Episode Transcript
[00:00:02] Speaker A: Viajar é para todos é um podcast do Automóvel Clube Portugal que vem mostrar que viajar é mesmo para todos, independentemente das condições e características de cada um. Eu sou a Sofia Martins, sou autora do blog Just Go By Sofia, Sou paraplégica, adoro viajar, já visitei mais de 40 países e concretizei o sonho de dar uma volta ao mundo. Aqui trago convidados com outras visões e outras necessidades, esperando contribuir para que outras pessoas descompliquem na hora de escolher o destino e partir. Este podcast tem o patrocínio da Max Finance.
Para viajar é para todos, um podcast do Automóvel Clube Portugal.
O meu convidado de hoje é o Filipe Almeida.
[00:00:47] Speaker B: Olá.
[00:00:48] Speaker A: Olá Filipe, bem-vindo. Obrigado por vires nesta viagem comigo. Vamos fazer o check-in?
[00:00:54] Speaker B: Vamos sim.
[00:00:56] Speaker A: E se fossemos agora, se tivéssemos de escolher um destino, para onde é que íamos?
[00:00:59] Speaker B: Filipinas.
[00:01:01] Speaker A: Boa escolha, nunca fui. Já lá vamos.
O Filipe e a Catarina deixaram o emprego, venderam a casa e decidiram viajar pelo mundo e aproveitar a vida.
Passaram a partilhar tudo no blog All Aboard Family e a fazer de viagens a sua vida.
Isto sobre si já é incrível, mas se juntarmos uma doença e três crianças, tudo se torna ainda mais extraordinário.
O Filipe Almeida tem insuficiência renal, o que implica que tem que fazer hemodiálise vários dias por semana.
Vender tudo e deixar os empregos é o sonho de muitas pessoas. Como é que isto se faz, Filipe? É preciso muita coragem?
[00:01:46] Speaker B: É preciso coragem.
E bravura porque nós fomos crescendo numa sociedade que parece que criou uma linha de pensamento que é fazemos escola, vamos para a universidade, começamos os trabalhos, casamos, temos filhos. Isto parece que ao longo dos anos foi desenhado desta forma.
E sempre que alguém quebrava este ciclo, lá está, vivia este lado de bravura e coragem.
E foi o que nós fizemos.
[00:02:19] Speaker A: E ainda continua a ser um bocadinho, não é? Apesar de já se ver mais.
[00:02:24] Speaker B: É verdade, e hoje em dia temos vários exemplos de pessoas, não só a nível de trabalho, mas às vezes até as carreiras mudam radicalmente. Estão numa área e começam a trabalhar numa área completamente diferente. E ao redor as pessoas até dizem, mas eu nem sabia que gostavas desta área. E as pessoas têm sucesso.
E então, nós termos decidido isto foi um bocadinho o acumular de muitos anos numa profissão só. Neste caso, a Catarina trabalhou durante 10 anos num serviço de apoio ao cliente.
E há um certo dia que chega à casa já aquele cansaço, aquele aborrecimento de hoje eu vou largar tudo aí.
[00:03:07] Speaker A: Às vezes há um dia em que...
[00:03:09] Speaker B: É aquele clique daquele dia e isso aconteceu. Aquele dia não ocorre tão bem.
Aconteceu connosco e eu disse-lhe que sim, então vamos embora e começámos a planear.
Na altura eu não era para vender a minha empresa, estava a trabalhar com turismo aqui em Lisboa, mas apareceu uma proposta e então foi mesmo, só ficámos com o carro.
porque nos nossos planos haviam uma parte da viagem que eram 3 meses pela Europa.
Então, vamos fazer os 3 meses com o nosso carro.
Na altura já tínhamos o Guilherme.
Eu comecei a fazer Imodialis em 2017. Isso foi antes ou depois? Foi antes. Foi 10 dias antes do Guilherme nascer. Entretanto, o Guilherme nasce.
Eu começo a perguntar sobre viajar e fazer Imodialis Obviamente eu dependo de uma máquina para viver, mas até que ponto é que eu realmente tenho que limitar a minha vida à região onde eu vivo, à zona onde eu vivo. E com o turismo eu percebi que podia fazer em qualquer cidade de Portugal.
Entretanto, comecei a entender que também conseguia fazer em qualquer ponto da Europa.
[00:04:22] Speaker A: É marcar com muito pouca antecedência, não é?
