Episode Transcript
[00:00:02] Speaker A: Viajar é para todos é um podcast do Automóvel Clube Portugal que vem mostrar que viajar é mesmo para todos, independentemente das condições e características de cada um. Eu sou a Sofia Martins, sou autora do blog Just Go By Sofia, Sou paraplégica, adoro viajar, já visitei mais de 40 países e concretizei o sonho de dar uma volta ao mundo. Aqui trago convidados com outras visões e outras necessidades, esperando contribuir para que outras pessoas descompliquem na hora de escolher o destino e partir. Este podcast tem o patrocínio da Max Finance.
Olá, bem-vindos ao Viajar é para Todos, um podcast do Automóvel Clube Portugal. A minha convidada de hoje é a Inês Inácio. Olá, Inês.
[00:00:48] Speaker B: Olá, Cid.
[00:00:49] Speaker A: Bem-vinda. Obrigada por fazeres esta viagem comigo hoje. Vamos fazer o check-in?
[00:00:53] Speaker B: Vamos.
[00:00:54] Speaker A: E vamos para onde?
[00:00:56] Speaker B: Vamos para São Tomé e Príncipe.
[00:00:57] Speaker A: Vamos então para São Tomé. Muito bom.
[00:01:00] Speaker B: Antes de mais, queria-te agradecer o convite. Obrigada. Estou muito contente de estar aqui contigo.
[00:01:04] Speaker A: Obrigada e eu. E não foi fácil.
[00:01:07] Speaker B: Não foi fácil.
[00:01:09] Speaker A: A Inês é formada em Relações Públicas e Comunicação Empresarial, mas a sua vida é uma verdadeira viagem e por isso foi muito difícil conseguir o tê-la aqui à minha frente. É uma apaixonada por viagens e por desporto também, pelo que consegui perceber. Aos 14 anos descobriu que sofria de duas doenças crónicas, diabetes do tipo 1, o que a torna dependente de insulina, e um mês depois descobriu que era celíaca. Mas é a descontração em pessoa e quem sabe seja por isso que hoje é líder de viagens e uma referência para muitas pessoas que sofrem também destas doenças. Vamos descobrir aqui um bocadinho. Inês, tenho de fazer esta pergunta. É muito difícil apanhar-te cá. Como é que é as tuas viagens? Quanto tempo passas em Portugal? Isto é aqui uma roda viva.
[00:02:01] Speaker B: Tem sido pouco tempo. De facto, ou seja, desde que eu comecei a trabalhar e a viver das viagens, que tenho viajado todos os meses, e portanto vai variando entre estar 15 dias em Portugal, a estar 5 dias, a estar 4, mas efetivamente eu acho que agora é o momento certo para viajar e para aproveitar e para estar fora. Por isso, tenho aproveitado o máximo que posso para conhecer.
[00:02:25] Speaker A: Claro. E de onde é que foi esse gosto pelas viagens? É de sempre? É uma coisa recente? Como é que é?
[00:02:31] Speaker B: Olha, na realidade, eu viajo pela primeira vez de Erasmus, eu nunca tinha viajado com os meus pais, os meus pais não são pessoas de viajar, a minha irmã também não, apesar de ter mais velha do que eu, 7 anos. Quando eu estava na faculdade decidi ir de Erasmus, contra a vontade dos meus pais, inscrevi-me e só quando fui aceita que lhes comuniquei que ia para a Itália. E, na verdade, o Erasmus não me correu bem. Eu acabei por desistir e voltei para casa. Mas foi extraordinário que, apesar dessa má experiência que me marcou para o resto da vida, eu descobri que aquilo me fazia verdadeiramente feliz. A partir daí, comecei a perceber que não era assim tão difícil apanhar um avião. Eu acho que, até então, como eu nunca tinha visto ninguém fazer isso na minha família, era uma coisa quase impensável e, de repente, não, é só comprar o bilhete e ir. E então voltei em abril, maio e comprei uma viagem logo para novembro para ir a Barcelona e a partir daí fui aproveitando todas as pessoas que conhecia que estavam em algum lado.
