“Memórias dos anos 80”: José Vieira Mendes e a fotografia como obsessão

Episode 88 July 29, 2025 00:34:00
“Memórias dos anos 80”: José Vieira Mendes e a fotografia como obsessão
ACP - Automóvel Club de Portugal
“Memórias dos anos 80”: José Vieira Mendes e a fotografia como obsessão

Jul 29 2025 | 00:34:00

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Show Notes

No primeiro episódio desta série de podcast ACP dedicada a recordar o melhor dos anos 80, o convidado é José Vieira Mendes, fotógrafo, colecionador e contador de histórias visuais, que nos guia numa viagem pela Lisboa de há quatro décadas. Entre episódios insólitos, memórias pessoais e referências culturais da época, revela: "Às vezes é uma sensação quase obsessiva… tenho de fotografar."

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Episode Transcript

[00:00:06] Speaker A: Bem-vindos a mais um podcast do Otomóvel Clube Portugal. Hoje temos como convidado José Veira Mendes, jornalista, crítico de cinema e realizador de documentários e também fotógrafo por intuição, como costuma dizer. José Veira Mendes, muito obrigado por ter aceitado o nosso convite. [00:00:20] Speaker B: Obrigado pelo convite, sim. [00:00:21] Speaker A: Nesta série de podcasts sobre Lisboa dos anos 80, nesta conversa vamos recordar justamente essa época através da fotografia. Estamos a falar de uma época em que de facto deambulou por essa Lisboa fora a tirar fotografias. [00:00:39] Speaker C: Eu vivi os anos 80 intensamente, acho. [00:00:41] Speaker B: Que como quase todas as pessoas da minha geração. Acho que foi assim o explodir da cidade e do país, talvez por causa da proximidade com a entrada, na altura, na comunidade económica europeia, não é? E, portanto, nós vivemos assim um tempo. [00:00:55] Speaker C: Havia um bocadinho passado, mas ao mesmo. [00:00:57] Speaker B: Tempo a cidade começava a vibrar e começava-se a abrir. [00:01:00] Speaker C: E Lisboa é uma cidade muito fotogénica. [00:01:03] Speaker B: E sempre foi fotogénica. Ora bem, nessa altura, nos anos 80, foi precisamente que eu acabei de cumprir o serviço militar, saí em 1982, salvo erro, E a minha paixão sempre foi a fotografia e o cinema e os jornais, essas coisas, portanto. [00:01:16] Speaker C: E decidi tirar um curso de fotografia. [00:01:18] Speaker B: Do Instituto Português de Fotografia. Sempre gostei muito de passear por Lisboa, de noite ao dia. Sempre gostei de acordar cedo. [00:01:25] Speaker C: E uma das coisas que eu fazia era, muitas vezes, acordar cedo e ir. [00:01:27] Speaker B: Embolar pela cidade e fotografá-la com aquela luz muito especial que Lisboa tem logo de manhã. [00:01:32] Speaker A: E muito cedo, não é? Porque era de madrugada que... E muitas. [00:01:36] Speaker B: Vezes de madrugada que eu gostava de ir para a rua e pronto, e fotografar. Muitas vezes até fazia, quando ia para a anoitada com os meus amigos, eu fazia diretas. Ainda hoje eu sou uma pessoa que não consegue dormir de dia, acorda muito cedo e às vezes fazia diretas, pronto. Ia para os copos com os amigos, ia me divertir. [00:01:52] Speaker C: E depois ficava pela noite, gostava imenso. [00:01:54] Speaker B: Ainda hoje gosto muito de ver o nascer do sol. É assim uma sensação de vida e de sentir que estamos vivos e de respirar a vida e de desfrutar dela e portanto ainda hoje pronto que faço isso. [00:02:07] Speaker A: E em entrevistas que deu, que já deu, o José dizia que Esse espérito que fazia pela cidade era em busca de alguns bocados de Lisboa. Quer nos explicar melhor o que expressão é essa? [00:02:20] Speaker B: Sim, eram esses bocados de Lisboa, o Tejo. Eu tenho uma relação muito particular com o Tejo. Aliás, recentemente acabei por fazer um documentário sobre o Tejo. Portanto, as minhas sugestiões giram muito à volta do Tejo e do centro da cidade. Eu nasci em Campolide, não é? É um bairro... parece que está longe do centro, mas não está. Chega-se ao centro da cidade num instantinho e chega-se ao rio num instantinho. Eu costumo dizer que eu sou o rapaz da zona sul, não é do rio, da zona sul de Lisboa. E, portanto, rapidamente, ou pela avenida de Ceuta, ou descendo a avenida de Liberdade, ou por aí fora, chegava ao rio. [00:02:54] Speaker C: E, portanto, eu gostava de fotografar esses bocados de Lisboa que estavam a desaparecer. [00:02:58] Speaker B: E cubro muito essa parte, desde a zona onde é atualmente o Parque das Nações, a zona mais tardeis, para o 98, até Belém, as zonas que eu cubro fotograficamente. Tenho experiências impressionantes e situações impressionantes desses pequenos périplos, desses focados de Lisboa, que eu fui registrando dos anos 80. [00:03:20] Speaker A: Olhando para as suas fotografias, as pessoas têm um papel preponderante, se calhar, não sei, corrigem mais que talvez paisagens ou arquitetura isolada, despida de pessoas. Fotografou nessa época, nos anos 80, fotografou muito as pessoas