"Antes dos 30": como Martim Lomelino usa o desporto para mudar vidas

Episode 75 April 30, 2025 00:34:00
"Antes dos 30": como Martim Lomelino usa o desporto para mudar vidas
ACP - Automóvel Club de Portugal
"Antes dos 30": como Martim Lomelino usa o desporto para mudar vidas

Apr 30 2025 | 00:34:00

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Show Notes

Apaixonado por desporto e comprometido com causas sociais, Martim Lomelino é o convidado de mais um podcast ACP "Antes dos 30". Formado em Educação Física e Gestão do Desporto, encontrou na Social Innovation Sports (SIS) a combinação perfeita entre as suas duas grandes motivações: o impacto social e a atividade desportiva. Antes de completar 30 anos já lidera projetos que transformam a vida de jovens em contextos vulneráveis, promovendo inclusão e bem-estar através do desporto.

 
 
 
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Episode Transcript

[00:00:00] Speaker A: Anos dos 30 é um podcast do Automóvel Clube Portugal que pretende dar a conhecer jovens talentos que se destacam nas mais diversas áreas da sociedade. Esta série tem o apoio da Ibanez. Sejam muito bem-vindos a mais um podcast do Automóvel Clube Portugal. Eu sou o Francisco Gonçalves e hoje para a série Anos dos 30 temos Martim Lumelino, um jovem apaixonado por desporto e causas sociais que, atualmente, entre outras funções, é consultor da Social Innovation Support Organization. que promove o desporto como um bem de interesse social ao serviço de comunidades, família, jovens e crianças em situações vulneráveis. Martim, muito obrigado por teres vindo cá ao nosso podcast e começamos pelo início. Quando é que começou a tua paixão pelo desporto? [00:00:45] Speaker B: Bem, obrigado pelo simpático convite, Francisco, e à CPlay também. A minha paixão pelo desporto acho que foi herdada pelo meu pai. O meu pai foi sempre uma pessoa muito ligada ao desporto, enquanto praticante, jogou futebol, jogou tênis, ainda hoje joga tênis, e também foi ligada ao dirigismo desportivo, e passou-me sempre, incentivou-me a praticar desde muito cedo desporto, E eu acho que ele já tinha a noção do quão importante o desporto iria ser no meu desenvolvimento, na minha educação, porque a verdade é que o desporto foi importantíssimo. Eu pratiquei futebol, comecei a jogar tênis, mas acabei por, durante a minha infância e adolescência, praticar futebol. E foi no futebol que eu acabei por conhecer e ter a oportunidade de conhecer novas realidades. Fiz grandes amizades com pessoas de estratos sociais completamente diferentes, de contextos familiares completamente diferentes, com outras perspectivas. E deu-me a oportunidade de sair aqui um bocadinho da bolha de privilégio que eu tive, a felicidade de crescer. mas realmente o desporto teve essa importância enorme na minha educação e fui sempre o meu pai que incentivou e muito para que eu continuasse a fazer desporto desde sempre. E mais tarde, sempre com esta paixão, mais tarde acabei por optar por tirar uma licenciatura em Educação Física e Desporto, e depois trei uma estrada em Gestão do Desporto, e acho que o resto vamos desenvolver um bocadinho durante a conversa. [00:02:23] Speaker A: E era nesse ponto que eu queria tocar. Foi através do desporto que tiveste conhecimento da Social Innovation Sports, ou não? Ou foi já na faculdade? [00:02:32] Speaker B: Portanto, como estava a dizer, eu fiz a licenciatura em Educação Física e Desporto na Madeira, eu sou madeirense, fiz na Universidade da Madeira, enquanto jogava futebol, paralelamente, e depois acabei por vir para Lisboa para ter um mestrado na Faculdade de Metodologia Humana, um mestrado em Gestão do Desporto, e foi numa altura que estava a acabar a tese e que já estava à procura de trabalho, E houve um colega meu de mestrado que falou-me de um tipo que era investidor da empresa onde ele trabalhava, que era uma empresa de observação de jogos, que era um tipo que estava à procura de um jovem na área da edição do desporto para dar início a um projeto na área social e que podia-me passar o contacto para ver se eu tinha algum interesse. E então fui aí que tive o primeiro contacto. com um dos fundadores da Social Innovation Support. [00:03:16] Speaker A: E desculpa, Roberto, foi