"Viajar é para Todos": Nuno Vitorino e o poder de superar barreiras

Episode 77 May 14, 2025 00:34:38
"Viajar é para Todos": Nuno Vitorino e o poder de superar barreiras
ACP - Automóvel Club de Portugal
"Viajar é para Todos": Nuno Vitorino e o poder de superar barreiras

May 14 2025 | 00:34:38

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Show Notes

Neste episódio do podcast "Viajar é para Todos", Sofia Martins entrevista Nuno Vitorino, fundador da Associação Portuguesa de Surf Adaptado. Nuno fala sobre os desafios e a preparação necessária para viajar com mobilidade reduzida, além de partilhar a sua paixão pelo surf adaptado e a importância da inclusão.

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Episode Transcript

[00:00:02] Speaker A: Viajar é para todos é um podcast do Automóvel Clube Portugal que vem mostrar que viajar é mesmo para todos, independentemente das condições e características de cada um. Eu sou a Sofia Martins, sou autora do blog Just Go By Sofia, Sou paraplégica, adoro viajar, já visitei mais de 40 países e concretizei o sonho de dar uma volta ao mundo. Aqui trago convidados com outras visões e outras necessidades, esperando contribuir para que outras pessoas descompliquem na hora de escolher o destino e partir. Este podcast tem o patrocínio da Max Finance. Olá, bem-vindos ao Viajar é para Todos, um podcast do Automóvel Clube Portugal. Hoje o meu convidado é o Nuno Vitorino. Olá, Nuno. Olá, muito obrigada por teres vindo. Vamos fazer o check-in? [00:00:52] Speaker B: Vamos fazer o check-in e hoje vamos para a bonita cidade de Londres. [00:00:56] Speaker A: Muito bem, uma cidade fantástica que eu adoro, mas da qual não tenho grandes recordações, boas recordações, mas já lá vamos. O Nuno é o fundador da Associação Portuguesa de Surf Adaptado, ex-atleta paralímpico de natação, campeão e vencedor do Campeonato Britânico de Surf Adaptado, Finalista no Mundial de Parasurfing, disputado na Califórnia, e também na Califórnia, participação no US Open de Surf Adaptados. Espero ter dito tudo bem, Nuno, não sei se me enganei aqui. [00:01:32] Speaker B: Não te enganaste, não. Está perfeito. [00:01:34] Speaker A: O Nuno é tetraplégico. Isto são muitos títulos Nuno, muito surf, muitas viagens, de certeza. Antes de irmos ao surf, que eu tenho imensa curiosidade, eu queria saber que tipo de viajante é que tu és? Como é que viajas? Se é só em lazer, se é em trabalho, se é em desporto também, não é? Como é que é o Nuno viajante? [00:01:55] Speaker B: O mundo viajante é um mundo que aproveita todas as oportunidades que tem. Porque para mim viajar é como ler um livro, mas em movimento. É estarmos dentro de um livro. Poder interagir com os locais. Poder experienciar coisas que é muito difícil experienciar de outra forma, a não ser ir. Já diz o ditado, não é? Ir é o melhor remédio. Não é o que nos dizem? [00:02:18] Speaker A: Escrever as próprias histórias, não é? [00:02:20] Speaker B: É, e as memórias. Eu sou uma pessoa que não fotografa. Raramente tenho fotografias dos sítios onde estou. Prefiro aproveitar. [00:02:28] Speaker A: É. [00:02:28] Speaker B: E registar. Sim. E o Nuno é uma pessoa que tanto viaja em lazer como em competição. Eu não consigo dissociar uma coisa da outra. Porque mesmo quando eu vou em lazer estou sempre a ver se os sítios estão adaptados ou não. Fazer uma comparação entre países. Até para depois nós que somos uns privilegiados e viajamos muito podermos passar esse conhecimento a outras pessoas que nos fazem perguntas. Porque realmente eu acho que nós temos um privilégio. Acho que isto é um privilégio, podermos andar para trás e para a frente. É a coisa que eu mais gosto. Aliás, eu posso dizer que eu vivo um bocadinho para isto. Vivo um bocadinho para viajar. Eu gosto muito de viajar. E depois, mesmo quando vou em competição, também tiro um bocadinho para lazer. [00:03:13] Speaker A: Claro. E pegando naquilo que estavas a dizer, nós vamos abrindo caminho também, não é? Porque há muita coisa ainda que falta fazer. E eu acho que cada vez que saímos de casa deixamos alguém a pensar, não é? E podemos fazer a diferença. [00:03:27] Speaker B: É verdade, Sofia. Eu só não quero que nos vejam como uns guerreiros. Eu acho que inicialmente nós estamos a viver. [00:03:32] Speaker A: Claro, claro. [00:03:33] Speaker B: A única diferença, e eu muitas vezes falo nisso, eu sou pai, tenho um trabalho, gosto de viajar, faço tudo o que as outras pessoas fazem. não há aqui nada que nos coloque num patamar superior. A única coisa que se calhar nós temos aqui que perceber, e aí somos diferentes, se calhar porque somos pioneiros. E acho que é a única diferença. [00:03:58] Speaker A: É o que eu estava a dizer. Há muita coisa ainda por fazer e por mudar. E cada vez mais as pessoas com deficiência saem de casa. E