Episode Transcript
[00:00:08] Speaker A: Sejam bem-vindos a mais um podcast do Automóvel com Portugal. Sou o Mário Vasconcelos e hoje tenho como convidado o José Nuno Martins, uma referência da comunicação em Portugal.
Obrigado por ter aceitado o nosso convite, José Nuno Martins.
[00:00:18] Speaker B: Eu me sinto muito honrado de vir ao clube, ao nosso clube. Eu já sou um sócio antigo do clube, orgulho-me muito disso, da minha continuidade, da minha dedicação ao clube, que às vezes podia até ser um pouco mais próximo, muito embora eu Para mim o automóvel é um meio, não é um fim. E por isso faço um uso prudente do automóvel, não sou tipo de grandes avarias.
E gosto de conduzir, moderadamente.
Gosto de fazer viagens longas, mas não gosto de conduzir nas viagens longas. Ainda ontem, Viemos, eu e o Herbe, de Montalegre, portanto, onde temos ali uma casa muito bonita, e não fui eu que conduzi, porque também é a altura de agora usufruir um pouco das vantagens de viajar de alto nível.
E é essa a interpretação, é esse o estadio em que estou na minha vida e a relação ao automóvel, é esse uso fruto que eu gosto de fazer.
[00:01:35] Speaker A: Autor, realizador, produtor, rádio, televisão, só assim é que fez sentido o seu percurso profissional?
[00:01:43] Speaker B: Depois umas coisas induziram as outras. No fundo, a rádio é a mãe de toda a comunicação do século XX.
Eu comecei no século XX, naturalmente.
E depois foi a curiosidade relativamente à televisão, o convite de uns amigos de fazer essa passagem, que foi cedo demais, E eu entrei pela televisão, digamos assim, pela porta do Zip-Zip, que não foi fácil, no sentido de que aquilo era o programa de maior audiência, numa altura em que só havia uma estação de televisão, foi em 69, e eu trabalhava com o monstro da comunicação à época, José Fierro Gouveia, Carlos Cruz e o grande Raul Solnaz.
de modo que vinha com uma experiência fantástica de comunicação eletrónica no Brasil, onde eu tive a oportunidade de andar pelos Brasils com o Raul.
O Raul era uma espécie de um deus no Brasil, porque tinha a vantagem de ser um português, europeu, num mundo em que a televisão estava a estourar.
Estourar no sentido de...
vinham-se muitos aparelhos de televisão nessa altura, isto é, o período pré-globo, e eu tive a felicidade de o acompanhar alguns dias, várias vezes, no Brasil e ela era, de fato, uma personalidade muito querida do público brasileiro.
[00:03:28] Speaker A: E foram essas incursões que fez pelo Brasil que também o fizeram despertar pela cultura brasileira, nomeadamente pela música. Isto porque o Zé Nuno Martins foi das pessoas que em Portugal mais divulgou a música brasileira e os autores brasileiros.
[00:03:44] Speaker B: Ela divulgava-se por si própria, porque é uma fonte tão grande de criatividade, a música do Brasil, os autores brasileiros, os músicos brasileiros, que era natural que aquela música, num momento ou outro, explodisse conforme as geografias, mais cedo ou mais tarde.
Mas aquilo que aconteceu connosco já tinha acontecido antes.
Nos anos 40, 50, quando houve uma primeira chegada dos Brasils a Portugal.
E depois, no meu tempo, de facto contribuí muito para a divulgação, digamos, mais sistemática do que era o novo período áureo da música do Brasil, com aquela geração chico, o arco dos irmãos Veloso, Betânia ou Caetano, o Gil, enfim, os nossos bárbaros baianos, a Gal, e todos os outros, sei lá. Mas a verdade é que o meu interesse pela música brasileira vem do berço. O meu pai cantava-me canções do Catulo, sendo português.
Tinha tido amigos brasileiros a estudarem em Coimbra já nessa altura, colegas dele, e...
E quando eu era pequenino, ainda de berço, cantava-me canções de Ninar, do Catulo da Paixão Cearense, que é um músico nordestino, poeta e músico nordestino, muito importante, que eu mais tarde viria a estudar na faculdade. Eu diria que tive depois o alento de um grande mestre, e grande brasilianista. Os portugueses não sabem muito que ele foi um grande investigador da cultura brasileira.
Foi o professor Vitorino Numésio, que era famoso aqui devido às suas conversas de televisão, uns monólogos muito bonitos que ele tinha, ainda nos anos 60, chamado, se bem me lembro, era o título das crónicas semanais dele, E ele foi meu professor e instigou-me autenticamente a desenvolver esse meu gosto pela música e pela canção do Nordeste do Brasil, que eu depois iria estudar e foi tema do meu último trabalho de investigação. Eu competia a um universitário naquela altura.
