"ACP Elétrico do Ano": os citadinos elétricos vão dominar as cidades?

Episode 98 October 08, 2025 00:27:04
"ACP Elétrico do Ano": os citadinos elétricos vão dominar as cidades?
ACP - Automóvel Club de Portugal
"ACP Elétrico do Ano": os citadinos elétricos vão dominar as cidades?

Oct 08 2025 | 00:27:04

/

Show Notes

Neste episódio, o jornalista Rogério Lopes fala sobre como a eletrificação está a transformar o segmento dos citadinos.

View Full Transcript

Episode Transcript

[00:00:05] Speaker A: Viva! Autonomia para a cidade. Vamos falar de carros cidadinos, utilitários ou urbanos, Rogério? Qual é o termo que mais preferes? [00:00:14] Speaker B: Antes de mais, obrigado pelo convite. Prefiro carros confortáveis, mas se tiver que escolher entre os três, utilizaria o carro utilitário porque é um carro que abrange um público muito vasto, seja as pessoas que não têm condições para comprar um carro melhor e utilizam para todas as funções, seja as pessoas que querem apenas para a mobilidade urbana. [00:00:38] Speaker A: É por aí que vamos nos próximos minutos. O Rogério Lopes é o nosso convidado, é jornalista há vários anos, acompanha todos estes temas e vai nos dar aqui as suas visões e opiniões sobre esta temática neste podcast que acompanha também aquilo que é a iniciativa do ACP, o Elétrico do Ano, iniciativa que está a selecionar e eleger o melhor elétrico preferido pelos portugueses. Eu sou o Carlos Raleiros, também jornalista e convidado também do ACP para vir aqui moderar estas conversas que, ao longo destes vários episódios, temos abordado não apenas as questões do comércio e indústria, mas também questões técnicas, porque no fundo, questões técnicas sempre com um fundo de pedagogia, porque na prática estamos aqui todos a aprender o que é isto de ter carro elétrico ou o que é isto da mobilidade elétrica, que parece que é inevitável no mundo do automóvel. E portanto, centrando-nos aqui na conversa, Rogério, relativamente aos cidadinos e utilitários, o que é que diferencia este segmento de todos os outros? [00:01:41] Speaker B: Várias razões, como eu disse, este é um carro que abrange diversos tipos de público, seja público particular, seja público empresas, e eu agora assim de repente estou-me a lembrar das empresas de renta-carro que utilizam muito este tipo de viatura para aluguer, e penso que será por aí também que haverá futuro para este tipo de viatura. No caso dos particulares, o que é que procuram? Como eu disse no início, procuram ou uma viatura que seja versátil, uma viatura que possam utilizar no seu dia-a-dia e também possam utilizar nos seus momentos de lazer, ou então uma segunda viatura, uma viatura para utilizarem nas suas deslocações urbanas, essencialmente. [00:02:27] Speaker A: E a evolução que temos vindo a assistir, portanto, em todos os outros segmentos, claro que também poderia estar aqui. O que é que mais tem mudado no veículo cidadino, para além daquilo que seja o motor a combustão ou elétrico? [00:02:41] Speaker B: Penso que duas coisas. Primeiro, os veículos cidadinos, ou os veículos utilitários, ou como quisermos chamar o segmento A, foram viaturas que cresceram em tamanho, foram viaturas que se tornaram mais confortáveis, mais seguras, e essencialmente nos últimos anos, por causa das exigências comunitárias, quer em matéria de emissões, quer em matéria de segurança, começaram a ter muito mais equipamento, começaram a ter muito mais tecnologia dentro dos carros. Penso também que o tipo de público mudou. Continua a haver um público jovem, mas esse público jovem agora já não quer um carro tão prático como há uns anos atrás, como por exemplo na nossa geração, que tínhamos carros utilitários com acabamentos muito mais simples, desde que pudéssemos conduzir e meter lá dentro os amigos e ir dar uma volta estava tudo bem. Hoje não, hoje querem tecnologia, querem poder emparelhar o telemóvel, querem poder ter um sistema de Spotify disponível, etc. E os carros ganharam com isso. [00:03:44] Speaker A: Depois de um primeiro momento da eletrificação do mercado automóvel, os SUVs ganharam terreno aos cidadinos, mas agora, passado, digamos, estes dois, três anos, os cidadinos estão a aparecer porque os fabricantes também estão a apostar cada vez mais neste segmento. [00:04:06] Speaker