isso vai abrindo caminho, não é? Para quem vier depois. Há 30 anos, quando eu fiquei para a Pelégica, também gostava de ter tido outros exemplos e de ter... porque na internet quase havia, não é? Portanto, eu acho que é muito importante aquilo que nós fazemos e vamos abrindo caminho para outras pessoas. Não é abrindo caminho para outras pessoas e fazendo diferença e tornando o mundo um bocadinho mais acessível. [00:04:33] Speaker B: É verdade. Porque o mundo mais acessível é uma responsabilidade de todos. Tu repara, em qualquer momento da vida, Todas as pessoas mesmo que hoje caminham, não precisam viver numa cadeira de rodas, elas vão passar por alguma dificuldade de locomoção. Ou porque vão ficando mais velhas, ou porque vão tendo filhos e andar com um carrinho de um lado para o outro também não é a coisa mais fácil. Ou até nas senhoras uma coisa mais básica, que as senhoras são muito vaidosas, permitem-me aqui a categorização, e gostam de usar o seu salto alto. Até isso, andar na calçada portuguesa Eu julgo que é um sacrifício. Pelo menos é o que me conta. Não quero ter salto alto, mas é um sacrifício. E eu acho que isto é uma responsabilidade de todos. Tornar o mundo mais inclusivo é uma responsabilidade de todos. [00:05:15] Speaker A: Com certeza, também concordo contigo. Olha, as viagens, e para nós, que também estou numa cadeira de rodas, implicam uma grande organização. Se queremos que tudo corra bem, também podemos ir à aventura, mas já sabemos que aquilo que temos certo é que vamos encontrar obstáculos, não é? Mas se levarmos tudo planeado e mais ou menos organizado, facilita-nos muito a vida. Como é que fazes essa organização da viagem? [00:05:43] Speaker B: Bom, isto é muito complexo. Para já depende do sítio onde nós vamos viajar. Depois, para esse local, nós temos que perceber que tipo de país é, se já existe acessibilidade, se não existe acessibilidade, se ela está garantida, se não é garantida. É muito diferente eu, por exemplo, viajar, fazer uma viagem aqui em Portugal, ou ir, por exemplo, para a Espanha, que é já ali ao lado. [00:06:06] Speaker A: Sim. [00:06:06] Speaker B: Não é? Espanha eu não estou muito preocupado se há rampa, se não há rampa. Há rampa e pronto. [00:06:11] Speaker A: Claro. Espanha é um dos países mais acessíveis. [00:06:15] Speaker B: Sim, mas mesmo Londres, Islândia por exemplo, que eu já estive, também achei mais adaptado cá. Até Buenos Aires. Apesar de ter passado ali algumas, porque é um país mais pobre do que nós, menos evoluído, mas mesmo assim achei que eles estavam a garantir condições de acessibilidade. Eu acho também que não podemos dizer que Portugal está muito mal, ou queixar-nos do que quer que seja, até porque nós temos normativas europeias, elas são cumpridas. [00:06:44] Speaker A: Claro que eu costumo dizer que eu não posso falar de um país, não é? Porque há muitas diferenças dentro do mesmo país, em termos de acessibilidade. Depende, se vais para as grandes cidades, se lhe afastas mais um bocadinho. Eu acho que isso se passa em todos os países. [00:06:59] Speaker B: Até a nível de sociedade, porque as sociedades cuidam mais uns dos outros. E há outras sociedades que não são tanto assim. E nós também temos de escolher para onde é que estamos a viajar. E acho que isso faz toda a diferença. Mas essa viagem começa logo em casa. Começa na maneira como tu tens a mala construída. É logo da forma dentro do avião. Se tu tens manga ou não no avião, se não tiveres manga vais no embolifte, que é uma espécie de elevador, que tu vais na tua cadeira até à porta do avião e depois és transferido. para cima de uma cadeira que permite andar ali nos corredores e depois tens pessoas que te ajudam a sentar na tua cadeira de viagem. Depois tens a questão do hotel e essa aí... Olha, Sofia, é das coisas que eu me debate mais. Agora, a minha namorada ajuda muito nisto, portanto eu já não me preocupo muito com isto. Mas nós, eu e a minha namorada, já optamos por pedir fotos da casa de banho, para perceber se a casa de banho é ou não adaptada, porque o adaptado aqui pode ter vários conceitos. Embora exista legislação específica para isso, muitas vezes o adaptado é uma barra na parede e isso não serve para nada. [00:08:10] Speaker A: Claro. [00:08:11] Speaker B: Nós circulamos numa cadeira de rodas e é que precisamos ter um espaço em que a cadeira consiga fazer uma volta 360 graus sem bater em nada. Depois a questão da acessibilidade à própria. [00:08:23] Speaker A: Sanita... E o banco para tomar banho, não é? Porque as pessoas acham que nós tomamos banho na nossa cadeira, não é? [00:08:30] Speaker B: Eu por acaso tomo. [00:08:31] Speaker A: Tomas? [00:08:32] Speaker B: Tomo. Isso é outra questão. [00:08:33] Speaker A: Ah, ok. [00:08:33] Speaker B: Porque eu sou tetraplégico. e não tenho muito