Episode Transcript
[00:00:08] Speaker A: Sejam muito bem-vindos a mais um podcast do Automóvel Clube Portugal. Eu sou o Francisco Gonçalves e hoje temos um convidado especial, Telmo Pinão, desportista olímpico de ciclismo de pista, mas que tem aqui uma grande paixão pela velocidade que também é partilhada nos automóveis. Telmo, muito obrigado por ter vindo e estamos acabado de regressar de fronteira. Como é que correu tudo?
[00:00:31] Speaker B: Faltou só ali mesmo aquele toquinho para dizer assim estava tudo bem e o toquinho era o carro chegar mesmo ao fim que chegou ao fim mas chegar ao fim com o resultado que estávamos a ter que era excelente para nós não era esse o objetivo, objetivo ou outro, já vamos falar também sobre ele. Somos um grupo de amigos, já fizemos há três anos, já corremos por uma causa há três anos, correu muito bem.
O carro também na altura, durante a noite, teve um tempinho parado. É sim fronteira, não é só o nosso que para. Muitos e muitos e muitos param lá.
Ouvimos agora já que histórias que falam sobre isso, que retratam bem isso. O nosso, só mesmo por isso, e culminar muito bem, teria sido, porque...
Estamos a falar cerca de duas horas, talvez.
[00:01:20] Speaker A: Sim, tivemos um problema mecânico.
[00:01:21] Speaker B: Tivemos um problema mecânico, partimos uma transmissão traseira e não conseguimos recuperar, não conseguimos voltar à pista, acabámos em quinto lugar da nossa classe. Creio que 28º ou 25º, já não sei ao certo, da geral.
E andávamos em 20º da geral e 3º da nossa classe e com o avanço que tínhamos do 4º lugar quase com certeza que iríamos ao pódio e seríamos chamados ao pódio para receber esse honroso destino, mas infelizmente não acontece, é assim fronteira.
[00:01:52] Speaker A: Foi por pouco. São 24 horas de resistência e é uma prova com um espírito muito próprio que vai para além dessas 24 horas. Aliás, vocês este ano fizeram uma atividade muito importante. Explique-nos. Estávamos aqui a contar e confesso que... Como é que isso tudo se desenrolou?
[00:02:12] Speaker B: Eu posso dizer aqui que eu venho de coração cheio.
Embora eu, pessoa portadora de deficiência também, já lá vão 22 anos, Embora eu também viver um bocadinho este mundo, se assim lhe posso chamar, da deficiência, por isso, por estar como atleta adaptado, de desporto adaptado, neste caso no paraciclismo, e tantas provas e há tantos anos, são há 15 anos, que representa Portugal lá fora 6 em taças do mundo, campeonatos e provas internacionais.
[00:02:51] Speaker A: E já lá vamos, porque vamos querer descobrir todos esses campeonatos.
[00:02:55] Speaker B: Eu logicamente que mesmo vivendo isto e tendo, como falei também há pouco contigo, esta vontade e saber perfeitamente as dificuldades que este tipo de pessoas têm de se libertar de alguns tabus, que infelizmente, dada as suas incapacidades, a vida ou idade, e a sociedade também, que às vezes também a sociedade é muito cruel.
[00:03:17] Speaker A: Ter a sensibilidade de conseguir perceber, porque muitas vezes é difícil, nós não estamos tão despertos para conseguir abordar e conseguir perceber como é que se pode lidar com essas situações. Acho que não sabemos.
[00:03:28] Speaker B: A questão está aí. Às vezes a própria sociedade não sabe como lidar com esta gente, não sabe conversar com eles.
Nós tivemos situações, quando eles lá chegaram, nós tivemos a Cercis de Porto Alegre e tivemos a Ascensão de Salvador. Na Cercis de Porto Alegre apanhámos pessoas com outro tipo de deficiência, mais ela intelectual e cognitiva.
eu chegar ao pé deles e lidar com eles como lido, os próprios professores ficaram surpreendidos, mas que para mim não é surpresa, porque ainda agora estive nestes Jogos Paralímpicos em Paris, a nossa comitiva tem algumas modalidades em que abrangem também esse tipo de incapacidade, e eu lido com eles como uma pessoa normal, eu faço uma brincadeira normalíssima, eu falo de assuntos e de brincadeiras, que não vou aqui dizer, com eles como se estivesse a falar com um amigo meu e próximo e isso é que os liberta e isso é que os faz sentir que...
estamos cá, que afinal somos tratados por igual que por este rapaz que está atrás da frente. E isso aconteceu, e eu vi a felicidade neles, da forma como lidei com eles, e a felicidade das pessoas que os acompanham, neste caso dos professores.