B: É engraçado, porque aí vais-me desculpar Carlos, mas eu discordo. Os cidadãos sempre estiveram presentes no mercado. Um exemplo flagrante disso num carro do SESC foi o Fiat 500. Foi um carro que praticamente salvou a Fiat e, portanto, os cidadãos estiveram sempre presentes. Não, como eu digo. como eu disse há bocadinho, naquele conceito inicial de carros simples e práticos em que os japoneses eram imbatíveis dentro desse segmento. Mas tiveste outras marcas, tiveste o Renault Twin, por exemplo, tiveste o Lupo, tiveste uma série de carros. Nos últimos anos, os SUVs ganharam protagonismo, mas não creio que tenha sido à custa dos cidadinos. provavelmente também o poder de compra das pessoas cresceu e já não havia tanta necessidade de ter um carro ou uma segunda viatura e mesmo malta mais jovem já tinha acesso a carros melhores. Ultimamente podem estar a aparecer mais cidadinos, essencialmente cidadinos elétricos, mais uma vez porque isto tem muitas implicações por causa das regras de emissões e da contabilidade das emissões. Hoje em dia ter um carro cidadino com motor de combustão pesa muito mais em termos de emissões para uma marca do que ter um SUV com a mesma com motor de emissões. Por isso as marcas estão a apostar em carros elétricos. Os carros elétricos o que é que acontece? Precisam ter mais espaço essencialmente para as baterias, por isso são carros que regra geral são mais elevados. Há vários exemplos no mercado e hoje em dia já há cidadinos que são praticamente SUVs. [00:05:48] Speaker A: Mas é verdade que há construtores, e agora temos vindo a assistir no último ano, digamos, uma aposta maior neste segmento, ainda que as dimensões dos utilitários estejam também a aumentar, ao contrário daquilo que é o espaço em cidade, não é? Há aqui um contrassense. [00:06:06] Speaker B: Talvez não, porque como eu há bocadinho dizia que a migração dos carros utilitários para o segmento, vamos falar agora um bocadinho aqui em termos de segmento, do segmento A para o segmento B poderá ter acontecido com aumento do poder de compra das pessoas, até porque se nós for começarmos a olhar isso e olharmos essencialmente para a realidade do mercado português que é um mercado que funciona muito no financiamento, quando tudo iluge nas mensalidades, a diferença entre, falando de marcas, entre o que seria um Renault Twingo ou um Renault Clio, seria um preço mensal muito mais pequeno e, portanto, as pessoas optariam por um Renault Clio em vez de um Twingo, hoje em dia Talvez seja a acontecer exatamente o contrário, até porque os elétricos são mais caros e há mais tecnologia a bordo por causa dessas exigências europeias. O preço dos carros está mais elevado e, portanto, quem estava anteriormente num segmento B acaba por fazer um downsizing para o segmento A, que estão maiores, estão mais versáteis e oferecem igualmente tecnologia e alguma autonomia elétrica. A maior parte das pessoas hoje em dia não precisa mais do que 100, 150 km de autonomia. A maioria dos cidadinos tem no mínimo 200, 250 km de autonomia. Claro que se depois quiser fazer viagens mais longas, lá está mais uma vez, como antigamente nós fazíamos muitas viagens de carro. fosse para o Algarve, ou fosse para o Norte, ou fosse em família, hoje em dia a maior parte das pessoas ou vai de comboio, ou vai de transporte, ou vai de avião e isso acontece. [00:07:48] Speaker A: A autonomia, portanto, a menor autonomia deste segmento não é, na tua opinião, um problema, como acabaste de dizer. [00:07:56] Speaker B: Não, porque tu quando colocas mais autonomia, colocas mais bateria. Quando colocas mais bateria, colocas mais peso. Quando colocas mais bateria, colocas mais preço. E, portanto, o preço dos carros sobe e os carros deixam de ser competitivos. Tu metes mais peso, precisas de mais motor. Isto aqui é um encadear de situações que têm que ser todas ponderadas para tu obteres aqui um equilíbrio. [00:08:18] Speaker A: E depois temos o espaço também em cidade, que cada vez parece estar mais diminuto, os lugares de parques de estacionamento. Eu, por exemplo, contando aqui rapidamente a minha pequena odisseia hoje ao chegar ao ACP, não pude aproveitar dois lugares de estacionamento porque o meu carro tem umas dimensões um pouco maiores e, portanto, eu não conseguia