logo no início, não? [00:03:17] Speaker B: Foi logo no início, em 2020, a Social Innovation Support ainda não existia enquanto personalidade jurídica, ainda era um conceito, ainda não tinha desenvolvido nenhum programa, nenhum projeto. E foi aí que conheci a ideia, conheci um dos fundadores, que é uma pessoa muito especial e continua a ser uma referência para mim. E foi aí que tive a oportunidade de ter o primeiro contacto com este mundo social e com este mundo do terceiro setor que não conhecia bem. E foi aí que tudo começou. [00:03:53] Speaker A: Falavas-me que enquanto desportista e enquanto jovem tiveste contacto com realidades, que o desporto te ajudou a ter contacto com realidades com as quais tu não tinhas. E agora que estás integrado neste projeto, quais são os maiores desafios que estes jovens enfrentam e que nos passam despercebidos muitas vezes porque nem contactamos com eles, portanto, o que é que tens a perceber? [00:04:17] Speaker B: Sem dúvida. Eu gosto muito daquela analogia, que normalmente é até utilizada para desmontar um bocadinho aqueles fundamentalistas da meritocracia, que é a analogia da corrida, que normalmente nós dizemos que nem toda a gente começa do mesmo ponto de partida e eu gosto muito desta analogia porque é muito visual. E a verdade é que acontece muito isto nos contextos onde nós trabalhamos, no meio de um contexto vulnerável, de um bairro social, que são as comunidades onde nós atuamos em grande parte dos programas que desenvolvemos. Para atingir aquilo que eu atingi, tenho que atravessar e tenho que correr um caminho muito maior, tenho que atravessar um conjunto de obstáculos que eu tive o privilégio de não atravessar. Portanto, para um miúdo de um bairro social conseguir acabar o 12º ano, entrar numa licenciatura, acabar a licenciatura, sonhar com um mestrado ou sonhar entrar no mercado laboral, É tudo mais difícil e precisa de associações como a nossa que ajudem a que isso seja possível. [00:05:24] Speaker A: Podes só especificar qual é a tua função atual? [00:05:27] Speaker B: E aqui explicando um bocadinho o que é a Social Innovation Sports. Nós hoje em dia, em termos jurídicos, somos uma associação sem fins lucrativos que utiliza o desporto como ferramenta de inclusão social. Nós desenvolvemos programas desportivos para mais variados públicos-alvos em diferentes comunidades, com diferentes temas. Podemos falar um bocadinho mais à frente. E neste contexto e na associação, como é uma associação que já não é tão pequena, em 2020 era muito pequena, éramos três, hoje em dia já somos alguns, mas mesmo assim continua a ter uma mentalidade muito ambiciosa, nós fazemos um bocadinho de tudo. [00:06:04] Speaker A: Neste momento, Desculpa, era isso que eu tinha perguntado. O teu dia-a-dia, como é que decorre? [00:06:09] Speaker B: É um dia-a-dia um pouco louco, no sentido que eu de manhã posso estar a trabalhar na comunicação da associação, posso estar ao mesmo tempo a ter uma reunião com um possível financiador ou investidor, ou com um possível parceiro. À tarde, posso estar a trabalhar na coordenação de um Projeto X. À noite, porque acontece muitas vezes, estou a trabalhar na coordenação do Projeto Y. E é um bocadinho este o nosso dia-a-dia. mais um clichê, quem corre para gosto não cansa, e é muito essa mentalidade que nós temos. [00:06:40] Speaker A: E quais são, como é que vocês identificam essas pessoas, quais são os critérios que certos grupos têm de ter para vocês poderem intervir e para poderem colaborar com eles? [00:06:51] Speaker B: Exato, ou seja, aqui para começar um bocadinho pelo início, A Social Innovation Sports nasceu, portanto, de dois fundadores, o Ricardo Carvalho e o Nuno Frasão, e a ideia era, numa fase inicial, fazer um trabalho quase de consultoria, se calhar isto não é um termo mais exato, mas é um trabalho quase de consultoria social para apoiar projetos que já estivessem no terreno. Ou seja, nós não queríamos criar projetos novos. [00:07:18] Speaker A: Diretamente. [00:07:19] Speaker B: Diretamente, exatamente. Queríamos sim ajudar as pessoas que já estivessem no terreno, porque normalmente estas pessoas, estas associações que estão no terceiro setor e mais nesta área do desporto pela inclusão, são sempre organizações