam e o que é que resta depois.
[00:05:01] Speaker A: E a teimosia de manter, de adiar o fecho, não é?
[00:05:06] Speaker B: Sim, essa noção, por acaso, é uma coisa que vai acontecendo. Parece que há quatro figuras mais jovens também, e nenhuma delas poderia ter estado no Rock Fandébulo. Tínhamos o Carlos, que era o personagem mais velho, que fazia uma personagem inspirada no Tom Ellen, que também devia do seu nome, o DJ do Rock Fandébulo.
[00:05:27] Speaker A: Era o DJ, exato.
[00:05:28] Speaker B: Mas o Carlos era o único que existia a possibilidade de ser ou de pertencer àquele espaço, e o Carlos era o único, enquanto Tom Helge, que também o que ele estava a dizer podia ser verdadeiro e podiam ser memórias, porque o resto...
[00:05:42] Speaker A: Este espetáculo foi levado à cena no.
[00:05:47] Speaker B: Centro de Artes de Lisboa.
[00:05:49] Speaker A: Em março, quando se preparou para escrever esta peça, enfim, as suas pesquisas, teve a oportunidade de falar com músicos que já eram uma referência nessa altura e aproveito para recordar aqui os Sétima Legião, Táxi, Chutes e Pontapés, Rádio Macau, o GNR, o HF, Mão Morta, Delfins, sem esquecer, claro, o Rui Veloso com o seu famoso Chico Fininho, tudo isto de nomes que fazem parte da história do Rock Rendez-Vous. Falou com algum músico.
[00:06:19] Speaker B: Ou o Alex, da Rádio Macau.
E falei também com... Há uma parte interessante para mim, que é... Neste caminho de o que é que resta depois de um espaço fechado, também o que é que resta depois, por exemplo, da juventude, das pessoas, o que é que resta... E, por exemplo, o encenador da companhia residente no Calve, que são os primeiros sintomas, ele teve uma banda, que também... Que eram os Canal Caveira, E o cenógrafo da companhia também estava nessa banda e há um fotógrafo que também estava nessa banda e é muito interessante, para mim foi muito interessante, para pessoas com quem eu tenho contato e depois também pude falar com eles, é muito interessante depois os caminhos que tomaram, eram só jovens que tinham uma banda de rock e hoje em dia é um cenógrafo, um fotógrafo e um encenador. e a verdade eram para outros caminhos, não é? E pronto, o Alex continua a fazer música e depois também esteve com o ouvido com o Johnny Guitar posteriormente ao rock rendezvous depois também tive a oportunidade de não música mas falar com o Frito na Baixa que está a fazer também agora uma recolha do rock em Portugal, desde a sua origem até aos dias de hoje. E portanto, fizemos uma conversa que me ajudou bastante, principalmente na parte, não diria documental, mas de recolha de informação assim, de forma mais massiva. Há uma descarga de informação, documentos, informações.
[00:07:48] Speaker A: E dessas conversas que teve com os músicos, ficou com a ideia de que eles lamentam, ou para eles aquilo foi uma fase, foi um período que teve o seu tempo, Rock Rendezvous, hoje provavelmente não faria sentido, não sei. O que é que achou da parte deles? O fim, a morte do Rock Rendezvous?
[00:08:06] Speaker B: Eu sinto nas músicas o mesmo que é cá por sentir nas outras pessoas quando falam deste tópico. Mesmo os fóruns que ainda se mantêm ativos do Folk Rendezvous que já aumentaram na saudade. É impossível não terem saudades daquele tempo, principalmente até porque marca a juventude deles, não é? São os 18 deles, são os 20 deles, portanto há uma saudade, há um lado emocional.
[00:08:35] Speaker A: O Rafael, no fundo, toda uma geração que estava a começar a viver nos anos 80, não é?
[00:08:41] Speaker B: Exato, e não podemos também tirar de... Por exemplo, o contexto político que se estava a ver na altura que implica que, de repente, há o nascimento de uma nova espécie de juventude, uma juventude Após 25 de Abril, uma juventude... Porque não é ao acaso que o rock ganha o seu auge nos anos 80 em Portugal, não é ao calhas. Há um desejo de uma coisa diferente que não era...
[00:09:07] Speaker A: Novas experiências.
[00:09:07] Speaker B: Exato. Que não era MPB, que não era... eram coisas mais banais. Os jovens nessa altura, como nós hoje, mas nessa altura se calhar ainda mais em êxtase, queriam era que as músicas e o que se divertiam falassem sobre as paixões deles, sobre os abusos deles, sobre as chatices com os pais, e não sobre se calhar...
