Episode Transcript
[00:00:08] Speaker A: Bem-vindos a mais um podcast do Automóvel Clube de Portugal. Sou o Mário Vasconcelos e hoje temos como convidado João Chaves, uma das vozes mais emblemáticas na história da rádio em Portugal.
João, muito obrigado por ter aceitado o nosso convite.
[00:00:19] Speaker B: Nada, é um prazer estar aqui.
[00:00:22] Speaker A: Quando é que descobriu que fazer rádio era o seu objetivo de vida?
[00:00:27] Speaker B: Muito cedo, ainda criança.
Ali a partir dos meus 6, 7 anos comecei-me a me interessar pela música em si e depois mais tarde, pouco tempo depois, pela maneira como se fazia rádio. E daí depois a minha paixão pela locução.
Eu tinha, na altura, em casa dos meus pais, havia um rádio daqueles compactos, tinha rádio, leitor de CDs, perdão, cassete, na altura, nem...
Se pensava que iam existir os CDs.
Cassete e por cima uns giradiscos.
E era nesse pequeno, pequeno monstro, como eu lhe chamava, meu monstrinho, que eu fazia tudo.
Punha cassetes, punha discos, ele tinha uma entrada de áudio, e arranjei um microfonezinho, que punha lá também, e ia fazendo os meus programas em casa.
Era engraçado, porque eu ouvia os programas de rádio de todos.
Na altura era praticamente a rádio comercial e pouco mais.
Havia a Antena 1, que na altura não era a Antena 1, era RDP, qualquer coisa, e a Rádio Renascença, que só emitia onda média, que era mais difícil apanhar porque não tinha muita qualidade.
E então, o que é que eu ouvi? Rádio Comercial. Havia um programa que era o Espaço 3P.
Era uma produção do Isabel Nelson, que era feito nos bairros de Lisboa.
Aquilo era uma relote transformada em estúdio, chegava a determinado sítio, fazia publicidade a uma loja, qualquer coisa.
que estivesse lá onde eles estavam, e ligavam a relote à energia deles e fazia-se a luz pro grau.
[00:02:51] Speaker A: E contava a emissão.
[00:02:53] Speaker C: É.
[00:02:53] Speaker B: E pronto, foi aí que eu comecei a seguir algum dos meus ídolos, que hoje tenho a sorte de serem meus amigos, alguns, porque outros já cá não estão, infelizmente.
E havia...
Na altura era o Manoel Bravo.
[00:03:11] Speaker C: O.
[00:03:11] Speaker B: Zé Nuno Martins acho que não chegou a fazer o Espaço 3P, mas estava no estúdio.
E então a minha técnica era muito simples.
E foi assim que eu comecei a ganhar alguma bagagem para...
Licar mais tarde. Divertir-me.
Não, porque eu naquela altura não tinha ainda noção que um dia isso podia me acontecer.
[00:03:34] Speaker A: Pois era tão jovem.
[00:03:35] Speaker B: Ir para lá.
E então, eu pegava no microfone, punha o microfone em frente à coluna, eles estavam a fazer o programa do estúdio, e quando chegava à parte das apresentações, por exemplo, no caso do José Nuno, ele apresentava o técnico, dizia José Nuno Martins, e eu pegava no microfone, e João Chaves.
E aqui eu ficava tudo gravado na cassete.
E era assim que eu comecei a fazer rádio.
uma maneira muito simples, uma maneira de eu, ao mesmo tempo, sem querer, portanto aquilo era uma coisa normal, apenas para me divertir, mas começar a ter alguma experiência, algum bocadinho, algum bocadinho de sorte também à mistura.
Mas foi mais ou menos assim que eu comecei.
E isto tinha para aí os meus 7, 8 anos, Entretanto, entrei para a parte da música também, porque o meu pai era um apaixonado de acordeão.
Então, decidiu pôr-me a ter aulas de acordeão.
