"ACP Elétrico do Ano": o carro elétrico é um luxo acessível?

Episode 84 July 02, 2025 00:36:52
"ACP Elétrico do Ano": o carro elétrico é um luxo acessível?
ACP - Automóvel Club de Portugal
"ACP Elétrico do Ano": o carro elétrico é um luxo acessível?

Jul 02 2025 | 00:36:52

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Show Notes

Neste episódio, o diretor de marketing da Porsche em Portugal, Nuno Costa, e o jornalista Silva Pires são desafiados a argumentar se, e como, os veículos elétricos tornam as marcas de luxo mais acessíveis.

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Episode Transcript

[00:00:05] Speaker A: Luxo, performance, carros elétricos, pois claro, estamos aqui na série ACP elétrico do ano e seguimos neste episódio com estes temas falando do peso da marca, do luxo acessível, enfim, temos aqui muito para conversar com estes dois ilustres convidados, o Nuno Costa, diretor de marketing da Porsche em Portugal e o Silva Pires, jornalista que há muitos anos conhecemos do comércio e indústria, tem sempre muitas histórias para nos contar, mas eu começava agora pelo Nuno Costa. Temos aqui várias questões. Antes de mais, a Porsche, digamos, veio tendencialmente também a acompanhar o mercado e, portanto, está também com uma gama eletrificada. Podemos começar por aí. Vamos abrir o catálogo. O que é que a Porsche nos apresenta dentro desta nova mobilidade elétrica? [00:00:56] Speaker B: Bom, nós há cerca de 5 anos começámos a apresentar o Taycan, o nosso primeiro elétrico. Na verdade, o Silva Pires vai-me já corrigir, vai dizer, não, não, o primeiro elétrico da Porsche foi há mais de 100 anos e realmente essa foi a génese até da marca com a engenharia do Ferdinand Porsche, o Lohner Porsche. mas a verdade é que nós quisemos liderar essa transformação do ecossistema e investimos no Taikan. Como em tudo, há muito colobismo em termos das pessoas acharem que, não, não, Porsche, combustão, sempre foi combustão. Na altura até gasolina, depois até passámos pelos diesel e depois também entrámos nos híbridos e finalmente chegámos ao Taycan. O carro foi um sucesso, a gama foi todo um sucesso e o ano passado apresentámos o Macan. E essas duas gamas, hoje em dia, já representam cerca de 40% das nossas vendas. [00:02:00] Speaker A: Estamos a falar de um carro totalmente elétrico, mas também tem o modelo híbrido plug-in. [00:02:07] Speaker B: Não. A gama Taycan e a gama Macan, neste momento, na Europa ou, digamos, no mundo ocidental, só tem a versão elétrica. Em alguns mercados ainda estamos a fazer o phase-out da versão a gasolina do Macan, porque foi um best-seller, foi um caso de sucesso em todos os mercados, praticamente. Eu na altura até achava que o Macan poderia canibalizar o Cayenne, mas não foi assim, foi um best-seller e foi bastante complementar. [00:02:37] Speaker A: Esta entrada na eletrificação deu-se pela tendência comercial de mercado, mas também por uma questão de imposição regulamentar. O que é que pesou mais? [00:02:47] Speaker B: Sim, houve uma imposição regulamentar da União Europeia, é sabido, é de conhecimento público, mas também houve uma necessidade da marca de chegar a outros públicos que antes não chegava. E, portanto, quando começámos a desenvolver, e o investimento foi brutal, na ordem dos bilhões, em começar a desenvolver a tecnologia elétrica, digamos assim, foi um passo totalmente pensado e estratégico, para um público que nós ainda não chegávamos. Ou seja, hoje em dia, na nossa base de clientes, temos cerca de 40% de novos clientes que antes não consideravam comprar um Porsche. E hoje já o fazem. E também a porta de entrada para conhecerem os nossos outros produtos, digamos, tanto os híbridos como os desportivos. [00:03:42] Speaker C: Silva Pires, deixas-me fazer só uma