[00:09:25] Speaker A: As saídas à noite!
[00:09:25] Speaker B: Exato! Sobre as saídas, sobre o álcool, as drogas, o que fosse, mas queriam que lhes tocasse numa base mais direta. E é isso que o rock, por exemplo, dos anos 80 é. São paixões, são namoros, são drogas, cavalo de corrida, são as saídas à noite e é este compasso que eu acho que desenha o que é que é para mim o rock dos anos 80 e que de facto estas pessoas Hoje não seria possível, como estava a dizer, não seria possível porque é outra, é outra juventude, são outras necessidades e o rock não aparece simplesmente como, nesta altura pelo menos acredito, como só músico ou como um género musical, mas sim como uma resposta a uma necessidade que não estava a ser cumprida e que acabou por ser cumprida no rock, por isso é que eu acho que fechada e para toda a gente que entrevistei, com quem falei, deixa saudades, mas fechou-se ali. E isso é um ciclo completo.
[00:10:22] Speaker A: Na preparação que fez para este trabalho, para a preparação desta peça, não sendo desses tempos, nem de perto nem de longe, ficou com vontade de conhecer essas músicas, esse rock dos anos 80?
[00:10:35] Speaker B: Eu, por norma, estou mais a... Que.
[00:10:37] Speaker A: De vez em quando ainda se usa, não é? Mas ficou com vontade de mergulhar no espírito do rock 280?
[00:10:44] Speaker B: Eu tenho alguma afinidade maior musical com estilos como o jazz, por exemplo. Também, se calhar por tocar saxofone, não sei. Mas sempre tive maior afinidade com o jazz. E o rock, para mim, sempre foi algo assim, um bocadinho distante. Portanto, também foi um dos primeiros contactos que tive, principalmente com o universo musical. Há algo que me interessa bastante no rock dos anos 80 e que me interessou sempre, que foi mais até do que o chuto dos Rádio Macau, que são referências, como é óbvio, e são também grandes nomes do rock português, foi perceber a dimensão do experimentalismo no rock português dos anos 80. Uma das personagens da peça era o Farinha, que era inspirado também do seu nome, Farinha, do Zocaso Épico, que era uma banda que os registros que nós temos dela são coisas muito estranhas, muito mal gravadas, não dá para explicar bem além disto, era estranho, mas essa estranheza acho que me traz interesse e tudo o que seguia essa linha, não só o Zocaso Épico, mas outros também que seguiam a linha do experimentalismo no rock português, isso de facto, ao ensinar esta peça, trouxe-me curiosidade de continuar a ouvir, há ali experiências muito interessantes. Também o Gilmão Morta tem coisas... eu não era tão familiarizado, sabia o nome assim, andava aí pelo ar. Quando pude ouvir o Gilmão Morta, depois há ali coisas que são muito interessantes, principalmente em termos de escrita. Há ali um cuidado com a palavra, o que está a ser dito e também o lado da própria apresentação, não é? Não é só... Isso também é uma coisa muito interessante no rock, que é... havia um cuidado na apresentação. Comprei um livro que tinha imagens do rock rendezvous, fotografias, pronto, fotografias dessa época de concertos. O que eu reparei em quase todas é que havia de facto tinha de existir. Um cuidado estético muito apurado, o que até é muito engraçado tendo em conta aquilo que nós associamos auditivamente ao rock, porque em termos musicais não é das estruturas mais complexas, são coisas até fáceis de se pegar. Claro que há muitas músicas que não é necessário generalizar, mas numa estrutura geral o rock é acessível e por isso também às vezes tão apelativo.
[00:13:12] Speaker A: E muitas vezes ligado a imagens descuidadas, mas se fazes...
[00:13:16] Speaker B: Havia!
[00:13:17] Speaker A: As pessoas tinham muito...
[00:13:18] Speaker B: Havia!
[00:13:19] Speaker A: ...Muita atenção pela estética.