E vi a felicidade, logicamente, que eles tiveram a entrar num carro de competição, em estar ali num ambiente de festa, completamente de festa, e de saírem daquela zona de conforto, e afinal serem recebidos como uma pessoa dita normal, que é isso que por vezes estas pessoas querem só. Ponto final.
E sentirem que vão estar e que estiveram a andar em carros de competição, em estarem a almoçar connosco.
que foi excelente. O professor disse logo, já tens aqui duas coisas que eles adoram. E eu disse, o quê? Andar nos carros de competição e comer, que eles comem bem.
E nós proporcionámos isso tudo. Modéstia à parte, acho que correu muito bem. Fiquei muito feliz com esse momento. Foi um dia que me encheu muito.
Eu disse, e volto a dizer, eu adorei estar com estes meus amigos e com esta equipa que nós já tínhamos feito, corrido por essa causa também.
em 2021. Foi fascinante estar com eles outra vez. Tivemos ali momentos de aperto.
Que fronteira nos dá isso? Mas eu adoro fronteira, adoro competir, adoro o desporto motorizado. Mas aquele dia, para mim, se calhar fronteira já estava feita.
[00:05:56] Speaker A: Ainda bem. Quais são os membros que compõem a equipa?
[00:06:00] Speaker B: Nós na nossa equipa, que já tínhamos.
[00:06:02] Speaker A: Feito... São amigos ou...?
[00:06:04] Speaker B: Somos um grupo de amigos de Coimbra.
Neste caso, estes quatro amigos são detentores do carro, já há muitos anos. Já eles também experientes na área da competição motorizada.
Temos o Nuno Neto, que está hoje aqui comigo, que é um dos mentores também do carro e de todo este evento.
E depois temos o Ligero Santos, um bom detor também.
O Ivo Monteiro, que infelizmente este ano não correu, deu, conseguiu dar lugar ao Miguel Barbosa, que muito bem nos apadrinhou também, que esteve connosco e ainda deu duas voltinhas com o carro. Foi ele que fez o arranque.
E temos o Milton, que é outro dos pilotos. Portanto, isto era um grupo. O Ivo infelizmente este ano não participou, não conseguiu participar, mas esteve connosco, foi o nosso team manager.
E pronto, e mais uma vez tivemos ali um momento momentos muito bons durante as 24 horas.
[00:06:58] Speaker A: O desporto ao automóvel e o desporto é fundamental para termos... para nos chamarem a atenção para certas causas que muitas vezes são esquecidas.
E esta foi uma ação que foi muito bem registada com uma reportagem que vocês fizeram que está disponível nas redes sociais do Automóvel Clube de Portugal e das 24 Horas de Fronteira e foi uma operação de sucesso, muitos parabéns porque este é um dos significados do desporto e que o Telmo sabe melhor do que eu. Então, passamos agora para a sua atividade profissional, se chamamos-lhe assim, que é o ciclismo de pista. Há quantos anos é que começou?
[00:07:34] Speaker B: Não é só pista. Eu faço as duas. Portanto, eu faço a vertente de estrada e de pista nos últimos dois jogos. Nos primeiros, infelizmente, não conseguimos, até por uma questão de timings, não conseguimos fazer a inscrição para eu estar nos jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Eu não estive a correr na pista, corri só na estrada, na vertente de estrada, portanto contra relógio e prova de fundo.
Tóquio e Paris já consegui estar também na pista e ainda bem que estive porque foi nas duas com que guistei o diploma.
tanto em Tóquio como em Paris.
Eu vou conquistar uns 3 mil metros na pista e faço essas duas vertentes.
Uma totalmente diferente da outra.