pequenas, com pouco, ao nível da gestão... [00:07:35] Speaker A: Pouca abertura, deve ser difícil de explicar. Exatamente, desenvolvidas. [00:07:39] Speaker B: E a ideia inicial era realmente darmos algum trabalho de consultoria para estes pequenos projetos poderem potenciar e impactar ainda mais pessoas e potenciar o trabalho deles. Contudo, o nosso caminho foi sendo feito de outra forma. Nós mergulhamos a fundo nesta área social e percebemos que havia um conjunto de oportunidades. Conhecemos também muitas pessoas, muitos parceiros. E acabamos por começar nós próprios a desenvolver alguns projetos que achamos que eram necessários para determinados públicos-alvos, como por exemplo a questão dos refugiados, que é uma questão que nós trabalhamos muito e que na altura começamos com um projeto em 2021 porque realmente sentimos essa necessidade de haver resposta para este problema e utilizando sempre o desporto como forma de inclusão. E, portanto, foi sempre um caminho, um bocadinho, a tentar perceber o que é que estas comunidades precisam. [00:08:38] Speaker A: Depois as necessidades. [00:08:39] Speaker B: São as necessidades, exatamente. Em termos de critérios, o nosso grande objetivo é tirar as barreiras à entrada para que toda a gente possa praticar desporto, tenham elas possibilidades ou não. E posso dar um exemplo. Nós, por exemplo, no nosso projeto mais recente, que é um projeto de QVP, que é o LAP Club Runners, que o objetivo é democratizar o acesso ao atletismo para jovens de comunidades vulneráveis. Há um ano abrimos dois clubes de atletismo na Cova de Amor e no Zambujal. E a EDP queria exatamente que nós trabalhássemos com jovens dos 8 aos 16 anos, que fossem daquelas comunidades e que tivessem algumas características que necessitavam deste apoio. E, portanto, aí os critérios estão definidos. Nós temos que trabalhar com aquele público-alvo. Agora, há projetos que nós tentamos realmente abrir ao máximo número de pessoas dentro desta lógica que são pessoas que precisam desse apoio, precisam dessa... Claro que sim. [00:09:36] Speaker A: Ótimo. E diz-me só uma coisa, quando falas de desporto, quais são as modalidades? Não se cingem pelo futebol, espero. [00:09:43] Speaker B: Zero, zero, zero. Aliás, o futebol é sempre aquela modalidade mais fácil e quando nós queremos ser preguiçosos, o futebol é sempre a nossa... [00:09:51] Speaker A: Funciona sempre. [00:09:53] Speaker B: Agora, nós somos multidesportos e posso dizer já que tivemos que tornar-nos especialistas em críquete, porque o críquete é um desporto rei nas comunidades asiáticas, comunidades indianas, do Paquistão, do Bangladesh, comunidades que hoje em dia estão muito presentes no nosso país. E nós em alguns projetos que queríamos intervir nestas populações tivemos realmente de desenvolver algumas atividades de cricket, perceber o que é que era o cricket, como é que podíamos implementar atividades de cricket. E é um bom exemplo de que é uma modalidade que nós não tínhamos qualquer tipo de conhecimento, mas que tivemos que investir e perceber quem é que já dinamizava o cricket cá em Portugal. Mas como é um bom exemplo de que nós não temos modalidade, É, exatamente. É o que as comunidades querem. [00:10:40] Speaker A: É preciso perceber a cultura, é um trabalho. [00:10:42] Speaker B: Exatamente, exatamente. [00:10:43] Speaker A: E procurar dentro do nosso país quem é que desenvolve o trabalho. [00:10:46] Speaker B: Exatamente, no caso do críquetes já existia uma federação que ainda não tinha a questão da utilidade pública e desportiva, ainda era um pouco informal, mas que já haviam pessoas dedicadas à dinamização desta modalidade em Portugal, até era uma família, uma coisa muito informal, mas que nós contactámos logo essas pessoas e percebemos como é que podemos crescer, como é que podemos impactar e potenciar as atividades que eles já faziam. E é um trabalho, para quem gosta desta área, para quem gosta de esporte, é incrível. [00:11:18] Speaker A: Como é que conseguem envolver? Porque eu acredito que os jovens tenham grande adesão e que gostem de desporto, porque nós todos nascemos a gostar de desporto, seja qual for a nossa cultura. Mas e as famílias e as comunidades? Como é que respondem? Existe alguma