no seu dia-a-dia, nas suas atividades. [00:03:39] Speaker B: Ainda hoje eu fotografo, sabe? Eu gosto das pessoas, eu gosto de as tratar bem, e acho que eu não consigo fotografar uma paisagem, ou um monumento, ou uma cidade, se ela não tiver pessoas. As pessoas fazem parte da cidade, e as pessoas fazem parte da fotografia. Há vezes que até corro alguns riscos, ainda hoje, de às vezes ao fotografar qualquer coisa, aparecer a pessoa na fotografia e vir reclamar comigo. [00:04:01] Speaker C: Mas, de facto, eu acho que as. [00:04:02] Speaker B: Pessoas compõem a fotografia. E nessa altura Lisboa era uma Lisboa um bocadinho, acho difícil só preto e branco, e Lisboa era um bocadinho cinzenta. Se você se recorda, era um bocadinho cinzenta. O próprio Tejo era cinzento, ainda era sujo, tinha sempre um tom cinzente, a gente não podia sequer molhar os pés porque, enfim... Toda aquela zona da Expo era uma zona muito cinzenta, era quase um caixote de lixo. Felizmente teve aquela renovação graças à Expo, não é? E portanto as pessoas fazem parte um bocadinho da cidade. [00:04:34] Speaker C: A cidade e as pessoas. [00:04:36] Speaker B: Essa relação de Lisboa com as pessoas é fundamental. Na altura não havia tantos turistas. [00:04:40] Speaker A: Pois, é o registro único que marca essa época porque 40 e tal anos. [00:04:46] Speaker B: Depois Lisboa... Está completamente diferente. Embora os sítios estejam lá, sobretudo essa zona ribeirinha continua lá, mas está muito diferente daquilo que era. Para melhor, diga-se de passagem. [00:04:58] Speaker A: O José Vera Mendes falou há pouco da sua preferência pelo preto e branco. e falou também da luz de Lisboa. Provavelmente, se calhar, fotografias a coros, a luz da cidade, notar-se há mais, não sei. Como é que se gera isso num registro a preto e branco? [00:05:20] Speaker B: Sabe, porque eu acho que isso é muito intuitivo. Ainda ontem eu vi aquele programa na RTP chamado Fillbox e dizia exatamente isso, que a luz... o fotógrafo, que é o Maurício de Abreu, que é um fotógrafo extraordinário de paisagens, que eu gostei muito, e que ele dizia isso, que podemos ter toda a técnica do mundo. [00:05:40] Speaker C: Mas depois o olhar, o nosso olhar. [00:05:43] Speaker B: A nossa leitura da luz, é um bocadinho intuitiva. E com preto e branco acontece um bocadinho isso. Eu ainda hoje fotografo preto e branco e muitas vezes em 35mm eu gosto de fotografar em película e portanto às vezes faço uma leitura quase intuitiva da luz. E nessa altura também não havia muitas hipóteses. Quando eu estava a tirar um curso de fotografia a diferença entre relar um rolo a cores e relar um rolo a preto e branco era muito grande. e portanto os rolos a preto e branco e imprimir as fotografias conseguias imprimir em casa em preto e branco portanto preferencialmente era o preto e branco que não era só por ser mais artístico era porque era mais barato mesmo os rolos eram mais baratos a regulação eu podia fazer lá em casa ou para a seca de cores era mais sofisticada e eu tinha que mandar fazer fora e portanto a opção do preto e branco era essa hoje em dia digital a gente pode fazer o que lhe apetece às vezes até pode tirar a. [00:06:34] Speaker C: Cor e passar a testar a preto. [00:06:35] Speaker B: E branco E, portanto, hoje é possível disso tudo. [00:06:39] Speaker C: Mas, naquela altura, não. [00:06:39] Speaker B: 35Mm limitava isso. A película tinha uma qualidade espantosa, não é? Aliás, muitas vezes minhas fotografias são feitas de madrugada e conseguia, às vezes, com aqueles rolos de grande sensibilidade, conseguir tirar coisas espantosas e que representavam muito aquela luz daquele amanhecer de Lisboa que é único. Enfim, que é difícil de explicar, mas que é único. [00:07:02] Speaker A: Há pouco também falou sobre o cinzentismo de Lisboa, mas agora pediria que nos dissesse o que é que mais se recorda da Lisboa dessa época, dos anos 80. [00:07:14] Speaker B: Acordo-me, bom, eu pertenço àquela geração que abriu o bairro Alto. Não sei se você se lembra, mas o bairro Alto na altura era um bairro de prostituição e portanto era um bairro do jornais também e tinha o conservatório também. Há um grupo de pessoas, nessa altura teria 20 anos por aí, Em 1980, precisamente, que o bairro Alto começa a aparecer lá uma certa turma, uns miúdos vindos daqui, daqui de lá, não sei o quê, para beber copos nas Tascas, mais os atores do conservatório, e começaram pouco a pouco a abrir bares, não é? Depois, entretanto, abriu o Frágil, abriu o Restaurante do Papa Sor, daquela gente lá que era toda da TAP. que alguns deles, infelizmente, já faleceram, mas que tiveram uma importância fundamental para este crescimento em Lisboa. Estou a falar de Manuel Reis, estou a falar de Miranda, das pessoas que estão ligadas a isso, a essa movida, a esse grande movimento dos anos 80 em Lisboa, da noite em Lisboa, que transformaram completamente a noite