sair do carro, não conseguia abrir as portas. Portanto, este é um tema também que os próprios fabricantes acabam por ter em conta quando estamos a falar deste segmento. [00:08:46] Speaker B: Sim, mas sabes que é engraçado, agora que tu citaste esse exemplo, porque os carros elétricos permitem ter mais espaço a bordo, permitem ter uma habitabilidade maior, tu tens menos órgãos mecânicos, olha por exemplo os carros O motor de combustão normalmente tem um túnel central que ainda vem do tempo em que os carros tinham tração traseira para passar o eixo de transmissão e hoje em dia os carros elétricos conseguem oferecer mais habitabilidade com dimensões menores. Tu tens carros utilitários neste momento com uma habitabilidade extraordinária e com uma configuração interior que te permite, se calhar, ter mais habitabilidade do que tinha um segmento B há dois, três, dez anos. [00:09:35] Speaker A: Está a aumentar muito rápido estas mudanças, seja ao nível da tecnologia, tudo aquilo que diz respeito ao mundo automóvel. [00:09:44] Speaker B: Estão a mudar. O mundo mudou muito nos últimos anos. E mudou também muito com a vinda dos carros chineses. E os carros chineses, nesse aspecto, vieram a exigir das marcas europeias muito mais. [00:10:01] Speaker A: A questão da tecnologia que os jovens procuram? [00:10:03] Speaker B: A questão da tecnologia e a questão também da simplicidade de construção. Nós tivemos, nós da Europa, tivemos durante muitos anos se calhar a dormir na forma. Enfim, agora vamos ter que competir e vamos ter que rapidamente... Peço desculpa, eu disse forma em vez de forma. [00:10:28] Speaker A: Não tem problema. Retomei uma frase antes e dita-se. [00:10:34] Speaker B: Eu penso que os construtores europeus estiveram durante muitos anos a dormir na forma e não conseguiram perceber o que vinha da parte da China. Mas não só da China, também da parte da Coreia. Neste momento, os chineses e os construtores coreanos são aqueles que estão a oferecer carros tecnologicamente mais evoluídos que os carros europeus. As marcas europeias estão a correr neste segmento. Eu estou muito curioso com o que virá, por exemplo, agora do grupo Volkswagen, mas há outros construtores europeus que estão a querer responder, porque eu acredito que os Titaninos venham a ser um segmento em expansão até por toda a alteração no paradigma da mobilidade que poderemos vir a assistir nos próximos anos. [00:11:24] Speaker A: A questão da rede de carregamento em Portugal e nas cidades portuguesas para este tipo de carros não é um problema? [00:11:33] Speaker B: Primeiro, temos que mais uma vez segmentar aqui dois tipos de clientes e o primeiro conselho que eu dou a um cliente particular que queira ter um carro elétrico é assegure-se que tem carregamento em casa e de preferência com autoprodução de energia. Porque estar dependente de rede pública não é um problema em termos de disponibilidade neste momento, não é ainda um problema de disponibilidade neste momento, mas é um problema de preço, e é um problema de preço variável. No caso do outro tipo de cliente, os clientes-empresas, normalmente, quando entregam um carro a um utilizador desse carro, ou lhe dão um cartão, ou têm o carregamento na empresa, ou têm o carregamento em casa. Eu acho que Portugal, em termos de carregamentos para carros elétricos, É exemplar, em termos europeus, do que eu conheço da realidade de outros países. Nós estamos à frente de outros países. Ao contrário, por muitas críticas que possam existir em torno da MOBIE, a MOBIE é uma mais-valia tremenda. Permite-nos, por exemplo, com um único cartão carregar em qualquer posto. E depois temos uma indústria paralela de empresas portuguesas que fazem trabalhos fantásticos, que se internacionalizaram, que permitem ao utilizador ter apps que sabem onde é que estão os postos de carregamento, onde é que estão disponíveis, ter uma estimativa de preço. Mas o preço continua a ser um problema. Não poder antecipar o preço continua a ser um problema que eu espero venha a ser resolvido dentro de pouco tempo. [00:13:13] Speaker A: A questão da liberalização do mercado vai mesmo nesse sentido? [00:13:17] Speaker B: O mercado está livre, a questão é poderes utilizar um cartão de crédito ou poderes utilizar um cartão multibanco