dificuldade? [00:11:37] Speaker B: A pergunta não é muito fácil de responder porque nós trabalhamos em contextos muito diferentes, muito heterogêneos. Dito, nos contextos que trabalhamos mais, que é os contextos dos bairros sociais, em comunidades vulneráveis, nós enfrentamos, em muitos dos casos, a ausência de apoio familiar, Às vezes por necessidade, posso dar o exemplo que grande parte dos jovens com quem trabalhamos têm uma mãe ou um pai que sai às seis da manhã para ir trabalhar e volta às oito da noite e até às vezes são os próprios irmãos mais velhos que tomam conta, acompanham, acompanham com o jantar, que põem a roupa a secar, que vão deitar os miúdos mais novos e às vezes pouco ou nenhum contacto têm com os pais durante o dia. E é o trabalho dessas associações tentar aclimatar um bocadinho a ausência destas estruturas familiares. E, portanto, não é fácil. Estou a falar de uma forma genérica, mas claro que há exemplos de pais que, mesmo em contextos muito difíceis, estão presentes. E nós, quando é possível, estabelecemos sempre essa ligação, porque é importante, até do ponto de vista de sensibilizar esses pais tomar certas iniciativas para que os seus filhos tenham outro tipo de oportunidade. Mas, de forma genérica, o que enfrentamos é realmente a ausência da estrutura familiar que apoia estes jovens. [00:13:08] Speaker A: O desporto é um ótimo veículo para cultivar valores e tudo mais. Vocês cingem só o desporto ou também fomentam algum tipo de aulas ou de formações ou através do desporto? [00:13:20] Speaker B: Sim, o desporto no nosso trabalho está no centro de tudo. e tem um impacto brutal. [00:13:27] Speaker A: O trabalho em equipa, esses valores todos? [00:13:29] Speaker B: Todos, todos, todos. E no caso de determinadas populações, eu estava a falar há pouco da população refugiada, e mais um clichê, nós falamos muito que o desporto é uma linguagem universal, mas é mesmo. E eu conto sempre uma história que é muito divertida, que foi quando nós lançamos o primeiro projeto que hoje em dia já é um programa, que é o Welcome Sports Club, que é um projeto que trabalha especificamente a integração de comunidades refugiadas e imigrantes através do desporto. E quando eu lancei esse projeto, quando nós lançamos, a SIS lançou, a Association of Sports lançou, eu fui apresentar esse projeto ao primeiro grupo de jovens menores não acompanhados refugiados que chegaram a Portugal. Portanto, para quem não está dentro dos termos, são jovens que chegam a Portugal órfãos, sem qualquer tipo de apoio familiar, e que chegam sozinhos a Portugal. E nós tivemos o primeiro grupo de cerca de 20 e tal, afegãos, sobretudo afegãos, que chegaram a Portugal, tiveram numa casa de acolhimento que era gerida pela Cruz Vermelha, e eu fui lá apresentar o projeto. E o nosso projeto, numa fase inicial, tinha a componente de dinamização de atividades esportivas para eles, E depois, a partir daí, queríamos trabalhar outras competências com eles. E a verdade é que eu cheguei a essa casa de acolhimento, que ficava na Penha de França, na Cruz Vermelha, para apresentar o projeto a 20 miúdos, sobretudo afogados. Tinha alguns egípcios. [00:14:54] Speaker A: Entre que idades, desculpa? [00:14:55] Speaker B: Entre os 14 aos 16. Havia uns jovens também com 13. e eu cheguei lá e tinha... portanto, estavam todos numa sala e tinha o meu pai, o técnico social, que estava a trabalhar com aquele grupo, e um tradutor de persa e um tradutor de árabe. O tradutor de persa só falava inglês, não percebia português, e o tradutor de árabe só falava português, não percebia inglês. A situação era esta, eu queria explicar o projeto aos jovens, que já tinham outro tipo também de perspectivas, e provavelmente também não iam perceber bem aquilo que eu iria dizer, mas para dificuldades de sensibilização tinha a questão da tradução. Falava em português, o tradutor de árabe traduzia para árabe, depois tinha que falar em inglês, o tradutor de persa traduzia para persa, e entretanto em cada frase que eu dizia demorava quase 5 minutos a ser traduzida. Passaram 10 minutos, os miúdos já estavam a jogar ondefadas por todo lado e eu disse, pá, vamos acabar com isto, vamos a pôr, aquilo tinha ao pé do centro de acolhimento, de acolhimento, um