[00:03:27] Speaker A: Sim.
[00:03:27] Speaker B: Ou seja, tinha amigos de Erasmus, ok, vou ir ver-te. Comprava bilhete e estava em casa deles.
[00:03:31] Speaker A: E és sozinha?
[00:03:32] Speaker B: Ia sozinha ou ia acompanhada, ia a namorar, enfim, fui variando e comecei efetivamente a viajar cada vez mais, cada vez mais, quatro, cinco vezes por ano e depois quando comecei a trabalhar no escritório, ou seja, acabei o curso, comecei a trabalhar no escritório onde estive cinco anos e meio. e quando trabalhei lá tinha muita liberdade, ou seja, as minhas chefes não eram pessoas muito rígidas no sentido de ter um horário ou um local fixo, portanto nós desde que fizéssemos as coisas podíamos trabalhar de onde quiséssemos e então eu comecei a viajar todos os meses. Ou seja, coisas mais pequeninas, não é? Ia a um sítio qualquer na Europa 3, 4 dias, ou seja, ia sexta e segunda, aproveitava o fim de semana e então comecei a viajar, comecei a ganhar o gosto e acho que foi assim que isto começou.
[00:04:14] Speaker A: E daí para líder de viagens, como é que se deu essa passagem? Começando no Erasmus, que correu mal, para ser líder de viagens.
[00:04:22] Speaker B: Na verdade, isto começa por tua causa. Portanto, meu super obrigada para sempre a ti. Eu já tinha feito algumas viagens destas, de grupo, enquanto participante. Comecei muito nova, acho que na primeira viagem que eu fui eu tinha 21 anos, portanto há 10 anos. E quando comecei a ir percebi que isto poderia ser uma profissão, mas não fazia ideia como é que se chegava lá. Ou seja, eu lembro-me até de ter perguntado aos primeiros líderes com quem fui, como é que eu consigo chegar a esta profissão? E o único conselho que eles me davam é, tens que viajar muito. Quando viajas e tiveres alguma experiência, talvez consigas. E então na minha cabeça eu tinha sempre, ok, eu se calhar tenho que planear fazer uma volta ao mundo para um dia poder candidatar-me a alguma agência. E, entretanto, nós conhecemos, ou seja, eu fui na altura ao Êxodos e ouvi o teu discurso e foi absolutamente impactante e lembro-me que mandei-te uma mensagem a dizer que tinha ouvido o teu discurso e que tinha adorado, depois trocámos algumas mensagens e nunca perdemos o contacto. E, entretanto, em 2021, se não estou em erro, quando vais à BTL, acabas por perguntar se eu quero ir contigo, que ia haver um pequeno grupo, não é, de partilha de pessoas que viajavam com algumas limitações. E então eu vou contigo e efetivamente estava uma agência nesse painel também que acabámos por comunicar no fim e acabaram por convidar-me para fazer parte. E portanto, apesar de já não estar na mesma empresa, hoje em dia estou na Landscape, foi assim que começou.
[00:05:49] Speaker A: Ainda bem que participas nesse processo, não fui eu, fostes tu e só por seres uma boa líder, de certeza, é que continuas a fazê-lo e ainda bem, fico muito feliz por isso. Como é que uma pessoa que adora esta adrenalina toda, que adora viajar, como é que encaixa aqui agora duas doenças que de alguma forma... São limitantes. São limitantes. Como é que fazes essa gestão?
[00:06:23] Speaker B: Na verdade eu uso sempre esta máxima porque eu acho que é a minha que é um bocadinho irresponsabilidade.
No sentido em que, efetivamente, eu não penso muito sobre as doenças e não penso muito sobre para onde vou ou quais as condições que tenho.
[00:06:39] Speaker A: Pode explicar só um bocadinho antes o que é que implica cada uma delas?
[00:06:42] Speaker B: Sim. Ou seja, eu tenho diabetes tipo 1, portanto sou insulina-independente, o que significa que tenho que dar insulina pelo menos 5 vezes ao dia, ou seja, sempre que eu como tenho que dar insulina e picar o dedo antes de dar insulina.