[00:13:21] Speaker B: A apresentação era uma coisa...
apresentavam-se. Acho que não há melhor forma de dizer isso. Eles apresentavam-se em palco. O que eles vestiam era uma forma. A forma como eles cantavam era algo. Os gestos que eles faziam eram algo. E sempre algo provocatório. Tínhamos o Sétimo Legião, com a indumentária que fez causar alguns problemas na altura, associada a símbolos nacionalistas, maioritariamente. Mas isso é provocatório, é um ato provocatório, mas ao mesmo tempo é um ato pensado. Eles não escolheram ao calhos aquela indumentária. Temos o Luxury Cannibal quando se esfaqueou. Isto é apresentação, isto é apresentar-me. Eu podia estar a cantar o que eu quisesse, mas se eu me esfaqueio, há aqui um lado de fora, um lado da forma como eu me apresento, que transforma tudo.
[00:14:20] Speaker A: E há um outro ingrediente que também, enfim, se praticava muito na década de 80, que era o kitsch. O kitsch também, sim, um bocadinho colado à atitude provocatória, enfim, ou gosto pela moda, pela imagem. No fundo é uma miscelânea, não é? Sim, sim. Mas voltando à música, uma das coisas interessantes que eu li a seu respeito quando preparei para esta conversa foi o Rafael ter dito que fascinou justamente o experimentalismo por parte dessas bandas. O que é que quer dizer exatamente com isso? É o contrário de formação musical?
[00:14:57] Speaker B: O experimentalismo...
[00:14:58] Speaker A: Achavam os experimentalistas porquê?
[00:15:00] Speaker B: Para mim o experimentalismo não se afasta da formação musical. As duas podem andar de mãos dadas, da mesma forma que o experimentalismo pode ser também fruto de uma formação menor. Portanto, o experimentalismo para mim surgiu só enquanto fenómeno. que é o que também me acaba por interessar no jazz e no rock experimental acho que é a mesma coisa. São pessoas à procura de formas que não existem e para as quais nós temos as ferramentas, ou seja, temos os instrumentos, temos as notas, temos tudo que compõe aquela sequência, ou aquele pensamento, mas aquele pensamento ainda não existe. E nós vamos criando, e eu acho que é isso que me interessa no experimentalismo do rock, e que eu considero é, eram miúdos, ou hoje em dia quem o faz e quem continua a fazer são pessoas que procuram, dentro da música, alguma coisa, e se não há ali uma resposta propriamente certa, não se estão à procura. E esse exercício de estar à procura, para mim, interessa. Os fãs não têm de fazer sentido estar-se à procura, como acontece numa jam. Apesar de toda a gente perceber o que é que está a acontecer, em termos de... se for informada à jam. Mas apesar de toda a gente saber o que é que está a acontecer, o que vem a seguir ninguém sabe. E estamos sempre nisto, estamos a destrinchar. Ok, o que é que vem a seguir? O que é que vem a seguir? O que é que vem a seguir? Eu acho que é esse o lado do experimentalismo que me interessa. O que é que vem a seguir? O que é que eu posso acrescentar? O que é que eu posso tirar? Experimentar. Então, experimentar.
[00:16:42] Speaker A: Eu acho que nós até agora ainda nem falámos no nome da peça. Não fiquei com essa ideia que ancorra a partir do Rock Rendezvous. Acha que esta peça é um convite para satisfazer a curiosidade de quem, como o Rafael, que é o autor e o encenador, não viveu esses tempos? Espetadores de várias gerações que foram ver a peça. Os mais novos. Acha que é um convite, ou pretende ser um convite, esta peça? para ficar a conhecer melhor esses tempos, a música desses tempos?
[00:17:13] Speaker B: Pode ser um acaso feliz, se acontecer. O propósito acaba por não ser tanto esse. Mas, lá está, como tem um universo, a música é muito forte, porque a peça tem uma componente musical, também tendo banda ao vivo, tem uma componente musical muito forte. E portanto, quem não conhecer as músicas, conhecerá certamente ali pelo menos a nossa versão ou a forma como nós as expusemos. Quem as conhecerá terá uma recordação de sons que ouviam na altura. Portanto, sim, ela pode funcionar de várias formas para diferentes gerações. Para mim, aquilo que eu procuro, ou que procurei com a peça, era simplesmente explorar. Na parte da escrita do texto, o que me interessou foi criar um sistema de referências onde o texto todo parte de nomes de bandas, nomes de canções, isso vai fazendo uma sequência lógica de frases que se seguem isso é o texto. Portanto, quem viveu os anos 80 tem um acesso ao texto de uma forma muito diferente das pessoas, por exemplo, da minha geração, que caso eu não tivesse escrito a peça também me passaria ao lado. Porque há lá frases, sei lá, por exemplo há uma piada, agora usando o sétimo legião, há lá uma frase que diz é a legião do sétimo dia. E pronto, na frase há uma referência da pessoa que viveu os anos 80, perceberá, atrai esse quentinho. Ou, por exemplo, o meu rádio é pirata e o teu é de onde? O meu é de Macau. Pronto, e temos estas... vai fazendo isto várias vezes, de página a página, o diálogo e a estrutura e o esquema de escrita funciona assim. Portanto, para as pessoas que o viveram, será ótimo. Para as pessoas que não o viveram terão acesso a uma peça também na mesma e terão acesso a estas referências todas. Simplesmente poderá não ser tão imediato, mas em nada perdem da história. Em termos musicais, a camada sonora do espetáculo é anos 80, puro. Não há ali nada que não o seja. Temos uma composição nossa, pronto, e há uma jam, havia uma jam ao início. que éramos nós que fazíamos, os músicos, o Jorge, o Francisco, o Tiago, e pronto, existe isso, é o mais próximo do que nós temos de nós hoje, da nossa música, também ela é em parte uma experiência, ao início do espetáculo, mas a partir daí era anos 80 e recordar os anos 80 através da música, das referências, das bandas.