sintético. Vá, vamos todos pôr o sintético, jogar uma futebolada e vamos ver se eu consigo, quase um a um, explicar um bocadinho em inglês ali. E realmente fomos para o sintético, jogamos uma futebolada, os miúdos que olhavam para mim com quase um olhar de desconfiança, começaram. [00:16:13] Speaker A: O que é isto, pois? [00:16:15] Speaker B: No campo de futebol começaram, eu como também dava uns toques porque jogava futebol, começaram a criar uma relação comigo e começaram a ficar curiosos. Ah, mas tu jogas futebol, não sei o quê. Mesmo às vezes, os que não falavam bem inglês, nós conseguimos comunicar mais ou menos no campo. Isto foi logo no início que eu comecei a trabalhar na Star e aqui eu tive a primeira experiência e percebi mas o desporto realmente desbloqueia. Exatamente, desbloqueia e é um meio fácil para conseguir comunicar com estas comunidades e para criar uma relação. E é aí que o desporto tem um papel fundamental e que nós fazemos questão de utilizar. [00:16:53] Speaker A: E já que estás tão perto e trabalhas mesmo no sítio com esses jovens, na tua opinião, como é que através destas iniciativas eles conseguem... como é que se conseguem criar oportunidades de emprego e até no que é que melhora a situação deles? [00:17:12] Speaker B: Sim, isso também foi outra experiência que fomos tendo ao longo do caminho que a Social Innovation Sports tem percorrido. Nós quando lançámos esse projeto do Welcome Sports Club, começámos a trabalhar com esses jovens que tinham 14, 15 anos. sobretudo na dinamização das atividades esportivas e na capacitação, ou seja, nós queríamos desenvolver um conjunto de competências através do desporto, lá está, através das atividades esportivas para criar essa relação e depois utilizar as atividades esportivas para desenvolver um conjunto de competências que às vezes era só eles terem a oportunidade de falar português sem ser uma assistente social, sentar à mesa ou dentro de uma sala de aula que é sempre mais complicado. Começamos a perceber que os jovens também tinham grandes necessidades de apoiar as famílias, aqueles que ainda tinham ou amigos e, portanto, precisavam de ganhar algum dinheiro e queriam entrar no mercado laboral e não sabiam como é que deveriam fazê-lo e as próprias estruturas estatais ainda não estavam muito bem preparadas, porque também fui o primeiro grupo que eles receberam. [00:18:17] Speaker A: Pois, é isso. É que nós não temos preparação, nem conta que estamos nunca com situações dessas. [00:18:22] Speaker B: Exatamente. [00:18:23] Speaker A: O princípio deve ser muito complicado. [00:18:24] Speaker B: Exatamente. E nós começamos a perceber que havia uma oportunidade para nós também investirmos nesta área da empregabilidade, do recrutamento inclusivo. E dentro deste programa do Welcome Sports Club, criamos um projeto que é o Welcome Sports Club Jobs, que é focado na criação de... é focado no desenvolvimento do recrutamento inclusivo com estes jovens, que já também abriam adultos refugiados e imigrantes, já não é só... não se fingimos só os jovens. porque realmente foi uma oportunidade que percebemos que havia no mercado e começamos também a falar com algumas empresas parceiras e é importante também referir, porque elas estão... posso aqui referir mesmo uma... [00:19:07] Speaker A: Eu ia perguntar, que tipo de parceiras é que estabelecem? Se é só com escolas ou se é com empresas também? Aproveito já. [00:19:15] Speaker B: Nesta área do recrutamento inclusivo nós temos um parceiro de excelência que é o Alcorte Inglês que tem recrutado muitos jovens que nós temos acompanhado e que tem feito um trabalho incrível e que já trabalha quase 5 ou 10 anos à frente das outras empresas, já tem um grupo dentro do Departamento de Recursos Humanos, já trabalha muito bem a área da diversidade, ou seja, já tem um departamento só para trabalhar a área da importância. com pessoas super experientes para que consigam integrar estas populações dentro da empresa e, portanto, tem sido um parceiro espetacular nesta questão do emprego inclusivo. Acho que neste momento já empregamos, o Qualcorte Inglês, entre estágios e contratos, já empregamos cerca de 35 jovens, que já começa a ser um número considerável. [00:20:14] Speaker A: E vocês continuam