equilíbrio, eu opto por portejar a minha cadeira toda com um saco de plástico grande daqueles do lixo e tomo-me bem diretamente na cadeira. [00:08:44] Speaker A: Olha, vês? Essa eu não sabia. [00:08:46] Speaker B: É uma diferença de tempos. [00:08:48] Speaker A: Não, e a questão é que cada pessoa se adapta a coisas diferentes, não é? Portanto, isso é interessante. [00:08:55] Speaker B: Olha, eu só queria deixar uma mensagem já aqui no início da conversa. O importante é ir. [00:09:00] Speaker A: Claro. [00:09:02] Speaker B: O importante é que não se limitem. [00:09:03] Speaker A: Já digo eu, just go. [00:09:05] Speaker B: Just go. É verdade, é o nome do teu blog, não é? [00:09:07] Speaker A: É, sim. [00:09:08] Speaker B: Mas acho que o importante é nós tomarmos a decisão e ir. Pois o resto nós logo vamos resolvendo, à medida que vai acontecendo. Agora, há coisas que nós temos de ter logo a priori. E acho que... Os cuidados de saúde no país para onde nós viajamos e nós que temos alguma deficiência, não é que sejamos doentes, não somos de todo, mas, por exemplo, se partimos nós uma perna é muito mais difícil, se calhar, termos acesso a um hospital do que qualquer pessoa andante. Portanto, acho que isso também é um cuidado que nós temos de ter, mas isso são cuidados básicos de quem viaja, por exemplo, não viaja sem seguro. É impecável para mim. Prefiro que saia um bocadinho mais caro, mas poder ter aqui... [00:09:47] Speaker A: Mas aí eu acho que ninguém deve viajar sem seguros. [00:09:49] Speaker B: Eu também acho. Mas muitas vezes para poupar um bocadinho, não é? Ah, pois não. [00:09:54] Speaker A: Acho que não vale a pena. Acho que vale a pena outros riscos, esse não. [00:09:57] Speaker B: Depois temos o Cartão Europeu de Saúde, não é? Não sei se algum dia estiveste a oportunidade de falar no teu podcast do Cartão Europeu de Saúde, mas permite-nos ser tratados em cada país onde nós vamos dentro da União Europeia como se fosse um cidadão. [00:10:10] Speaker A: Sim, sim, sim. Acabei de renovar o meu. [00:10:13] Speaker B: Também eu, também. [00:10:14] Speaker A: É, é muito importante. Olha, e se juntarmos a isso todo o equipamento de surf, ainda complica aí mais um bocadinho, não é? Como é que é? [00:10:23] Speaker B: Temos a loucura, não é? Porque eu viajo normalmente com duas pranchas, mais três fatos de surf, mais toda uma panopla de material à volta, mais tudo aquilo que é pessoal e da minha higiene íntima também. Portanto, eu preciso sempre viajar com outra pessoa, nesse caso. [00:10:39] Speaker A: Era isso que eu tinha para perguntar. [00:10:40] Speaker B: Nunca viajo sozinho. Nunca tive... Nunca tive, quando vou surfar, aquela... Ah, vou sozinho e depois logo vejo. Não, não posso. Não posso, porque há muita coisa a acontecer no meio do caminho. E uma prancha de surf pesa muito, nós levamos para aí 30 quilos connosco. E para além do tamanho físico de uma prancha de surf. [00:11:03] Speaker A: Sim, sim, sim. [00:11:04] Speaker B: Mas é muito giro, porque às vezes, sabes o que é que acontece? Há bocadinho falavas de nós sermos pioneiros, não é? Eu acho que aqui também. Porque, repara, uma pessoa em cadeira de rodas veja que uma prancha de surf Não cai na cabeça de ninguém. Quando digo que faço surf, às vezes as pessoas ficam a olhar. Mas faço surf. Mas não se metem em pé. Claro, claro, claro. Mas há algo que as pessoas esquecem. É que todos os desportos são adaptados. E são adaptados ao quê? Ao perfil funcional. uma pessoa mais pesada, uma pessoa com o pé maior, uma pessoa com o pé pequeno, o que é que faz? Compra material de esportivo para adaptar ao seu perfil funcional. Nós fazemos a mesma coisa. [00:11:40] Speaker A: Olha, isso leva-me à próxima pergunta. Eu, a primeira vez que vi surf adaptado foi há 14 anos, no Havaí. Eu já sabia que existia, mas nunca tinha visto. E vi, era também uma pessoa tetraplégica, que me fez adeus, do nada. Eu sei que não era para mim, porque ele vinha no carro, depois é que percebi que estava lá o distrito de pessoa com deficiência. E eu fiquei a falar um bocadinho com ele e fiquei a ver como é que ele fazia. Alguém o ajudou a ir para dentro da água, mas depois ele foi sozinho, claro que... em Waikiki, pelo menos naquela praia, há dezenas de surfistas dentro d'água que deveriam ser amigos dele e que o foram ajudar. Como é que é? Explica-me um bocadinho como é que é esta modalidade e já agora fala-me um bocadinho também da associação. [00:12:27] Speaker B: Olha, foi giro agora quando tu me interrompeste na parte do perfil funcional, porque é exatamente isso. Essa tal pessoa que tu tavas agora a contar e foi surfar, por aquilo que tu me contas, deve ser um paraplégico que consegue remar. [00:12:38] Speaker A: Não, era tetraplégico. [00:12:39] Speaker B: Era tetra, pronto. Eu como sou tetraplégico