E pronto, daí...
Eu tive que chegar à fala com, nessa altura não era a fala, eram os primeiros contactos epistolares por carta, com grandes autores brasileiros, o Luis Gonzaga, tinha uma música muito famosa em Portugal que era o 17 e 700, Eu lhe dei 20 mil reais para pagar três e três anos. Você tem que me voltar 17, 700. 17, 700. 17, 700. Não. A questão é, a música é muito engraçada.
[00:06:55] Speaker A: E acaba de referir uma série de grandes nomes da música brasileira que, aliás, já eram...
tinham sido referenciados antes ainda recuando agora um bocadinho nos seus tempos de rádio num famoso programa que também conduziu, que era o PBX.
Exatamente, na Rádio Clube. Eram os cantores da rádio, não é? Que era um espaço que dedicava aos autores brasileiros.
[00:07:20] Speaker B: Com a paciência dos ouvintes e do João David Nunes, meu querido diretor e amigo de longa data, aquilo foi um programa que durou uns 10 anos no ar e que, sim, era o tal espaço onde sistematicamente eu falava da música, da literatura e da vida da sociedade brasileira, das instituições da sociedade brasileira, que eu me dediquei a estudar mais profundamente. Nessa altura, ia muito ao Brasil, todo o dinheiro que ganhava era para passar temporadas no Brasil.
E tive a felicidade de conhecer o esplendor da Globo.
Fui muito amigo do jornalista Roberto Marinho, que era o dono da Globo, e depois de colaboradores dele, colaboradores da Time Life, com quem a Globo fez uma grande parceria internacional, e era a época também das vacas gordas, Portanto, a Globo proporcionou-me conhecer o Brasil profundo.
Foi por causa da amizade que estabeleci com gente da Globo que tive a oportunidade de visitar todos os estados do Brasil. Conheço o Brasil, como poucos brasileiros conhecem. Lés a lés. Lé e a Pocochuí. São os dois rios do Brasil.
[00:08:49] Speaker A: Voltando novamente à televisão, há pouco referiu a sua colaboração no Zip-Zip, com Cássio Cruz, Fialho Gouveia e Raul Sonado, e depois mais tarde faz um programa que se chama Mil Imagens, incomoda-o, tendo em conta a sua carreira tão abrangente, incomoda-o hoje em dia por estar muito colado a esse programa, às Mil Imagens.
[00:09:15] Speaker B: Não, de todo, tenho muito orgulho nisso e até agora mesmo uma velha e querida amizade com o meu realizador e com o autor do programa que eu tinha convidado como como realizador do programa, o meu querido amigo Vitor Mamete. Fiquei muito feliz de receber um contato dele. Acho que não nos víamos e eu não sabia que era feito dele.
Não nos víamos há muito tempo. Não, esse é dos marcos mais importantes da minha vida, porque, sabe, Mário, ainda hoje não passa um mês que eu não recebo um contato doido na rua, numa ocasião social qualquer, um contacto de uma pessoa que eu não conheço, que vem até comigo e diz você mudou a minha vida com esse programa.
Porquê? Porque foi na altura, esse programa contribuiu para abrir o horizonte das pessoas em relação a um mundo particular, singular da publicidade.
[00:10:17] Speaker A: Pois era isso que eu gostaria de lhe pedir, Zé Arnaldo Martins, para quem nos esteja a seguir, que seja mais novo e que não tenha acompanhado esse programa, fale-nos um pouco sobre a essência do programa, o que foram as mil imagens?
[00:10:33] Speaker B: Sim, o que foram as mil imagens foi aquilo que os três, cada um com o seu contributo, eu tive a ideia, baseada aliás num programa que gostava de ver sempre que há diferença, e que era dedicado ao universo da publicidade.
Aqui não havia nada disso, nem em Espanha, nem em Itália. Era esse programa. Nem no centro da Europa, países baixos, Luxemburgo, Alemanha, não se via falar de publicidade abertamente, o inside da...
todo esse ambiente, porque o que estava por detrás do anúncio, o que é que levava a companhia a decidir, ou uma sociedade comercial ou industrial, a decidir comunicar com o seu público, com os seus públicos, e foi isso, foi essa ideia que eu passei aos meus dois amigos, Vítor Mamed e Joaquim Pessoa. O Joaquim, infelizmente, era um grande poeta português, era um homem que dominava a palavra, o conceito, e tinha uma ideia na cabeça. Essa ideia, ele era um grande profissional de publicidade nessa altura, eram poucas as agências que havia em Portugal, havia meia dúzia de agências de publicidade e de grupos criativos em Portugal, e ele chegou ao topo da escala, era um dos mais importantes criadores da publicidade em Portugal.