[00:19:51] Speaker A: E dos mais velhos que foram ver a peça, sentiu, que feedback é que teve? Sentiu a nostalgia da parte deles?
[00:19:58] Speaker B: Sim, é curioso porque essas duas perguntas relacionam-se porque é mesmo diferente o feedback ou a forma como a peça foi recebida por pessoas que estiveram lá e por pessoas que não estiveram lá, ou por pessoas que ouviam as músicas e fez parte, mesmo pessoas que se calhar não estiveram no Rock Rondevou, mas que estiveram no Abus pelo menos os anos 80. Alguém que conheça o Abus?
[00:20:20] Speaker A: Alguém que conhece o Abus?
[00:20:21] Speaker B: Alguém que ouviu os discos quando estavam a ser lançados, que ouviram na sua formação, E para essas pessoas existia, de facto, uma recepção diferente, pelo menos eu sentia que o espetáculo era recebido de uma forma diferente. Tocava num lado de memória, de facto, num sítio da memória, e não tanto só o exercício que nós estávamos a mostrar, a peça, o espetáculo que nós estávamos a mostrar. Para essas pessoas entrava numa recordação de, se calhar, sei lá, estão a ver uma cena e estão a ir para outro sítio. Não faço ideia.
[00:20:55] Speaker A: E o autor e o senador, acha que deu algum contributo a esta época? Ou foi um exercício... Para mim foi.
[00:21:03] Speaker B: Um exercício fictício, até porque lá está eu partilhisto com conhecimentos...
[00:21:09] Speaker A: Relacionado com uma determinada época, não é? Vê isso também como um contributo ou não?
[00:21:14] Speaker B: É um universo muito rico para se beber, depois tudo o que foi escrever e depois ensinar, mas principalmente o que eu escrevi porque foi uma fase de laboratória de pesquisa maior. Os anos 80 politicamente, enquanto para nós, enquanto país, é um fenómeno muito específico, é uma coisa que acho que não se vai repetir tão cedo. É um universo muito rico, seja por referências, seja pelas figuras que existiam, E para mim é até um exercício... Quando eu fui olhar para estas figuras, eu fui olhar para elas quando elas tinham a minha idade. E hoje eu conheço estas figuras como pessoas que têm 50, 60 anos e mais estabelecidas. E eu tomei contacto com elas na minha idade, onde as coisas eram possíveis, onde não faziam ideia do que é que se iam tornar ou do que é que não se iam tornar. E isso também acho que me é rico, sem contar toda a quantidade de músicas, até pelo concurso de música de Moderna que eles faziam, onde várias bandas concorriam de vários pontos do país. que era uma plataforma de lançamento para tanta gente e para tantos sons e para tantas coisas diferentes e toda a gente era bem-vinda naquele espaço e isso é rico, é rico enquanto referência porque há muita coisa para ir buscar, há muito som para ir buscar porque eu acredito também que os sons que as pessoas de diferentes sítios trouxessem também fossem influenciados por qualquer que fosse a experiência ou o local de onde vieram e portanto isso é rico, é rico ir buscar.
[00:22:56] Speaker A: Rafael Eugério, muito obrigado por ter vindo para esta conversa que nos fez recordar a Lisboa dos anos 80 e obrigado por estarem desse lado. Podem seguir-nos no Spotify, Apple Podcasts e nas redes sociais do S&P.