eu não consigo remar. Não conseguindo remar eu tenho de ser sempre uma pessoa que me assiste dentro de água. O que acontece é que essa pessoa vai ser em minhas pernas. Portanto vai bater as pernas, vai para a zona do outside, que é para lá da arrebentação. Quando vem uma onda, vira-me e empurra-me na onda. E aí eu sou autónomo. Mas nós temos que perceber uma coisa, é que o mar não quer saber se estás numa cadeira de rodas ou não. O mar se tiver-te a agarrar e tratar-te mal, vai tratar-te mal igual aos outros. Isto tudo convém ter muita preparação. Eu surfo ondas de 4 metros, por aí. Já fiquei muitas vezes no mar sozinho. E posso contar uma história até na Califórnia. [00:13:18] Speaker A: Sim, conta. [00:13:19] Speaker B: Nós estávamos a surfar e eu estava com a pessoa que me ajudava, o Elson. E estávamos a falar, eu fiz uma onda, estávamos a falar, todos divertidos. De repente, a expressão dele muda. E eu quando viro, em fracassos de segundo, olho e vejo uma montanha de água à minha frente. Que nós já não tínhamos possibilidade de passar. E naquela altura ele diz-me, cada um por si. O cada um por si é tipo o ejecto nos aviões. Estás a ver? Nos caças. Cada um por si, eu sei que naquele momento vou ficar sozinho. [00:13:50] Speaker A: Claro. [00:13:51] Speaker B: E naquele momento eu vou levar porrada. Portanto, eu tenho que estar muito calmo porque eu sei que vou levar uma pancada forte. E aí eu vou para baixo e aguento o que tiver que aguentar e venho para cima. E nós começamos a ouvir uns gritos. Uns gritos que é que era? Era uma atleta havaiana que não conseguiu passar e estava assustadíssima porque estava aí contra o pier. O que é que é o pier? São barrotes? [00:14:12] Speaker A: Sim, sim, sim. [00:14:13] Speaker B: São barrotes de madeira que fazem o cais das praias americanas. E ele disse, vais ficar sozinho, eu tenho que ir lá salvá-lo. E eu, vai-te embora. Pronto, ele nadou até ela, agarrou-a, tranquilizou-a e eu fiquei ali para aí uns 15 minutos a passar um bocadinho mal. Mas é isto. [00:14:30] Speaker A: É assustador. [00:14:30] Speaker B: É nós percebermos onde é que estamos. [00:14:32] Speaker A: Claro. [00:14:33] Speaker B: Não arriscar para além dos nossos limites, porque isso pode ser perigoso. [00:14:36] Speaker A: Mas há muita preparação até chegar daí, não é? [00:14:38] Speaker B: Há muita, há muita. Eu treino com os surfistas que surfam na Zaré, portanto... Ok, agora estou um bocadinho mais parado. Sim. Estou a ficar mais velho, sabes? [00:14:47] Speaker A: Mas não deixas. [00:14:49] Speaker B: Eu já não surfo por aí há uns 9 meses, se calhar, um bocadinho mais. Mas também não tenho muitas saudades. Não sou uma pessoa de grandes saudades. Sou uma pessoa que se apega muito facilmente. Eu já tomei a decisão, que agora sou o presidente do conselho de administração da minha empresa. que quando deixar de ter a minha nomeação vou surfar, vou por aí. [00:15:13] Speaker A: E a associação dá apoio às pessoas que querem praticar surf e dá apoio se quiserem também participar em torneios lá fora ou por outro lado também quem quiser vir a Portugal tem apoio da associação? [00:15:30] Speaker B: A associação no tempo que eu lá estava, agora eu julgo que continua na mesma linha. O que é que nós fazemos? Nós a única coisa que fizemos foi que a areia as gestões físicas deixassem de ser uma barreira intransponível para que as pessoas pudessem ter acesso a mais uma modalidade desportiva, as pessoas com deficiência subentendam-se. E aquilo que nós fizemos foi... Pouca coisa disto no mundo havia. Havia o Havaí, como tu há um bocadinho falaste bem. Nós nascemos em 2012 ou o que foi isso, por aí. Sim, já temos alguns anos. quando a associação foi fundada, e nós nascemos a falar com os Estados Unidos, com a Hawaii, pronto, é a mesma coisa, mas nós sabemos que não há eles, têm bandeiras e tudo aí em frente, nem gostam de ser considerados Estados Unidos, a não ser por outras coisas que não há estas, na desportiva eles estão separados, no surf eles estão separados. E havia também no Brasil e na Costa Rica. E nós aqui trabalhamos um bocadinho em grupo. Quando fundamos a associação, e fundamos diversas associações nos sítios, algumas ONGs, pois a nossa associação também assumiu o papel da ONG, assumiu-se sempre como isto, que é desenvolver o surf adaptado, como mais uma prática. Nunca foi, até certo momento, o nosso objetivo começar a apoiar atletas. Estava um bocadinho longe. Depois até fizemos algumas brincadeiras nesse aspecto. Alguns atletas foram apoiados por lá fora. E também recebemos atletas da Polónia, da Alemanha, que queriam vir surfar connosco. Isto é uma coisa muito gira. Foi uma coisa muito gira. Foi tornar um desporto que não era acessível a qualquer pessoa, torná-lo um desporto democrático. Isto foi um marco histórico, julgo