em Lisboa uma das mais atraentes da Europa. De repente, não dámos o foco do. [00:08:18] Speaker C: Mundo por causa da nossa noite, que. [00:08:19] Speaker B: Era tranquila, serena, comia-se bem, bebia-se barato, pronto. [00:08:23] Speaker C: E eu pertenço a essa geração desses miúdos que começou a aparecer por ali, no bairro Alto e tal, e depois. [00:08:28] Speaker B: Desceu um bocadinho para o Castro. É a geração também muito cinéfila, é a geração do quarteto. Isto eu estou ligado ao cinema, nós fazíamos as sessões da meia-noite no quarteto também. E a noite é também o grande desenvolvimento cultural. Lisboa 94 já foi nos anos 90, mas houve uma grande exposição internacional da arte portuguesa em Bruxelas. É também os anos da Golbenkian, os melhores anos da Golbenkian. Aliás, eu nessa altura enquanto fui estudante de comunicação social trabalhei na Golbenkian, trabalhei no CAM, portanto assisti à inauguração do Centro de Arte Moderna da Golbenkian, o famoso Centro de Arte Moderna que agora levou a obra, essa famosa pala. Na altura eu abri-o como recepcionista enquanto estudava na faculdade, portanto nessa altura não estava ligado ao jornalismo, aceitei aquele emprego porque era bom, e aliás estar ali. [00:09:20] Speaker C: Num museu, e aquilo abriu umas portas imensas para tudo o que é os grandes eventos culturais em Lisboa, os encontros. [00:09:27] Speaker B: À carte, vi talvez as melhores companhias de teatro do mundo, a Pina Baustas, as maiores companhias de dança, portanto para. [00:09:34] Speaker C: Mim aquilo foi de facto uma coisa extraordinária, os anos 80 para mim foi. [00:09:40] Speaker B: Foi à altura que eu acabei o. [00:09:41] Speaker C: Curso da faculdade, diverti-me, casei-me, fiz muitas coisas que foram fundamentais na minha vida. Lisboa tornou-se uma das cidades mais interessantes da Europa, ao contrário dos anos anteriores que era de facto uma cidade um. [00:09:55] Speaker B: Pouco cinzenta, um pouco triste, ainda vivíamos um bocadinho o reflexo do 25 de Abril. uma certa agitação, uma certa instabilidade e os 180 as coisas começaram a normalizar e começámos a transformarmos aquilo que eu acho que somos realmente hoje um país europeu. Europeu no melhor sentido, desta capacidade que nós temos de circular e de irmos para o mundo inteiro, não é? E os lisboetas, pronto, também têm esse ar aventureiro, um pouco nostálgico também, não é? Eu próprio sou bastante nostálgico, viajo imenso, e tenho sempre muita vontade de partir e muita vontade de regressar. Quando regresso, dizem-me, ai pá, que saudades que eu tinha de regressar. [00:10:33] Speaker A: E ainda bem que fale em nostalgia, porque apetece-me fazer-lhe essa pergunta desta maneira. Quarenta e tal anos depois, de facto, eu não sei se é nostalgia, se é moda, recordar justamente essa época de Lisboa como ela era e as mudanças que foi tendo ao longo do tempo. Acha que é mesmo isso? É nostalgia ou é uma forma de documentar, digamos assim. [00:11:02] Speaker B: Sim, acho que é documentar e homenagear esses tempos, não é? [00:11:04] Speaker C: Porque, de facto, foram marcantes. [00:11:05] Speaker B: Marcantes para as nossas vidas e marcantes. [00:11:07] Speaker C: Também para a cidade. [00:11:09] Speaker B: A nostalgia não tem, sinceramente, um sentimento mau. É uma coisa boa, é uma coisa que nos enche a alma, que fica, que nos marca e que nos transforma também, não é? Mas eu acho que há, de facto, agora muitas coisas. Têm vindo muitas exposições de fotografia, livros sobre essa altura. Mas eu acho que as pessoas o. [00:11:28] Speaker C: Que procuram é sobretudo homenagear o país e a cidade nunca tiveram um desenvolvimento tão rápido como nessa altura. [00:11:33] Speaker B: Passarmos de um país europeu e para. [00:11:35] Speaker C: Uma cidade que realmente abriu-se para o. [00:11:38] Speaker B: Mundo, ganhou o seu ar. Ela sempre foi uma cidade cinzenta, escura, era o sistema estratégico ao contrário daqui de nós, não é? [00:11:48] Speaker C: Achavam que Lisboa era uma cidade branca, claro, e de facto nós descobrimos, acho que os lisboetas descobriram a sua própria cidade. [00:11:55] Speaker B: Esses passeios à Beira Rio, se você se recorda, nessa altura, eu recordo muitas vezes de ir ali para o Rio. [00:12:01] Speaker C: E havia poucas pessoas. Hoje é uma coisa absolutamente normal, você vê enchentes de pessoas a caminhar, a andar, a correr, a andar de bicicleta, Muitíssimas atividades à beira-rio, que era uma coisa rara. Via lá os pescadores, pessoas à pesca. [00:12:16] Speaker B: Sempre foi um sítio que eu me. [00:12:17] Speaker C: Identifiquei muito, que eu gostei muito. [00:12:19] Speaker A: E só de pensarmos que esses estrangeiros que vivem que habitam agora a cidade, muitos deles residem cá. [00:12:28] Speaker B: Há quem em Campo do Rico vive num bairro que está cheio de estrangeiros, não é? São os franceses, tem franceses, tem italianos, tem