E nessa altura todos coincidimos nessa vontade de partir à descoberta, o que estava para além daquilo que víamos como produto final, quer de rádio, de imprensa, de televisão, sendo que a televisão, num programa de televisão, era, digamos, a matéria-prima mais importante das nossas abordagens.
E, portanto, isso teve um impacto muito grande. A partir daí multiplicaram-se as escolas de comunicação publicitária em Portugal e, realmente, é crível que tenhamos aberto, não eu, mas nós e o resultado, a RTP abriu caminho para que muita gente se interessasse por esse mundo, e é a partir daí que a publicidade portuguesa dá um enorme salto qualitativo e quantitativo também, expandiu-se sob todas as formas o universo do consumo da própria publicidade, da produção do produto publicitário, E a própria perspectiva das empresas e dos empresários passou a ser completamente diferente depois desse problema, que foi realmente muito inovador e os três, creio eu, temos razões fortes para nos orgulharmos.
[00:13:16] Speaker A: Sim, até porque esse programa era, digamos assim, uma abordagem divertida sobre o impacto que a publicidade tinha nas nossas vidas ou na sociedade da época, não é? E foi inspirador, certamente, depois para os profissionais que estivessem contentes a esse programa.
[00:13:34] Speaker B: E ela desenvolvia também, sem querer ser pretensioso sobre isso, essa perspectiva que nós tínhamos, e em particular o Joaquim Pessoa, de explicar como, e quando, e porquê.
Isto é, havia um fundo, se quiser, sem pretensão, mas havia esse fundo pedagógico no nosso trabalho. Hoje em dia, o que vemos de programas que abordam, há uns programas na SIC, e na CNN sobre isso, mas são programas áridos sob esse ponto de vista. Não explicam, não.
No fundo são programas que eles próprios publicitam a publicidade e apenas isso. Naquela altura não foi apenas isso, por isso o programa teve tanto impacto, tanto mais que não era um tema, que tivesse sido abordado na comunicação portuguesa até essa altura.
[00:14:31] Speaker A: Na televisão, também passou pela TVI, enfim, em pleno mundo do audiovisual, alguma vez sentiu que a voz era a sua arma mais eficaz em relação à imagem, por exemplo?
[00:14:43] Speaker B: Ó Mário, você sabe que nós não ouvimos a nossa própria voz. Quer dizer, eu ouvi-mo-la de maneira diferente, mas não...
Não temos apreciação. Quem diz o contrário...
Eu acho que nem o Pavarotti sabia ouvir-se a si próprio. Ele sabia corrigir-se, e isso eu procuro saber também.
Nem o meu fundo... Eu estudei Linguística na faculdade, é uma das minhas Gostei mais de estudar linguística do que literatura, por exemplo. E por isso o uso da língua, da linguagem, das palavras. Eu admiro muito esta...
A língua em si é um mistério. Como é que a aprendemos? Como é que a começamos a falar?
Meninos, pequeninos, bebês, não é?
Como é que começamos a falar ordenadamente, da maneira parece que é uma coisa que já temos dentro de nós e que está adormecida ainda na fase do nascimento e do primeiro desenvolvimento e depois a pouco e pouco parece natural, não é?
[00:15:50] Speaker A: Vai despertando, não é?
[00:15:51] Speaker B: Vai despertando. É, vamos despertando.
Até que, no fundo, é um sistema lógico, a língua, qualquer língua é um sistema lógico, que se transforma depois em poesia.
Já reparou?
Isto é um dom natural extraordinário. Quanto à voz, é apenas o instrumento, não é mais do que isso. E eu não tive nunca essa noção.
As pessoas diziam-me, e eu ainda hoje me admiro que digam, até porque a voz evolui para pior à medida que a gente envelhece, não é? Eu hoje tenho a voz... Tenho pena de ter perdido aquilo que eu julgo que eram os meus graves.
acentuei as minhas sibilantes. Isto são coisas técnicas, mas isso sim é o que eu criticamente penso da minha própria voz e falo acerca disso. Portanto, a voz, eu acho que...