eu. [00:17:13] Speaker A: E falando então desses destinos para onde tu vais, e estavas há pouco a falar que existem uns mais acessíveis do que outros, há algum destino onde tu achas que é melhor não ir por causa das acessibilidades ou não há limites? [00:17:30] Speaker B: Eu gosto mais de entrar naquela história do não há limites. Mesmo que seja um bocadinho mais difícil, mesmo que haja mais graus e menos graus, não se limitem. Cada caso é um caso. Nós sabemos que alhar uma cadeira motorizada é diferente de uma cadeira manual, não é? Nós sabemos que cada caso é um caso. No meu caso, e é desse que eu falo, não há limites. Não há limites. Vão. [00:17:52] Speaker A: Sim, mas tu? [00:17:53] Speaker B: Arrisquem. Eu viajo para qualquer local. Não tenho limites. Tenho países que gosto mais do que outros. Também depende do que é que gostas. Olha, gosto muito da Inglaterra, gostei muito da Argentina, gostei muito pela comida, gostei por tudo. Aqui já nem falo da acessibilidade, falo de outras coisas. [00:18:09] Speaker A: Mas fala-me um bocadinho das acessibilidades, por acaso eu não conheço e tenho curiosidade. [00:18:13] Speaker B: Olha, a Argentina foi uma coisa muito gira porque havia autocarros muito rudimentares, onde a plataforma às vezes funcionava, às vezes não funcionava se não funcionasse íamos ao colo para a ciência onde havia tubos de canalização a fazer a segurança do autocarro e onde não havia sequer bancos para tudo sentar o que é que eram os bancos? eram cadeiras de praia empilhadas num canto Mas é uma coisa gira, não é? [00:18:38] Speaker A: Claro, claro. [00:18:39] Speaker B: A experiência. É uma experiência. Eu gostei muito de estar. E depois há países considerados países mais desenvolvidos, no caso da Alemanha, no caso da Holanda, no caso de Espanha, que já abordamos aqui, no caso da Inglaterra, onde nós podemos arriscar mais um bocadinho, onde os transportes públicos, nós também podemos viajar nos transportes públicos, onde não temos aquela, como às vezes existe cá em Portugal, de ser acessível poder viajar numa carriz da vida, mas depois a plataforma não funcionar. Lá para eles é um bocadinho impensável que isso aconteça. Porque são pessoas que estão habituadas desde pequeninas de ser solidárias uns com os outros. Isso é uma construção de sociedade que nós estamos a caminhar para lá. Também não é tudo mal. Eu que já noto uma grande diferença. Eu fiquei com uma deficiência em 1995. Eu ainda há dias pensava nisso. Era uma coisa impensável fazer aquilo que eu faço hoje. [00:19:30] Speaker A: Sim, eu em 94 e realmente... [00:19:33] Speaker B: Eu não sei se tu tinhas a mesma opinião do que eu. Na altura começou-se a fazer os IP Mercados. Eu não vou dizer o nome também, mas começou-se a haver os IP Mercados. E eu digo-te uma coisa, eu dava muito crédito aos fundadores dos IP Mercados porque onde entrasse um carrinho de compras entrava uma cadeira de rosas. Mas durante muitos anos a minha única saída de casa era para aí. para os centros comerciais. Depois, obviamente começando a alargar um bocadinho mais o espectro e a poder ser um bocadinho mais para outros sítios. Mas durante muitos anos foi isso que aconteceu. Depois, a parte competitiva também veio aqui abrir outros horizontes. E a partir daí, oh Sofia, é que não há limites. [00:20:13] Speaker A: Não há limites. [00:20:13] Speaker B: Não há limites. Podes fazer tudo. [00:20:15] Speaker A: Conta-me uma aventura. Olha... Em viagem. [00:20:21] Speaker B: Posso contar-te uma das aventuras de Los Angeles em que nós fomos para competir a esse tal do US Open que tu falaste quando estavas a apresentar em que eu fui para os Estados Unidos mais a pessoa que me ajudava, mais o Elson e nós chegamos lá e não havia material as prensas tinham ficado... não sabemos onde perdidas nós íamos competir 3 dias depois e estávamos a 300km do aeroporto de Los Angeles repara o que é ter este sufoco. Então não tens o teu material de trabalho. O instrumento de trabalho perdeu-se. E essa foi uma grande aventura. Foi uma aventura de, numa língua que não é a nossa, está bem que é inglês e acho que todos nós conseguimos mais ou menos falar inglês, está bem que não é nativo, mas vai indo, nem que seja por uma questão de mais ou menos sotaque e toda a gente nos entende. foi tentar que as prensas viessem nesse curto espaço de tempo. Porque depois, uma prensa não é, como eu estava a dizer, todo material é adaptado ao perfil funcional. Uma prensa de outro atleta não dá para mim. Tive mesmo de esperar pelo meu material. Esse foi um grande sufoco. Essa é uma grande aventura, mas posso-te contar ainda uma mais gira. [00:21:28] Speaker A: Sim. [00:21:28] Speaker B: Também na Califórnia. [00:21:29] Speaker A: Não te percas. Fizeste-me lembrar a minha viagem à Holanda para jogar ténis em que também