a fazer o acompanhamento dos jovens? [00:20:16] Speaker B: Fazemos o acompanhamento dos jovens, temos uma pessoa na equipa dedicada a esta área da empregabilidade. e que faz um acompanhamento quase de 24 horas com estes jovens, porque realmente é quase tudo novo para eles e que têm necessidades diferentes no sentido do apoio nas várias fases daquilo que é um processo de recrutamento e mesmo quando já estão efetivos a trabalhar há sempre desafios que eles precisam de apoio e nós tentamos sempre em parceria com as empresas dar esse apoio. [00:20:49] Speaker A: Que tipo de dificuldades é que as empresas têm? [00:20:56] Speaker B: Que isto exige muita energia, isto exige recursos que tenham capacidade para integrar estas populações. porque são populações com necessidades diferentes, seja por causa da língua, seja por causa dos aspectos culturais, e tem que haver uma abertura e tem que haver o mínimo de condições criadas para que estas pessoas tenham realmente sucesso. [00:21:23] Speaker A: Para além da vontade, é preciso ter estrutura... [00:21:25] Speaker B: A mínima, ou seja, nós também tentamos passar às empresas, e não só ao Corte de Inglês, temos outras parcerias, como a Teleperformance, que também tem sido incrível neste processo. Nós tentamos passar que estas pessoas não são diferentes das outras e que devem seguir os mesmos trâmites em termos de recrutamento. Contudo, a verdade é que... há necessidades que precisam de ser comatadas e seja por causa da língua, seja por causa das questões culturais que eu falei há bocado, tem que haver um acompanhamento maior e temos que permitir que sejam devidamente enquadradas naquilo que é o trabalho que vão exercer e, portanto, é esse o trabalho que nós tentamos fazer. [00:22:10] Speaker A: Claro que sim. É um trabalho de excelência que têm feito até agora e o que eu te pergunto é Qual é o plano futuro? Como é que pretendem evoluir? Porque já percebi que vocês são super dinâmicos e estão sempre à procura de melhorar. O que achas que dentro de cinco anos conseguem fazer para evoluir? [00:22:27] Speaker B: Sim, nós temos crescido muito. E, se calhar, nesta conversa nós ficamos muito num projeto que temos muito orgulho, que é o projeto mais focado em comunidades refugiadas e imigrantes. Mas nós temos tentado trabalhar com diferentes comunidades. Nós estamos sensivelmente Temos três programas distintos. Temos um programa que é mais focado nestas comunidades vulneráveis em bairros sociais. Temos outro programa que é mais focado na questão dos refugiados e migrantes. E temos um terceiro programa que estamos a tentar desenvolver que é mais focado na revitalização de espaços comunitários para a prática da atividade desportiva. E fui há pouco que estava a dizer que vinha de um evento, que é um evento que até era a apresentação de resultados de um projeto que estamos a fazer em Loures, em dois bairros sociais, na Quinta da Fonte e na Quinta do Mocho. onde, com outros parceiros, conseguimos revitalizar dois espaços comunitários nos bairros. Com a ajuda da Arte Urbana e a própria ajuda das associações locais, da comunidade, de parceiros privados, conseguimos revitalizar aqueles espaços que estão muito atrativos para a comunidade para criar desporto. [00:23:41] Speaker A: E o propósito é o desporto? [00:23:42] Speaker B: O propósito é dar condições de acesso à prática desportiva àquelas populações. mais uma vez acreditando que esse acesso e que essa prática da atividade desportiva, atividade física e desportiva, irá permitir que essas populações que desenvolvam um conjunto de competências em diferentes áreas e a parte da saúde e do bem-estar e da saúde mental também. E, portanto, nós acreditamos que o caminho é este. [00:24:09] Speaker A: Nós muitas vezes temos dificuldade em ter noção dessas dificuldades porque são realidades que a quem não trabalha com essas áreas passam-nos muitas vezes despercebidas. O que é que te marcou mais ao longo desta... porque já estás nesse projeto há cinco anos. São cinco anos de Todas as semanas conviveres com realidades completamente distintas, que para ti já se tornam normais e que tentas fazer estas recuperações. O que é que te marca mais e qual é a experiência mais positiva que retiras deste trajeto de 5 