americanos, está cheio de estrangeiros e acham que a qualidade de vida e a luz de Lisboa, que é uma luz, pronto, e este clima ameno, não é? Estamos a 20km da praia, da Caparica, não é? [00:12:45] Speaker A: Sim, até mesmo, justamente nesta altura, nos anos 80, Portugal tinha quase 10 milhões de habitantes e só 0,5% é que eram estrangeiros residentes, hoje são números. [00:12:57] Speaker B: Eu não sei exatamente, mas só... [00:13:00] Speaker A: Eu não sei, mas acho... Também não sei exatamente, mas... [00:13:02] Speaker B: Não sei exatamente, mas só há vontade... [00:13:03] Speaker A: Meio por cento não é de certeza. [00:13:04] Speaker B: Meio por cento não é de certeza, são muitos, não é? Em turismo, o próprio turismo, eu recordo-me, nessa altura, e eu trabalhei num museu, portanto, imagino um museu onde nós tínhamos muito contacto com os turistas, não é? E eu lembro-me, nessa altura, só mês de agosto, praticamente, é que nós tínhamos turistas, e a grande maioria eram mochileiros, eram... Gente que vinha fazer o interradio. Estou a falar de turismo em Lisboa, como Algarve. O Algarve sempre teve um fluxo permanente de turistas, sobretudo ingleses, não é? Porque os ingleses é que descobriram o Algarve. [00:13:35] Speaker C: Mas aqui em Lisboa, basicamente era o. [00:13:37] Speaker B: Mês de julho e agosto é que nós tínhamos turista. Agora temos turistas todo o ano. Portanto, a cidade tem hoje um conjunto de ofertas muito variadas, não é? [00:13:45] Speaker A: Turistas e residentes. [00:13:46] Speaker B: Turistas e residentes. [00:13:47] Speaker A: Sempre estávamos aqui a falar de fotografias e eu sei que tem um espólio muito vasto. mas em 2022 pegou pouco mais de duas dezenas dessas fotografias sobre Lisboa dos anos 80 e criou uma exposição no Arquivo Municipal de Lisboa. Porquê que só o fez passar destes anos todos? [00:14:09] Speaker B: Olha, é assim, também uma... Eu nunca deixei a fotografia porque estive sempre ligado ao cinema, mas a dada altura eu estava a fazer um documentário chamado Mar Urbano Lisboa, que foi um documentário que eu fiz em parceria com o Ricardo Gomes, que é um biólogo brasileiro que mergulha, e fizemos um documentário sobre Lisboa chamado Lisboa Mar Urbano. É um documentário sobre o Tejo e que nós fomos à descoberta do ecossistema do Rio Tejo e da sua relação com a cidade. E, de repente, eu precisava de fotografias e imagens dessa Lisboa dos anos 80, antes da Expo. [00:14:47] Speaker C: E, de repente, lembrei-me... Caramba, mas eu tenho um álbum com. [00:14:52] Speaker B: Os negativos, tem 35 minutos. [00:14:56] Speaker C: E, de repente, abri aquilo e disse... Eu fiz estas escrituras, são extraordinárias. porque eram fotografias que eu tinha feito desses passeios e relacionado com o meu curso de fotografia do IPF. Dizia-me, mas estas fotografias são ótimas e. [00:15:10] Speaker B: Eu acho que isto é até mal. [00:15:12] Speaker C: Empregado para o documentário. [00:15:13] Speaker B: Eu acho que vou à procura de imagens de arquivo a RTP, imagens de. [00:15:16] Speaker C: Desenvolvimento, e eu acho que vou aproveitar estas fotografias para... Uma exposição. Fazer alguma coisa e tal. E depois acabou por ser uma coisa assim. Quase aconteceu naturalmente. Às vezes a gente anda à procura de um contacto, de perguntar alguém. Conheces alguém, não sei aonde. Dizer, não, conheço e não sei o quê e tal. E às vezes isso não funciona. [00:15:34] Speaker B: E aconteceu que contactei, descobri o e-mail. [00:15:38] Speaker C: Da coordenadora, mandei um e-mail a dizer, olhe, tenho um conjunto que fiz assim e tal. Eu gostava de lhes mostrar e tal. Entretanto mete-se a pandemia. Começa a pandemia e fizemos uma reunião com o bloco de arte, fizemos uma reunião por Zoom, mostrei-lhe as fotografias, tinha mandado ampliá-las e tal, e portanto mandei ampliar as fotografias e ela gostou imenso e disse, vamos fazer uma discussão sobre isso, se não se importa, uma das. [00:16:06] Speaker B: Contrapartidas é essas fotografias que têm de. [00:16:08] Speaker C: Ficar cá no acervo, porque são documentação, vamos fazer uma fotografia, e eu, ótimo. [00:16:11] Speaker B: Foi uma coisa que aconteceu naturalmente, sem grandes expectativas. Indesperadamente, uma das muitas coisas indesperadas que me acontecem na vida. [00:16:21] Speaker C: E de facto eu não tinha noção que tinha aquele pequeno tesouro ali em casa, que estava ali guardado. Há anos que eu tinha ali aquilo guardado nos negativos e nunca me lembrei de os ampliar. E mandei-os ampliar. Fiz aquilo em formato 30x40 e achei uma coisa extraordinária. Estes artifícios são ótimos, mas eu acho que... tem que fazer qualquer coisa com ele. [00:16:41] Speaker A: O Beto chamava a exposição? [00:16:42] Speaker B: Mesmo anos 80. [00:16:43] Speaker A: E há uma fotografia que faz parte desse grupo de fotografias que integraram a exposição que deu uma história muito, muito