pergunta. [00:03:44] Speaker A: Naturalmente, estamos a conversar. [00:03:46] Speaker C: Satisfazes-me uma curiosidade. O cliente que tem um Taycan, ou que comprou uma canha elétrica, tem dois poros? [00:03:52] Speaker B: Muitos estão a começar a ter, como eu dizia, são um público novo, que tinha um público jovem também, muito early adopter, portanto, daquelas pessoas que nós achamos que a tecnologia é algo que lhes apetece experimentar, testar, fazer perguntas, e nós também fizemos essa curva de aprendizagem com eles. E a determinado ponto nesse processo, nós também começamos a apresentar-lhes outros modelos. que não elétricos. E eles começam a conhecer a história da Porsche e hoje em dia temos muitos clientes que já são Porscheistas, também a gasolina ou em modo híbrido. [00:04:35] Speaker A: Silva Pires, um elétrico, um carro desportivo elétrico? Haverá aqui algum contrassenso? [00:04:41] Speaker C: De certo modo há, porque um carro esportivo elétrico, para ser eficiente em termos de autonomia, não é eficiente em termos de performance. Não se pode pensar em andar depressa num Porsche e ter o milagre da autonomia. Daí eu ter feito a pergunta ao Nuno se o cliente que tinha um Porsche elétrico não teria também na garagem um Porsche a combustão. Não quero dizer com isto que não se espera uma evolução, que as baterias não permitam cada vez mais e melhores resultados, mas um Porsche elétrico, do meu ponto de vista, É uma questão controversa, como o roles rossos elétricos. [00:05:40] Speaker A: Como é que tens visto esta questão destas marcas que têm um determinado estatuto, como a Porsche e como outras, a entrada no mundo da eletrificação? Como é que tens vindo a acompanhar, digamos, conhecemos-te dos automóveis, todas as pessoas que conhecem-te do mundo automóvel, e que tens acompanhado, digamos, esta história nestas últimas décadas, chegamos aqui a este ponto? Como é que analisas o fenómeno? [00:06:08] Speaker C: O fenómeno é... a questão elétrica é irreversível. Eu disso não tenho dúvidas. Eu não posso, por razões logísticas, ter um automóvel elétrico. Tenho, por uma questão geracional, questões relativas à validade do automóvel elétrico, que exigem uma capacidade de organização e de planificação que eu não tenho. Portanto, como moro no centro de Lisboa e não tenho uma garagem, ter um carro elétrico para mim é contrariar aquilo que eu penso que deve ser o automóvel que é um objeto de liberdade. O UNO vai dizer que isso, enfim, se consegue resolver com um carregamento também caminho, é evidente que sim, daí eu ter falado na organização, mas para mim ainda me faz alguma confusão, pelo menos não admitir que um carro chega de Lisboa ao Porto. Para mim é essa a baliza que eu entendo necessária para um automóvel desportivo, a menos que queiramos ter um Porsche para ir ao autódromo, ou alugar a pista, ou ir a um track day, Porque ter um Porsche para andar a 80kmh para chegar mais longe, como alguns carros elétricos com marcas muito badaladas fazem, Eu, quando ando de elétrico, passo por muitos elétricos mais caros do que aquele em que eu vou e não deixo de me surpreender como é que se pode gastar tanto dinheiro num automóvel e. [00:07:49] Speaker A: Afinal... Será o próprio carro elétrico, automóvel elétrico, já por si só, tem esse estatuto de luxo comparativamente aos carros de motor de combustão? [00:08:01] Speaker C: Eu luxo não direi. Há pessoas que compram um carro elétrico por convicção, É outras que compram um carro elétrico, julgo eu, por uma questão de economia. É indiscutível que um carro elétrico pode... Está provado. [00:08:16] Speaker A: Principalmente se houver carregamentos caseiros. [00:08:18] Speaker C: Pois. [00:08:19] Speaker A: É mais barato circular. [00:08:20] Speaker C: Se for Lisboa ou Porto, se