[00:04:25] Speaker B: Neste caso, depois do Covid, por exemplo, tem que ser com muita antecedência.
[00:04:28] Speaker A: Com muita? Muita estamos a falar de quanto tempo?
[00:04:31] Speaker B: Eu acho que três meses a quatro.
[00:04:32] Speaker A: Três meses?
[00:04:33] Speaker B: Sim. A parte burocrática ainda é um processo delicado. Há sempre o feito pedido, a disponibilidade, mas depois quando eles respondem, normalmente querem os exames com 30 dias.
Então, às vezes, esta logística toda não é fácil marcar viagens e fazer imóveis.
[00:04:52] Speaker A: E também depende, se calhar, de para onde vais. Por exemplo, nós tínhamos uma viagem.
[00:04:59] Speaker B: Para a Islândia e que, aparentemente, tinha tudo para dar certo.
[00:05:03] Speaker A: Sim.
[00:05:04] Speaker B: Comparando com alguns países que eu já viajei. Claro. Provavelmente, Tanzânia, Marrocos, Cabo Verde, que correram super bem.
E este que nós já tínhamos comprado voos, tudo, mas a Dialys não me aceitou. Foi a primeira vez que eu tive que cancelar tudo porque não havia mesmo espaço e não havia outra opção.
A clínica estava cheia, a clínica mais próxima era a 8 horas daquela cidade, da capital da Islândia.
Então tivemos mesmo que cancelar.
Mas para quem já viajou o mundo e já viu vários lugares, ok, foi um menor, um problema menor.
Mas a diálise, no fundo, estava a trazer-nos vida.
E nós queríamos aproveitá-la. Então foi aí que quando eu começo a viajar um bocadinho por Portugal, depois Europa, eu pensei, ah não, isto...
podemos provar que é possível viajar para qualquer lado do mundo. E foi aí que em 2019, com esta situação da Catarina, chegar mais cansada naquele dia e ter dito, olha, se fôssemos dar a volta ao mundo.
E nós fomos. Na altura só tínhamos o Guilherme.
E durante a volta ao mundo descobrimos que vinha mais um bebê.
Entretanto, nós regressamos no final de 2019, porque os países para onde nós íamos havia muito risco de zika, então a médica na Tailândia não aconselhou de todo prosseguirmos a viagem, então voltámos em novembro de 2019. E em 2020, janeiro, começam a aparecer os primeiros status covid. Em Portugal, março, fomos todos obrigados a ficar em casa.
E eu aproveitei para fazer dois filhos. Um em 2020 e um em 2021. Eu até costumo dizer que as pessoas diziam, viajar só com uma criança, e se fosse duas? E nós temos duas. E se fosse três? E nós temos três. Por isso, depois de 2022, continuamos as nossas viagens com três filhos.
[00:07:12] Speaker A: Só o viajar com crianças já altera um bocadinho toda a dinâmica da viagem, não é? Mas ainda teres que fazer imodialis, ou seja, a Catarina tem que ficar com as crianças enquanto tu vais fazer imodialis. Quantas vezes tens que fazer?
[00:07:28] Speaker B: São três vezes por semana. Eu faço segundas, quartas e sextas quatro horas, o mínimo, de cada sessão.
[00:07:36] Speaker A: Portanto, a única limitação que terás de ser aceito ou não pelas clínicas tem a ver com terem agenda ou há mais alguma característica?
[00:07:48] Speaker B: O que eu costumo dizer é Antes da viagem é muito importante ter noção de tudo o que é a diálise, a máquina e a própria doença. No meu caso, eu tenho só a falência de rins e faço hemodiálise, mas há pessoas que têm situações com diabetes, coração, e aí o que eu digo sempre é falar com o médico para entender até que ponto é bom.
afastar-se.
Neste caso, há países que garantidamente, alguns eu não aconselho a algumas pessoas, mas outros que são perfeitamente seguros. Toda a Europa, neste momento, está preparada para excelentes condições de diálise. Por isso, ao informar-se com o médico, Eu acredito que faz muito bem umas férias.
E no verão nós temos sítios lindíssimos na Europa. E mesmo no inverno, quem gosta de esquiar, e agora que estamos com os mercados de Natal, é fantástico para tirar nem que seja só uma sessão fora, mas aproveitar pelo menos ali quatro dias, não é? Ou sábado e domingo não fazemos diálise.
Se só tiver que fazer uma sessão, conseguir passar quatro dias com a família ou mesmo sozinho.