perderam a minha mala e portanto... Mas eu ia jogar no dia a seguir de manhã. Eu tive mesmo que comprar uns ténis e alguma roupa para poder ir jogar e a partir daí por acaso eu me Uma dica que eu normalmente dou, que é aquele material que é imprescindível e sem o qual tu não podes passar, é ir connosco sempre. Foi o que eu passei a fazer. Mas depois chegou. Acabou por chegar. Já chegou, foi depois do jogo. [00:22:12] Speaker B: Sim, mas tu repara, com uma prancha de surf, isso é muito... é isso é impossível. [00:22:15] Speaker A: Claro, claro. A minha cadeira foi. A minha cadeira de cenéricos foi, não foi. Foi só o carro. [00:22:20] Speaker B: Aquilo que viaja comigo é o meu dispositivo médico. [00:22:23] Speaker A: Claro. [00:22:23] Speaker B: Os meus dispositivos médicos viajam todos comigo. [00:22:25] Speaker A: Claro. É isso. [00:22:26] Speaker B: Sempre uma reserva estratégica. Porque depois mesmo que aquilo vá faltando, vais a um hospital e resolves-te. [00:22:30] Speaker A: Sim, sim. [00:22:31] Speaker B: Estão a ver? Pronto, isso são estratégias. Mas eu estava aqui só a contar uma história muito gira. Também estava nos Estados Unidos. Também foi a última vez que lá fui. Das últimas vezes que fui, digo. E houve um rapaz que chegou perto de mim e disse, eu posso rezar por ti. E eu olhei. Rezar por mim? Sim, porque Jesus vai curar-te. E eu achei aquilo... Eu não... Eu sou uma pessoa que não julga. quer dizer, não tenho julgamentos, não faço comparações com outros, acho que cada pessoa tem a sua vida e tem a sua circunstância. Um famoso filósofo diz que o mundo somos nós e a nossa circunstância, não é? Então isso eu não me meto na vaidade nem sequer de julgar ninguém. Eu achei aquilo bonito e ele genuinamente acreditou que me estava a curar. [00:23:14] Speaker A: Sim, sim. [00:23:15] Speaker B: Então ajoelhou-se ao pé de mim e fez uma reza muito bonita em inglês, como é lógico, que eu no final agradeci-lhe, sabes? Acho que isso foi das coisas mais bonitas que me fizeram. [00:23:24] Speaker A: Ficou marcado. [00:23:25] Speaker B: Ficou marcado. [00:23:27] Speaker A: Bonito. Olha, qual é a tua viagem de sonho? Já a fizeste ou ainda está por fazer? [00:23:32] Speaker B: Eu não sou uma pessoa de... ter objetivos de fazer viagens de sonho, se tiver objetivo faço, conquistizo. Porque acho que a vida é muito curta para nós estarmos aqui com mau vinho ou com más viagens, não é? Portanto, não bebo mau vinho nem faço más viagens. Mas eu gostava muito de ir ao Japão. [00:23:50] Speaker A: Sim? [00:23:50] Speaker B: Sim. Não sei se já foste também. Já fui. Lá, Sofia, temos de depois falar sobre isso. Adorava ir. [00:23:55] Speaker A: Olha, em termos de acessibilidade é assim o top. Porque é tudo muito adaptado. Casas bem adaptadas por todo o lado. Limpíssimas. [00:24:05] Speaker B: Adorava ir. [00:24:06] Speaker A: Pronto. [00:24:07] Speaker B: É a próxima. [00:24:08] Speaker A: É ir. [00:24:09] Speaker B: Não, não, vai acontecer. Eu não tenho a mínima dúvida que vai acontecer. Claro. Mas eu agora quero fazer um misto de... Eu antes da pandemia tinha um objetivo e já estava quase todo concretizado, até com fundos. Até o Ramiro que esteve aqui já neste podcast ia-me ajudar, ele conseguiu alguma verba para eu... Até a última vez que fui para a Califórnia foi com a ajuda dele até, a nível financeiro. Mas... porque sai tudo muito caro. [00:24:35] Speaker A: Claro. [00:24:36] Speaker B: Sai tudo muito caro. Nós quando fazemos uma viagem, por exemplo, na meu caso, eu tenho sempre que contar mais um ou mais dois. [00:24:42] Speaker A: Claro, tens sempre que ter a companhia. [00:24:44] Speaker B: É tudo a duplicar. Mas eu... eu tenho essa coisa de ir para o Japão. Acho que é qualquer coisa, mas eu ia te dizer. A próxima viagem que fizer, eu estou a sentir a necessidade de fazer competição. [00:25:00] Speaker A: Sim. [00:25:01] Speaker B: Eu faço competição desde 98, está aqui o bichinho. E eu quero fazer competição. E se calhar vou abrir esse tolo num estantinho só à piscina de ondas de fazer competição e depois disso logo hei-de pensar. [00:25:10] Speaker A: Acho que sim, acho que deves pensar. [00:25:12] Speaker B: Mas prometo não ganhar aos ingleses como costumo fazer. Desta vez vou deixar. [00:25:16] Speaker A: Qualquer dia não te deixou entrar. [00:25:18] Speaker B: Mas aconteceu-me uma cara feia, sabes? [00:25:20] Speaker A: Sim. [00:25:20] Speaker B: Porque foi logo na altura a seguir a pandemia, eu como era atleta de alto rendimento pedi autorização à embaixada inglesa e à embaixada portuguesa para poder viajar. Eles deixaram-me viajar com o obrigo da alta competição. E pedi autorização também aos ingleses para me deixarem competir no campeonato nacional deles. Pronto, eu ganhei o campeonato nacional lá, mas depois eles estavam com