"Viajar é para todos”. Raquel Morgado e a volta ao mundo com uma doença crónica e dois filhos

Episode 73 April 15, 2025 00:34:15
"Viajar é para todos”. Raquel Morgado e a volta ao mundo com uma doença crónica e dois filhos
ACP - Automóvel Club de Portugal
"Viajar é para todos”. Raquel Morgado e a volta ao mundo com uma doença crónica e dois filhos

Apr 15 2025 | 00:34:15

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Show Notes

Mãe, profissional e portadora de uma doença crónica, Raquel Morgado é um exemplo de resiliência e paixão por descobrir o mundo. Neste episódio fala-nos dos desafios de viajar com uma doença crónica e dois filhos.

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Episode Transcript

[00:00:02] Speaker A: Viajar é para todos é um podcast do Automóvel Clube Portugal que vem mostrar que viajar é mesmo para todos, independentemente das condições e características de cada um. Eu sou a Sofia Martins, sou autora do blog Just Go By Sofia, Sou paraplégica, adoro viajar, já visitei mais de 40 países e concretizei o sonho de dar uma volta ao mundo. Aqui trago convidados com outras visões e outras necessidades, esperando contribuir para que outras pessoas descompliquem na hora de escolher o destino e partir. Este podcast tem o patrocínio da Max Finance. A minha convidada de hoje é Raquel Morgado. Olá Raquel, bem-vinda. Obrigada por teres aceitado fazer esta viagem comigo hoje. Vamos fazer um check-in? [00:00:51] Speaker B: Vamos, obrigada Sofia. [00:00:54] Speaker A: E se tivesses de escolher um destino para partimos agora, neste momento, para onde é que íamos? [00:00:58] Speaker B: Íamos para a Islândia. [00:00:59] Speaker A: Maravilha, para mim um ótimo destino. Raquel é uma viajante experiente. A sua forma preferida de viajar é de mochila às costas. É técnica de radiologia, viveu até aos 6 anos na Suíça. Mais tarde viveu durante 5 anos com o marido em Angola. E em 2017 largaram tudo e partiram numa grande aventura, numa volta ao mundo. Nessa altura começaram um blog onde partilharam as experiências que iam tendo ao longo dessa viagem. Em 2021 passaram a viajar a três, com o nascimento da primeira filha e a partir de agora as próximas vão ser a quatro porque a família acabou de aumentar. Raquel sofre de doença inflamatória intestinal, colite ulcerosa, mas nada disso a impede e vamos perceber porquê. Raquel, antes de mais, não posso não começar por essa aventura, como é que é largar tudo e partir numa volta ao mundo? [00:02:11] Speaker B: Não é difícil se organizar antes, e posso dizer que ter trabalhado em Angola foi um privilégio para os dois, porque obviamente que fomos para lá para ganhar mais, e portanto a parte financeira estava mais salvaguardada. E quando decidimos voltar para Portugal, para nós fazia sentido gastar algum desse dinheiro poupado, aproveitar um bocadinho esta passagem da África antes de regressar à Europa. Por isso não foi... Era já uma coisa que nós já conversávamos muito. O Tiago tinha muita vontade de ter feito isso mais cedo, porque como tinha feito Erasmus na Dinamarca, é uma coisa que se vê muito nos países nórdicos, aquela paragem, às vezes depois do secundário ou mesmo quando acabam os cursos. E ele tinha essa vontade. Eu é que tinha aquela ideia se calhar mais portuguesa, aquela mentalidade mais da estabilidade, porque tinha um bom emprego, como tinha dupla nacionalidade em Angola. Ele é que estava assim mais a prazo como estrangeiro, como expatriado, mas acho que não foi uma decisão difícil de tomar. [00:03:16] Speaker A: Mas iam mudar de qualquer forma, não é? [00:03:18] Speaker B: Sim, exatamente. [00:03:19] Speaker A: Iam regressar a Portugal, por isso foi. [00:03:22] Speaker B: Só ali... Foi só aproveitar aqueles meses antes de voltar para fazer alguma coisa que gostávamos muito que era viajar. [00:03:29] Speaker A: E como é que foi? Por onde é que passaram? Onde é que andaram? Eu sei que a volta ao mundo... [00:03:35] Speaker B: Não foi volta ao mundo. [00:03:36] Speaker A: Foi interrompida, não é? [00:03:41] Speaker B: Eu vim primeiro para Portugal e comecei-me a dedicar bastante a organizar, a fazer planos, a pensar nos países, a ter aquela atenção de para onde é que queríamos passar e como é que estava o