E eu tive, ainda fui a campeonatos do mundo e não sei quê. Por acaso, eu até era bom naquilo, mas não era a minha paixão.
Não era a minha paixão. O meu pai comprou-me um bom acordeão, um carvanholo, que eu gostava na altura uma fortuna, que eu levava aos festivais e tal.
Digamos que eu não tocava acordeão para festas ou concertos, não.
Era para participar em festivais.
A escola onde eu estudava participava muito e tínhamos alguns colegas meus que já andavam em campeonatos do mundo. E eu cheguei a ir também.
[00:05:30] Speaker A: Isso já deveria ter uns 11 anos, não é? Porque já foi uns anos depois.
[00:05:34] Speaker B: 11 anos.
Pronto, isto depois eu larguei o acordeão, não era aquilo que eu queria, com muita pena do meu pai.
porque os amigos escondiam lá a casa e o meu pai punha-me a tocar para eles.
E eu não gostava daquilo, não gostava de estar a tocar para as pessoas. Então encostei o acórdion. Ele vendeu o acórdion e o problema ficou resolvido. Com o entusiasmo consegui montar um pequeno estúdio em casa e fazia rádio em casa só para mim.
E estava ali, estava ali, pronto, fazia os meus programas e tal. E foi assim que eu ganhei uma certa experiência.
Aí sim já pensava que um dia, se a porta se abrisse, eu conseguia lá entrar. A minha entrada na rádio foi muito difícil.
Está a ver, este processo todo começou ali por volta dos 10, 11 anos e eu só consegui entrar para a rádio aos 26. Portanto, veja lá o que é que eu não andei a sofrer, não é? Porque aquilo para mim era um sofrimento, não conseguir fazer rádio.
E então fiz provas na rádio comercial, fiz provas na rádio Renascença e foi muito difícil.
E um belo dia, o Zé Ramos estava a fazer um programa na Onda Média, que era o sábado à tarde, que se chamava Fim de Semana Alucinante.
As pessoas dos automóveis devem-se lembrar, porque nós tínhamos muitas intervenções, principalmente quando havia Rally de Portugal, Rally do Algarve e não sei quê, tínhamos sempre intervenções no programa.
E o Zé Ramos lança um passatempo, e faço-me uma pergunta dificílima para ele.
Eu estava a ouvir, não é?
Eu faço-me uma pergunta, eu pego no telefone, ligo logo para lá e respondi.
E ele ficou tão admirado de eu ter respondido, de imediato quase, que mandou-me lá ir.
E eu fui. Fui à Sampaipena.
Fui à Sampaipena, já nos meus 20 e tal anos.
Fui à Sampaio Pina ter com ele, entrei e ele entrevistou-me ali em direto e não sei o que mais.
E eu manifestei o meu interesse, também como ele, de ser lector de rádio. O Zé achou imensa piada, não é? Os caras vêm aqui a primeira vez e já quer ser lector, não sei quê. Entretanto, o programa acabou e nós ficámos a conversar. E o Zé Ramos disse-me, olha João, eu gostei muito da tua atitude, nunca se deve desistir de um sonho, Portanto, vamos fazer assim, dinheiro para te pagar não há, mas podes ser meu assistente se quiseres.
Vens para aqui ao fim de semana, dás-me uma assistência e depois aos poucos a gente vai ver o que é que consegue fazer.
E foi assim que eu entrei na rádio comercial, já depois de ter feito lá testes e não sei o quê, mas nunca me chamaram.
O João David Nunes tinha um projeto para mim que era, passava precisamente pelo Espaço 3P, mas nunca me conseguiu lá meter, porque eu não tinha nome, eu não era conhecido, e então nunca consegui lá entrar.
Comecei a fazer, então, de assistente do Zé Ramos, que também tinha um programa, durante a semana, no FM. E o programa é às seis da tarde, E eu ia para lá também dar-lhe assistência no FM, o programa chamava-se Círculo em FM.