Portanto, isso implica que eu tenha sempre que ter tiras, ter insulina comigo. Sobre a parte celíaca, o que existe é uma intolerância ao glúten.
Não há qualquer medicação. O que há a fazer é uma dieta isenta de alguns cereais. Neste caso são quatro, aveia, cevada, trigo e centeio. E, portanto, a única coisa que há a fazer é uma dieta que, na verdade, é muito mais complexo do que dar insulina.
[00:07:20] Speaker A: Sim.
[00:07:20] Speaker B: Em contexto de viagem, principalmente, porque às vezes estamos em sítios onde não é de todo possível arranjar pão sem glúten ou outras alternativas e, portanto, torna a minha vida muito mais complicada. Ou seja, a nível de gestão de viagem, efetivamente o que há a fazer é procurar soluções sem glúten. Por exemplo, uma das minhas viagens é a Jordânia e é um pesadelo nesse sentido porque é tudo à base do humus e do pão. Portanto, não tenho praticamente maneira de fazer isto.
[00:07:52] Speaker A: E como é que fazes? Começa logo na organização da viagem cá, não é?
[00:07:56] Speaker B: Sim.
[00:07:57] Speaker A: Tens de logo preparar tudo, tanto para uma como para a outra.
[00:08:01] Speaker B: Sim, ou seja, implica que eu praticamente sempre levo uma mala com comida.
[00:08:05] Speaker A: Sim.
[00:08:06] Speaker B: Então, normalmente levo sempre os meus chariais porque me safa sempre um jantar, um pequeno almoço, qualquer coisa. E é fácil normalmente arranjar leite em algum sítio. E em último caso, enfim, com meus chariais sem leite.
[00:08:16] Speaker A: Sim.
[00:08:17] Speaker B: E nem sempre, mas na maior parte das vezes também levo o meu pão. Ou seja, porque em alguma circunstância eu posso fazer maçãs, ou posso pedir a alguém para que me façam maçãs em algum lado, se tiver o pão. A nível de preparação para a viagem, a nível da parte celíaca, efetivamente é levar comida.
[00:08:35] Speaker A: E como é que é levar isso no avião?
[00:08:38] Speaker B: Assim, é tranquilo. O único problema é que tenho que levar uma mala só para isto.
[00:08:41] Speaker A: Mas não implicam com nada?
[00:08:44] Speaker B: Não, porque são tudo coisas sólidas, não é? Ou seja, tanto os cereais, como bolachas, como pão, não têm a parte dos líquidos, que é a parte que não é permitida, sendo que eu, por ter a parte da diabetes, eu posso passar com sumo, por exemplo. Tenho que apresentar o documento a dizer que tenho diabetes e, portanto, normalmente vai ao raio-x e passa e está tranquilo, tal como a água. Mas efetivamente eu às vezes não costumo levar porque eu vou sempre em cima da hora para todo lado para não correr o risco de ficar presa no raio-x e perder tempo. Normalmente só tenho levado comida. Por exemplo, uma coisa que eu faço sempre antes de ir de viagem, quase sempre levo uma quiche. Principalmente quando eu vou para um sítio que não conheço, ou seja, eu levo sempre duas caixas daquelas de gelados para depois poder mandá-las fora, com uma quiche e isso assegura uma comida durante o trajeto e a primeira refeição quando chego ao destino. Até ir ver se há supermercado, se tem um sítio perto onde possa comer. Lá está, porque muitas das vezes não faço essa preparação antes, portanto não vou pesquisar onde é que há restaurantes. Portanto, é sempre assim meio freestyle quando chego. Portanto, a quiche é a minha única preparação de... Pelo menos aqui já segurei o jantar, depois logo se vê.
[00:09:55] Speaker A: Claro, claro.