É mesmo muito bom, por isso, informar-se com o médico é muito importante para que tudo possa correr bem.
[00:09:09] Speaker A: Sim, eu li, ou ouvi, numa situação em que a coisa não correu tão bem, não é? O tratamento não estava a correr bem e tu percebeste, portanto é preciso ter já alguma alguma experiência ou algum tempo já de diálise para ter essa perceção.
[00:09:30] Speaker B: Sim, sim. E atenção, era um sítio que eu confiava plenamente.
[00:09:36] Speaker A: Foi onde?
[00:09:37] Speaker B: Foi na Colômbia.
Era uma empresa de diálise muito conhecida, tem clínicas em todo o mundo.
Mas o que eu me apercebi foi, ao fim de algumas horas de diálise, eles estavam Cada vez que a máquina alarmava, por algum motivo, eles baixavam a bomba. Significa que a velocidade em que o sangue entra e sai das nossas veias, estavam a baixar. O que significava que ao final de 4 horas, o volume que eu iria ter de realizar, neste caso todo o meu sangue que iria passar na máquina para limpar, as impurezas, iria ser menor. Por isso, se um rim normal funciona 24 horas, a máquina faz essa substituição em 4 horas, convém que nessas 4 horas o meu sangue fique limpo. Claro. E neste caso, ao eles reduzirem este, nós chamamos-lhe a velocidade de entrada e de saída do sangue, logo eu iria reduzir muito a quantidade de sangue dialisado.
E então, se calhar ao fim de uma, duas, três sessões aquilo poderia não ser benéfico. E eu apercebi-me. E como é que resolveste? Se por acaso na sessão a seguir eu mudei de cidade, expliquei à médica e a médica aumentou ainda mais a bomba, o que significa que iria então filtrar e aí garantidamente que eu ia ter uma boa sessão de diálise. Mas foi um alarme para mim e também uma chamada de atenção para várias pessoas que eu possa ensinar, que no fundo ao longo destes anos eu também tenho vindo a mostrar que é possível, mas que também a ensinar pequenos truques, dicas sobre viajar e ir mais tranquilos.
[00:11:25] Speaker A: E nunca aconteceu de tu teres uma sessão marcada e chegares ao sítio e falhares por alguma razão?
Não.
[00:11:32] Speaker B: Já chegou a acontecer e eu trocava o hospital.
A Itália, Veneza.
Eu marquei a Diálise.
Quando eu fiz a pesquisa, pronto, apareceu-me um hospital com Diálise e eu fiquei muito contente porque era mesmo ao lado de casa. Eu não estava no centro de Diálise, no centro de Veneza.
Estava à entrada de Veneza.
E quando eu vi, até disse, ah, o hospital não é no centro de Veneza, por isso não tem que ir transportes porque os carros não circulam em Veneza.
E é aqui perto, então por volta de 10 minutos chego ao hospital, vou lá à sala perguntar e eles dizem, não, mas hoje não temos ninguém agendado. Estranho. Tenho aqui um e-mail e quando eu mostrei foi que eles disseram, não, mas este hospital é no centro de Veneza.
E então eu pedi logo para avisar que ia chegar talvez com uma hora de atraso, mas foi perfeitamente aceitar.
a nível de logística para eles e horários tiveram que atrasar ali, mas eu consegui fazer a diálise, por isso falhar mesmo nunca aconteceu.
[00:12:37] Speaker A: Mas a decisão ou a escolha dos destinos Está aqui um bocadinho limitada?
[00:12:46] Speaker B: Está porque na Europa o tratamento é gratuito através do cartão europeu de saúde. Sim. Fora da Europa todos os tratamentos são pagos.
Sim. E então há pessoas que não têm essa condição.
Há sítios que são mesmo muito caros. Eu tentei ir a umas ilhas que é perto da Venezuela, que é Coração e Aruba, e cada sessão de diálise era quase 700 dólares, cada uma.
Imaginando uma semana ali, seria mesmo muito caro. Por isso, há sítios Para mim é quase impensável conseguir ir.
E também as questões de segurança para com o doente. O que eu digo é que tudo o que eu vi a nível de diálise, a máquina, o tratamento em si, é igual em todo o lado.
O que muda muito é a estrutura. E aí o que eu quero dizer é, por exemplo, eu já vi hospitais ou clínicas que realmente, a estrutura em si, os canos estão fora da parede, a sala, os cadeiros são muito antigos, a sala, e comparando com Portugal, nós temos excelentes condições de diálise, temos clínicas maravilhosas, excelentes condições de higiene, segurança para com o doente.