dificuldade. Não te podemos atribuir o título porque tu não és... Não me atribuam nada. Está tudo bem. Depois lá resolveram ter-me como... como campeão do Open e o segundo lugar que era o inglês ficou como campeão nacional. E é assim que tem que ser também. Foi bonito. Mas ficaram com uma cara feia. [00:26:00] Speaker A: Eu tenho a percepção de que em cada país que há Jogos Olímpicos as cidades onde eles acontecem ficam muito mais adaptadas porque têm que transformar. Tens alguma noção? Concordas? [00:26:15] Speaker B: Concordo e tenho toda a noção disso, ou seja, quando começou a haver Jogos Paralímpicos já havia Jogos Olímpicos. E eles eram feitos em cidades diferentes, porque os Jogos Paralímpicos nascem na perspectiva de reabilitação. Nasce com o Sr. Guttmann, na Alemanha, e nasce nessa perspectiva de reabilitação. Quando nasce para a parte competitiva, nessa altura começaram a fazer os Jogos Integrados. Portanto, os Jogos Paralímpicos acontecem 15 dias depois dos Olímpicos. Portanto, a cidade fica toda preparada. E acho que é uma oportunidade para todas as cidades ficarem preparadas para todo o tipo de pessoas, para receber todo o tipo de pessoas. Seja grandes, pequenas, em cadeira de rodas, de moletas. Porque foi como eu disse há pouco, todos nós, em qualquer momento da vida, vamos precisar de ter as coisas mais ou menos adaptadas. Vamos ficar mais velhos. E isto é uma responsabilidade de todos, filha. Uma responsabilidade de todos. [00:27:06] Speaker A: É, concordo plenamente. Nuno, estamos a chegar a Londres. Porquê Londres? [00:27:11] Speaker B: Olha, Londres é o livro que eu abro e o meu coração enche. Eu adoro Londres. Adoro Londres pelas adaptações que nós falamos. Adoro Londres porque me permite explorar um bocadinho mais de inglês. Adoro Londres porque me abre os horizontes. Eu pareço estar sempre a ouvir música. Quando chego a Londres eu sinto-me muito feliz. Acho que é um casamento perfeito. Sabes? Adoro o Big Ben. Adoro o Parlamento. Adoro a acessibilidade. Adoro poder deslocar-me e não pensar onde é que está o carro. Eu posso andar de transportes públicos. Está quase tudo adaptado. [00:27:50] Speaker A: Uma cidade muito adaptada. [00:27:51] Speaker B: E isso é o que Londres me faz sentir. Faz-me sentir uma pessoa sem deficiência. E acho que quando isso acontece a sociedade compreende o seu propósito. E é por isso que eu adoro Londres. [00:28:01] Speaker A: Completamente, completamente. Sabes que eu fui cair no único buraco de Londres. [00:28:06] Speaker B: Tu já aparelhaste comigo. [00:28:08] Speaker A: Eu enfiei a roda mais pequena e caí e tive uma série de complicações de saúde. Por isso Londres tem aqui um... Temos. [00:28:19] Speaker B: Que ir de mão dada. [00:28:20] Speaker A: Temos que ir. [00:28:20] Speaker B: Temos que ir de mão dada. [00:28:21] Speaker A: Mas eu volto na boa. Aliás, eu acho uma cidade fantástica. E sim, uma cidade muito adaptável. [00:28:27] Speaker B: Vou voltar em novembro. Vou voltar em novembro. [00:28:29] Speaker A: Tenho que voltar também. Tenho que fazer as pazes com Londres. [00:28:32] Speaker B: Vamos embora. Aquilo é fantástico. Eu adoro. Adoro tudo. Adoro tudo. Acho que há pouca coisa que eu não gosto em Londres. Agora tu dizes, mas porquê é que não vais viver para lá? Porque há uma coisa que eu gosto mais é em Portugal, que é o sol. [00:28:44] Speaker A: Quem é o sol? Eu também. [00:28:46] Speaker B: Sol e o mar. [00:28:46] Speaker A: O que é que achas que ainda falta fazer para que qualquer pessoa consiga viajar com mais dignidade? Eu acho que sim, eu acho que no avião há muita coisa ainda a mudar, não é? O que é que achas que ainda falta fazer? [00:29:02] Speaker B: Eu acho que é cada vez que se constrói uma rampa, cada vez que se pensa em acessibilidade, não pensar na acessibilidade para os outros. E se calhar vão-me repetir um bocadinho, mas Fia, perdoa-me, eu tenho de dizer isto. é pensarmos que estamos a construir a cidade para nós. Porque eu andava até aos 18 anos, deixei de andar aos 18 anos. Muitos de nós que hoje vivem em cadeira de rodas já andaram em algum momento da sua vida. E eu acho que quem tem a oportunidade de construir uma rampa está a fazer algo para construir uma sociedade mais inclusiva. Não é só fazer um normativo legal. Não é só cumprir esse normativo. É fazer mais do que isso. É cuidarmos uns dos outros. Eu acho que a única coisa que falta é nós olharmos e olharmos para o outro e dizer hoje é ele, amanhã posso ser eu. Quando isso estiver na nossa mente acredita que a sociedade toda muda. Mas não muda só a nível de acessibilidades. Muda até no nível como nós tratamos uns dos outros. Porque às vezes basta um sorriso para mudar o dia. [00:30:01] Speaker A: E indo a isso, sabes com certeza que muitas cadeiras de rodas são partidas e estragadas no