[00:09:56] Speaker B: Sobre a parte da diabetes... Enfim, tenho que... Por exemplo, esta viagem que eu acabei de vir foi a viagem mais longa onde eu estive, foram dois meses. E aqui a preocupação é tentar perceber quanta insulina eu vou gastar. Sei que numa média eu uso canetas, há quem use bomba. No meu caso, mais ou menos uma caneta dá para um mês de insulina. Portanto, neste caso eu estaria dois meses fora, eu teria que levar duas canetas e enfim, por precaução, uma terceira, não é? Sendo que, qual é o principal problema disto? É que nós, a partir do momento em que tiramos a insulina do frigorífico, ela só pode estar um mês fora do frigorífico. E eu, ainda para mais, fui para o sudeste asiático, portanto, sítios muito calor. Como é que eu ia gerir isto?
Ora, mais uma vez isto foi um bocadinho random, porque na verdade existem umas bolsas que mantêm a temperatura, que eu até tenho. Eu tenho que confessar que ao início eu fiz muito bem a situação, eu levei-as na bolsa, mas depois às tantas testei e aquilo, pronto, deixou de existir. Mas, portanto, há maneiras de contornar a situação, ou seja, ir mudando a insulina de hotel em hotel, de sempre estar no frigorífico, Na verdade, neste caso, eu tive sempre frigo e fico em todos os hotéis, portanto essa parte foi mais fácil. Eu já estive em sítios onde isso não aconteceu de todo. Por exemplo, quando eu estive em São Tomé e Príncipe, não tínhamos luz. Ou seja, eu estava a viver com a comunidade e nós não tínhamos água canalizada e não tínhamos luz, à exceção de três horas por dia. Portanto, não tinha maneira de manter a insulina. E o que na altura nós fizemos foi, ou seja, colocar a insulina, por exemplo, dentro de uma vasilha com água e isso mantinha a temperatura da insulina, por exemplo. Mas, ou seja, enfim, a preparação foi esta. Eu neste caso cometi um erro desta vez porque enganei-me na caneta e então não levei insulina lenta o suficiente e até foi a primeira vez que no destino tive que me safar e em Bali acabei por ter de comprar a insulina.
[00:11:51] Speaker A: Era isso que eu ia perguntar, como é que é? Imagina que acontece alguma coisa, consegues comprar em qualquer lado?
[00:11:58] Speaker B: Olha, eu não fazia ideia, porque eu nunca tinha testado, até porque também não sabia bem como é que funcionava, porque a partir de uma receita portuguesa não dá noutro país, não é? Mas acabei por precisar disso, ou seja, eu fiquei sem insulina em Bali e ainda iria estar mais 20 dias na Jordânia e acabei por ir a uma farmácia no último dia, mostrar-lhes a minha caneta e eles nessa mesma tarde arranjaram-me a insulina e até estava com algum medo porque em Portugal se não tivermos receita a insulina é muito cara, eu não sei exatamente quanto é, mas eu penso que é à volta de 100 euros e portanto achei que talvez fosse pagar um valor bastante alto, mas acabaram por me cobrar 20 euros e arranjaram-me a insulina e correu bem, felizmente.
[00:12:38] Speaker A: Ótimo.
[00:12:38] Speaker B: Mas não sei se é assim em todos os países.
[00:12:40] Speaker A: Claro, claro. Arriscas um bocadinho, não é?
[00:12:43] Speaker B: Arrisco um bocadinho.
[00:12:45] Speaker A: Já tiveste algum momento de aflição em viagem? Eu não me posso esquecer de uma fotografia tua que vi na BTL. que é tu a dares insulina em cima de uma brancha de cerveja. Já tiveste alguns momentos de aflição?
[00:12:59] Speaker B: Eu acho que este foi o meu momento de maior aflição, porque lá está, com a minha descontração, eu dou insulina todas as noites e, portanto, a caneta, entretanto, acaba, não é? E eu vou buscar outra mala. E eu nunca faço isto com tempo, não é? Portanto, no dia que acabei a caneta, no dia a seguir ia pescar e quando vim já não tinha mais nenhuma. Portanto, no dia que eu precisava dar insulina eu já não tinha. E efetivamente eu só chegava à Jordânia passado cinco dias desta situação, sendo que era possível que alguém me trouxesse de Portugal, porque como vinham viajar comigo, vinham de Lisboa, eu podia pedir alguém.