O querer conversar com os outros, o querer ouvir histórias e saber contá-las, ou reproduzi-las, ou criá-las, até depois do ponto de vista, o salto para a imagem, são etapas muito bonitas na vida que eu tive a felicidade de ter, do ponto de vista profissional, fui muito feliz, sou muito feliz por ter acumulado os conhecimentos, mas, oh Mário, veja bem, nós tivemos professores na vida. Nós, eu digo nós, eu sou bastante mais velho do que o Mário, como é óbvio, mas eu acho que ambos beneficiámos de ter professores que o eram sem que quisessem sê-lo. Eram-no naturalmente para nós, a gente admirava-os.
Olha, a minha prova de fogo, isto é, a primeira vez que eu fui profissionalmente ler um texto, havia o hábito, na emissora nacional, de se pregar uma partida ao Neófito.
E eu tinha um texto enorme que me tinha sido distribuído num conjunto de várias páginas, de que os três falavam, de que os três iríamos interpretar, com a Maria Leonor.
e o seu marido, ex-marido na altura, Pedro Moutinho. O Pedro Moutinho era uma fera para as pessoas. Bem, transformou-se num dos meus grandes mestres e amigos porque era uma pessoa fantástica, elegantíssima.
Bem, e quando ele percebeu que eu tinha aquele parágrafo extensíssimo para ler numa folha de papel, a tremer com várias verdes, ele chega com um isqueiro, acende o isqueiro longe do microfone, próximo da folha, da parte de baixo da folha, e portanto, à medida que eu lia para baixo, descendo, não é? O fogo ia consumindo a mão sozinha. Portanto, eu tinha que ler mais depressa do que era normal. Consegui ler e em outra folha havia uma cópia. Nessa altura ainda não havia.
que ele tirava-se a setência.
E, portanto, foi uma verdadeira prova de fogo a que eu fui sujeito logo da primeira vez.
Eram grandes mestres.
E só de ouvi-los, só de olhar para eles, a gente aprendia. E essa sorte ninguém nos tira.
Numa altura em que não havia escolas de comunicação, Era pelo nosso trabalho e pela nossa capacidade de assimilarmos coisas novas que iríamos progredir e eu tive essa sorte.
[00:19:26] Speaker A: Isto está a falar de uns tempos em que um estúdio de rádio era completamente diferente do que é hoje.
O que é que se sente quando hoje visitam um estúdio de rádio? Qual é a sensação que têm?
Desde a iluminação ao equipamento, como é que se sente?
[00:19:42] Speaker B: A verdade é esta. Quando o rádio cai, a gente tem a ideia de que é sempre indireto.
Às vezes não. A maior parte das vezes não é indireto.
E já naquela altura a gente pré-gravava pequenas unidades da comunicação, pré-gravava antes daquilo ir para o ar.
E, portanto, esses atos da pré-edição e depois da montagem, como se dizia hoje, hoje fala-se mais em produção técnica, Esses atos são mistérios que o público não conhece, mas para nós são momentos muito... Porque somos nós a confrontarmo-nos com tudo o que temos para dizer sem querer chatear, nem maçar, nem aborrecer ninguém.
Ou seja, depois temos que ser capazes de cortar o que está a mais.
Esse momento da pré-edição, antes de...
daquilo ir para o ar, são momentos muito saborosos para um verdadeiro profissional.
E eu devo confessar-lhe que essa era a altura em que eu me confrontava comigo mesmo, ouvia, Lá está, a voz estava muito aguda ou muito grave, com muitas sibilantes ou com poucas, não brilhava, não tinha brilho próprio, os médios não estavam suficientemente definidos.
Tudo isso são pequenas operações que ajudam a transformar para melhor o mal que a gente vai fazendo.
Com isso se aprende, com isso se evolui, E eu, quando hoje vejo equipamentos de gravação, de produção ou de transmissão da rádio, tenho pena que eles não tenham aparecido mais cedo, porque nós trabalhávamos muito.
Cortávamos a fita com uma tesourinha, colávamos um bocadinho para fazer uma emenda. Tínhamos que colar com fita-cola, uma fita-cola especial.
Depois de ter cortado no sítio exato, muitas vezes lá ia a última sílaba para o galheiro.
E nessa altura, Ele sonhava com esta ideia de nós termos o espectro do som desenhado num ecrã qualquer de forma, como hoje fazemos, que com dois toques de dois dedos se resolve uma questão dessas, se corta ali um espacinho que está a mais, uma respiração que está a mais sofrida.
Isto de fumar não é boa ideia, para quem fala.
E, portanto, não é que seja inveja, eu vivi tempos fantásticos, tempos heroicos até.