clima em cada sítio, para perceber qual era a maneira mais inteligente. A maior parte das pessoas começa pela Ásia porque é mais barato e é inteligente porque isso faz render o orçamento. Para a altura em que nós íamos partir não era a melhor opção porque depois ficávamos com as estações do ano todas trocadas. E para aproveitarmos a América do Sul, tínhamos que começar pela América do Sul. Portanto, a opção de escolher pelo clima depois tornou-se menos inteligente na parte financeira porque são países em uma forma de viajar muito mais cara. Mas foi... uma surpresa, uma aprendizagem para os dois. E foi uma emoção e depois foi aquela coisa dos planos. Os planos nunca são como nós sistemas. Nós tínhamos planeado um ano inteiro e desistimos. Não é bem desistir, mas voltámos ao fim de cinco meses. Sim, portanto não concluímos a volta. Acabámos por fazer só América do Sul e América Central e depois voltámos. porque lá está se calhar Angola que nos trocou um bocadinho as voltas, economia, tanta coisa, mas acho que pensando assim não me arrependo de ter interrompido porque acho que viajar durante um ano Não é tão glamouroso como parece quando se fala assim. Isso perde-se muita coisa. E acho que foi, se calhar, a forma melhor para nós. [00:05:16] Speaker A: De qualquer maneira, a volta ao mundo continua, não é? [00:05:18] Speaker B: Sim, uma pessoa não deixa de conhecer o mundo por causa disso. [00:05:23] Speaker A: Eu acho que temos sempre a dar voltas ao mundo. Olha, diz-me uma coisa. Falaste há pouco da organização e como é que é organizar uma volta ao mundo e planear tudo isso é complicado. [00:05:40] Speaker B: Eu acho que varia de pessoa para pessoa. [00:05:42] Speaker A: Sim. Há pessoas que viajam de mochilas ou pelo menos viajavam. [00:05:47] Speaker B: Eu até dependendo do destino Agora com as miúdas gosto mais da bagagem de porão porque tinto o que preciso das mãos livres para elas. [00:05:59] Speaker A: E há muito mais coisas. [00:06:00] Speaker B: Sim, mas a mochila às costas dá uma leveza quando é este salto de para ali e para ir para andar de autocarro, de táxis. É um método que funciona em todo lado. Porque as rodas depois acabam por ser chatas, têm que se puxar. E é um apetrecho um bocadinho diferente da mochila que vai mais agarradinha a nós. Mas eu acho que depende muito da pessoa, porque eu sou uma pessoa com bastantes ansiedades e preciso de pensar muito no futuro e em todas as hipóteses. E para mim é um bocadinho estressante no sentido em que mesmo sabendo que as coisas vão mudar eu quero saber mais ou menos onde é que eu vou estar daqui a um mês e naquele sítio o que é que eu posso visitar e quanto é que me vai custar. Preciso de fazer assim um bocadinho esses planos. Mas cruzámonos com pessoas que não querem saber. [00:06:48] Speaker A: Claro. [00:06:48] Speaker B: Vão sem dinheiro e é onde ficarem o tempo que lhes apetecer e tudo, sem nada reservado. Eu preciso de um bocadinho mais organização. [00:06:59] Speaker A: Então, e os países? Por onde passaram? [00:07:01] Speaker B: Nós entrámos por São Paulo, portanto começámos no Brasil porque era mais barato, o voo, e depois fomos descendo até Ushuaia e depois fomos subindo. Claro que depois ali, entre o Chile e a Argentina, por causa da parte montanhosa, acabámos por fazer muitas vezes Argentina-Chile-Chile-Argentina, porque não dava às vezes para subir o Chile todo, naquilo que queríamos fazer. [00:07:24] Speaker A: Da autocarro? [00:07:25] Speaker B: Sim, da autocarro. Sempre. Nesse local, sempre da autocarro, porque os voos eram muito caros. [00:07:30] Speaker A: Sim, pois. [00:07:31] Speaker B: Só recomendo aí voos para quem vai em viagens muito curtas. Quem vai 15 dias para... para a Argentina, aí recomendo que façam tudo de voo. Quem vai com o tempo, os autocarros são bons e mesmo assim são caros. [00:07:46] Speaker A: Sim, sim, sim. [00:07:47] Speaker B: Apesar de tudo são caros. Mas acho que é uma forma boa de se conhecer aqueles dois países que são incríveis. E depois no Atacama atravessámos para a Bolívia, não fomos ao Paraguai aí embaixo, Fizemos Peru, Equador, Panamá, Costa Rica, Nicarágua. Ainda tivemos a ver a parte da Venezuela, porque na altura a Venezuela eu tinha milhas para voltar. Quando