Lá fora ver uma estrutura onde os cantos estão à amostra, os escadarões não funcionam, ou é só uma cadeira, se calhar já torcemos ali o nariz. Apesar de que a máquina e o tratamento fazem o seu trabalho, como eu costumo dizer.
[00:14:21] Speaker A: Desde que a máquina funcione, não é?
E se alguém quiser vir para Portugal, então não tem qualquer problema?
[00:14:28] Speaker B: Super aconselho, com certeza. Nós temos, por exemplo, clínicas ali na zona do Estoril, Sintra, Aveiro, Amarante. Por isso são sítios que eu penso como turista, ok, quero estar perto da praia. Está uma clínica ali no Estoril, excelente.
Fica perto da praia também. Se quiser ir até às Horas de Aveiro para conhecer um bocadinho mais. Ou então o interior, por exemplo. Eu gosto muito de ir até à Régua.
E tem uma clínica na Régua que eu acho fantástico, dá para ir a pé do centro da cidade para a clínica.
Mas.
[00:15:07] Speaker A: Também tens sempre que marcar com a decisão.
[00:15:09] Speaker B: Sim, mas hoje em dia, e é algo que na altura eu já falava que era muito difícil encontrar informação sobre esta questão de marcação.
[00:15:19] Speaker A: Era isso que eu tinha de perguntar.
[00:15:21] Speaker B: Eu lembro-me que trocava e-mails com o responsável, mas era porque eu tinha encontrado no LinkedIn o contacto do médico, do enfermeiro-chefe daquele hospital e às vezes ele já não estava atualizado.
[00:15:36] Speaker A: Não existe nenhum grupo de pessoas que fazem este tipo de tratamento e que falem?
[00:15:42] Speaker B: Eu tenho vindo a conhecer algumas pessoas que viajam.
Não existe propriamente um grupo onde se partilhe, mas existe uma plataforma, e eu acho que é isto que tem sido bom e tem vindo a mudar, que pertence ao grupo da Diavero, que é The Holiday Ebook Dialysis.
A Book Dialysis basicamente funciona como a booking dos hotéis, mas neste caso é de clínicas.
Ainda não está no mundo inteiro, mas já dá para visitar vários países. E isso significa que vamos a esta plataforma ou ao website deles, www.bookdialysis.com Escrevemos por exemplo Itália e vão-nos aparecer as várias clínicas que existe a Itália. Com as condições se se paga, se não se paga, se aceita o cartão europeu, se não aceita.
e ao fazer a marcação, em menos de 72 horas, dão a resposta sobre a vaga e isso.
O que é bom, porque era uma coisa que eu também falava muito, que era às vezes eu vejo uma promoção de voo para uma determinada altura, eu sei que quero aproveitar esta promoção porque tenho ali dois ou três dias para comprar o voo, mas não sei se há diálise.
E ao termos esta resposta assim rápida, facilita nesta marcação de diálise.
[00:17:03] Speaker A: Porque isso tem que haver aí uma ginástica, não é? Entre comprar o voo e ter a clínica...
Sem dúvida.
[00:17:10] Speaker B: Eu, como já tenho alguma bagagem, eu já saí de Portugal sem a diálise estar 100% marcada.
[00:17:18] Speaker A: Isso aí já é arriscar um bocadinho.
[00:17:20] Speaker B: Sempre sabendo que o primeiro contacto foi feito, eles sabem quem eu sou, falta aceitar um documento, uma análise ou assim.
E então a viagem está marcada para aquele dia, Eu sei que o hospital me vai receber e vou. Mas obviamente, para quem viaja pela primeira vez, eu digo sempre, experimentem primeiro uma clínica fora da sua região, mesmo se dentro do país. Vamos até ao norte, vamos até ao sul. Há clínicas em praticamente todo o sítio. Apesar que o Algarve, por exemplo, é difícil de marcar.
O Algarve recebe 50 mil pedidos no verão de toda a Europa ou de todo o mundo e é muito difícil de marcar.
Mas há outras zonas que dá perfeitamente. Por isso, se experimentar uma diálise fora da sua zona, e perceber, ok, os médicos, os enfermeiros estão aqui para cuidar de mim. Depois ir até a Europa, um voo curto, duas, três horas, e depois ir arriscar o mundo inteiro e fazer como eu fiz, que vou até a Indonésia, até Japão, México, Cuba, vários países.