fizer um carregamento rápido, as contas a fazer já serão outras, não é? Depois, é politicamente correto ter um carro elétrico? Enfim, isso estatutariamente poderá ter alguma... alguma importância, as próprias empresas fazem-se beneficiando da fiscalidade atribuída aos carros elétricos, em detrimento de soluções que eu acho que, por exemplo, seriam mais naturais num país como o nosso. como que sejam os Full Hybrid, que são uma mania dos japoneses, que eu. [00:09:02] Speaker A: Considero... Queres especificar mais para quem está um pouco por fora desta realidade? Quero, quero. [00:09:07] Speaker C: O Full Hybrid é um automóvel com energia auto-recarregável, que conduz resultados de economia bastante superiores ou inferiores àqueles de um carro como estão normal, e que anda muito tempo em modo elétrico. E que, ao contrário de um plug-in, embora hoje os plug-ins de segunda geração tenham autonomias consideráveis, e que ao contrário de um plug-in se pode usar com toda a naturalidade, para quem como eu não tem garagem, nem tem paciência para ir, capacidade de planificação daquilo tudo, era uma situação a ter em conta, até porque o futuro elétrico é com certeza Europa em primeiro lugar, Estados Unidos, vamos ver como é que a China responde porque depois há continentes onde as coisas não são tão fáceis assim. A América Latina, a África... Claro, claro. [00:10:17] Speaker B: Deixa-me, desculpa, deixa-me interromper-te. Eu acho que há um exercício que está a ser feito e esse exercício é promovido, pelo menos por nós, como marca, que é qualquer consumidor vê as suas opções de compra de acordo com o seu perfil de cliente. Como tu acabaste de dizer, tu não tens condições para o fazer. e hoje em dia já há muitos clientes que o podem fazer. E, portanto, o que nós temos feito é promover esse exercício. E eu, por exemplo, tinha um plug-in hybrid onde fazia toda a semana em modo elétrico e, digamos, quando ia para a minha casa no Alentejo fazia metade do caminho em elétrico e depois fazia metade do caminho em combustão. Se acelerasse um bocado mais então era tudo mais fluido. [00:11:12] Speaker C: Estás a falar de um caiano. [00:11:13] Speaker B: Exatamente. Quando chegava a casa tinha uma wallbox e carregava. E fazia todas as voltas lá na terrinha em modo elétrico. E quando voltava fazia meio caminho em modo elétrico. Ou seja, a redução, a combustão foi óbvia. Qual foi o próximo passo? Foi justamente dizer, não, não, não. Eu quero ser embaixador da eletrificação e agora tenho uma cana elétrica e faço todo o meu cotidiano em modo elétrico. E não é um problema. Ou seja, não é um problema porque eu consegui solucionar os pontos de carga em modo doméstico, em modo profissional, com várias ball boxes. Poupo imenso tempo nas bombas de gasolina, que já não era propriamente um problema, mas poupa imenso tempo. E é como se tu tivesse o telemóvel. Tens um ponto de carga e carregas. E, portanto, todo esse constrangimento foi diminuído. O que é que acontece hoje em dia? Em vários mercados, onde nós estamos presentes, é isto que acontece. As pessoas fazem, no máximo, 20, 30, 40 quilómetros em modo elétrico, todos os dias. Questionamos as pessoas quantas vezes é que você vai fazer 450km num ano. Ah não, e se eu for à neve, e se eu for, não sei o que é isso, se eu for a Madrid, não sei quantos... Sim, sim, sim, mas quantas vezes objetivamente é que isso acontece? Porque, e chegar ao porto, os nossos automóveis chegam perfeitamente, chegam ao algarve. Ir e vir, mais difícil, mas também se para para ir à casa de banho, para beber um café, para ver os e-mails, para responder a... Ou pelos filhos. Portanto, tudo isso é o exercício que nós estamos a promover. E muitos dos clientes que tinham automóveis a combustão e que vão fazer uma