nós decidimos voltar eu tinha milhas suficientes, porque era a vantagem dos voos de Angola. E eu ainda fiquei a pensar se valia a pena voltarmos por Caracas, mas a TAP já tinha suspendido os voos, penso eu, ou já não havia muitos e não conseguimos, e acabamos por voltar pelos Estados Unidos. Para gastar as milhas. Mas fizemos... Agora já não me lembro, mas fizemos bastantes países e bastantes cidades. [00:08:38] Speaker A: E um momento alto? [00:08:40] Speaker B: O momento alto eu acho que é talvez Machu Picchu. [00:08:44] Speaker A: Claro. [00:08:45] Speaker B: Não conhece... Está uma imensa subida. Nós burros para poupar. Depois anda aquela história de nós fomos apanhados por aquela parte da inflação e da alteração dos preços. Como nós vemos na Europa, os países começam a perceber que o turismo é uma forma fácil de ganhar dinheiro e começam a introduzir taxas e a subir os preços de tudo. E as coisas, quando nós chegámos, e eu até acho que nós nos organizámos relativamente bem, os preços não batiam certo em quase lado nenhum. As coisas estavam muito mais caras. E há uma altura em que o dinheiro já rende menos do que estávamos à espera. E nós não quisemos ir de autocarro. Porque multiplicar por dois, né? E foi uma subida que me custou horrores, de madrugada. E depois é aquela coisa de chegar lá cima, de apanhar o nascer do solo. E ainda que ele é efetivamente impressionante. [00:09:39] Speaker A: Sim. [00:09:40] Speaker B: E esta atividade à pé tem a vantagem de conseguimos ser dos primeiros a chegar, conseguimos ter aquele impacto de não estar aqui ninguém. [00:09:46] Speaker A: Há uma parte que tem mesmo que ser a pé, não é? [00:09:48] Speaker B: Ou se é que... Para subir as montanhas, sim. Para subir as montanhas, às duas, podes escolher uma ou outra, tem que ser a pé. Mas bota o carro, deixa-te à porta. Ah, assim? Sim, mas depois ficas só a ver aquela parte ali de cima, já não me lembro. [00:10:06] Speaker A: Eu estava a dizer isso porque há uma empresa que é mesmo para pessoas que estão em cadeira de rodas e que leva mesmo até lá acima e quem sabe, não irei um dia. [00:10:19] Speaker B: Acho que não há a pena fazeres. Sim, porque é uma coisa Os peruanos têm muito aquela coisa com os incas. Veneram um bocadinho os incas. Os chilenos também têm assim um bocadinho com a Pachamama. E então tu tens ali... Eles estão... Historicamente, se pensarmos, aquilo não é assim muito evoluído em termos de construção. Porque aquilo é contemporâneo de outro tipo de construções se calhar melhores ou mais... o mais preciso que é o que nós conhecemos hoje em dia. Mas ele tem aquela devoção com os Incas, com os passados Incas, que quando tu lá chegas é bastante impressionante. [00:11:01] Speaker A: Sim, sim, acredito. [00:11:02] Speaker B: E depois não tem nada ali à volta. Portanto, tu chegas e só tens montanhas e tens aquelas construções. Até chegarem os turistas, até que começas a ver as pessoas ali pequeninas a passear. É aquela coisa de estou no topo do mundo. [00:11:19] Speaker A: Deve valer muito a pena. Raquel, e como é que é programar uma viagem dessas para quem tem uma doença como a tua, que eu tenho a certeza que deve implicar aqui uma série de de coisas a ponderar e a tratar para que nada corra mal. Como é que é? Correu tudo bem? [00:11:46] Speaker B: Correu. Felizmente, correu. Eu ia com bastantes planos de de se eu tiver que voltar, ter o dinheiro salvaguardado para voltar, porque vou continuar doente, se ficasse em crise não valia a pena continuar a viagem. Tinha levado medicação habitual, bastante, que até por causa dessa medicação foi parada várias vezes em fronteiras nos raio-x. [00:12:12] Speaker A: É isso que eu tinha a perguntar. [00:12:13] Speaker B: São sacos muito grandes. Sim, eu tirei as caixas e pus tudo em... Aqueles tipos de ziplockers, aquelas embalagens transparentes. E depois tinha uma receita em português e como era América Latina, como nós íamos começar, nem sequer me passou pela cabeça levar em inglês. Hoje em dia eu olho e penso... Levei só em português na televisão doméstica a dizer que precisava daquela medicação. [00:12:34] Speaker A: E basta uma declaração do médico, não é preciso mais nada para levar. [00:12:38] Speaker B: Depende de quem tu