[00:08:16] Speaker A: Era essa a questão que ia perguntar, até para quem nos está a ouvir, para perceber quais são as principais diferenças gritantes que mudam de uma categoria para a outra.
[00:08:25] Speaker B: Eu digamos que, por exemplo, a nível de treinos e planificação, uma depois vai ajudar a outra. Então falamos da destrada. Eu treino muito em estrada, o meu dia a dia é treinar na estrada.
Praticamente quase todos os dias vou para a rua treinar.
O que nós fazemos a transição para a pista é mais a parte técnica. Estamos a falar, sobretudo, com a azela técnica. Não há um treino muito... Ah, pode haver um ou outro treino de esforço mais rápido, de força.
Porquê? Porque são provas totalmente rápidas. Estamos a falar de 3 minutos e 59. É o meu recorde pessoal, 58. Posso tirar mais um segundo. 13.58 igual aquela coisa é um recorde pessoal e nos 3.000 metros chamamos-lhe também a perseguição e nos 1.000 metros encontra o relógio de 1 minuto e 19 talvez portanto é muito rápido Como podes ver, a minha estrutura não é propriamente um atleta desses, de força. Sou mais um atleta fundista, se calhar por isso gosto de fronteira e de outras aventuras assim.
E uma que também podemos falar sobre ela, não é?
[00:09:31] Speaker A: Claro que sim, claro que sim.
[00:09:32] Speaker B: Que será o Dakar, quem sabe um dia. E lá está. E eu sou um atleta mais daí. Já mesmo dentro do mundo do desporto, do paraciclismo, Eu sempre gostei. Aliás, eu tenho aventuras muito giras, feitas de BTT.
Eu inicialmente pedalava com auxílio de prótese.
desde 2012 para cá, infelizmente por questões de saúde, eu tive que deixar pedalar com a perna esquerda, portanto eu não utilizo sequer a minha perna para pedalar, ela é pousada numa espécie de uma caleira, onde eu descanso a perna e pedalo só com o auxílio da perna direita. O que me fez mudar de classe, para quem não percebe, dentro do desporto adaptado, não é só no paraciclismo, ela é subdividida por classes, em que tem um bocadinho a ver com o tipo de handicap que as pessoas têm, o tipo de eficiência.
Eu tive que mudar de classe porque fruto de uma bactéria, tenho uma bactéria multiresistente, contraída ainda na altura da amputação, hospitalar, fica ali adormecida e pode estar ali anos adormecida. Teve cerca de 8 anos adormecida, manifestou-se.
e infelizmente agora, tipo, deixado em 2012. Mas, 2009, mais ou menos à altura que comecei até 2012, fiz aventuras, como por exemplo Madrid-Lisboa, BTT, 800 e tal quilómetros, acabar aqui no Parque das Nações. Portanto, como vês, sou um atleta mais fundista, seja no desporto.
no ciclismo, seja no desporto motorizado, é a minha paixão, é mais... Aliás, gosto muito de ver as 24 Horas de Le Mans, e não foi por nada que o Filipe Albuquerque também apadrinhou, também nos apadrinhou gentilmente este evento que fizemos, esteve connosco agora no arranque das 24 Horas e ficou fascinado, eu não sei o que é que ele quer...
[00:11:16] Speaker A: Mas eu acho que ele quer participar. Eu acho que ele, no próximo ano, vai tentar, de alguma forma, marcar presença.
[00:11:23] Speaker B: Espero bem que ele me convida.
[00:11:24] Speaker A: Bem, é verdade. Essa questão, essa adaptação que teve de ser feita pelo facto de ter de deixar de utilizar uma perna, o que é que mudou nos treinos? E, por outra, como é que também são feitos estes treinos? Porque são treinos muito específicos, de certeza, e uma preparação, há de ser diferente.
[00:11:42] Speaker B: Mudou, mudou. Na pergunta que fazes, bem feita, por sinal, mudou mesmo, não mudou de certa forma na performance em cima da bicicleta, confesso-te, porque chegou a um ponto, embora fosse duas pernas, é verdade, já estava num patamar bom, e talvez se calhar em subida, como é lógico, não é?
[00:12:06] Speaker A: O esforço é maior.