curiosa. Quero contar essa história. [00:16:56] Speaker B: É uma história mesmo muito curiosa. [00:16:58] Speaker A: E fotografia essa que anos mais tarde correu a imprensa em alguns artigos. Justamente para contar a história que... [00:17:06] Speaker C: Pois, porque é uma coisa... [00:17:08] Speaker B: Quando a exposição estava é uma exposição muito bonita de um casal naquela mureta do Cais das Colunas. Na mureta que ainda hoje os turistas sentam lá onde estão aquelas pedras e tal. em frente ao Torreão, o Torreão do lado, portanto, Torreão Ocidental. [00:17:23] Speaker C: Aí aquela moreta, aí as pessoas sentaram-se. [00:17:26] Speaker B: Muitas vezes aí a olhar e tal, o rio. Isto aí tínhamos o Tolanque. O Decimo de 280 era o Tolanque, esteve lá pelo menos uns quatro anos. E de facto, num desses meus passeios, num domingo ou num friado, eu já agora não me recordo bem, passei por. [00:17:40] Speaker C: Ali e fotografei um casal lá, e. [00:17:42] Speaker B: É uma fotografia muito bonita com o Tolkien em fundo, o casal, ela abraçada a ele e ele assim a olhar de lado, como quem diz, está ali um tipo a fotografar-nos. [00:17:49] Speaker C: E a fotografia ficou e foi a. [00:17:51] Speaker B: Fotografia, de facto, a imagem da exposição Lisboa anos 80. [00:17:55] Speaker C: E pronto, eu fiz a exposição, E. [00:18:00] Speaker B: Passado uns meses, a exposição foi inaugurada. [00:18:03] Speaker C: Em setembro, eu acho que em outubro. [00:18:05] Speaker B: Novembro, recebo um e-mail do rapazinho que. [00:18:07] Speaker C: Vivia no Dubai, a dizer-me, olha, um amigo do meu pai esteve lá na exposição e reparou que era o meu pai e a minha mãe nessa fotografia. [00:18:17] Speaker B: O meu pai já morreu há 30 anos, eu era muito pequenino quando ele. [00:18:19] Speaker C: Morreu, e fiquei muito sensibilizado com a. [00:18:23] Speaker B: Fotografia e a minha mãe também, porque entretanto já comuniquei, a minha mãe vive aí vivem em Portugal, não em Lisboa. [00:18:29] Speaker C: E eu gostava muito de me encontrar. [00:18:32] Speaker B: Lá consigo, para você me contar a história, se você se lembra dos meus pais e tal. [00:18:36] Speaker C: E eu respondi, eu disse, ah com. [00:18:37] Speaker B: Certeza e tal, mas não me lembro nada, é que foi uma fotografia assim, um instantâneo furtivo que eu fiz na cidade, mas tenho todo o gosto de conhecer a sua mãe e falar consigo, etc. E assim foi, o rapaz foi de. [00:18:49] Speaker C: Férias para o Natal, próximo do Natal. [00:18:51] Speaker B: 16, 17 ou 18, já não me recordo bem a data, disse que vinha a Lisboa. [00:18:55] Speaker C: Entretanto, eu falei com um amigo, um. [00:18:58] Speaker B: Jornalista do público, e disse, olha, aconteceu. [00:19:00] Speaker C: Isto assim e assim, esta história é uma história engraçada, tu não queres fazer. [00:19:05] Speaker B: Nada sobre a exposição e, portanto, juntando. [00:19:07] Speaker C: Esta história, esta história que no fundo. [00:19:08] Speaker B: É uma história feliz, não é? Uma pessoa a reencontrar há 30 anos depois, não sei o quê. Uma pessoa a reconhecer-se na fotografia é espantosa. [00:19:15] Speaker C: Ele diz-se, ah pá, ótimo, não sei eu, então que dia é que ele vai e tal. [00:19:19] Speaker B: Pronto, e no dia de exposição lá estava. Apareceu o rapaz, com a mulher, com os filhos, com as irmãs, com a mãe. Pronto, e não com o pai, porque o pai já tinha falecido. [00:19:28] Speaker C: E eu venho-lhe uma fotografia, para lhe oferecer, obviamente. Chegámos lá e tal, eu acho que ao olhar e tal, perguntou à mãe, então mãe, reconheces-te na fotografia? Eu confesso que na altura não me apercebi muito bem. [00:19:39] Speaker B: A minha mulher que estava comigo disse. [00:19:40] Speaker C: Que a mulher insinuou assim um bocado e disse sim, sim, é o teu pai e tal. Mas ficámos assim, pronto, despedimos, ele deu a fotografia, tirámos os cafés, o rapaz. [00:19:50] Speaker B: O meu colega jornalista do público fez a entrevista com eles, falou com a senhora, falou com o rapaz e o artigo saiu no dia 26 de dezembro de 2022, salve-o. [00:20:05] Speaker C: E pronto, eu cio o artigo, fotografei. [00:20:09] Speaker B: Pus nas redes sociais, pronto, para promover, aproveitar a oportunidade de mais alguma história para promover a exposição. [00:20:15] Speaker C: Passado umas horas, uma amiga minha telefona a me dizer assim, já fiz as tuas redes sociais? E eu disse, não, o que é que se passa? Fui ver os redes sociais, estava lá uma senhora a cachar-se a dizer, isso é tudo mentira, esse casal não são. [00:20:30] Speaker B: Essas pessoas que estão a dizer, esse. [00:20:31] Speaker C: Casal sou eu e o meu marido, e se você quiser eu mando-lhe fotografias, tal, e eu, que estranho. E entretanto, vou ao meu e-mail, lá vou ao e-mail, tenho o e-mail dessa mesma pessoa a dizer-me isso. E eu, coisa mais estranha, então, os outros Peguei no telefone, liguei à senhora e