apanhares. [00:12:40] Speaker A: E depende dos países? [00:12:42] Speaker B: Ali naqueles países eu não tive problemas, porque era muita quantidade. Eu levava cerca de 4 kg em saquetas. E é medicação em quantidade, eu levava para 8 meses. para não ter obrigado a voltar, ele levava bastante medicação. E sempre no bolso de fora da mochila, no de cima, fechado a cadeado, para quando passasse no raio-x, que dava sempre imagem, se necessitasse alguma coisa para ser facilmente retirado e mostrado. E, portanto, foi parte de... de tratar da medicação, falar com o meu médico para ter medicação em quantidade, o ir vendo mais ou menos como é que eram os destinos, saber como é que era a parte... não fui à parte de andar a verificar como é que eram os hospitais, mas de saber como é que essa parte funciona, de fazer o máximo de vacinas possível. Já tinha muitas por causa de ter ido para Angola. Eu antes de ir para Angola eu era militar. E por isso tinha feito muitas vacinas no hospital militar, da primeira vez decidir ir à Angola. Na altura elas não se pagavam, a febre amarela e etc. A febre amarela eu não fiz, por causa da medicação, mas as outras todas que havia possíveis fiz todas, que eram todas de graça por via militar, então fiz bastantes vacinas. Mas a parte da medicação foi preparar isso. E foi essa parte de estar sempre em conta, ter um bom seguro de saúde, na altura fizemos com a World Nomads, que não cumprimos muitas vezes, mas a minha questão era sempre pedir ao Tiago que os alojamentos, porque era ele que organizava essa parte, sempre que possível estivesse em casa de banho privada. [00:14:19] Speaker A: Claro. [00:14:19] Speaker B: Porque a doença inflamatória intestinal tem a ver com o intestino, né? [00:14:23] Speaker A: E. [00:14:25] Speaker B: Sentia-Me mais confortável se eu soubesse que a casa de banho seria só minha caso precisasse. Tive sempre algum receio nas viagens de autocarro, porque na Argentina e no Chile, e mesmo no Peru, muitas vezes eram viagens muito longas, naquelas casas de banho, mas nunca tive problemas. Porque eu também acho que a minha colite tem muito a ver com a parte emocional e o stress. Em viagem dessas, andas a viajar por prazer, o autocarro é que te estresse sempre. Se não te acontecer nada, né? É muito mais baixa. [00:14:53] Speaker A: Se apanhares um susto com alguma coisa, pode te afetar. [00:14:56] Speaker B: Sim, foi como aconteceu duas vezes nas duas. Aconteceu-me sempre isso de um pico de stress, desencadeia sempre o início de uma crise. Porque a minha doença é muito emocional para mim, uma coisa que mexeu muito comigo vai sempre destabilizar ali a parte do meu destino. [00:15:14] Speaker A: Claro, e isso pode acontecer em viagem, em qualquer lugar, não é? [00:15:18] Speaker B: Sim. [00:15:20] Speaker A: Não é muito possível controlar. Eu creio que o estado emocional e também a alimentação. [00:15:25] Speaker B: Sim, tive alguns cuidados. O país que eu acho que tive mais problemas, talvez, foi a Bolívia. Era muito barato. Mas em muitos sítios sentia-se que a comida era muito instantânea. [00:15:39] Speaker A: Sim. [00:15:40] Speaker B: Eles faziam aqueles menus de entrada, prato e sobremesa, mas eram sobremesas tipo pudim flan de instantâneos e sopas que se notava que eram sopas de pó. [00:15:50] Speaker A: Sim. [00:15:51] Speaker B: E isso é que eu noto que também interfere muito, esses autos processados. Então sim, a alimentação interfere bastante. mas fomos sempre controlando. Eu comecei, na Argentina, quando começámos a perceber que os autocarros só davam os alfajores, e isso é demasiado açúcar, eu comecei a levar lanches para mim e o Tiago comia o meu alfajor. E não bebo normalmente bebidas com gás, tenho assim alguns cuidados, não bebia leite com lactose e No estilo, acabei por comprar um robôzinho de cozinha, tipo para fazer batidos, e começámos a fazer o molho de tomate, os cappuccinos de cacau, como são um país bruto, tem muito cacau, começámos a fazer assim, cappuccinos, entre aspas, de cacau, chocolates quentes. com esse robôzinho que eu tinha que levar às costas porque decidi comprar no shill. [00:16:44] Speaker A: Isso aumentava a carga, não é? [00:16:47] Speaker B: Mas também aumentou a qualidade da alimentação. [00:16:48] Speaker