E um dia o Jaime Fernandes, que era o diretor de programas, eu já estava na cabine e faltavam um ou dois minutos para as seis, ia haver o noticiário e o programa a seguir. E José Ramos não aparecia.
Então, o Jaime telefonou lá para a cabine, eu atendi o telefone, e disse, pá, você sente-se com capacidade de fazer o programa hoje?
Eu disse, ó Jaime, isto é Guilco andando a procurar não sei quantos anos. Claro que sim.
É lógico que vou tentar dar o meu melhor.
Não tenho muito ritmo, mas para um programa também faço o melhor que sei e que posso e não se preocupe.
O Zé Ramos, nesse dia, tinha ido para a Troia, para a praia, e estava no trânsito. Eu nunca soube, se isto foi uma história inventada por ele, para me abrir um bocadinho da porta, ou se foi mesmo verdade. Ele também nunca me contou.
Mas a mim tenho a impressão que ele inventou essa história.
[00:10:42] Speaker A: E o João nunca teve coragem de lhe perguntar?
[00:10:44] Speaker B: Perguntei-lhe, perguntei-lhe. E ele dizia, ó seu puto, tens nada a ver com esse e tal, sei que era a conversa dele.
Nunca me disse, nunca me disse.
E então eu fui fazer o programa.
E tive a sorte de estarem as pessoas influentes a ouvir. E telefonaram logo para lá. Epá, que é esse gajo daí? Ei, o gajo é muito bom, não sei o que.
E eu sem saber de nada. Pronto, a fazer as coisas à minha maneira.
E o programa acabou.
O Jaime Fernandes chamou-me lá acima.
ao gabinete dele, eu fui lá e ele disse, olha João pá, gostei muito da tua atitude parecia que já estavas há uma data de tempo aqui aqui conosco gostei muito tu não queres fazer um programa aqui na Rádio Comercial? 1, 2, 3, 20, 5 mil, 10 mil eu se quiser e então ele deu-me um programa que se chamava na altura Nova Geração Começava às 8 da noite e era das 8 às 9. E depois comecei a fazer os programas quase todos.
Entrei para as 24ª hora e fazia as férias de programas. Só não fiz do Rock in Stock porque eles eram muitos e quando um faltava havia sempre alguém para fazer.
Maneira que praticamente depois fiz quase todos.
[00:12:18] Speaker A: Até que depois, em meados dos anos 80, lhe deixa a Rádio Comercial e vai para a Renascença.
Que é onde, depois de ter conduzido um programa que era o Rock Noir, mais tarde chega o seu programa, que é aquele programa em relação ao qual vai ficar ligado toda a vida.
[00:12:38] Speaker B: Sim, mas isso é culpa do Jaime Fornados, não é minha.
porque o Jaime Fernandes foi convidado para diretor da Renascença.
Como eu disse há pouco, a Renascença só emitia em onda média e eles queriam emitir em FM também.
E então convidaram o Jaime para ir para lá e o Jaime levou-me com ele.
Eu fiz um programa que era o Rock Lore, começava às duas da tarde, porque a rádio, o FM, também só abria às duas da tarde.
Eu fiz o Rock Lore, que era das duas às quatro, durante dois meses.
E quem foi fazer o Oceano Pacífico foi o Marcos André. Isto foi em Outubro.
Começou a nova grelha, em Outubro. E ali, já em Dezembro, muito próximo do Natal, o Jaime Fernandes chamou-me e disse-me assim, ó João, não queres ir fazer o Oceano Pacífico?
E eu, ei, ó Jaime, então ainda agora estou a começar, já me querem queimar. Foi a minha resposta para ele. Não, mas porquê?
Então, mas à noite ninguém ouve rádio.
Então, mas compete-te a ti mudar isso.
E eu, pronto, está bem, mas eu preciso de tempo. E é para começar quando?