disse, olha, senhora, explique-me lá o que é que se passa. [00:20:52] Speaker A: Há aqui um casal a reivindicar, não é? [00:20:54] Speaker C: Pronto, as outras pessoas disseram, e ela estava indignada, a dizer, não, não, mas isso sou eu, isso sou eu e o meu marido, eu se quiser mando-lhe fotografias nesse dia, porque esse dia nós fizemos um passeio, até fomos ao Castelo de São Jorge, e assim, e vocês, pá, não deviam ter publicado isso e não sei quê, e eu ouvi o senhor, mas há 30 anos e eu ia lá adivinhar, adivinhar que, pronto, quem sou eu para estar adivinhado? Uma pessoa que diz que sou eu que estou na fotografia ou se os meus pais estão nos fotografias. Portanto, eu não fazia a mínima ideia disso e, portanto, mas pronto, vamos já esclarecer isso e tal, mando lá as fotografias e tal, e a mulher efetivamente mandou, mandou umas fotografias com dela, noutra situação, precisamente vestido com a mesma roupa. [00:21:34] Speaker B: Com os ténis sãs. Os ténis na altura que usava eram os ténis que estavam na moda. [00:21:37] Speaker A: Estávamos em que ano? [00:21:39] Speaker C: Estávamos em 82. 1982. [00:21:42] Speaker B: Eram os ténis da moda, se você se recorda. Agora parece que voltaram à moda outra vez. [00:21:46] Speaker C: Mas eu não sabia. E de facto aconteceu esta situação. [00:21:50] Speaker B: Tentei contactar as primeiras pessoas. [00:21:52] Speaker C: Mandei um e-mail então ao rapaz e disse-lhe, aconteceu isto assim e assim, explique-me lá que história é esta. pelos vistos estes dizem que este é que sou eu, se realmente a roupa coincide com o que está aí na fotografia. Eu disse, você não ousa dizer que não são os meus pais, passe bem. E, entretanto, nunca mais tive contato com. [00:22:09] Speaker B: Eles, pronto, não quis mais mexer no. [00:22:11] Speaker C: Assunto, porque achei que o assunto podia ser complexo, podia haver ali qualquer coisa. [00:22:15] Speaker B: Relacionada com questões de família, que eu. [00:22:17] Speaker C: Não me quis estar a envolver mais. [00:22:18] Speaker B: A outra senhora foi lá ver a. [00:22:19] Speaker C: Exposição, lhe desculpe, olha, mas, quer dizer. [00:22:22] Speaker B: Não posso fazer nada. E as coisas ficaram assim e foi mais uma história, uma história sobre uma fotografia que acontece, acho que várias vezes já aconteceu com outros fotógrafos, várias pessoas e várias... sobretudo quando se fotografa pessoas acontece isso. Hoje em dia há essa questão do direito das pessoas e por isso é preciso ter cuidado. porque as pessoas podem exigir esse tipo de confirmação. Mas naquela altura eu tinha 21 ou 22 anos, era um aprendiz de fotógrafo e andava como tanta gente a fotografar Lisboa. Aliás, nessa altura ter uma máquina fotográfica não era fácil. Era uma máquina reflexo, custava dinheiro. [00:22:57] Speaker A: E é verdade. E é essa paixão pela fotografia que o leva a ser também colecionador de máquinas estéticas? [00:23:05] Speaker B: Ah, tenho imensas, tenho. Fui comprando assim ao longo dos tempos, para além da minha. De vez em quando às vezes comprei. [00:23:11] Speaker A: Mas utilizas? [00:23:12] Speaker B: Utilizo uma 35mm. Utilizo-a bastantes vezes. Sou uma que estou mais adaptado a ela. E às vezes aquelas 6x6 que têm aquele formato, que é um formato que eu gosto muito. fotografar, às vezes mesmo fotografo em digital e tenho de transformar ou enquadrar as fotografias nesses 6%. Essas são as que utilizo mais. E às vezes até utilizo as máquinas de plástico. Olhe, por exemplo, quando vou para o Brasil, que é perigoso levar uma máquina fotográfica boa, levo aquelas compactas, porque o vício é tão grande, não é? E gosto de fotografar com película e levo muitas vezes essas máquinas descartáveis, não é? E pronto. [00:23:47] Speaker A: O José Veira Mendes já uma vez disse que para se Para perceber melhor esta época, a década de 80, em Lisboa, é preciso ver dois filmes, quais são? [00:23:59] Speaker B: Aquiles e o Mal da Fita, acho que é fundamental, é Lisboa nos anos 80 e para aí é a Crónica dos bons malandros. Eu acho que são os filmes marcantes dessa altura. Se calhar haverá mais, mas há muitos dessa altura. [00:24:12] Speaker A: Mas esses não são filmes, não necessariamente filmes que tenham sido rodados nessa época. Dois filmes posteriores que mostram bem... [00:24:22] Speaker C: O Aquiles e o Mal da Fita é rodado nessa altura, E é uma. [00:24:27] Speaker B: História sobre Lisboa nessa altura. Não sei se você se recorda do argumento, mas há uma história que está relacionada com a rede bombista na altura. E portanto, essa altura, ainda era a. [00:24:40] Speaker C: Altura, ainda estávamos aqui a viver com. [00:24:41] Speaker B: Alguma efervescência desse rompimento. dessa separação e, portanto, esse filme é sobretudo dessa altura. [00:24:51] Speaker A: Mas esses dois filmes que disse, há para se perceber as mudanças que Lisboa foi tendo, vejam as variações e as doces. [00:24:59] Speaker