[00:18:32] Speaker A: Não há limites, não há limites. Há algum sítio onde não possas ir ou não tenhas conseguido ir?
[00:18:41] Speaker B: Que não tenha conseguido ir, igualmente, à...
[00:18:47] Speaker A: Tirando a Islândia agora, não é isto? Sim, a Islândia.
[00:18:50] Speaker B: A Islândia foi só falta de agenda.
[00:18:52] Speaker A: A Islândia não quer dizer que não possas ir noutra altura, mas há algum onde não consigas ir, ou que não tenhas conseguido ir.
[00:19:01] Speaker B: Moçambique, eu sei que tem diálise, mas eu ainda não arrisquei, mas temos um rapaz português que faz lá diálise, por isso já me abriu aqui um bocadinho a porta para eu se calhar perceber que é possível, mas durante muitos anos era um país que eu não arriscava.
Há muitos países da África que se calhar não têm diálise. Por exemplo, a Guiné, talvez não seja possível. Santo Mãe em Príncipe. A Catarina fez voluntariado em Santo Mãe. Eu gostava muito de ter ido e não tem diálise sequer.
[00:19:33] Speaker A: Não tem?
[00:19:34] Speaker B: Não, não tem. Por isso, Santo Mãe em Príncipe seria um país que eu gostaria de visitar e que não posso.
[00:19:41] Speaker A: E que não podes por enquanto.
[00:19:42] Speaker B: Sim.
[00:19:44] Speaker A: Olha, e como é que é viajar com três crianças e com a diálise e como é que é toda essa gestão?
[00:19:52] Speaker B: É um desafio interessante.
[00:19:54] Speaker A: Como é que eles lidam com isso? Para eles é normal, de certeza.
[00:19:57] Speaker B: Sim, já é normal, porque no fundo os três já nasceram com o pai a fazer diálise. Por isso mesmo aqui, quando eu tenho que sair para fazer diálise, eles já sabem, o pai vai para a diálise, vai para a clínica.
Viajar com eles, a primeira coisa que nós dizemos é, atenção, que quando nós somos um casal, nós vamos visitar 3 e 4 museus num dia, andamos 15, 20 quilómetros a conhecer uma cidade.
Com crianças não é bem assim. É muito importante perceber e envolver as crianças no nosso roteiro.
Se calhar dos quatro museus que eu tenho previsto para visitar em Paris, se calhar só vou conseguir visitar um.
Ok? Mas o que é que eu então vou fazer o resto dos dias? Ah, vi um museu interativo que as crianças vão gostar. Vamos visitar.
[00:20:51] Speaker A: Ah, vi um jardim. Porque isso é importante.
[00:20:54] Speaker B: Porque senão vai ser muito difícil viajar com crianças. Por isso, é preciso ter essa noção.
Viajar com crianças não é a mesma coisa que viajar enquanto casal, mas que é possível e que há lugares fantásticos e que às vezes nós divertimos muito mesmo a viajar com as crianças. Por exemplo, eu estou a pensar agora no Dubai e Abu Dhabi. São duas cidades perfeitamente aceitáveis para viajar com crianças. Dá para ir à praia, dá para ir a museus, dá para visitar E aí o que é que nós estamos a fazer aos nossos filhos? A dar cultura, a dar a outros povos, outras religiões, para que eles possam crescer com este conhecimento.
[00:21:34] Speaker A: O Guilherme já está em alguns países, não é?
[00:21:36] Speaker B: Sim, ele já vai com 40 países. E ele já tem os seus favoritos. O que é engraçado é que quando nós perguntamos, ele diz mesmo, gostei muito do Japão, gostei muito de visitar os pinguins na África do Sul. E é daqueles que as pessoas ficam sempre assim. Pinguis na África do Sul? Sim, na praia.
[00:21:56] Speaker A: Sim, sim, sim.
[00:21:56] Speaker B: Mas como assim, sim? E havia pessoas que nem sabiam que havia pinguis na praia.
[00:22:01] Speaker A: Claro.
[00:22:01] Speaker B: E o Guilherme tem essa possibilidade de quase contar uma novidade e dizer, sim, há países que têm pinguis.
[00:22:08] Speaker A: Nota-se essa evolução nele, não é? E o que fica lá, ao longo destes países.