manutenção, levam um automóvel elétrico. Experimente. Dizem que não conseguiam fazer isto. Mas depois fazem. E depois começam a diminuir esse constrangimento e a partir daí começam a optar por um elétrico. [00:13:20] Speaker C: Eu sei que tu não passas as férias numa Algarve. e citaste o Algarve como exemplo. Então como é que tu justificas as filas enormes de espera para carregar os elétricos em Centro de Cacém, não é? [00:13:34] Speaker B: Em Alcácere. Bom, isso são picos de carregamentos onde há uma movimentação demográfica que o ecossistema não comporta ainda. [00:13:50] Speaker A: Mas a rede também tem vindo a aumentar, nesse sentido. [00:13:52] Speaker B: A rede tem vindo a aumentar. E nós estamos em quarto lugar na Europa, em termos de capilarização da rede, não é? Portanto, eu acho que não podemos estar sempre a bater nos carregadores e por aí fora, e nos operadores, e isto está a acontecer. Portanto, não vai acontecer de forma imediata, mas está a acontecer. Agora, estas situações são amplificadas E tu sabes porquê é que são amplificadas pela indústria do petróleo, claramente. Ou seja, cada vez que temos uma situação destas, estas notícias são amplificadas. Estas fotografias, os vídeos, nas redes sociais, nos grupos de whatsapp. É um pouco como aquela situação do incêndio no período velho. A primeira pedra que causou o maior impacto ao automóvel elétrico. E, portanto, tivemos... E ficou provado que não era. E ficou provado que não era. Mas a amplificação do provado que não era não teve tanto impacto como aquela pedrada inicial. Não é? Portanto, isso é o que aconteceu. [00:14:58] Speaker A: Já na parte inicial, começamos a falar de números, daquilo que tem sido a reação da vossa clientela. Quero-me falar especificamente de números. Falou-me dos números que citou eram cá em Portugal, a nível geral. [00:15:15] Speaker B: Eram cá em Portugal, nós temos inclusivamente, nós somos um importador ibérico, estamos sempre a comparar vendas com comportamentos de consumidor e de mercado, nós temos 40% das nossas vendas em veículos elétricos. Pode ser que há uns 18 meses era 30%, estamos a fazer evoluir, também por causa da incorporação do McCann, 40% são híbridos, plug-in, e a 20% são a gasolina. [00:15:48] Speaker C: Fazes inveja do amigo Zé António em Espanha, porque a Espanha não tem números desses. [00:15:52] Speaker B: Exatamente. Portanto, nós em algumas gamas estamos um para um, nomeadamente no Taycan. Por cada Taycan que vendemos em Portugal, vendemos um em Espanha. Tu lembras-te quando eu ainda tinha cabelo, um bocado de cabelo, em que tínhamos uma média de 1 para 14. Vendia-se um Porsche em Portugal, vendiam-se 14 em Espanha. E eu até dizia, mas o que é que eu vim para aqui fazer? E portanto, neste momento, nós já representamos cerca de 28% do mix ibérico, sendo que nos elétricos estamos quase nos 50%. [00:16:25] Speaker A: E atribui ao facto de serem muitas empresas a fazerem a aquisição desses carros que ajuda a fomentar o mercado. [00:16:34] Speaker B: É um conjunto de fatores. Aquilo que o Sr. Bapiste dizia é muito relevante. Ou seja, há uma mindset em termos de empresas, como tu disseste, e bem. [00:16:46] Speaker C: Profissionais liberais. [00:16:47] Speaker B: Profissionais liberais, incentivos fiscais, E depois também há uma dinâmica muito lusa de explorar tudo aquilo que é tecnologia e de estar na vanguarda, aquilo que eu digo, dos early adopters, ou seja, nós podemos ver isto nos telemóveis, nos iPads e no Apple Watch. Estamos a falar de pessoas que gostam de tecnologia e que vêem o benefício e também de um esforço dos diferentes governos em promover essa mudança. [00:17:25] Speaker A: O estatuto de uma marca como a Porsche não foi nada alterado relativamente à questão da eletrificação? [00:17:32] Speaker