[00:12:08] Speaker B: Se calhar os resultados seriam os mesmos. Muda sim, logicamente, nisso que tu falas, porque a biomecânica em cima da bicicleta foi totalmente alterada.
A forma como eu me encaixo na bicicleta, a falta de simetria em cima da bicicleta, leva-me a ter que, e já há uns anos para cá, ainda bem que eu comecei a fazer, também comecei a estudar um bocadinho nessa área, Aliás, estou no terceiro ano de Ciências do Desporto, na faculdade em Coimbra, e levou-me também, juntamente com professores meus e com o meu treinador, a pensar que realmente tinha que alterar um bocadinho os treinos, principalmente fora da bicicleta.
e fazer esse reforço.
E foi aí que houve muita alteração. Muito reforço muscular para compensar essa falta de simetria e tudo se alterou um pouco. E também até a nível de planificação de treino. Pensámos um bocadinho melhor no tipo de...
Quando fiz essa transição, inicialmente ainda continuámos com a mesma planificação e reparámos que tínhamos que reduzir um pouco Não digo em carga, mas em prioridade, um bocadinho, mas mais no tempo de treino que fazíamos.
Eu às vezes teria treinos 5, 6 horas, baixarmos um bocadinho pelo menos o tempo de treino que fazíamos. E aí teve-se de ter algum cuidado com isso tudo?
[00:13:31] Speaker A: Para um atleta que representa Portugal nos Jogos Olímpicos, já em várias edições, tudo se faz.
Mas qual é o espírito de preparar uma ida aos Jogos Olímpicos? Para nós é algo completamente distante. Para nós, público que só assiste na televisão, como é que podemos perceber?
Qual é o sentimento que se tem em ir representar Portugal? E qual é a preparação toda que é feita?
[00:13:56] Speaker B: Tudo muda. Ok? Tudo muda. Eu tive o prazer, inclusivamente, de estar a fazer a preparação destes jogos com um medalhado que nós tivemos, Yuri Leitão. Somos amigos há alguns anos.
Já me acompanha nessas preparações para competições internacionais importantes. Aliás, estive com ele... Eu tenho até um problema grave. É que toda a gente agora quer treinar comigo. Porque eu estive com ele quando ele foi campeão do mundo, no ano passado.
na pista e tive com ele agora que ganhou.
juntamente com o Rui também, a medalha de ouro. Tudo muda. Tudo muda. O sentimento de preparação, o sentimento de ir aos jogos, altera completamente. Nós estamos a falar de homens, de mulheres, de atletas que estão quatro anos a pensar só naquilo.
[00:14:47] Speaker A: A responsabilidade é muito...
[00:14:48] Speaker B: É uma responsabilidade enorme. Eu ainda, no outro dia, estava ao telefone com ele e estávamos a conversar inclusivamente sobre a atitude que tivemos neste estágio de altitude.
O não nos estragarmos.
É difícil para os atletas. Às vezes as pessoas não têm noção disso. Nós andamos ali meses e meses e meses e quando digo não estragar, claro que falo de alimentação, de sair à noite, de ir a um bar, uma discoteca. Nós não fizemos nada disso. Nesta semana ou semana passada falei isso com ele.
Nossa responsabilidade.
Sabíamos que só assim iríamos atingir o objetivo, porque sabíamos perfeitamente que só assim todo aquele trabalho estava a ser feito no terreno e os treinos que estávamos a fazer, só ia realmente ser produtivo se nós não levássemos tudo a risco.
E tudo era isso.
Era jantar, ir passar um bocadinho, ver um bocadinho de televisão e ir deitar. Não podíamos sair, não podíamos ir a lado nenhum.
[00:15:48] Speaker A: São quatro anos de sacrifício... E fizemos-o.
[00:15:51] Speaker B: E não sei porquê, digo eu, deu resultado, não é?
Eu não sei porquê é tramado.
Eu sei. E só assim é que isso é possível. Portanto, está ali realmente muito sacrifício. Tem que-se ter muito sacrifício. E só assim é que os resultados aparecem.
[00:16:08] Speaker A: E já que estamos a falar de sacrifício, passo para uma parte... Já vamos ao Dakar, porque queremos ainda saber essa parte dos automóveis. Mas já que falamos de sacrifício, passo agora para uma parte que é muito delicada, especialmente em Portugal, que é a questão dos apoios.