[00:22:14] Speaker B: Sim, sem dúvida. E mesmo quando ele regressa a professora dá sempre a oportunidade dele partilhar.
E isso é fantástico, porque nós sentimos mesmo que ele faz com gosto, e visitei isto, e fiz isto, e conheci isto.
Então a escola, nesse sentido, acaba por ser muito boa e receptiva para partilhar com os outros também.
[00:22:37] Speaker A: Filipe, estamos a chegar às Filipinas.
Porquê as Filipinas? Já lá estiveste ou querias ir?
Já lá estive.
[00:22:46] Speaker B: Foi a minha segunda lua de mel. Nós casámos em 2015 e na altura fomos diretos, do final do dia do casamento, diretos para as Maurícias, mas sempre dissemos que iríamos ter uma segunda lua de mel. E estivemos nas Filipinas.
descobrimos uma gravidez lá, que acabou por não ocorrer como queríamos, mas as memórias que eu tenho daquele país foi fantástica em todos os sentidos. Há uma ilha em particular que, por exemplo, agora eu não poderei visitar. Não há de todo um hospital, sequer. Mas que eu fiquei tão feliz por poder ter estado lá que entrou direto no meu top. Então é o top 1 para mim de lugares no mundo a visitar.
Filipinas, Siargao. É o quê?
[00:23:41] Speaker A: Beleza natural.
[00:23:43] Speaker B: E aquilo foi, nós alugámos uma moto. Não nos deram um capacete e disseram, não, não há polícia na ilha.
Vocês só têm que andar para visitar os sítios.
Aproveitem. E eu alugava um barquinho que me levava para surfar fora dos sítios da praia e passava uma ou duas horas mesmo no mar a surfar.
E então eu lembro-me que a ilha era isto. Eram as pessoas na rua, portas abertas e nós a viver ali.
[00:24:17] Speaker A: Que maravilha! Quanto tempo é que tiveram?
[00:24:19] Speaker B: Na altura tivemos cerca de 16 dias entre várias ilhas, mas esta em particular foi a que ficou e por isso eu digo sempre Filipinas foi o meu top 1.
[00:24:32] Speaker A: Maravilha, não conheço, não conheço, mas eu também tenho alguns destinos que vou deixando para outras alturas porque ir de cadeira de rodas também não é que não seja possível, mas há alguns destinos que se tornam um bocadinho mais complicados.
[00:24:51] Speaker B: Requerem logísticas diferentes.
[00:24:53] Speaker A: É.
As próximas viagens, planos?
[00:24:59] Speaker B: Planos, ainda há alguns países que queremos fazer, como eu costumo dizer, a nossa volta ao mundo, pronto, parámos por causa de uma pandemia, mas ainda me falta pisar a um continente.
que é a Oceania.
Por isso, Austrália, Nova Zelândia, todas aquelas ilhas ali à volta, falta ir. De resto, Europa, Ásia, América do Norte, América do Sul, eu já tive a possibilidade de ir e fazer a diálise.
Possivelmente, a fazer 8 anos de diálise, poderá haver outra viagem, que é vir o transplante.
Eu estou em lista de espera e em conversa com os médicos eles dizem, Filipe, realmente 8 anos já está a chegar o teu rim. E então há este lado de marcar ou não viagens ou ir ter uma viagem ainda maior, que é receber um rim e depois, claro, quero também contar essa experiência sobre se viajar com transplante é possível ou não.
Eu já conheço muitas pessoas que o fazem, nomeadamente pessoas que estão ligadas ao desporto e eu quero, quero me juntar.
[00:26:15] Speaker A: O que é que implica nessa altura?
[00:26:18] Speaker B: Eu sei que há países, que eu já visitei em diálise, possivelmente mesmo transplantado, não será aconselhado.
Nomeadamente países que possam não ter condições a nível hospitalar para caso eu detecte alguma situação com o rim.
Neste caso é preciso cuidar e ter mesmo atenção à maneira como cuidamos desse rim que vem para tentar durar o máximo de anos possível.
Então, Talvez há países que eu não possa viajar, mas haverá outros, e certamente irei querer explorar e contar no nossa página do Instagram, ou o Labore de Family, sobre isso.
[00:27:04] Speaker A: É para continuar, e é para manter, e é este o vosso estilo de vida preferido.
[00:27:12] Speaker B: Neste momento é, e enquanto fizer sentido é o que eu digo.
A missão já poderia estar como concluída, porque já mostrei que é possível viajar.