B: De todo, de todo. Ou seja, nós ainda agora ganhamos um prémio da On Strategy de marca com melhor reputação em termos de luxo, ganhamos o segundo lugar em termos de reputação automóvel e o que vemos é que há um novo segmento de clientes que estava que é bem interessado na pós. Agora está mais por causa deste avanço tecnológico em termos de tanto digitalização como de eletrificação. [00:18:06] Speaker A: O estatuto das marcas, faça-me-mesmo a pergunta ao Seu Vapires, que fiz ao Nuno, o estatuto das marcas não é afetado pela questão da eletrificação? Sobretudo quando estamos a falar destes segmentos mais desportivos? [00:18:19] Speaker C: Eu acho que não, e quando olhamos para marcas que podemos chamar de premium, Os elétricos dessas marcas vendem e destacam-se. Hoje têm um adversário muito sério e duro, que são os chineses. que têm trazido produtos que ninguém julgava possíveis com aquela proveniência. [00:18:45] Speaker A: E em tão pouco tempo têm-se vindo a instalar no mercado, com grande predominância, nas vendas, no estatuto. Não sei se quer, ainda não, mas estão a caminhar para lá. [00:18:56] Speaker C: Não, mas venceram mais depressa do que eu pensava as questões estatutárias. Eu tenho um pós. Ah, então tens um carro chinês. e hoje há muito boa gente que tem um carro elétrico chinês e que não diz mal. Mas tenho uma pergunta curiosa para o Nuno. Eu estou a fazer de advogado do diabo. Tens também clientes que não se adaptaram ao Taycan? [00:19:26] Speaker B: Temos clientes que não tiveram a expectativa cumprida, digamos assim. Na primeira geração do Taikan, o que aconteceu foi que as pessoas esperavam o melhor dos dois mundos. Uma performance porsche, ou seja, desportiva, eminentemente desportiva, e um modo elétrico que lhes fizesse chegar a todo lado. E, sobretudo, em Portugal, em Espanha, os clientes achavam que as autonomias eram muito maiores. Temos sempre aquela dinâmica de como é que os carros são... anunciados em termos de consumo e depois as pessoas queriam conduzir à Porsche, digamos assim, ou de forma desportiva, e elas não cumpriram as expectativas. Isso foi dirimido no sentido de que esta nova geração do Taycan e o novo Macan já têm autonomias bastante mais confortáveis e mais aprazíveis e, portanto, o que nós tivemos que fazer foi aquele bridge the gap, não é? Portanto, reduzir essa expectativa e dar-lhes um bocado o jogo de realidade e também mostrar-lhes os novos produtos. E isto vai acontecer sempre. Ou seja, nós temos uma expressão, Lisboa não é Oslo. E porquê que eu digo isso? Porque realmente o ecossistema e todo o ambiente da Noruega é um ambiente que fomenta as nossas vendas. Ou seja, 90% dos automóveis vendidos na Noruega são elétricos. [00:21:08] Speaker C: É o país na Europa onde se anda mais de comboio. [00:21:10] Speaker B: Exato. E portanto, 90% das nossas vendas na Noruega são elétricos. E aí não houve esse problema, não houve esse constrangimento, digamos assim. E aqui, tivemos que readequar a nossa oferta e, portanto, esta nova geração cumpre perfeitamente. Desculpa, o que não quero dizer é que as próximas gerações, as pessoas vão dizer assim, ah, é que este já faz 900, 1000. Não é? Isto vai acontecer? [00:21:42] Speaker C: Deixa-me dizer-te, para que fique claro, que enquanto máquinas, um e outro são dois carros do outro mundo. Outra questão que gostava de ver discutida é a necessidade desta corrida à potência, que num desportivo é normal, mas que hoje está banalizada, quer dizer, um carro com 600cv elétrico, É vulgar. Tu achas isto natural, quando uma das questões que se põe é exatamente a da autonomia? Ter um carro de 600cv para andar a 100cv na autostrada ou a 80cv? [00:22:23] Speaker B: Estás a ser maldoso porque... [00:22:25] Speaker C: Não estou nada! [00:22:25] Speaker