[00:13:32] Speaker A: Quanto tempo é que podes estar só aí?
[00:13:34] Speaker B: Mas a questão é essa, eu não posso estar cinco dias sem dar insulina. E, portanto, foi o que me motivou a ir à farmácia, embora que eu não sei dizer qual era o meu plano B, porque eu acabei por não partilhar isto com ninguém, eu não quis alarmar ninguém, eu pensei, bem, se isto não acontecesse, se calhar tenho que falar com os médicos e pedir se posso dar insulina rápida, portanto, que é a outra que compensa esta durante a noite, duas em duas horas, talvez, não sei.
Mas pronto, felizmente não foi preciso. Eu acho que foi assim... A minha maior aflição foi agora. Porque... Lá está. Eu acho que acabo por arriscar porque as coisas correm-me sempre bem. Isto é teoria, não é? Mas para já essa descontração, essa... De.
[00:14:13] Speaker A: Qualquer maneira podes sempre ir a um médico ou a qualquer coisa se na farmácia não te passarem. Não sei, digo eu.
[00:14:19] Speaker B: Sim, quer dizer, eventualmente eles arranjavam-me sempre insulina, podia não ser a minha, não é? É uma coisa um pouco complexa porque o esquema de insulina está adaptado a cada pessoa e, portanto, pode não reagir, pode, enfim, podia correr mal nesse sentido. Mas, pronto, felizmente não aconteceu. E, pronto, efetivamente essa fotografia, esse vídeo que tu viste de eu a dar insulina em cima da prancha é um bocadinho o que me descreve, não é? Esta descontração.
[00:14:48] Speaker A: A imagem que eu tenho de ti é só essa. Olha, há uns três anos, numa palestra, eu ia ao Japão, que por acaso era a viagem que ia fazer a seguir, e uma das pessoas que estava a assistir também ia ao Japão com a sobrinha, que também era celíaca, e na altura disseram que tinham imensa dificuldade, estavam a ter imensa dificuldade em organizar a viagem. Eu até dei o teu contacto, não sei se falaste. De certeza que és procurada por muitas pessoas que te fazem estas questões. És uma referência, digo eu, para algumas pessoas. Achas que... ou já viajaste com alguém nos teus grupos que também sofra de alguma dessas doenças? Achas que te procuram para viajar contigo porque se sentem mais seguros? Isso acontece ou não?
[00:15:43] Speaker B: Eu acho que ainda não, ou seja, eu efetivamente tenho recebido cada vez mais mensagens nesse sentido, principalmente de pais ou pessoas celíacas, porque efetivamente existe uma grande preocupação de como é que tudo se faz. Lá está, eu não sou a melhor pessoa do mundo para dar um conselho no sentido em que eu não faço uma pesquisa exaustiva antes de ir a nível de restaurantes, embora que é possível. E por exemplo, eu neste momento enquanto líder planeio muito mais a viagem do que quando vou a nível pessoal, não é? E quando eu faço isso eu tenho sempre a intenção de ver os restaurantes têm essa possibilidade ou não. Não só por mim, mas porque efetivamente posso vir a ter o viajante que tem. Por exemplo, nesta última viagem de Bali eu tinha uma rapariga que tinha o síndrome do intestino irritável. E portanto também tenho que ter uma série de preocupações a nível da alimentação e portanto era sempre mais benéfico quando eu conseguia sítios onde tinha uma variedade grande em que a pessoa podia estar descansada. E, efetivamente, não apanhei ainda ninguém siciliano, apanhei um rapaz diabético na Jordânia e foi muito, muito interessante viajar com ele. Nós ficámos amigos porque pudemos partilhar um bocadinho do que é o gráfico, ou seja, nós temos um gráfico, quando temos o sensor no braço, vamos vendo que o telemóvel ali vai nos apresentando os nossos valores ao nível do dia. E nós tínhamos algumas situações mais puxadas, por exemplo, no dia de Petra nós fazemos praticamente 20km, que significa uma baixa de glicemia, com certeza, à noite, por todo o esforço físico. E foi muito interessante poder ter alguém com quem partilhar, já tiveste a baixa, não tiveste, compensaste, comeste açúcar, o que é que fizeste. Foi giro poder partilhar com ele esses momentos de que, enfim, podemos partilhar isso com outra pessoa, mas obviamente que a pessoa não está dentro do assunto Claro. Nesse sentido, eu... Quando alguém me pergunta, por exemplo, alguém se lia que vem ter comigo e me pergunta sobre isso, eu dou sempre o exemplo que quando eu fui a Cabo Verde, eu fui à Ilha do Fogo e as minhas amigas quiseram ir subir ao vulcão. Eu não fazia assim tanta questão, porque já não era o primeiro vulcão que eu ia subir, não era a primeira montanha, mas elas quiseram e então lá decidimos ir e efetivamente todas elas resolveram o assunto muito facilmente, porque levaram maçã antes para o almoço. E eu não podia levar maçãs e eu não tinha pão. Portanto, de repente, o que é que eu vou levar para almoçar para poder fazer esse esforço? Ainda para mais porque como sou diabética não posso simplesmente ir e comer quando chegar, não é? Portanto, tenho que ter super atenção.