Dia 1 de Janeiro.
Eu não tinha música, não tinha nada. Eu lembro-lhe de perguntar, mas posso fazer à minha maneira?
Porque o Márcio André não fazia o programa como eu fiz depois.
Posso fazer à minha maneira? Epá, à vontade.
[00:14:11] Speaker A: Quando o João pegou no programa já era o genérico e o programa já estava traçado.
[00:14:14] Speaker B: Sim, isso eu nunca mexi. Sempre gostei daquele genérico e ainda hoje é o genérico do programa.
E, entretanto, andei nas editoras, fui a Espanha comprar discos, fui a casa do Jaime Fernandes que ele tinha lá, ele tinha um programa da Country Music e a Country Music tem muitas baladas.
Então fui lá para ele me arranjar também umas baladas e pronto. E comecei então a fazer o programa no dia 1 de Janeiro.
Poucos dias depois dele ter falado comigo, pensando sempre que aquilo eram seis meses. Daqui a seis meses estou despachado disto, porque isto à noite a malta se quer é as telenovelas, na televisão e não sei o que mais. Ninguém liga nenhuma rádio.
Portanto, isto são seis meses, passa num instantinho.
E, curiosamente, o programa começou a ter... a ser falado e ia ter audiência.
E pronto, fiz 29 anos. Fiz 29 anos o Oceano Pacífico, que ainda faço hoje online.
Não sei por quanto tempo mais, mas enquanto eles quiserem, eu faço. Porque eu gosto de rádio, gosto de me manter ocupado.
[00:15:36] Speaker A: Mas o que é que é diferente agora na emissão desse programa online?
[00:15:40] Speaker B: É tudo.
É tudo, porque eu não meto música. Está tudo no computador.
Eu não sei se eu consigo explicar para as pessoas perceberem. Eu só gravo a voz.
Só gravo voz. Não digo nomes de músicas nem artistas porque não sei o que é que o computador vai pôr a seguir.
E então gravo apenas textos dos textos que eu já fazia na RFM, no Oceano.
Acrescentei mais alguns, todos os dias escrevo um bocadinho, todos os dias vou fazendo umas frases e umas coisas para depois montar aquilo tudo.
e construir ali um texto que se possa enquadrar, que essa é a minha preocupação, não só à música, mas também às pessoas que estão a ouvir.
E basicamente é o que eu faço.
É a minha voz, leio os textos que escrevo, e pronto, digo qual é o programa que estão a ouvir, e não sei o que mais, e não passa de ali.
[00:16:46] Speaker A: E quem é que o ouve agora, neste formato que é diferente relativamente ao...
[00:16:52] Speaker B: Ora, digamos que é assim, as pessoas que ouviam o Oceano Pacífico há...
com 30 anos, na altura em que eu fazia, hoje têm 60 ou 70. E essas pessoas gostam de recordar esses tempos.
E então, a música que eu toco é a música que eu tocava nessa altura.
Portanto, as pessoas que me ouvem são pessoas que se habituaram a ouvir o formato original do Oceano, são pessoas que.
[00:17:28] Speaker C: Ou.
[00:17:31] Speaker B: Começaram a namorar, ou casaram, ou tiveram filhos, a ouvir o Oceano também, e são pessoas que, a grande parte, penso eu, não tenho bem a certeza, são pessoas que estão a trabalhar e estão a ouvir música.
Eu não consigo ser mais objectivo porque também não sei...
Sei que as pessoas que saíram da RFM quando se mudou o formato da música são as pessoas que voltaram agora para ouvir o Oceano online.
[00:18:10] Speaker A: Numa recente entrevista o João Chaves disse que hoje em dia faz-se rádio de forma completamente diferente daquela que se fazia antigamente.
[00:18:17] Speaker B: Sim, é verdade.
[00:18:19] Speaker A: Queria referir-se tecnologicamente só ou em termos humanos, em termos profissionais, que diferenças é que aponta? Sim, as principais.