anos? [00:24:42] Speaker B: É um trabalho muito recompensador. É um trabalho que exige muito esforço e, como estávamos há pouco a falar, nas funções que eu tenho dentro da SIS, e quando são organizações pequenas nós fazemos um bocadinho de tudo e torna-se bastante exigente. Contudo, é um trabalho bastante recompensador porque nós percebemos realmente que conseguimos ter impacto na vida destas pessoas e ver hoje em dia, por exemplo, alguns jovens refugiados que nós acompanhamos desde 2021 e que hoje em dia a trabalhar no El Corte Inglês, conseguiram-se autonomizar, que estão interessados em avançar com a carreira académica, que já estão com outras perspectivas de vida, com outras visões sobre o nosso país e sobre o seu próprio projeto de vida, É uma alegria imensa, é um orgulho para toda a equipa e é isso que nos dá força e energia para continuarmos com este trabalho. [00:25:43] Speaker A: Eu acredito que tenhas feito amizades, porque ao longo de tanto tempo e desenvolvendo uma relação tão próxima, com certeza te ficaste com novos amigos e vais acompanhando o dia-a-dia. [00:25:54] Speaker B: Sem dúvida, sem dúvida. Mais uma vez, eu nasci num contexto privilegiado e E esta experiência ajuda-nos a relativizar um bocadinho os nossos problemas. que às vezes são tão pequeninos ao lado dos problemas que estas pessoas enfrentam, e que eu acho que fez-me uma pessoa, e que está-me a fazer uma pessoa melhor, além de um profissional melhor, e nesta perspectiva eu também tenho objetivos pessoais e profissionais que acho que irão acabar por continuar nesta área, porque eu acho que, mais uma vez, é uma área muito exigente, o terceiro setor é um setor que nem sempre é considerado como deveria, mas que tem um impacto muito grande e, mais uma vez, é um trabalho muito recompensador. E tenho aprendido muito, tenho feito muitas amizades e tem sido uma experiência muito feliz e enriquecedora. [00:26:56] Speaker A: Acredito, claro que sim. Agora, para quem nos ouve e que possa, para quem está em casa e quem está a ouvir, que possa querer ajudar ou participar neste tipo de projetos onde tu estás incluído, como é que o pode fazer? É que para muitos deve ser a primeira vez que o estão a ouvir. Eu confesso que para mim, antes de conversarmos, também foi uma novidade e é e é uma forma muito especial de cultivar e de criar novas raízes e de acolher pessoas de outros países em condições completamente vulneráveis. E quem nos está a ouvir e que ficou agora com interesse e que despertou interesse e que está aqui uma forma gira de poder participar e ajudar, como é que o podem fazer? [00:27:39] Speaker B: Podem ajudar no contexto dos projetos com o trabalho voluntariado e isso basta irem às nossas redes sociais ou ao próprio website e entrar em contato connosco ou também posso deixar o meu contato e quem tiver interesse em fazer esse trabalho voluntariado é sempre um trabalho bem-vindo e também para as empresas Nós somos muito provocadores e temos sempre desafios para as empresas. Por exemplo, no próximo fim de semana, dia 29, vamos ter o torneio Welcome Cup, que é um torneio inclusivo entre empresas e refugiados no Jamor. onde vamos ter já 12 empresas inscritas, que é um número excelente e que de certeza aqui irá ser um dia fantástico. Por exemplo, nós trabalhamos também muito com a Fundação AGEAS, com team buildings inclusivos, Às vezes aquela questão que eu falei da revitalização dos espaços comunitários, às vezes a própria Fundação AGEAS, com o nosso apoio, desenvolve team buildings para ajudar na revitalização de determinados espaços. E, portanto, há várias formas de ajudar, seja no trabalho voluntariado, seja através das próprias empresas, seja Por exemplo, doação de material desportivo, se for também essa vontade, nós também temos forma depois de fazer chegar às comunidades com quem trabalhamos. Portanto, eu acho que há uma panóplia de formas de ajudar o nosso trabalho e, portanto, quem quiser ajudar pode nos contactar porque estamos sempre abertos a mais ajuda. E é muito importante dizer isto, nós só acreditamos num trabalho feito em parceria. Nós falamos muito da ODS, do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, que é o 16, das parcerias para o desenvolvimento, e que realmente nós