[00:18:07] Speaker A: Mas tens que controlar o esforço, não é?
[00:18:09] Speaker B: Exato. Com o nível de açúcar.
[00:18:11] Speaker A: Sim.
[00:18:12] Speaker B: E então, lá está, qual foi a alternativa? Ok, não sei, vou ali ao mini-mercado, o único mini-mercado que está lá no meio do sítio onde se começa a subir para o Vulcão do Fogo, e então tinha uma lata de salsichas e um pacote de batatas fritas. E efetivamente foi a única coisa que eu consegui comprar, além de fruta, enfim, que também não havia muita, mas havia alguma. E, efetivamente, o que eu tento dizer a essas pessoas que me procuram é, não deixem de ir porque está a parecer difícil. E lá está, por exemplo, o Japão. Eu acredito que, eu percebo que deve ser difícil encontrar alguns restaurantes certificados mesmo com a parte sem glúten. Mas as opções devem ser variadíssimas porque, enfim, o alimento rei é o arroz, não é? E, portanto, isso é fácil para nós, nós podemos comer arroz e muitas das vezes os noodles que existem também são de arroz. Portanto, mesmo que às vezes não pareça assim uma coisa de caras, é ir que há sempre solução. Mas que não seja fruta, enfim. E a pessoa tentar ir através... Lá está mesmo que às vezes não se consiga uma refeição, mesmo uma refeição há sempre qualquer coisa que dá para comer e para safar.
[00:19:15] Speaker A: E também depende de pessoa para pessoa, não é? Porque não é igual para todas as pessoas.
[00:19:21] Speaker B: Sim, assim, uma pessoa mesmo celíaca que é intolerante, ou seja, teoricamente não pode mesmo ter contaminação. Mudou um bocadinho para uma pessoa que é alérgica ou que faz uma dieta isenta de glúten por opção própria, porque ajuda noutra coisa qualquer, não é? Mas enfim, eu já estou a falar num nível extremo em que a pessoa não pode mesmo comer qualquer tipo. Há sempre solução.
[00:19:43] Speaker A: E se for uma pessoa diurética, qual é o conselho que dás?
[00:19:49] Speaker B: Enfim, a verdade é, uma pessoa diabética aqui não tem descanso. Ou seja, nós não podemos tirar férias, não é? Eu não posso simplesmente ir jantar com os meus amigos e poder beber e pensar que alguém vai ficar responsável por mim. Ou que posso ir correr e a seguir não compensar porque... Ou seja, nós estamos sempre preocupados, a verdade é essa. Eu estou sempre a dizer que isto é um trabalho que não tira férias, não é?
E, na verdade, em viagem é exatamente a mesma coisa, sendo que eu acho que em viagem é um bocadinho melhor porque a pessoa está descontraída. A diabetes acaba por ser uma doença um bocadinho emocional, varia muito consoante as nossas emoções e quando a pessoa está em viagem é a partir de estar feliz, está descontraída, os meus valores melhoram acentuadamente. Portanto, na verdade é só estar preocupado com o que está aqui, mas de forma mais descontraída.