Como é que vocês estão a nível de apoios? Como é que é ser desportista?
E quais são as limitações que têm? Eu acredito que não seja fácil. E estar quatro anos a lutar, por exemplo, neste caso para ir aos Jogos Olímpicos, é preciso ter muita motivação.
[00:16:37] Speaker B: Os apoios realmente surgiram. Eu falo da nosso lado, da parte do desporto adaptado.
Há cerca de seis, sete anos, não sei precisar, o Estado português teve o cuidado e muito bem de sofrer-se a equidade entre o desporto olímpico e o paraolímpico no que tem a ver com apoios a nível do IPDJ e tem a ver com os apoios do atleta para atletas que estão de projeto, como é lógico, ok?
Portanto, nós aos dias de hoje temos as mesmas bolsas, os mesmos apoios, que um atleta olímpico tem. Isso não surgia. E deixo-te só aqui, para ti e para todos que não vão ouvir saberem, uma bolsa para olímpica, na altura de nível 2, ou AVC, eram 225€. E eu só perguntava, na altura, e pergunto hoje, como é que eu conseguia viver com 225 euros.
Logicamente que começou quase a profissionalizar-se o desporto adaptado.
O nível competitivo elevou-se muito, muito, muito, muito elevado.
E, logicamente, eu quase que só faço dias de vida. E já temos atletas em Portugal a fazer quase só dias de vida.
Agora, o que eu quero dizer é que deveria ser transversal, por exemplo, às nossas marcas, por exemplo, às nossas empresas, que olhassem também para nós e que nos apoiassem também com essa equidade, que nos apoiassem também como apoiam o dito desporto olímpico normal.
E isso é que aos dias de hoje confesso que ainda não noto.
Porquê? Porque sendo que tem o mesmo mediatismo já. Se calhar em Portugal ainda não, mas nós falamos, por exemplo, de um grande exemplo, nos Jogos Olímpicos, na abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, estavam oito atletas reconhecidos, franceses, na apresentação.
Isto sim, isto é que é inclusão.
Isso é que é mostrar que realmente eles estão cá.
[00:18:52] Speaker A: E o que é que falta para conseguirmos chegar lá?
Que esforço é que pode ser feito? Como atleta, o que é que o Telmo vê que é preciso fazer?
[00:19:00] Speaker B: Olha, o que estamos a fazer hoje aqui, por exemplo, acho que se todos nós fizéssemos, se mais revistas, se mais jornais, se mais televisão fizesse, também se calhar as pessoas ficavam a saber que existe do nosso lado, primeiro, essa vontade de dar esse retorno, mostrar como o evento que fizemos na quinta-feira, como isto...
Nós estamos cá. Fazemos também...
Conseguimos dar esse retorno às marcas.
Conseguimos mostrar que representamos Portugal lá fora, que competimos de igual forma que os outros atletas o fazem. E então as marcas perceberem também... Epá, olha, vamos colaborar com eles. Vamos apoiar estes atletas.
Eles também merecem, primeiro de tudo, eles também se esforçam. O meu dia-a-dia, comparativamente a um atleta como por exemplo o Rui Costa, o Nelson Oliveira, o João Almeida, atletas que eu conheço, muitas vezes conversamos, nós estamos juntos, infelizmente a UCI também teve essa atitude, agora está a fazer de 4 em 4, mas pelos bichos já ouvi dizer anda por aí uns zunzuns que quer fazer agora se calhar quase todos os anos. Porque correu tão bem que é reunir os Paralímpicos com os Olímpicos. E isso é muito bom. É muito gratificante para nós. E nós ainda agora estivemos todos juntos no Campeonato do Mundo na Suíça. Foi logo após os nossos jogos.
E eu conversava isso com eles. E nós estávamos na mesa a debater isso. A tal carga de treino e tudo mais. E chegámos à conclusão.
Ali todos à conversa na mesma mesa.
Que eu se calhar até treino mais do que alguns.
Porque é só uma perna. É claro que não se pode fazer as contas. É uma brincadeira nossa.