A: Imagino que sim, imagino que sim. Bem, é uma maneira de controlar. Mas tu levas a medicação, por exemplo, nos aviões, tu levas na cabine? [00:16:58] Speaker B: Nunca mais levei tanta quantidade. Não tive problemas. A medicação em crise é um bocado pior Porque, como estamos a falar de intestino, se for na parte final do intestino é muito medicação local. Portanto, são aqueles enemas e essa parte é mais chatinha porque parece uma garrafinha e é um por dia. Ocupa mais espaço. Em crise não é confortável porque mesmo a logística de medicação não é fácil. E o meu tratamento hoje em dia é diferente do que era na altura. Na altura só fazia comprimidos. e neste momento faço infusões, faço medicação biológica, faço em ambiente hospitalar, em prazos muito específicos. [00:17:43] Speaker A: Portanto já não precisas levar tanta medicação contigo? [00:17:46] Speaker B: Levo a mesma medicação, mas muda a logística de calendário. Como não é uma coisa, nós temos por exemplo o caso do Filipe que faz a hemodiálise em vários países, como não é uma coisa que eu possa fazer, eu não posso marcar biológicos para onde for, Eu tenho que viajar no intervalo geológico porque não posso mudar o calendário. [00:18:05] Speaker A: Tens mesmo que estar em Portugal. [00:18:07] Speaker B: Sim, em Portugal e no meu hospital. [00:18:09] Speaker A: Sim. [00:18:10] Speaker B: Não posso fazer em qualquer lado. [00:18:12] Speaker A: Eu estava-te a perguntar, por exemplo, eu também tenho que levar medicação e material que preciso e por acaso foi numa viagem que fiz à Holanda E nessa viagem eu decidi levar comigo, eu levava mala de porão, mas decidi levar tudo aquilo que eu precisava na cabine comigo. Nessa viagem perderam a minha mala de porão, portanto foi mesmo ali. Desde aí que eu levo tudo aquilo que é mesmo necessário eu levo comigo em cabine. [00:18:43] Speaker B: Eu faço, como são saquetas, Eu tenho sempre, as minhas carteiras têm sempre uma ou duas saquetas, bolsos de casacos, mochilas de trabalho, no trabalho deixo, em casa da minha mãe tenho uma embalagem, na casa da minha sogra normalmente também tenho uma, vou distribuindo, que é para se acontecer alguma emergência, tenho sempre. De copa, não é? [00:19:02] Speaker A: Não é necessário. Conseguimos também comprar noutro país. [00:19:05] Speaker B: Eu queria que lhe pague muito menos, mas não sei, nunca tentei, queria que me participasse. Talvez sim, mas nunca tentei porque não sei como é que funciona, porque prefiro levar tudo direitinho. [00:19:16] Speaker A: E como é que é então juntar aí uma criança no meio de todas essas desafios? [00:19:25] Speaker B: A Maria viajou a primeira vez com quatro meses para Madeira. A viagem assim maior deve ter sido com um ano a Cuba. Eu acho que se faz. Há uns TikToks que falam de que viajar com uma criança é... não dormes na mesma, mas ao menos não dormes em frente ao mar. Ou num hotel. E é um bocadinho isso. Vai correr mal, vai ser intenso, vais ter os mesmos problemas que tens em casa, mas estás a tentar divertir e criar memórias em família. Então fazemos um bocadinho isso de... vai ser custoso, Vai haver momentos complicados de gerir. Não vamos descansar, porque ela, imagina, basta um hotel que não tenha cortinas que sejam muito opacas, entrar um bocadinho de luz, que eles acordando já nos consegues voltar a pôr a dormir, porque é de dia. [00:20:20] Speaker A: Claro. [00:20:21] Speaker B: Ou ser um fuso horário muito diferente. Vais ter sempre problemas. Mas é o assumir que mesmo tendo problemas que vai valer a pena. [00:20:28] Speaker A: Mas não pararam, não é? Continuaram. [00:20:30] Speaker B: Não. Parámos durante a gravidez, das duas vezes, parámos porque, exceto esta vez, no primeiro trimestre, que eu descobri que estava grávida 15 dias antes de tudo pago e falei com o meu obstetra e foi... eu já tive um aborto antes da Maria e foi aquela história de... É ir e ver como é que corre. Porque ficar não garante que vai correr melhor do que indo. Então só adaptarmos a viagem, mas sim, mas vamos. Não viajamos grávida porque eu acho, como trabalho na área da saúde, não sou muito a favor. Na minha área, porque como eu trabalho com radiação e durante esse tempo não trabalho em radiação, não acho que seja muito