[00:20:36] Speaker A: Mais descontraída e levar a medicação, não é?
[00:20:39] Speaker B: E levar a medicação, sim. Bem, isso aí não falhar, não fazer.
[00:20:42] Speaker A: Com que eu... E ter um bocadinho mais cuidado do que tu.
[00:20:44] Speaker B: Enfim, se calhar ver um bocadinho com mais atenção a parte dos hospitais, não é? Essas coisas que eu raramente vejo, ou seja, a única preocupação que eu tenho, eu faço sempre seguro, obviamente, porque, enfim, uma pessoa doente e que tem doenças tem que ter isso em atenção.
[00:20:57] Speaker A: E eu acho que qualquer pessoa deve fazer um seguro de viagem.
[00:21:00] Speaker B: Exato. Mas pronto, ou seja, uma pessoa com algumas incapacidades tem que ter isso em atenção, mas no fundo é isso. Ou seja, por exemplo, quando fui para a Amazónia eu tinha o hospital mais perto a três horas e meia de distância e fui. Enfim, se corresse mal, não sei, depois logo se via. Felizmente não correu. Mas é um bocadinho isso. Na verdade, eu acho que é aproveitar as coisas boas que as doenças nos dão. No meu caso, o facto de ter as duas doenças faz com que eu tenha um atestado em capacidade. E eu tenho até um atestado em capacidade bastante alto. Tenho 75%. O que me dá imensos benefícios em viagem. Eu não pago a maior parte dos monumentos. Ou seja, enfim, é tentar ver a parte boa da situação e tentar... aproveitar a viagem e ir.
[00:21:48] Speaker A: É isso, just go, não é?
[00:21:49] Speaker B: Sim, just go, como tu.
[00:21:51] Speaker A: Também li que tu procuras fazer um desporto em cada sítio que vais.
[00:21:55] Speaker B: É verdade. Eu adoro fazer desportos, adoro adrenalina, eu fiz imensos desportos de competição e efetivamente eu tenho uma paixão por experimentar coisas novas E tenho tentado fazer isso. Alguns sítios tenho repetido. Por exemplo, agora na Turquia fiz parapente, que é o segundo sítio mais alto do mundo. Já tinha feito parapente cá, mas foi uma experiência incrível. Ou seja, sempre que eu vou para um sítio eu tento ver qual é o desporto que mais se faz, ou diferente, dentre as coisas que eu ainda não fiz. E pronto, e procuro sempre fazer isso. Lá está, tenho que ter alguma atenção aqui com a parte da diabetes, mas... Mas lá está, por exemplo, coisas que eu já faço sempre. Eu normalmente levo sempre a GoPro ou levo um saquinho daqueles de água, porque eu sei que de repente estou a fazer rafting na Albânia.
[00:22:45] Speaker A: Qual é que foi o que gostaste mais?
[00:22:47] Speaker B: Eu acho que tenho que dizer este parapente agora na Turquia.
[00:22:51] Speaker A: Sim.
[00:22:51] Speaker B: Adorei. Adorei, porque eu tenho muito medo de alturas, que isto é um contrassenso, Mas depois quando estou nesta parte, já saltei do avião duas vezes, já fiz parapente duas vezes, ou seja, depois quando me sinto lá consigo descontrair de alguma maneira.
[00:23:08] Speaker A: Desligas, não é?
[00:23:09] Speaker B: E eu acho que foi isso e a Asa Delta no Rio de Janeiro.
[00:23:11] Speaker A: Ah, boa!
[00:23:12] Speaker B: Porque consegui usufruir durante o tempo que ainda lá estava.
[00:23:16] Speaker A: Olha e o balão dar quente na Capadócia também, porque eu não pude fazer. Não me deixaram.
[00:23:23] Speaker B: Não?
[00:23:23] Speaker A: Não, por estar em cadeira. Acho que não é permitido.
[00:23:27] Speaker B: E já tentaste cá? Eu fiz cá primeiro e depois fiz lá.