[00:18:30] Speaker B: Algumas coisas que eu considero importantes em termos de tecnologia e alterações que se fizeram.
Anote, quando acabou o vinil diziam que a rádio ia acabar.
Não acabou nada.
Foi CD.
Quando acabou o CD, pronto, agora é que a rádio vai acabar.
E é o computador que faz tudo. Posso dizer que faço um programa de rádio que vai para o ar 24 horas por dia e não toco uma única música.
Não toco.
Isso para mim é complicado.
A animação, entrar no ritmo da música. Por isso é que eu faço devagar, como fazia um programa só de baladas. Eu tendo a acompanhar o ritmo da música, então falava mais devagarinho.
E ao falar mais devagarinho, encaixava uma coisa com a outra.
Não chocava.
Eu falar por cima da música, não que eu não falo por cima das músicas, mas a música a acabar ou a começar, eu falar daquela maneira encaixava perfeitamente. E era disso que as pessoas gostavam.
Porque não chocava, não. Às vezes nós vamos a um programa de rádio no carro ou qualquer coisa, e há ali determinados momentos em que choca um bocadinho, precisamente porque ou a música é muito acelerada, e depois a pessoa fala devagar, ou o contrário, a música é uma balada e a pessoa vai apresentar e...
e fala e nunca mais cala.
Portanto, eu tentava evitar esse tipo de coisas.
e depois habituei-me a falar assim, a falar mais devagar e pronto, e depois o destino fez o resto.
[00:20:25] Speaker A: E o João Chaves tem outra paixão, que é o gosto pelos automóveis, pelas motas e pelos aviões. Como é que isso é? Fala-nos um bocadinho dessa sua paixão.
[00:20:35] Speaker B: O meu gosto pelos automóveis vem também de muito pequeno.
porque eu quando comecei a ter uma certa autonomia, na minha vida, eu comecei a gostar muito de ralis.
Então ia ali para Sintra, para Peninha, ver o rali de Portugal.
E aquilo para mim era muito...
era mesmo uma paixão, porque era o único dia em que eu passava a noite fora.
Os meus pais deixavam-me ir.
Nós éramos um grupo com pessoas muito mais velhas do que eu.
Íamos ver o Rally de Portugal para Sintra, para a Peninha, para a Lagoa Azul. Andávamos por ali. E eu fiquei apaixonado pelo desporto automóvel desde essa altura.
Depois comecei a crescer.
Tirei a minha carta de condução aos 18 anos.
Foi logo assim que fiz 18 anos. Tirei logo a carta.
A minha ambição era guiar.
Guiar dava-me prazer.
Eu gostava de conduzir.
Era um prazer enorme. E então, como eu não tinha carro, andava com o carro do meu pai, que era uma carrinha já muito antiga e não sei o que mais, E os meus amigos, que quase todos já tinham carro, emprestavam-me o carro para eu conduzir.
E então, a minha paixão pelos automóveis também nasceu um bocadinho por aí, nessa altura. Eu não podia comprar, mas quando comecei a ganhar o meu dinheiro... Não, o meu pai primeiro ofereceu-me um Mini, DT7021, nunca mais me esqueço.
O Mini 1000 ofereceu-me e disse-me, olha, tens aqui um carrinho, a partir daqui é contigo. Este eu dou-te, que é o primeiro.
Agora o resto tu é que sabes.
E eu, pronto, comecei, passei depois para um Opel Kadett quando apareceu o Opel Kadett, que teve um sucesso enorme, aquilo estava esgotado, não havia carros em lado nenhum, e eu consegui arranjar um beige, uma cor que eu não gostava nada, portanto depois mandei-o pintar de preto.
Coincidiu com a minha entrada na rádio comercial, e eu e o Zé Ramos fomos os dois comprar um Alfa Romeo.