e logo no momento saberes quanto é que vais pagar pelo carregamento ou tens até uma estimativa prévia. Neste momento já há aplicações que permitem ter uma estimativa prévia, mas ela é nem sempre conhecida, porque os fornecedores de energia elétrica podem ser diferentes operadores do posto elétrico e portanto Depois ali, como se costuma dizer, uma série de taxas e taxinhas que caem e que são uma surpresa quando chega a fatura. [00:13:49] Speaker A: Rogério, falando na questão deste segmento dos utilitários, podem ser uma solução? Há pouco ias um pouco nesse sentido a tua conversa relativamente à questão da partilha de carros, o car-sharing, que já houve algumas Experiências, dá-me ideia, que não muito bem concretizadas, porque depois não se viu continuidade, mas o futuro pode ir por aí, ou seja, termos carros deste segmento a competir diretamente com trotinetes elétricas, bicicletas elétricas? [00:14:23] Speaker B: Eu vou dizer uma coisa que pode parecer controversa, estando eu no edifício em que estou e que respeito muito, mas eu creio que o futuro passa por haver menos automóveis a circular. O público mais jovem, os consumidores mais jovens já não têm tanta apetência por ter um automóvel, por já ter um automóvel. [00:14:50] Speaker A: Daí que a Partilha, o Carsharing, é uma das soluções apontadas já há alguns anos a esta parte. [00:14:56] Speaker B: Eu costumo citar dois exemplos. Primeiro... Os mais jovens hoje em dia já utilizam o UberPay para se deslocarem, já não têm necessidade de ter um automóvel, e se nós pensarmos porque é que nós aos 18 anos queríamos tirar a carta de condução e ter um automóvel, era sinónimo de liberdade. Eles já têm essa liberdade, não precisam ter um automóvel para isso. E o segundo exemplo que eu costumo citar é, se nós andarmos 20 anos para trás e começarmos a pensar do que era, por exemplo, quando os nossos imigrantes vinham ao Portugal, Normalmente traziam automóvel não apenas para virem carregados como para saírem de Portugal carregados de coisas, carregados de Portugal para levarem para os seus destinos. Hoje em dia isso já não acontece, a maior parte das pessoas vai e vem de avião, portanto o automóvel começa a perder perdoe-me a expressão, começa a perder a importância que tinha. E, no futuro, tem mesmo de deixar de haver tantos automóveis em circulação por uma questão ambiental. criar ambiente. Eu não estou a falar apenas de emissões, estou a falar apenas de espaço vital dentro das cidades e nós em Lisboa, por exemplo, assistimos em horas de ponta verdadeiros calvários de trânsito. Podemos atribuir as culpas à falta de estradas, podemos atribuir as culpas mil e umas razões, mas a verdade é que há muitos automóveis, há demasiados automóveis em circulação. E, portanto, o transporte público, o car sharing, a mobilidade suave, como tu citaste…. [00:16:38] Speaker A: De tua opinião, porque é que o car sharing ainda não vingou? Ao contrário das scooters partilháveis, por exemplo? [00:16:45] Speaker B: Porque é um negócio de volume. tu para teres um card-sharing, o card-sharing vai vingar quando tu tiveres viaturas autónomas. [00:16:52] Speaker A: Porque o card-sharing utiliza este tipo de viaturas, não é? [00:16:54] Speaker B: Sim. [00:16:55] Speaker A: Daí eu estar a fazer a pergunta aqui neste ambiente. [00:16:58] Speaker B: Não, e tu tiveste várias experiências de card-sharing em Portugal, porque é que não vingaram? Não vingaram não porque não houvesse utilizadores a utilizarem. passa a repetição o car-sharing. Havia utilizadores, eu cheguei a utilizar o car-sharing, eu preferia, muitas vezes vi transportes para Lisboa, o mar fora de Lisboa, e chegar e alugar um carro se precisasse. O que é que acontece? O car-sharing, como o negócio das trotinetes, é um negócio de volume, e tu precisas de muito volume, mas as trotinetes Tu precisas de recolher, recolhes 20, 30, 40 trotinetes e metes a carregar, levas para carregar. Tu não consegues fazer isso com um carro. Tu precisas de levar o carro para um posto, para uma estação, carregá-lo, precisas limpar o carro e voltar a colocá-lo na rua. Isso exige meios, isso exige um investimento a voltar. O car sharing vai vingar quando tu tiveres viaturas autónomas. Quando tu puderes chamar a viatura ao posto, ou quando ela estiver