[00:23:29] Speaker A: Já estive quase para fazer, mas depois o tempo mudou e não foi possível. Mas sei-te fazer um dia.
[00:23:35] Speaker B: Sim, porque eu fiz cá também e gostei muito de fazer cá também. É diferente, obviamente.
[00:23:39] Speaker A: Claro.
[00:23:40] Speaker B: Porque, enfim, temos a espetacularidade de ter os outros balões, mas cá é uma experiência incrível.
[00:23:47] Speaker A: Eu acho que sim. Tenho que fazer no volantejo.
Gostava muito. Inês, estamos a chegar a São Tomé e Príncipe. Porquê São Tomé? Já lá foste, já percebi que sim, gostaste muito. É uma viagem que te marcou.
[00:24:03] Speaker B: São Tomé é o país da minha vida.
Sim, eu fui duas vezes a São Tomé, ou seja, fui a primeira em 2021 em voluntariado. Estive um mês lá a fazer voluntariado e depois acabei por ir de férias ao Príncipe e foi uma experiência verdadeiramente avassaladora. Também foi assim a minha primeira viagem sozinha, diga-se, embora fosse com outros voluntários.
[00:24:26] Speaker A: Sim.
[00:24:27] Speaker B: Em que mergulhei profundamente naquelas pessoas, na cultura e quis viver como eles, por isso vivi na comunidade. E lá está, eu nunca mais senti, ou melhor, talvez tenha sentido, mas não daquela profundidade, as pessoas, nem todas têm assim tanto, mas todas te dão tudo aquilo que têm. E isso é uma coisa extraordinária. Eu lembro-me de uma situação que me aconteceu lá, que eu estava a fazer um campo de férias, foi esse o voluntariado que eu fui fazer, fomos criar um campo de férias, e numa das vezes que nós estávamos a vir da praia novamente para a comunidade, tive uma das miúdas, que nós passámos por um alojamento, E ela me disse, ah Inês, o meu pai no meu aniversário deu-me vir experimentar um banho de água quente. Porque eles não têm água canalizada, não é? Portanto, eles nem sequer sabem o que é um duche nesse sentido. Enfim, claro que hoje em dia as coisas vão evoluindo e a última vez que lá fui, a família onde eu vivi a primeira vez já tinha, por exemplo, a deitar água na na torneira. Portanto, as coisas vão evoluindo, mas aquilo marcou-me profundamente, que é, nós às vezes não temos mesmo noção da sorte que temos. Ou seja, é uma coisa tão simples como um banho de água quente, experimentar a água a correr ou a água quente. E voltei em dezembro, tive a sorte, fui ao casamento da minha família São Toméns e fui acompanhar um grupo landscape também. E eu acho que quem vai a São Tomé e vem igual não foi lá fazer nada.
[00:25:49] Speaker A: E as próximas viagens? Já falaste agora com a empresa só em agosto, mas fazes outras viagens sem ser de trabalho?
[00:25:59] Speaker B: Sim, tenho algumas planeadas com amigas para Menorca, para Maiorca. Mas sim, com a empresa também a partir de agosto, vou regressar a Bali, Jordânia.
Vou fazer a Tailândia e vou cumprir um dos meus sonhos que é passar o meu aniversário no México, fazer o Dia dos Muertos.
[00:26:15] Speaker A: Ai que bom!
[00:26:16] Speaker B: E vou ter a sorte de ir só com pessoas incríveis que já viajaram comigo e que me desafiaram a fazer a viagem.
[00:26:21] Speaker A: Ah, ótimo. Então qualquer pessoa pode viajar contigo?
[00:26:24] Speaker B: Qualquer pessoa pode viajar comigo. É ir através da landscape e inscrever-se.
[00:26:28] Speaker A: Ok. Obrigada Inês, foi um prazer enorme.
[00:26:32] Speaker B: Obrigada.
[00:26:33] Speaker A: Nós voltamos noutro podcast com outras condições, outras características e mostrar que viajar é para todos. Podem acompanhar o podcast nas plataformas habituais do podcast. ou então no site do Automóvel com Portugal ou no meu justgo.com.pt.