avião, não é? E isso não tem nada a ver com acessibilidade, tem a ver só com tratamento, não é? E com cuidado. [00:30:17] Speaker B: Eu tenho sempre o cuidado de sublinhar. Atenção que estes são as minhas pernas. Não estraguem isto porque eu perco a viagem, perco todo o gosto de ir para outro país. E por aqui senti de sorte. Às vezes uma cadeira um bocadinho mais riscada, menos riscada, mas é isso. [00:30:37] Speaker A: Também tenho tido muita sorte, mas acontecem coisas muito estranhas. [00:30:41] Speaker B: Eu vivo sempre com o coração nas mãos. Estou sempre a ver, estou sempre com esse cuidado. Algo já devia ser normalizado. [00:30:47] Speaker A: Eu acho que talvez seja o maior, para mim é, o maior stress da viagem é o avião. Este nós conseguimos resolver de qualquer maneira. Ali se foge um bocadinho do nosso controle e por isso... [00:31:02] Speaker B: É, mas olha, eu tento relaxar. [00:31:04] Speaker A: Claro, não é? [00:31:05] Speaker B: Tento relaxar. O que tiver que ser é... [00:31:07] Speaker A: O melhor é ir. [00:31:09] Speaker B: É, e muitas vezes até há países, por exemplo, Paris é um deles, quando se faz escala em Paris, não nos deixam, não te estiram a cadeira para essa escala. Pronto, há ali países que têm, há aeroportos que têm algumas regras, muitas vezes eu digo, mas isto são as minhas pernas, isto é a mesma coisa dizer assim, pode ir viajar, dizer agora tenho que tirar os sapatos, eu não posso ir com os sapatos, é a mesma coisa. Vocês podem me dar outra cadeira de rotas, mas não é igual. Não está adaptada a mim. [00:31:35] Speaker A: Claro que não. Isso também é outra coisa que é incomodativa, que é... Nunca sabes o que é que vai acontecer porque cada aeroporto trabalha de uma maneira diferente, não é? [00:31:46] Speaker B: Sabes, tu há bocadinhos dizeste uma palavra e eu acho que... Acho que isso encerra todo este aspecto da nossa conversa. É dignidade. É nós que podemos viajar com a maior dignidade possível. Eu acho que quando nós estamos a pensar nestes pormenores, se a cadeira chega ou não chega, como é que chega, como é que vai chegar, será que vão tratar bem a cadeira, é não termos a ser dignos uns com os outros. Eu acho que isso é, se calhar, o principal constrangimento. Depois há a outra parte boa. É quando tudo corre bem. Sofia, nós fomos. [00:32:17] Speaker A: É, não é? É a superação, quando chegássemos. É, eu falo muito nisso. Porque é mesmo uma sensação de termos ido e ter corrido tudo bem. Valeu tanto a pena. [00:32:28] Speaker B: E depois tu repara, não é sequer viajar dentro da Europa. Porque viajar dentro da Europa as coisas vão acontecendo, não é? As coisas estão um bocadinho mais normalizadas. É quando nós arriscámos a fazer 10, 12 horas de avião. [00:32:39] Speaker A: Eu já não faço. [00:32:41] Speaker B: Eu ainda quero ir aos Estados Unidos umas vezes, pelo menos. [00:32:44] Speaker A: Eu também vou, mas eu parto as viagens, não faço. Tento fazer não mais do que 8 horas. [00:32:50] Speaker B: Ah, isso para mim é como uma vacina. Se tiver que ser, siga. Dá de repente, bora lá. Acho que é para isso, se tiver que doar só uma vez. Se eu tiver que parar, fico mais cansado, a não ser que possa dormir no hotel, possa descansar um bocadinho, aí faz sentido. Agora o resto não. E tento marcar as escalas com o tempo próximo. Máximo dos máximos, 2 horas de escala. [00:33:11] Speaker A: Isso leva-me aqui a dizer que o melhor é cada pessoa arranjar a sua estratégia e a melhor maneira de conseguir fazê-lo é ir, não é? Não deixar de ir nunca. [00:33:22] Speaker B: É, mas também poder-se munir da tua experiência, um bocadinho da minha, a tua é muito mais... Tens um blog... [00:33:29] Speaker A: Eu vou buscar também a outra história. [00:33:31] Speaker B: Claro, as pessoas podem sair daqui o mais informadas possíveis. Mas é isso, é ir e arriscar. [00:33:36] Speaker A: É. Queres deixar algum conselho? [00:33:38] Speaker B: O único conselho é exatamente esse, é que vivam. Vivam. A vida é tão curta, a vida já é curta para mau vinho, então para mais viagens ainda quero. Arrisquem, vão. Eu percebo que nós somos os privilegiados, viajamos pelo mundo fora, mas isto também é uma estratégia como nós vivemos a nossa vida. Ninguém nos dá nada, temos para o par também muito dinheiro para ir, nós sabemos o que é que estas viagens custam para uma pessoa com deficiência, mas se tiverem essa oportunidade, vão! Vão e vejam como é bom ler um livro vivo. [00:34:09] Speaker A: Obrigada Nuno, foi um prazer estar aqui a falar contigo. Obrigada. Nos próximos episódios vamos abordar outras questões e outras condições e mostrar que viajar é para todos. Podem assistir ao podcast nas plataformas habituais de podcast Spotify, Apple Podcast, YouTube ou então no site do ACP ou no meu.

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