B: Ah sim, esses são fundamentais. Sem dúvida. O Variações é uma grande figura. Eu recordo-me dele perfeitamente a cortar o cabelo e recordo-me dele frágil. E portanto também me recordo das Doces. As Doces também são um fenómeno incrível dessa altura. de facto, eram vistas com algum machismo e olhadas com algum machismo, mas de facto eram umas meninas surpreendentes que tiveram a coragem de cantar aquelas músicas e se exporem daquela maneira. E os filmes são, de facto, recentes, são espantosos. [00:25:31] Speaker C: Mas esses dois que eu falei também. [00:25:34] Speaker B: Marcam muito a Lisboa dos anos 80. [00:25:36] Speaker A: Sim, até porque foram feitos naquela altura. Eu escolhi três acontecimentos que marcaram muito a década de 80 para lhe perguntar porque é que não os captou nessas deambulações que fazia pela cidade. O cortejo foi no Sá Carneiro, a 6 de dezembro de 1980, a primeira visita do Papa João Paulo II, no dia 15 de maio de 82, e o incêndio no Chiado, 25 de agosto de 88. [00:26:08] Speaker B: Ora bem, eu começo pelo incêndio. [00:26:10] Speaker A: Envolveram pessoas. [00:26:11] Speaker B: Eu sei, no incêndio eu estava a trabalhar, recordo-me do incêndio perfeitamente, mas estava a trabalhar nessa altura, trabalhava na Golbenkian, portanto, e o meu horário de trabalho não podia sair lá, mas recordo-me perfeitamente do incêndio. A visita do Papa João Paulo II, eu nunca tive muito a ver com Fátima. [00:26:28] Speaker A: Com religião, não é? [00:26:29] Speaker B: Quer dizer, tive uma educação religiosa, como toda a gente e tal, nessa altura também, e não renego isso de forma nenhuma, pelo contrário, isso deu-me uma bagagem humanística. de olhar o outro que eu acho que, ainda hoje, eu utilizo. E, portanto, isso foi importante. Mas não tive muito a ver com isso. [00:26:50] Speaker C: Eu, por acaso, estive no Funeral de. [00:26:51] Speaker B: Sá Carneiro, mas não levei máquina fotográfica. Creio que estive, nessa altura... Eu até lhe digo onde é que eu estive. Estive em plena artilheira 1, ali na vinda da artilheira 1, em frente, ali, cruzamento com Eduardo Pacheco. mas eu acho que era tão difícil a gente nessa altura movimentar-se e haver tanta gente, tanta gente. Eu estava ali porque a minha namorada na altura, que é mãe das minhas filhas, vivia ali e nós saímos precisamente à rua para ver passar o funeral e fomos ali àquele ponto, mas não fotografei. Confesso que nessa altura não... Nessa altura também não pensava muito nisso em reportagem, sabe? Não era muito o meu... [00:27:29] Speaker C: Pronto, eu sou mais um típico deambula. [00:27:33] Speaker B: Nessa altura não fazia... Não me sentia repórter, até porque era difícil você fazer reportagem. A reportagem era para os profissionais. Nessa altura, eu não era um profissional, portanto era muito difícil você ter acesso a esse tipo de acontecimentos. O incêndio do Chiado, então, aquilo, quem conseguiu fotografias do incêndio do Chiado foram fotógrafos muito consagrados na altura que conseguiram ter acesso lá, porque era... O Instituto do Papa João Paulo II também tinha as suas limitações de segurança. E o Funeral de Sacraneiro também. Embora tivesse, fosse um cortejo enorme, pronto, eu nessa altura não era repórter, não tinha carteira de jornalista e, portanto, não tinha fácil acesso a esse tipo de eventos. [00:28:17] Speaker A: E agora se impediria que escolhesse três coisas dos anos 80, dessa época mesmo? um livro, um filme e um álbum musical. [00:28:31] Speaker B: Aqueles do Mal da Fita é um filme fundamental até na história do cinema português e uma coisa muito, mas muito importante, uma tentativa de um cineasta português, e são poucos, de levar espectadores a ver filmes portugueses. Portanto, esta história de que os filmes portugueses não têm público é uma história que já vem de longe, não é? E, portanto, já nos anos 80 houve um esforço de alguns cineastas portugueses nomeadamente o Zé Fonseca Costa, que é o realizador do Quilas, e do António Pedro Vasconcelos, e do Fernando Lopes, de fazerem filmes para o grande público. Esse é um dos filmes fundamentais. [00:29:09] Speaker A: E que levou muita gente ao cinema. [00:29:11] Speaker B: Na altura, um autor que estava na moda, que nós liamos muito, E tem a ideia que nós limos muito não só os artigos dele de música, como os artigos dele no Expresso, no jornal Expresso, e portanto é assim a grande referência. [00:29:27] Speaker A: Estás-me a falar de Miguel Esteves Cardoso. [00:29:29] Speaker B: Miguel Esteves Cardoso. [00:29:30] Speaker A: O independente também. [00:29:32] Speaker B: O independente também nasce nessa altura. O Miguel Esteves Cardoso, exatamente. [00:29:35] Speaker A: E agora uma música. [00:29:36] Speaker C: É, pá, nessa altura o Rui Veloso. [00:29:38] Speaker B: Pá, sem dúvida nenhuma. As músicas do Rui Veloso... O Rui Veloso também é um herói dos anos 80, do pai do rock