acreditamos que o nosso trabalho só poderá impactar mais pessoas se for feito com as devidas sinergias e os devidos apoios e, portanto, toda a gente se quiser apoiar. [00:29:53] Speaker A: Eu ia só pedir para partilhares um e-mail ou a página de acesso à. [00:29:56] Speaker B: Vossa... Sim, ou seja, a nossa página de acesso é socialinnovationsports.org, o nosso e-mail é info.csports.org, o meu e-mail é martim.csports.org. Ótimo. podem entrar em contacto conosco. [00:30:13] Speaker A: A partir daí, desde voluntários até empresas podem-vos contactar? [00:30:17] Speaker B: Exatamente. Existem inúmeras formas de... Desde iniciativa individual para praticar voluntariado podem-nos contactar. Empresas que nos queiram apoiar podem-nos contactar. Portanto, e mais uma vez, nós só acreditamos num trabalho feito de forma... com parcerias estratégicas e, portanto, essa ajuda sempre bem vinda. [00:30:37] Speaker A: Aproveito para te perguntar, quais são os apoios oficiais que vocês têm? [00:30:41] Speaker B: Nós temos muitos apoios, felizmente temos muitos parceiros em diferentes áreas. [00:30:46] Speaker A: E quantos? Para termos noção da... [00:30:48] Speaker B: Eu não faço ideia em termos numéricos de quantos são, mas em áreas específicas, por exemplo, na área do desporto, temos, por exemplo, a Federação Portuguesa de Futebol, que tem um projeto connosco, que é o Clube Escolhas. Temos o IPDJ, o Instituto Português do Desporto e da Juventude, que também é um parceiro estratégico, que também tem um projeto connosco. Temos a Fundação Desporto, que também vai nos ajudar naquilo que é, provavelmente, o acesso a alguns espaços desportivos. Temos, na área académica, a Faculdade de Universidade Humana, a Universidade Europeia, com quem trabalhamos de forma regular. Temos, na área privada, como o Alcorte de Inglês que eu falei, como a Teleperformance, como o IKEA, que já foram empresas que nós trabalhamos muito. [00:31:33] Speaker A: E grandes empresas. [00:31:34] Speaker B: E grandes. Temos, na área do retalho, a Decathlon, na área das marcas desportivas, que também têm dado um apoio às vezes na doação de material. Portanto, temos muitos parceiros e provavelmente vou me estar a esquecer de alguns que são muito importantes. Os nossos parceiros principais, além dos que eu referi, são as associações locais que nós trabalhamos diariamente, que são aquelas que nos permitem entrar nos bairros. ter contacto com as comunidades e temos parceiras incríveis em diferentes zonas do país que realmente têm, e utilizando aqui a palavra que tu muito bem utilizaste, que foi desbloquear às vezes uma série de situações e que têm sido parceiras incríveis. [00:32:20] Speaker A: Que ótimo. Ainda bem, é uma história de sucesso de mais de cinco anos e que só espera resultados ainda mais positivos. Calculo que nas vossas redes sociais também possam acompanhar todas as novidades? [00:32:32] Speaker B: Tudo, exatamente. No Instagram e no Facebook, sobretudo. Partilhamos sempre... Tentamos partilhar um pouco da nossa semana sempre. E como também trabalhamos em diferentes programas, em diferentes áreas, acho que é uma boa forma de acompanhar. Também temos uma newsletter que sai semanalmente, que faz um pequeno resumo daquilo que foi o nosso trabalho mensal. E, portanto, podem também acompanhar através desses canais. [00:33:01] Speaker A: Martim, sei que ficam aqui muitos promenores por contar, muitas histórias por partilhar, mas ficamos com este teu testemunho, super positivo, de uma organização diferente que aborda e ajuda a resolver problemas de uma forma muito original, que é o desporto. que como nós sabemos, e lá está mais uma vez, desbloqueia muitos contactos e muitos processos e torna tudo mais fácil. Agradeço-te imenso a ter vindo cá. Já demos este primeiro tema e já demos a conhecer a tua organização e agora quem nos ouviu e quiser entrar em contacto está mais que convidado para poder entrar em contacto e estabelecer com vocês as parcerias que quiserem. Martim, muito obrigado. E obrigado a todos os que nos ouviram. E já sabem, se quiserem ouvir este ou outros podcasts, basta entrarem nas nossas redes sociais ou no site do Automóvel Clube Portugal. Muito obrigado.

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