Eu dei o meu Opel Kadett à troca, o Zé tinha um Toyota, acho eu, que deu à troca também, e levantámos os dois um Alfa Romeo Quadrifoglio Verde, que tinham os dois a mesma matrícula, separados apenas por dois números. O meu era 46 e ele era 48, assim uma coisa.
Então começámos a ser conhecidos como os gajos do Alfa Romeo.
Era como nos tratavam.
O Zé Ramos, que toda a gente o conhecia e era uma pessoa importante no meio, passou a ser conhecido primeiro como pastor alemão, porque ele era muito grande, e depois o gajo do Alfa Romeo.
E pronto, e o Zé Ramos despertou-me também assim um bocadinho o interesse pelos automóveis.
[00:24:16] Speaker A: Mas nunca entrou na competição?
[00:24:18] Speaker B: Fiz um rally da Rádio Comercial.
vim aqui ao ACP tirar a licença desportiva, já eu estava na Rádio Renascença, e foi ao rally da Rádio Comercial com uma 4L, que eram os carros da frota da Renascença, eram os carros que nós tínhamos, dos jornalistas e não sei o quê, eram Renault 4L.
Então, eles emprestaram-me uma 4L para eu ir fazer o rally da Rádio Comercial, e curiosamente fiquei em quarto lugar.
O rally foi ali também na zona da Lagoa Azul e Peninha e mais não sei o quê. Fiquei em quarto lugar, não pela velocidade, mas sim pela atenção que eu tinha e pelos erros que não cometi, os outros cometiam, queriam andar depressa, saiam da estrada, eu comia muito devagarinho, ia sempre no meu percurso normal e terminei o rally em quarto.
Depois a entrega dos prémios foi no Casino de Estoril.
E lá conheci muita gente do meio, que já não os vejo há muito tempo, mas na altura eram as pessoas, digamos, que faziam os rallies.
Os rallies.
[00:25:37] Speaker A: E onde é que ficam as motas e os aviões?
[00:25:40] Speaker B: A mota e os aviões vêm a seguir, porque eu comecei a ver o Mundial de MotoGP.
Para ser franco, era uma modalidade que não me interessava muito.
Não me despertava assim grande interesse.
Só que o meu filho mais novo apaixonou-se pelo MotoGP e o ídolo dele era o Valentino Rossi.
E eu tinha uma coisa que o meu filho, nós sempre nos demos muito bem, ainda hoje, eu tentei apresentar-lhe, ele conhecer as pessoas de quem ele gostava, os ídolos dele.
E então, nos concertos, eu ia aos concertos quando vinha cá um grupo que ele gostava muito, tentava ficar no mesmo hotel para depois, encontrar-los lá e apresentá-los e não sei o que mais.
O MotoGP aqui no Estoril era a mesma coisa, eu tinha a facilidade, ou alguém me arranjava uma credencial para eu entrar lá para dentro.
E então ia com ele e pronto, falou com o Valentino Rossi e com muitos outros. Temos montes de fotografias lá em casa.
E pronto, e a paixão pelas motas vem daí.
A seguir, os aviões.
Quando eu era pequenino, o meu pai levava-nos ao aeroporto ver os aviões. E lembro-me que a primeira vez que eu andei de avião foi na minha lua de mel do meu primeiro casamento, num Boeing 727, que entrava-se pela calda do avião.
Aquilo descia a escada, e aquilo era muito complicado para mim, e eu comecei a olhar, mas por aqui? Pronto, depois vi que tinha uma escada, os outros entraram e eu fui também.
E então, íamos lá muitas vezes, quando apareceu o primeiro Boeing 707, O meu pai levou-nos ao aeroporto para irmos ver o maior avião do mundo.
O meu pai não sabia, aquilo era um Boeing, ou se era um Airbus, na altura não havia, mas havia outro, o Lockheed, e não sei o que mais. O meu pai não percebia nada daquilo.
mas nós íamos divertir-nos, porque o aeroporto antigamente tinha uma esplanada ali junto.