B: Não, não, porque eu não acho que seja normal. Sinceramente, eu contra a marca falo neste sentido. Ou seja, nós temos um Taycan Turbo GT que é uma nave espacial. Mais de 1000cv. Agora, eu também já andei nessa nave espacial. [00:22:42] Speaker A: Isso é também para manter o estatuto. [00:22:44] Speaker B: É para manter o estatuto, ou seja, nós não vamos abdicar do nosso ADN, que é de um automóvel desportivo, e conheço alguns clientes com um Taycan Turbo GT com mais de mil cavalos, e eles dizem é a melhor experiência que já tiveram. Ou seja, eu já não consigo questionar, mas tu usas os mil cavalos? Quando é que usas os mil cavalos? Este cliente em particular, que é muito simpático, disse Cada 15 dias vou ao autódromo, um track day, e uso os 1000cv. E é uma sensação fabulosa. [00:23:19] Speaker A: É isso, e aí pode utilizá-los. [00:23:20] Speaker B: Exatamente. Mas vai no dia-a-dia para o escritório. É engraçado, é engraçado. [00:23:24] Speaker A: O motor a combustão não é uma questão que se põe, confia a vista na Porsche? [00:23:30] Speaker B: Não, de todo em todo, inclusivamente a Porsche está a fazer um projeto, propriamente um projeto, um investimento brutal de centenas de milhões de euros em Pontarenas, no Chile, para produzir um combustível sintético que é feita através da captação de CO2 e que depois faz uma mistura, para não entrar em detalhes mais complexos, e que vai ser um combustível sintético que vai promover emissões quase zero. E esse combustível, quando for produzido em volume, em massa, vai poder servir os 911s de há 50, 60 anos. Ou seja, também a esse nível não vai haver uma transformação na infraestrutura de carregamento de combustíveis atual. e não vais ter que mudar o filtro de óleo, o filtro de ar, ou seja, do que for. E, portanto, nós já estamos a testar nas Cups, nas várias Cups que nós temos, com resultados fantásticos, e se isso for uma realidade daqui a... ou seja, já é uma realidade, mas não é uma realidade do marketplace a um preço competitivo. Quando isso acontecer, vai haver um Game Changer, não é? [00:24:53] Speaker A: Silva Pires, acreditas que os carros que estão a sair, os Porsche, que estão a sair agora do stand, são os novos clássicos, olhando para daqui a umas décadas, tendo em conta que, por exemplo, referindo-me aqui às organizações do Automóvel Clube de Portugal, o passeio dos alemães tem sempre muitas presenças de modelos Porsche. Às vezes tenho falado com esses proprietários Essas pessoas habitualmente são um bocadinho mais irredutíveis relativamente olhando para a eletrificação, porque gostam do cheiro a gasolina, gostam daquela, de todo a patim dos clássicos, mas se quisermos ter a mente aberta e olhando para o futuro, podemos considerá-los assim? Clássicos do futuro? [00:25:36] Speaker C: Eu não tenho dúvidas que daqui por 30 anos quem tiver um dos primeiros Macanos é um clássico. elétrico. Em relação a isso eu não tenho dúvidas. Eu não sei como é que vão fazer os passeios, se vão fazer passeios de elétrico e passeios de carros a combustão, mas daqui por 30 anos, desejos, regras, é o clássico. Portanto, não vejo que isso constitua grande problema. [00:26:06] Speaker A: A questão da eletrificação do mundo automóvel tem vindo a, digamos, há quem diga que estamos na primeira infância ainda, não é? [00:26:14] Speaker C: Já não estamos. [00:26:15] Speaker A: Já não estamos na primeira. [00:26:16] Speaker C: Não, não. Quem se lembra do arranque disto, eu tive a felicidade não sei se está a dizer há 20 anos, se quer há 30, ter conduzido na pista de Volkswagen um primeiro automóvel elétrico. Foi uma surpresa o silenciador, fiquei perfeitamente esmagado, mas não tinha banco traseiro. Portanto, tudo que estava atrás dos bancos, do contorno e do passageiro, Era bateria. Hoje