justo, entre aspas, não estar a apanhar a radiação a trabalhar e depois a apanhar a viajar, porque se apanha tempo. [00:21:26] Speaker A: É, claro. [00:21:27] Speaker B: Então é por princípio que não gosto de viajar grávida. Mas depois sim. [00:21:32] Speaker A: Olha, e agora vão a quatro. [00:21:34] Speaker B: Vamos no final do ano. [00:21:35] Speaker A: Sim, já está. [00:21:36] Speaker B: Vamos na passagem de ano. Vamos via Montreal para Tulum e Belize. Só fazer praia. [00:21:43] Speaker A: Que maravilha. [00:21:44] Speaker B: Ou seja, não deixamos os destinos, adaptamos-a aos destinos. [00:21:47] Speaker A: Claro. [00:21:48] Speaker B: Escolhemos hotéis um bocadinho melhores para terem boas condições. [00:21:52] Speaker A: Claro. [00:21:53] Speaker B: E tanto em Zanzibar, que foi quando fui grávida, como agora no Belize, não vamos, por exemplo, visitar as ruínas, pelo menos eu não vou, porque achamos que não vale a pena estar a arriscar os mosquitos, E essas coisas todas, com uma criança tão pequena. E vamos, mas condicionamos, claro, à realidade. [00:22:13] Speaker A: Olha, mas a tua doença também te condiciona à escolha do destino? [00:22:18] Speaker B: Poderia não condicionar, eu deixo que condicione. E ontem estava a falar disto. E já falámos várias vezes disso. Que é, eu não sei se vou à Índia. [00:22:31] Speaker A: Como eu. [00:22:32] Speaker B: Conheço várias pessoas que dizem que não ficaram doentes. Mas há tanta gente que diz que ficou doente que eu não vejo a necessidade de pagar para correr o risco. [00:22:42] Speaker A: É um risco que não queres correr. [00:22:44] Speaker B: É isso. Eu sei como é que é se eu ficar doente. Sei que pode não se resolver com três dias de... de repouso e de dieta e ainda por cima num país que não conheço, prefiro não arriscar. [00:23:01] Speaker A: Por exemplo, eu não tenho a tua doença, mas tenho também aquele problema de arranjar uma casa de banho adaptada e é sempre muito complicado. Eu também não arrisco certas coisas. Street food para mim Sim. Nunca, ou quase nunca, tento resistir. E a Índia também continua aqui a achar que se calhar não irei lá. [00:23:24] Speaker B: Por exemplo, mesmo muito da Ásia, nós não... Maria é lógico ao ovo. E é lógico que eu podia fazer a Ásia com a Maria, mas aquela história de ser noutra língua, de eu não sei o que é que põem, de eu estar a ler rótulos que podem não estar em inglês. É uma logística que eu não vejo necessidade de ter em algumas circunstâncias. [00:23:47] Speaker A: Porque é muito mundo, não é? [00:23:48] Speaker B: Ainda... Sim, há tanta coisa para ver, não é? [00:23:51] Speaker A: Esse é o meu lema. [00:23:52] Speaker B: Exatamente, há muito mundo, é bom em todo lado, há situações... E lá está, eu trabalhei em Angola, já vi pobreza, porque há pessoas que vivem de uma forma muito rudimentar em África, já vi lixo, não vejo... a necessidade para mim, não sinto que me transformasse, ir à Índia, ver aquela pobreza, acho que não me iria passar enganada. [00:24:26] Speaker A: Sim, sim. [00:24:26] Speaker B: Mas não acho que me trouxesse nada de novo que, por exemplo, trabalhar em Angola num hospital público, como eu já fiz, que não me tenha trazido. Por isso não vejo, assim, gosto quando vejo que estás mal, Acho piada e penso, se calhar ia gostar. Goa, já pensei que se calhar... [00:24:43] Speaker A: Há de ser o seu encanto. [00:24:45] Speaker B: Se calhar só Goa é uma zona do país que se consegue fazer bem. [00:24:50] Speaker A: E terá com certeza zonas melhores do que outras e mais fáceis, não é? [00:24:53] Speaker B: Sim, dinheiro consegue-se fazer tudo. [00:24:54] Speaker A: Claro, claro. [00:24:55] Speaker B: Depende de quanto é que tu queres gastar. [00:24:57] Speaker A: Raquel, estamos a chegar à Islândia. Porquê a Islândia? Já lá foste ou é um destino onde querias muito ir? [00:25:05] Speaker B: Já fui e foi numa altura em que nós tínhamos pensado, eu tinha tirado férias, feito o calendário, a gastar bastantes férias numa altura para ir a Mianmar. e não tínhamos ainda comprado voos nem nada, mas estávamos assim a planear que se calhar fôssemos a Mianmar. Quando eu fiquei com uma grande crise de colite, internada 12 dias em Santa Maria, ainda vista pela cirurgia para perceber