Utilizo outras partes do corpo também. Mas é verdade. Se eu sair para a rua todos os dias e fizer 3 horas, as minhas 3 horas são equivalentes à do João Almeida, que faz todos os dias 5, 6. No mínimo.
o nosso trabalho diário, mais outras coisas. Porque te falei há pouco, mais a fisioterapia, mais o reforço, mais ir a uma piscina, mais ir a um ginásio e fazer reforço. Elas também fazem, mas se calhar, por exemplo, a nível de fisioterapia eu tenho que não precisam tanto como nós.
que estamos a precisar. Agora também estou a precisar um bocado de fronteira.
[00:21:18] Speaker A: Era o que eu ia perguntar.
O facto de ter vindo de fronteira, agora vai precisar aí de um reforço?
[00:21:25] Speaker B: Vou precisar aí, se calhar, de mais dois ou três dias para me recompor, para conseguir voltar para cima para vender bicicleta. E eu até pedia à organização da ACP que para a próxima mande-a ao Catruarca.
[00:21:37] Speaker A: Para ficar mais suave de pista.
Telme, como é que é feito este equilíbrio? Agora, por exemplo, os treinos foram interrompidos por causa de fronteira, mas como é que este equilíbrio com os automóveis é fácil de fazer ou requer bastante tempo? Porque isto não é pegar no carro e ir para a fronteira, isto tem uma preparação que é toda feita antes, alguns meses.
[00:21:58] Speaker B: Relativamente ao treino, por acaso calha. Felizmente numa fase de nós, que nós chamamos de defesa. O que é que é fase de defesa? É aquela fase do inverno que não temos tanta carga de treino.
Temos que o fazer e agora esta já é uma altura. Estamos a falar agora de dezembro, de janeiro.
Já começa a haver mais... Aliás, vou ter provas. Acho que daqui a 10 dias mais ou menos. São umas provas. O Campeonato Nacional cá em Portugal.
[00:22:22] Speaker A: Hão de ser as últimas do ciclismo.
[00:22:24] Speaker B: Sim, as últimas do ano.
do ciclismo de pista. Vou ter agora umas provas.
[00:22:29] Speaker A: Onde vão ser?
[00:22:30] Speaker B: É a única pista que temos em Portugal, que é em Sangalhos. Temos uma pista olímpica mesmo. Aliás, vamos ter cá este ano um campeonato da Europa e acho que... não sei se está a falar de campeonato do mundo para o ano. Não tenho bem a certeza.
[00:22:44] Speaker A: Quem quiser acompanhar pode ir às suas redes, que o Telmo faz publicações frequentemente.
[00:22:50] Speaker B: Sim, e uns dias antes digo que provas vou ter, ou o cartaz, neste caso a prova, mas vamos ter, para cair, 17 e 18. deste mês vamos estar com o paraciclismo e também os elites e outros. Aliás, acho que uma delas é uma prova internacional que vamos ter também pessoas de outros países a competir.
[00:23:09] Speaker A: Os automóveis, como é que se concilia as duas coisas?
[00:23:11] Speaker B: Lá está, nesta fase deu para conciliar. É verdade, sim, perdi um bocadinho de tempo.
Mas ainda bem que eu perdi. Não que perdi, ganhei. A organizar todo este evento. Principalmente o evento, como disse, quinta-feira. Já falei tanto nele como percebeste a alegria que eu falo nele. E gostei muito. Aliás, tivemos connosco também paraciclistas. Graças a São Salvador quase todos eles fazem paraciclismo. O que para mim também foi ótimo.
É uma altura mais morta na minha vida a nível de treinos. Posso estar ali uma semaninha parado, não há problema nenhum e depois é retomar.
[00:23:46] Speaker A: Calha bem, as 24 horas são sempre ali no final do ano e ainda bem que apanha esse período. Telmo, vamos agora aproveitar que falamos outra vez de automóveis para um sonho que já deu para perceber enquanto falávamos antes do podcast começar que o Telmo tem um verdadeiro sonho que é competir no Dakar.
O que é que é preciso para chegar lá?