programada para isso, e dirigir-se a um posto, carregar automaticamente ou dirigir-se a um posto e ter uma equipa de lavagem. [00:18:04] Speaker A: E se estamos a falar num futuro a quantos anos? Fazendo aqui uma futurologia. [00:18:10] Speaker B: Eu espero estar vivo para assistir a isso. É bom sinal, se estivermos aqui a falar disso daqui a uns anos. [00:18:18] Speaker A: Porque todos os anos, digamos, a questão da automação automóvel está cada vez mais... Há sempre umas metas para este ano. Havia um ou dois pontos nessas metas que deviam ser concretizáveis. Realmente, não olhando tanto para o futuro, mas mesmo assim, e falando nesta questão, sem querer fazer futurologia, o que é que este segmento pode trazer aos fabricantes, ou o que é que os fabricantes podem trazer para este segmento, daquilo que ainda hoje não existe. Cada vez mais estamos a pensar em novas tecnologias, como tu há pouco frisavas, é algo que os jovens pedem muito neste tipo de carro, neste tipo de segmento. O que é que podemos esperar? Estamos sempre à espera de novidades, não sei se também isso é uma pressão para os próprios fabricantes. [00:19:15] Speaker B: Em nome dos fabricantes, sem querer vinculá-los a isto, mas eu acho que este segmento não é um segmento bem amado pelos fabricantes. Porque é um segmento, mais uma vez, é um segmento de volume. As margens de lucro deste segmento fazem-se por volume. Porque tu não podes subir muito o preço, porque subindo o preço, o que acontece é que as pessoas afastam-se para segmentos mais elevados. E daí que nós assistirmos a uma partilha de plataformas e uma partilha de modelos entre vários construtores para diluir os custos. É um bocadinho como acontece com as viaturas comerciais. O que é que podemos esperar? Podemos esperar carros cada vez mais multifuncionais, carros com mais tecnologia a bordo e carros que tenham uma condução mais fácil, mais confortável, essencialmente isso, porque tu vais querer cativar, ou melhor, os fabricantes vão querer cativar um público muito vasto. Sobre os carros elétricos, deixa-me dizer-te uma coisa engraçada. Há muitos anos, quando foi a apresentação do Renault Zoe, não é propriamente um carro cidadino, mas hoje em dia seria um carro pequeno dentro dos elétricos. Eu estava em França e o responsável da marca disse uma coisa engraçada, é que eles desenvolveram o Renault Zoe para um carro de cidade. e de repente descobriram, com um grande espanto, que o carro estava a vender-se muito bem fora das grandes cidades. O que acabou por fazer sentido. Porquê? Porque tu dentro da cidade tu não consegues carregar um carro em casa. A maior parte das cidades o que tem são prédios, não são moradias. Quem estava fora das cidades tinha uma moradia, ou tinha possibilidade de carregar o carro de alguma forma em casa. E o pessoal precisava de um carro para se deslocar dali para a estação de comboios que o levasse a Paris ou que o levasse a outra zona. Portanto, um carro elétrico para eles fazia sentido. E isto foi algo que há 10, 15 anos atrás, já não me recordo quando foi lançado o jornal Zoé, era uma novidade. Hoje em dia, parece uma banalidade pensar nisto, porque de facto faz todo o sentido. Eu, como disse, moro fora de Lisboa e assisto muitas pessoas de idade, por exemplo, a substituírem-nos. Eu não sei se posso utilizar a expressão mata-velhos, mas a substituir aqueles microcarros por viaturas elétricas que não deixam de ser microcarros, também como o Citroën AMI, por exemplo, e se calhar os Citroëns AMIs. Então, são esses carros que estão a verdadeiramente ocupar o lugar dos utilitários no conceito que nós tínhamos de um carro urbano há 20 ou há 30 anos atrás. [00:22:09] Speaker A: Rogério Lopes, estamos quase já a terminar, já estamos na reta final desta conversa, isto passa muito rápido. Se te pedir uma opinião sobre modelos dentro deste segmento que, digamos, mais tem vingado nestes últimos anos, não sei se queres apontar alguns modelos daqueles Seja em Portugal ou na Europa. Há pouco falaste no caso do Fiat 500 que foi emblemático e que salvou, neste caso, a Fiat. Queres dar outros casos, até dos que no passado, recentes, ou agora estejam, digamos, a vingar? [00:22:47] Speaker B: Há carros no passado que são emblemáticos, que são marcos. O Smart é um exemplo