[00:28:23] Speaker C: À.
[00:28:23] Speaker B: Pista, e nós íamos para a esplanada, o meu pai bebia um cafezinho, nós bebíamos um sumo, uma coisa qualquer, e estávamos ali a ver os aviões chegarem e pararem ali para carregar e descarregar, E lá ao fundo, na pista, víamos eles também a levantarem e a aterrarem.
E a minha paixão pelos aviões nasceu aí.
Depois, eu tornei-me...
Já, já, muitos, muitos anos depois, eu tornei-me spotter.
Comprei uma máquina fotográfica e comecei a fotografar aviões, coisa que ainda hoje faço.
Curiosamente tenho medo de andar de avião.
Mas gosto muito de aviões.
E então, não sei como combinar as duas coisas.
Talvez o meu gosto pelos aviões faça com que eu ande de avião também.
Mas não tinha... A viagem mais longa que fiz foi à Austrália.
[00:29:29] Speaker A: E é longa de facto.
[00:29:31] Speaker B: É, bastante.
Fizemos uma escala apenas.
E andei lá em cima no ar 20 e não sei quantas horas.
Mas as últimas horas eu já estava habituado.
Já ia na calma.
Porque eu fui de Lisboa a Paris e em Paris apanhei o A380 para Abu Dhabi.
O avião não mexeu um bocadinho. Nada. Parecia que estava em casa sentado no sofá.
uma tranquilidade, uma coisa.
Em Abu Dhabi, foi a única escala que fizemos, apanhámos o Dreamliner, o 787 da Boeing, até Brisbane.
E pronto, também não mexeu nada, aquilo foi pacífico, foi uma maravilha, tanto para lá como para cá.
[00:30:24] Speaker A: O que lhe transmitiu segurança, não é?
[00:30:28] Speaker B: A partir daí comecei a ter um bocadinho mais de confiança e hoje, acredite, quando apanho turbulência ou qualquer coisa, assusto-me.
mas do resto já faço viagem na boa, sabe? Eu também tenho outra paixão, que é Nova Iorque.
Adoro aquela cidade, adoro.
[00:30:51] Speaker A: E vais lá regularmente?
[00:30:53] Speaker B: Vou, sempre que posso vou lá. Estive lá agora em novembro.
[00:30:55] Speaker A: O que é que tem de tão especial da cidade?
[00:30:58] Speaker B: Cimento.
Eu gosto de cidades com cimento. Prédios altos.
A gente lá se sente-se muito pequenino. Aquilo é tudo grande. É tudo enorme.
As pessoas são diferentes.
São, contrariamente àquilo que eu pensava, são muito atenciosas.
Tratam muito bem. Estão sempre a perguntar se preciso de alguma coisa.
Estava um senhor a vender cachorros na 5ª avenida.
E eu perguntei-lhe onde é que era uma loja qualquer, que agora já não me lembro, e ele deixou os cachorros lá e foi comigo dizer-me onde é que era.
Portanto, eu gosto muito daquilo, gosto muito daquilo.
[00:31:43] Speaker A: João Chaves, muito obrigado por ter aceitado o nosso convite para esta agradável conversa.
[00:31:47] Speaker B: Nada, eu é que agradeço terem-se lembrado de mim.
Espero ter contado. Isto foi uma coisa assim muito por alto, porque eu se for começar a falar da rádio, duas ou três horas não chegava.
[00:32:00] Speaker A: Mas eu queria que esta conversa fosse mais transversal, porque tinha outras coisas também interessantes.
[00:32:05] Speaker B: Não sei se correspondia às suas perguntas, mas fugi algumas.
[00:32:09] Speaker A: E obrigado por estarem desse lado. Podem acompanhar-nos no Spotify, Soundcloud, Apple Podcast e nas redes sociais do S&P.