as coisas estão extraordinariamente simplificadas. Hoje as baterias estão integradas no chassi. Hoje fala-se em baterias sólidas. Não sei até onde chegará o desenvolvimento. O que eu sei é que a rede de abastecimento tem de ser melhorada. Ela continua a aumentar, mas acho que a logística para tornar tudo isto mais fácil ainda vai demorar algum tempo. Aliás, já temos marcas que deram um passo atrás no sentido de... e marcas importantes. O Nuno acaba de admitir que o combustível sintético, que aliás é uma coisa que Preocupa toda a gente que gosta de carros a combustão. [00:27:45] Speaker A: Mas também todos acreditamos que os valores de produção desses combustíveis sintéticos poderão baixar com uma generalização maior na produção e comercialização. [00:27:56] Speaker B: É evidente. [00:27:56] Speaker C: É evidente. Aguardemos por esse desenvolvimento. Mas eu acho que vamos continuar a ter carros a combustão por muito tempo e há marcas onde ainda, por exemplo, nas quais os carros a gás óleo continuam com vendas importantes. [00:28:18] Speaker A: E naquilo que diz respeito a nós próprios como condutores, Vamos, cada vez mais a tecnologia ajuda-nos, ajuda-nos à condução, a condução de um carro elétrico tem aqui algumas facilidades, mas não seja também pela questão da segurança. Seremos no futuro menos condutores, tal e qual como nos conhecemos hoje? [00:28:42] Speaker C: Há quem queira que sim. [00:28:43] Speaker A: Estamos em questão de... [00:28:46] Speaker B: Condução autónoma. [00:28:47] Speaker A: De condução autónoma, que já vai no nível 3 e 4 para este ano. [00:28:51] Speaker C: Não sei se isso será ainda uma coisa do meu tempo. Eu espero que haja um botão que me permita conduzir pelo menos um bocadinho. Porque devo dizer que, e eu só conduzi carros até à segunda geração, que há situações em que dá-me direito de carregar no botão. Porque, por exemplo, se perdeste qualquer coisa no carro, Vais à procura e tens 15 segundos para procurar. Se fizeres um toque no volante, tens mais 15 segundos para resolver o teu problema. Mas, enfim, não sei como é que a maior parte das pessoas vai reagir a isso, porque acho que é uma questão de direcional, do que esta malta mais nova. tem, em relação ao automóvel, uma maneira de estar e de lhe considerar que não tem nada a ver com aquilo. [00:29:43] Speaker A: Mas não deixa de ser curioso, e agora fazendo aqui alusão ao estudo sobre mobilidade elétrica em Portugal promovido pelo Observatório ACP, que quem mais gosta de carros elétricos são as pessoas mais velhas e as senhoras. E, curiosamente, os jovens nem estão aqui. Bem, obviamente, estamos a falar de uma amostra. [00:30:03] Speaker C: Há uma razão apontada para isso, não? [00:30:06] Speaker A: Não tem a ver com... Só uma questão de preferência. De preferência. Nessa pergunta simples, exatamente, são quem mais preferem os carros elétricos. [00:30:16] Speaker C: Aconteceu com o carro elétrico e, no nome deste desmentir, é agradável. não me deixa desmitir, não vai contrariar, a condução de um carro elétrico é agradável. A evolução, a evolução do todo o automóvel elétrico, para quem olha para dez anos atrás, ou a dia e a noite, mas quase. E é prático, é simpático. Então para uma senhora que não gosta muito de conduzir, ou que precisa do automóvel, mas que não faça da condução um prazer, É agradável ter um carro que não faz barulho, que responde quando é necessário, que tem toda a eletrónica disponível, com ajudas de todo o género. [00:31:05] Speaker A: Daí eu fazer a pergunta se ficaremos no futuro menos condutores como nos conhecemos hoje, não é? [00:31:11] Speaker C: Porque também há gente que se deixa levar pela maravilha do ecrã e vê no carro elétrico apenas e só o ecrã. Eu ainda não percebi porque é que há marcas que