se iria ter que ser operada ou não, e quando tive alta, e foi quando comecei a fazer esta medicação diferente, quando tive alta tinha os dias de férias marcados, que não podia desmarcar. E então não ia perder aqueles dias fechada em casa. E foi aquela história de por onde é que nós vamos. Não vamos para a Ásia, porque eu não estou em condições, depois de 12 dias internada num hospital em que fiz ferro e uma série de coisas. mas não vou deixar de, não vou perder estes dias fechada em casa e não vou deixar de viajar por causa disso. Minha irmã está fora de questão, então lembro-me de falar com a minha médica e de lhe dizer, eu vou ter férias e eu quero viajar. Ai Raquel, nem pensar. Eu disse-lhe, olha, eu tenho isto há 20 anos, E é a primeira vez que vocês me apanham cá no hospital. Portanto, eu sei tomar conta de mim. Eu vou viajar. Então, para onde? E disse-lhe, não sei. Açores, Islândia. Ah, para a Europa. E então, foi aquela história de olharmos um para o outro e pensarmos, pronto, vai ser a Islândia. Temos as férias, é um país que vale a pena. É uma boa época para começar a ver. Foi em outubro, novembro? [00:26:46] Speaker A: Outubro. [00:26:47] Speaker B: É uma boa época para ver as auroras boreais. Portanto... Vai de frio. Sim, sim. Frio, custou-me algumas subidas, porque ainda ia um bocadinho debilitada. mas foi aquela coisa, aquela viagem de regresso à vida normal. À vida antes daquele internamento, que foi uma perfeita novidade para mim. Só voltei a estar depois internada após partos. Escolhi a Islândia por ser esse destino que aquelas férias de depois e que no fundo mudam a forma de viajar porque foi a primeira vez que eu viajei a ter que encaixar destino naquelas semaninhas do intervalo do medicamento. [00:27:26] Speaker A: E a Islândia é um país lindíssimo. [00:27:31] Speaker B: É um país bom para viajar. [00:27:33] Speaker A: Mas muito bonito. [00:27:35] Speaker B: Eu acho que como em tudo consegue-se sempre viajar de uma forma aceitável. Mas querendo ficar em quarto privado, querendo conhecer a ilha toda, que foi o que nós queríamos, querendo fazer tours, que eu acho que num país daqueles são quase imprescindíveis, gasta-se dinheiro. E depois é aqueles pequenos luxos do café. Beber um café na Islândia, é como na Suíça, é um luxo. [00:27:57] Speaker A: Sim. Eu acho que não bebi. [00:27:59] Speaker B: Nós temos como garantido. [00:28:02] Speaker A: Mas sim, mas é um país lindíssimo. E eu fui em agosto e já apanhei muito frio, portanto imaginei... [00:28:09] Speaker B: Mas a ideia é que é sempre frio, não é? [00:28:11] Speaker A: É, muito frio. Mas com sol sempre se vai fazendo. E muito vento, não é? Para mim. Foi assim. O que mais me chocou foi o vento. [00:28:19] Speaker B: Sim, eu acho que o sítio onde eu apanhei mais vento foi na... No sul. [00:28:25] Speaker A: Eu fui mesmo em Reykjavik. [00:28:26] Speaker B: Em Reykjavik nem tanto, mas no sul sim. Apesar de eu gostar de muito, tem algumas coisas, tipo aquela armadilha de turistas, que é a Lagoa Azul. Eu acho que a Lagoa Azul é uma água termal, uma piscina espetacular, mas eles têm muitas lindas pelo país inteiro. [00:28:45] Speaker A: Muitas lindas, sim. [00:28:46] Speaker B: E algumas grátis. [00:28:48] Speaker A: Sim, sim, sim. Eu não fui a nenhuma. [00:28:51] Speaker B: Nós falamos muito às públicas também. São como se fossem piscinas municipais. Mas temos aquela tentação do viajante de fazer sempre aquilo que todos os outros fazem. Não é praticamente só gastar dinheiro, mas gastas muito mais. [00:29:05] Speaker A: E conseguiram ver as auroras? [00:29:09] Speaker B: Conseguimos. Lembro-me que no primeiro hostel, logo em Reykjavik, que o senhor que nos fez o check-in disse logo, atenção, que hoje dizem que vai haver horários boreais. Na porta, não sei onde, necessariamente na cozinha, nós temos um papelzinho que explica o que é que instalam as aplicações e dá assim uma pequena explicação de como é que tiram as fotos na máquina para conseguirem fotografar as horários boreais. E nós fizemos isso tudo e vimos um bocadinho. E depois, durante o resto da viagem, vimos... Acho que a primeira vez que vês é aquela coisa de... Parece que o céu está a dançar, que os anjos estão... Mesmo que não se seja a pessoa