[00:27:22] Speaker A: Sim.
[00:27:22] Speaker B: Mas eu todos os dias recebo mensagens a pedir ajuda, no sentido de, ah, Filipe, o que tu achas deste país?
Ai, o meu marido começou a fazer diálise, tens algumas dicas?
E ao receber estas mensagens parece que, afinal, a missão tem que continuar.
[00:27:37] Speaker A: É uma missão mesmo, não é?
[00:27:38] Speaker B: Então, poder partilhar é fantástico.
[00:27:41] Speaker A: É. Eu acho que...
[00:27:42] Speaker B: Eu faço mesmo com gosto.
de poder contar a minha experiência e saber que essa experiência está a ser enriquecedora, por isso. Viajar com crianças é fantástico. Nós tentamos sempre descomplicar e também dar dicas sobre essa questão e viajar com uma doença também é possível.
[00:28:01] Speaker A: É possível, não é? Claro que sim. Portanto, o teu conselho, é claro que depende de pessoa para pessoa, não é? Mas o teu conselho é sempre...
viver.
[00:28:12] Speaker B: A vida ao máximo.
[00:28:14] Speaker A: Porque se arrisca um bocadinho, não é Filipe?
[00:28:16] Speaker B: Claro que sim, mas se estivermos bem preparados e conhecermos bem...
[00:28:21] Speaker A: Não há porque correr mal.
[00:28:22] Speaker B: E eu penso que estes 8 anos a fazer Dialysis mas aproveitei muito a vida. E uma das coisas que eu notei logo no início da Dialysis é que havia muita gente agarrada à questão de se me telefonam amanhã e eu não posso sair daqui.
E deixavam de visitar familiares ou de passar o Natal juntos porque não queriam sair da zona, porque a qualquer momento chegava o telefonema para o transplante. Mas quando nós perguntávamos, então e há quanto tempo é que está à espera? Há 10 anos.
Eu pensei, olha, 10 anos que ficou agarrado aqui.
Então é o que eu digo, é viver a vida ao máximo, sempre com a noção da nossa condição, mas bem preparados e com conhecimento. Ah, é possível viajar a qualquer lugar.
[00:29:08] Speaker A: E não é preciso ir para o outro lado do mundo, não é? Porque também há tanta coisa para visitar. Mesmo perto, não é? Temos um país espetacular.
É isso que às vezes quando me perguntam, também pessoas que têm receio e...
e que eu também faça um bocadinho essa missão de mostrar que é possível viajar, é o que eu digo, comecem perto e depois vão indo cada vez mais longe e vão experimentando. E tal e qual é o que eu digo. Desde que nos sintamos seguros, largando depois, não é isso? E também se não quisermos, ficamos perto.
[00:29:47] Speaker B: Claro que também é super válido.
[00:29:50] Speaker A: Tanta coisa que há para ver.
[00:29:51] Speaker B: O que eu digo é mesmo vivermos a vida ao máximo mesmo que seja junto da nossa família, na nossa casa, no nosso lar.
[00:29:58] Speaker A: Claro.
[00:29:59] Speaker B: Mas aproveitarmos cada segundo, cada momento, acho que é mesmo fantástico.
[00:30:05] Speaker A: É o mais importante. E com as crianças começam a crescer, não é? E com a escola, como é que pensam fazer?
[00:30:12] Speaker B: Por acaso, o Guilherme já está no segundo ano e temos abertura da escola, mas vamos sempre aproveitando feriados, semanas que há interrupção e é engraçado que sempre dissemos, virmos que o Guilherme não está a ter um bom rendimento, obviamente a prioridade será a escola.
Entretanto, primeiro ano do Guilherme, ele entrou no quadro de escléssia. Então isso foi quase um...
Deu-nos aqui um descanso como pais de... Ok, a escola é muito boa.
Ajuda muito o Guilherme. Ele interessa-se muito pela escola. E, claro, as viagens é um complemento muito forte. E então, temos vindo a conseguir balancear essa questão de friados, fim de semanas prolongados, semanas de interrupção.
E continuamos a viajar.
[00:31:01] Speaker A: Ok, ótimo. Filipe, muito obrigada.
Foi um prazer, espero que tenha ajudado alguém, ou pelo menos tenha inspirado. Eu acho que sim, tenho a certeza que sim. Nos próximos episódios vamos tratar de outras condições, de outras características e mostrar que viajar é para todos.
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Até à próxima!