têm o porta-luvas a abrir no ecrã e depois fechas à mão. não percebíveis. [00:31:30] Speaker B: Carlos, eu, em relação a essa observação, o que nós temos visto dentro dos nossos market studies é que não há tanto interesse nos automóveis nas novas gerações, digamos, abaixo dos 35, como havia, ou como há nos Above 35, internamente, comentamos. E porquê? Porque há um sentimento de liberdade para quem não tem automóvel, que é uma coisa quase contrária ou antagónica, não é? Ou seja, nós sempre achámos que, bom, se eu tenho um automóvel, tenho uma liberdade infinita, praticamente, posso ir onde eu quiser, e os miúdos, os jovens, digamos assim, tem um sentimento, uma relação com a propriedade completamente distinta. A propriedade não é, como comentávamos há pouco, um luxo acessível, mas eles querem ter essa liberdade total de dizer eu quero ir de A a B, de B a C e não estar comprometido com o meio de transporte. E eu vejo isso, por exemplo, com os meus filhos, que fazem carpool, andam de giras, ou de bicicleta, ou andam de trotinete, andam de imensos transportes públicos e organizam-se de forma a não terem esse constrangimento da propriedade. [00:33:12] Speaker A: Ou seja, o luxo que há uns anos representava ter um automóvel hoje está a se esbater para as gerações mais jovens. [00:33:20] Speaker B: Exatamente. Sobretudo porque é caro. Estes miúdos não têm propriamente umas condições e uns rendimentos que permitam ter um automóvel como nós tínhamos. Nós fazíamos as tripas coração para ter o nosso automóvelzinho, digamos assim. E a partir daí era o nosso caminho, não é? Era o nosso caminho. [00:33:45] Speaker A: E ao nível da condução, poderemos desresponsabilizar-nos, tendo em conta que temos esta tecnologia ao nosso serviço, da assistência à condução, poderemos começar a ser menos... a nossa perícia ao volante será menos exigida com a eletrificação e com a tecnologia, claro. [00:34:07] Speaker B: Eu também concordo com o que o Silva pisa, ou seja, eu acho que cada vez mais o fato de termos condução autónoma não nos pode isentar de estarmos completamente comprometidos com o processo. E, outra vez, são amplificadas sempre as situações onde houve, sei lá, uma tragédia, um acidente por aí fora. mas não nos pode isentar. E eu acho que vai haver, em algum momento, um certo tipo de regulação a esse nível. Porque os avanços tecnológicos são tremendos, mas há um nível de responsabilidade que tem que ser exigido. [00:34:56] Speaker C: Eu vou aqui fazer uma reflexão. Um elétrico, para um jovem, é como uma acelera, é que ele está habituado. Para um condutor que toda a vida teve uma caixa manual ou uma caixa automática, é uma coisa completamente diferente e implica mudar o chip da condução. Porque os elétricos são muito rápidos, evidente que travam bem, mas a condução em zonas mais empinhativas, implica alguma habituação, porque faltam outras ajudas. A Porsche já tem um carro com duas velocidades, a Mercedes seguiu-lhe o exemplo. O objetivo não é exatamente o de controlar o motor, mas sim facilitar a rolagem e a autonomia, mas os coreanos criaram uma caixa virtual que para antigos como eu facilita tremendamente a condução mais empenhada de um veículo elétrico. Estou convencido que a Porsche não tardará a ter qualquer coisa de muito semelhante. com certeza criativa nesse capítulo. [00:36:25] Speaker A: Temos aí muito caminho para fazer. Vou agradecer aos dois, ao Nuno Costa, diretor de marketing da Porsche, ao Silva Pires, jornalista do Mundo Automóvel. Esta conversa foi um prazer ter-vos aqui a ouvir as vossas opiniões, partilhando convicções também sobre a questão da mobilidade elétrica neste podcast do ACP Elétrico do Ano. Havemos de voltar numa próxima oportunidade. Até lá.

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