[00:24:07] Speaker B: Olha, antes de mais só dizer-te que Às vezes, e elas que me perdoem, as minhas filhas lá em casa têm que remar com uma etapa do Dakar, quando está a dar na Eurosport, duas vezes, porque eu vejo a primeira e vejo a segunda vez. Eu consigo ver a mesma etapa no mesmo dia duas vezes. Sim, é uma paixão. Claro que sim, já há muitos anos. Já desde a altura em que eu fazia competição de moto a quadro, portanto o meu acidente é fruto de um acidente de uma moto a quadro, a minha mutação, E já desde essa altura que eu sigo o Dakar e que sou um amante do Dakar, não só pelo desporto motorizado, pelo aquilo que o Dakar é, que é a rainha ou o rei, diz tudo.
[00:24:51] Speaker A: Para nós que gostamos do desporto, não há nada de resistência e todo terreno que seja superior ao Dakar. O Dakar é o topo e o Tom tem o sonho de ir para lá.
[00:25:02] Speaker B: E é também por essa resistência e por tudo aquilo que o Dakar transmite que eu gostava de fazer.
adorava um dia poder participar.
É também com estes eventos, com esta aventura que fizemos em 2021, com esta que fizemos agora, também serve para isso. Nós corremos também por essa causa, para mostrar um bocadinho o Telmo, para mostrar um bocadinho a história do Telmo.
E esse desejo, portanto, claro, nunca o neguei, fica no ar, também, aproveitar este mediatismo, tudo isto, para deixar no ar essa minha vontade e, logicamente, que alguém, um dia, se achar que eu tenho essas capacidades, em um nível de condução, não sei, só tens de perguntar ali ao meu colega, ele é que pode dizer se tenho ou não. São coisas mais técnicas.
Mas sim, gostava, imenso poder o dia estar no Dakar.
Logicamente no Dakar de moto 4 ou de mota é a minha paixão também, as motas, sempre foi a minha paixão as motas.
Dado a minha amputação não é viável, mas sim, logicamente olha, por exemplo experimentei algo na quinta-feira que eu ainda não me calei com aquilo.
E pronto, foi um SSV do Luís Portela. Ele gentilmente deixou-me andar naquilo. Eu não lhe entreguei mais.
Ele ainda estava a pensar que eu ia fugir com aquilo.
E sim, que grande experiência. Adorei. E essa seria, por exemplo, uma forma muito...
muito boa de eu estar a competir, quem sabe, um ano destes no Dakar.
[00:26:45] Speaker A: Claro que sim. O Telmo está a fazer estas ações é sempre com o pensamento de um dia conseguir chegar lá?
[00:26:53] Speaker B: Claro que sim.
[00:26:54] Speaker A: É o objetivo, a meta?
[00:26:55] Speaker B: Faço as ações porque gosto, eu não faço só ações Não as faço só aqui no ambiente de desporto motorizado, já as faço antes, aliás, posso dizer que eu amanhã e depois de amanhã já vou ter para ir, porque na semana passada foi comemorado o dia mundial da pessoa com deficiência e eu recebi muitos convites para estar em escolas, eu faço muitas palestras para crianças com ou sem deficiência e como estava em fronteira não pude estar e amanhã e depois de amanhã já vou estar em duas escolas, portanto, Por mim, já sou uma pessoa que gosto, como falámos há pouco, de transmitir, de dar essa oportunidade a este tipo de pessoas e faço-o por gosto, mas claro, logicamente que ao fazer o evento, ao mostrar e proporcionar a estas pessoas aquele dia, na quinta-feira, também estou a mostrar a mim e, logicamente, muita gente perceber que estou cá, consigo fazer e que, para além da vontade, tenho a capacidade de poder um dia estar a fazer uma prova dessas.
[00:28:01] Speaker A: Há pouco falámos da questão das motas, que é esse cara, não é possível. Mas o carro que o Telmo conduziu esta prova tem alguma adaptação específica?
É um carro... é normal. Porque como falou do SSV, o SSV funciona como um carro automático, se quisermos o termo.
Portanto, não é necessário ter nenhuma adaptação.
[00:28:23] Speaker B: Por isso é que fica com essa paixão do SSV.
[00:28:26] Speaker A: É, mas, portanto, quem conduz um SSV fica sempre...
[00:28:28] Speaker B: Não, o nosso carro é um bocadinho diferente do SSV.