de um carro urbano que na altura revolucionou. mas que depois acabou por perder a importância quando passou a carro elétrico, porque não era um carro elétrico desenvolvido de raiz e apenas veio a ter, e só veio a acontecer quando foi com a parceria com o Renault entre o Smart e o Twingo. No entanto, o Fiat 500 é um marco na mobilidade elétrica, apesar de lá estar a ter perdido bastante quando a Fiat deixou de ter motores a combustão nos carros no Fiat 500, mas neste momento aquilo que eu acho que está a ser verdadeiramente o marco é a chegada de carros chineses. Eu já citei aqui várias marcas e não queria fazer isso, mas eu acho que um exemplo de uma marca chinesa que vai estabelecer um marco e que nós só vamos olhar daqui a alguns anos como tal é a BID. A BID tecnologicamente tem tudo dentro de casa, faz lembrar um bocadinho o caso da Hyundai quando chegou à Europa e eles também tinham tudo dentro de casa na altura com motores de combustão. a partir do momento de deixar um tempo dos Mitsubishi. No caso dos coreanos, mais uma vez, e citando aqui um exemplo que encaixa-se naquilo que eu acho que é um carro utilitário multifuncional, o Hyundai Insta, que foi lançado há pouco tempo, é É tudo o que se pode gerar de um carro utilitário que está a meio caminho do segmento B e que tanto se comporta bem em cidade como se comporta em estrada e que se quisermos dormir lá dentro, baixe aos quatro bancos e há espaço para isso. [00:24:50] Speaker A: Então mesmo, agora antes de desligar a chave, última questão. Olhando mais uma vez para o futuro, daqui a uns anos, 2035, como é que será o cidadino de 2035? [00:25:06] Speaker B: Com asas? [00:25:08] Speaker A: Será? [00:25:09] Speaker B: Não sei, é difícil. É difícil até porque com as regras de emissões, com as regras de segurança a mudarem todos os anos, tantas dores de cabeça dão aos construtores, é muito difícil fazer futurologia neste momento para o mercado automóvel. Tudo isto que nós estamos aqui a discutir sobre a eletrificação, sobre o fim da venda de carros com motor de combustão em 2035, tudo isso está a ser neste momento posto em causa, portanto, é muito difícil fazer vetorologia neste momento. Nós podemos estar aqui a brincar, mas para quem tem que fazer planeamentos a 4, 5, 6, 10 anos, É muito complicado ter que gerir isso. E as implicações sociais que isso pode. [00:25:50] Speaker A: Trazer, seja olhando para a carteira de todos nós, sejam as próprias empresas, sobre. [00:25:55] Speaker B: Essencialmente as empresas que têm que fazer desenvolvimentos a longo prazo. [00:25:59] Speaker A: Muito bem. Havia ainda muita matéria para conversar. Vamos ficar por aqui. É o momento de fechar mais este episódio do ACP Elétrico do Ano. Andámos à volta dos cidadinos e tudo isto que este mercado representa. Foi convidado o jornalista Rogério Lopes, que trouxe as visões e opiniões de quem anda aqui há muito tempo a olhar para o mercado, seja empresarial, seja o dos consumidores particulares. Em nome do ACP, obrigado, Rogério, por estes minutos. E continuamos aqui nesta iniciativa do ACP Elétrico do Ano que agora tem exatamente a votação para os modelos que estão a votação no segmento dos utilitários. Entre 1 e 15 de outubro é a terceira categoria que está em votação, depois dos familiares, dos prêmios, agora são os cidadinos utilitários que estão em votação para o concurso que vai eleger o melhor elétrico, ou pelo menos o elétrico preferido dos portugueses. Até à próxima.

Other Episodes

Episode 64

January 30, 2025 00:29:34
Episode Cover

“Pedro Tojal a Acordar Portugal”

O autor de um dos programas de rádio de maior sucesso de sempre é convidado deste podcast, em que a sua paixão pelos automóveis...

Listen

Episode 88

July 29, 2025 00:34:00
Episode Cover

“Memórias dos anos 80”: José Vieira Mendes e a fotografia como obsessão

No primeiro episódio desta série de podcast ACP dedicada a recordar o melhor dos anos 80, o convidado é José Vieira Mendes, fotógrafo, colecionador...

Listen

Episode 103

November 12, 2025 00:24:41
Episode Cover

"ACP Elétrico do Ano": O que traz o OE2026 para os automobilistas?

No mais recente episódio do podcast "ACP Elétrico do Ano", o especialista em fiscalidade Luís León analisa as medidas do Orçamento do Estado para...

Listen