religiosa. Eu acho que, para mim, que sou cristã, olho e vejo os anjos dançarem no céu, a festejar, porque é uma coisa impressionante que as fotografias não dão. [00:30:04] Speaker A: Eu acho que não. Eu não consegui ver. Era muito. [00:30:08] Speaker B: Muito, muito interessante. [00:30:09] Speaker A: Mas para mim o frio é assim um obstáculo, mas... Sim. [00:30:13] Speaker B: Tu dizem que se calhar consegues ver dentro de um carro, mas... Aliás, nós chegámos a fazer entre cidades, estar quase a chegar a um destino e de repente vês que está a haver horas liberais e paras. Vamos esperar aqui meia hora só para desfrutar disto e depois seguir viagem. Porque a Islândia, não sei se tu fizeste a estrada 1. [00:30:38] Speaker A: Sim, fiz um bocadinho. Não fiz a ilha toda. [00:30:41] Speaker B: Nós fizemos. No norte tu tens zonas em que aquilo é bastante isolado. Tens uma quinta aqui, uma cidade ali e no meio não tens nada. Se tiveres a sorte de apanhar uma aurora boreal vais conseguir ver bastante bem. [00:30:53] Speaker A: Sim, sim, sim. [00:30:55] Speaker B: Não sei se para eles terá assim tanta... Agora então que eles têm tantos vulcões e erupção e tudo. [00:31:02] Speaker A: E o que é que foi mais espetacular da Islândia? [00:31:04] Speaker B: Eu acho que as auroras. E nadar em sílfra. Também achei, assim, as baleias. Também gostei, me disse que podes fazer em vários sítios. Fiz questão, e até sou uma sofriorenta, de nadar entre as placas. E apesar de não se ver nada, porque a água é tão fria que não tem vida. É aquela coisa de, estou a nadar entre dois continentes. É bastante... É uma... Aquelas experiências irrepetíveis. Acho que nós já nos deixámos dessa coisa de contar países ou de querer fazer todos. [00:31:41] Speaker A: Sim, claro. [00:31:42] Speaker B: É mais aquela coisa de uma experiência que posso não vir a repetir. [00:31:45] Speaker A: Das experiências, não é? [00:31:46] Speaker B: Sim. Eu acho que é mais isso. Mesmo dentro de Portugal, mas seja onde for, é essa coisa de mais uma experiência que se eu não repetir, está feita. [00:31:54] Speaker A: Sim, em Portugal. Nós temos um país lindíssimo, com tanta coisa. Tanta coisa que podemos fazer. E os próximos planos? [00:32:01] Speaker B: Então agora, o final do ano é essa, é ir a Tulum e ao Belize. Depois será, talvez, voltar à Madeira com a mais nova, para apresentar a família, com o Tiago que tem lá a família. Eu gostava de tentar este ano ir às Tulipas, porque este ano vou ter que andar mesmo agarradinha aos feriados. porque vou mudar de emprego e talvez não tenha dias de férias, então estou indo a ver mais os feriados, como é que dá jeito. E gostava muito de aproveitar ou a Páscoa ou o 25 de Abril para ir às Tulipas. Mais uma ilha dos Açores, que acho que os Açores merecem. E são sempre destinos bons para fazer com crianças. E depois não sei. Se tu me perguntares, gostava de fazer imensa coisa. Gostava de ir ao Cabo Verde, fazer a Santantão, o Fogo, São Vicente. Fazer assim aquela parte que não me sale boa vista. De ir ao Brasil, porque acho que conheço pouco do Brasil e o Brasil é imenso. Mas depois não sei, o tempo parece que nos foge às vezes um bocadinho dos dedos. [00:33:12] Speaker A: Continua a volta ao mundo, não é? Sim, magarinho. [00:33:15] Speaker B: A pessoa vai. Não há pressa. Aparentemente, o que é que a vida nos reserva? [00:33:19] Speaker A: Há um bocadinho da volta ao mundo, mas tudo pode parar em Portugal. [00:33:22] Speaker B: Em Portugal, sim. Tenho sempre aquela coisa de não deixar de conhecer Portugal. Porque eu acho que se deve aproveitar para... Lá está. Portugal tem imensas coisas. [00:33:32] Speaker A: Tem imensos. [00:33:33] Speaker B: Olha, eu em Alveiro temos a Festa das Cavacas. Temos o Madeiro, que começa agora à época. Temos tantas coisas no Portugal que não podem fazer e que não damos valores. E acho que vale a pena. [00:33:47] Speaker A: Ok, Raquel. Obrigada, foi um prazer. Continuem as viagens. Nos próximos episódios vamos abordar outras questões e outras condições e mostrar que viajar é para todos. Podem assistir este podcast nas plataformas habituais podcast Spotify, Apple Podcast ou no site do Automóvel Clube Portugal.

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