[00:28:31] Speaker A: Sim. Já agora as especificações no...
[00:28:33] Speaker B: É um carro mesmo normal, um protótipo normal.
Equivalente a muitos carros que estão a fazer a fronteira.
Só tem tração traseira. E depois o normal. Eu não percebo muito disto, mas tem um seletor igual aos outros de mudanças.
[00:28:48] Speaker A: Uma caixa sequencial, é verdade?
[00:28:49] Speaker B: Uma caixa sequencial. E é isso que eu usei. Portanto, já em 2021 isso aconteceu e desta vez voltou a acontecer. Portanto, eu arranco só. Usei outra prótese, mais comprida. Conseguimos meter uma prótese que é um bocadinho mais comprida para eu conseguir, como sabes, estamos apertados, agarrados às vaqueiras, os cintos, muito justos e era difícil para mim chegar à embreagem. Então, nós utilizámos outro tipo de prótese, fizemos ali uma adaptação, um tubinho maior e eu conseguia carregar a embreagem. Utilizou só para arrancar.
[00:29:21] Speaker A: O carro tem os três pedais, exatamente como um carro normal.
[00:29:24] Speaker B: Com um carro normal. Nos dois turnos que fiz, portanto, cada turno na volta de duas horas, duas horas e qualquer coisa, utilizei, depois de arrancar, sem contar com o arranque e com a paragem, utilizei o único e simplesmente uma vez. Foi uma vez que o carro... Eu nem devia estar a dizer isto, depois vão pensar que eu não sei conduzir.
Nós chamamos, acho que na gíria aí do...
Se diz que é fazer um teto ou qualquer coisa assim.
[00:29:49] Speaker A: Fiz lá um peãozinho.
[00:29:50] Speaker B: Pronto, acontece.
Fiz um e utilizei aí. Não voltei a utilizar nunca mais. Portanto, é tudo controlado, de logo direto, desacelerar um pouco, encaixar a mudança certa.
a pessoa vai ao lado, até conversamos sobre isso, é isso, serve como copiloto, não é? Que é isso que é também das funções. Então perceber as curvas, que mudança é que vamos utilizar, no fim de tantas voltas já está tudo na cabeça, já sabemos, mas a utilização da caixa, mas sempre direto, e o pé vai ao lado a descansar, e não a prótese, e nunca mais voltei a utilizar.
[00:30:22] Speaker A: Ótimo, ótimo. Deixo-lhe aqui espaço para se quiser deixar alguma mensagem, se quiser alguma questão que ficou por abordar.
[00:30:28] Speaker B: Não, a mensagem já está, olha, acho que já passámos toda essa mensagem, mas só de salientar essa parte toda que eu te falei de que estamos cá, e eu próprio, portador de incapacidade, mas consegui estar a fazer um fim de semana, ou neste caso uma semana, como te disse agora são três dias de fisioterapia para recuperar, mas consigo fazer, consegue-se fazer, temos exemplos mesmo, por o próprio Dakar, atenção, já há muitos anos que eu acompanho, e nós temos equipas, Agora não sei, mas temos uma pessoa paraplégica aqui da nossa vizinha Espanha, que já lá vai para aí o terceiro ou quarto ano, que vai fazer num carro totalmente adaptado, com as mãos, e ele faz o Dakar. E já temos outros exemplos, já tivemos outros exemplos no passado, inclusive pessoas amputadas como eu, e que fizeram o Dakar.
mais uma vez digo, se eles conseguiram, eu se calhar, digo eu, se calhar ao fim destes anos todos, andar a pedalar só com uma perna, às vezes brinco com isso, se calhar também consigo.
[00:31:27] Speaker A: Então, muito obrigado pelo seu tempo, foi fundamental a participação deste ano e esperemos que para o ano se repita, temos planos para isso, certo?
[00:31:36] Speaker B: Vamos ter, se calhar.
[00:31:38] Speaker A: Espero bem que sim. Muito obrigado.
E a todos que nos estão a ouvir, obrigado também. Se quiserem ouvir este ou outros podcasts, podem sempre passar nas nossas redes sociais, no Spotify ou no site do Automóvel Clube Portugal. Muito obrigado.