português. E ele não gosta de ser pai, ele diz que já é avô, não é, do rock português. Mas nessa altura, as músicas do Chico Fininho também são dessa altura e marcam muito também essa época dos anos 80, se ponho eu. [00:29:59] Speaker A: Não fotografa apenas cidades, fotografa também outras paisagens, viagens, por exemplo. Que viagens é que faz em busca pela fotografia? [00:30:10] Speaker B: Faço viagens porque tenho que viajar. Primeiro por causa do meu trabalho, não é? Os viagens de cinema, eu faço a cultura Berlin, Berlin Canyon de Veneza e São Sebastião. Portanto, logo aí, fotografo, por exemplo, muitos atores. Sempre tenho a oportunidade de fotografá-los. [00:30:28] Speaker C: Depois faço as minhas viagens. [00:30:29] Speaker B: O Brasil é uma das minhas viagens preferenciais porque sou casado com uma brasileira e, portanto, viajo muito. Eu estive na Bahia e também fotografei imenso aquela zona de Itacaré. Salvador também é uma cidade muito fotogénica, embora seja muito perigosa. Aliás, que eu morro de janeiro. [00:30:45] Speaker C: E tudo quanto a viagem, sei sempre. [00:30:47] Speaker B: O que protejo-te para fotografar. Às vezes, vou acompanhado, vou com a minha mulher e ela às vezes fica chateada e diz, é pá, parem um bocadinho de fotografar. Desfrutam um bocadinho e tal, mas eu... Às vezes é uma sensação quase obsessiva, não é? Passo num sítio, olho qualquer coisa, pronto, tenho de fotografar e tal. Umas vezes com o telemóvel até, os telemóveis hoje são 4K, mas levo a máquina e o telemóvel. [00:31:10] Speaker A: E viagens de carro, gosta de fazer? [00:31:12] Speaker B: A última grande viagem de carro que eu fiz foi precisamente na altura da pandemia, houve aquela abertura, e o Festival de Cannes, que eu costumo ir anualmente, passou para julho, excepcionalmente, costuma ser em maio, passou para julho por causa da pandemia. Eu fiz uma viagem espantosa, saí de Lisboa, fui a Lisboa, Valladolid, Valladolid-Carcassonne, Carcassonne-Cannes. [00:31:34] Speaker C: E depois fui conhecer Saint-Tropez, vim por aí abaixo e acabei em Elvas. [00:31:39] Speaker B: Portanto, fiz uma longa viagem de carro e é uma coisa que eu gosto muito de fazer. Mesmo em Portugal eu gosto imenso de fazer, de vez em quando fazer ir daqui até Trás-os-Montes, por exemplo. Eu gosto imenso de Trás-os-Montes, é muito fotogénico. Trás-os-Montes no inverno, às vezes é muito duro estar lá, é muito frio. [00:31:57] Speaker A: Lá está, é muito cinzento, como a Lisboa dos anos 80. [00:31:59] Speaker B: Mas é muito bonito, é muito bonito. Trás-os-Montes é muito bonito. [00:32:03] Speaker A: E também gosta muito de motas antigas. Que motas tem? [00:32:07] Speaker B: Eu gosto mais de motas do que de carros. Na verdade tenho dois bons carros e ando mais de moto do que de carro. É uma questão de prática. Ando devagar, até porque eu costumo dizer às pessoas e aos meus amigos que de motas a gente não precisa andar depressa que chega sempre mais cedo que os outros. [00:32:22] Speaker C: Portanto, não é preciso andar depressa. [00:32:24] Speaker B: É um transporte de liberdade. Não é muito bom andar com muita velocidade porque uma pessoa vai muito tensa ali em cima da moto. É preciso também aprender a andar de moto e gostar de andar de moto. Não é andar com muita velocidade que se anda bem de moto. É um transporte de passeio e é para desfrutar. E, portanto, eu gosto muito de motos. Tenho duas motos antigas e tenho... e comprei uma moto nova há dias. [00:32:44] Speaker A: Motos antigas são essas? [00:32:46] Speaker B: Tenho uma Vespa clássica, PX 125, que... tem 33 anos, tem uma Triumph Bonneville que ainda há carburador, portanto ainda das antigas, tem 25 anos. E agora recentemente comprei uma Honda Forza 7.5 que é um modelo relativamente recente porque cada vez que vou a onda, tenho comprado ondas ultimamente e cada vez que vou lá eles dizem-me assim, olha. [00:33:09] Speaker C: Já saiu mais uma nova. E eu, ah é? [00:33:11] Speaker B: Então deixa lá experimentar. Então olha, tenho andado a subir nível ali de escalão E agora é uma scooter, é de facto um transporte extraordinário para andar dentro da cidade, porque tem as malas, a gente pode pôr os capacetes lá dentro, pode ir às compras. E às vezes não ando tanto nas antigas como Itapena, que são muito bonitas, porque a scooter é muito prática e de facto dentro da cidade é o melhor para se andar e o mais prático. [00:33:36] Speaker A: E também tem espaço para levar máquinas fotográficas. [00:33:38] Speaker B: E também tem espaço para levar as máquinas fotográficas, exatamente. [00:33:42] Speaker A: Muito obrigado por esta conversa e recordarmos a Lisboa dos anos 80. [00:33:47] Speaker B: Muito obrigado também pelo convite. [00:33:49] Speaker A: E obrigado por estarem desse lado. Podem seguir-nos no Spotify, Apple Podcast e nas redes sociais do ACP.

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