Aprendi à minha custa, como todos os meus colegas, nós éramos professores de nós próprios e ajudávamos-nos muito, havia muita solidariedade uns com os outros. Também havia, às vezes, algumas corridas uns contra os outros, mas havia Era muito acentuado esse clima de comunhão, de equipa e de...
[00:23:04] Speaker A: O salário era positivo, portanto era saudável.
[00:23:06] Speaker B: Era, era, sem dúvida.
Hoje é uma beleza.
Eu faço em casa aquilo que demorava. Faço em casa e em minutos aquilo que demorava horas e horas num estúdio de grande investimento, tudo era muito caro.
Enfim, mas é evolução natural. Eu não sei do que é que eu gosto mais, se é do tempo atual, em que tudo é muito mais fácil, se é do tempo em que a gente tinha que lutar pela qualidade do produto.
[00:23:36] Speaker A: Exatamente.
[00:23:37] Speaker B: A este nível.
[00:23:38] Speaker A: O Zé Nuno Martins tornou-se sócio do OCP aos 18 anos por oferta dos seus pais.
[00:23:44] Speaker B: Foi.
[00:23:44] Speaker A: Foi dos melhores presentes que teve nessa altura.
[00:23:47] Speaker B: Foi. Mas há um gap, ainda há pouco tempo, há um ano, eu recebi um diploma do presidente Carlos Barbosa a dizer que tinha 50 anos, mas eu tenho muito mais do que 50 anos de sócio. Portanto, houve ali um tempo, eu creio que foi o tempo da Trump.
em que, de facto, da tropa e da minha, nessa altura, eu trabalhar, eu não sei como é que o dia chegava para tanta coisa que eu fazia ao mesmo tempo. Depois também se meteram as produções de espetáculos, a gestão de pequenas empresas disto e daquilo e tal.
E muita publicidade, eu gravava, não toda a publicidade que queriam que eu gravasse.
[00:24:30] Speaker A: E até de uma célebre discoteca nos anos 80, aquela loucura chegou a ser-se.
[00:24:34] Speaker B: Deu muito que nos deu a todos, éramos cinco amigos, cinco sócios.
Nenhum fazia vida daquilo e todos tivemos um grande, sentimos que era o verdadeiro grande éxito. Nós fomos, Mário, os maiores vendedores de whisky da Península Ibérica, vários anos consecutivos.
E as marcas de whisky convidavam-nos a ir, visitar.
[00:24:58] Speaker A: Mas que é na fase de loucuras.
[00:25:00] Speaker B: Sim.
Sim, éramos os maiores do que os maiores vendedores de Madrid e da Gran Via e de Barcelona, do que a Invalência, do que as boates da Invalência, o Berg e Dorm.
O Loucuras era impressionante, foi um fenómeno, outro fenómeno impressionante que de repente se intrometeu nas nossas vidas, nós ganhámos aquilo de raiz, o Vasco Val, o Fernando Jorge Correia, o Cecílio Rogões e o Zé Dávila.
E foi o faxinho.
[00:25:34] Speaker A: Estamos a falar também, Danilo Martins, estamos a falar de uma época em que de grande, do surgimento de grandes casas noturnas, de grandes hospitais.
[00:25:43] Speaker B: Esta foi a primeira das primeiras.
[00:25:45] Speaker A: Numa altura em que as noites de Lisboa estavam a criar novas entidades.
[00:25:50] Speaker B: Exatamente, e a concorrer com a movida madrilenha, que era desse mesmo período, não é? Ela moveu-se. Nós tínhamos muitos clientes que vinham de noite para Lisboa para curtir. Então, às quintas-feiras, com a Orquestra da Felicidade, do Brilho e da Glória, que eles não tinham em Madrid, uma orquestra em nenhuma discoteca. Passaram a ter depois disso.
Mas aquilo foram noites absolutamente divertidas.
magníficas, universais, para todos os gostos, para todos os públicos. Nós tínhamos, você sabe, Mário, que a certa altura nós tínhamos matinês de manhã, verdadeiros matinês, e soares à tarde, conforme para grupos e etários diferentes, no mesmo dia.
Sábados, de manhã, sábados à tarde e sábados à noite.
[00:26:45] Speaker A: Um autêntico non-stop quase.
[00:26:46] Speaker B: Non-stop. Aquilo era uma grande casa de produção de não apenas de música para dançar, mas de eventos, de acontecimentos de toda a natureza.
E fomos realmente muito, muito felizes com esse projeto.
[00:27:01] Speaker A: Olhe, Nuno Martins, como é a sua relação com os automóveis?
Eu sei que a competição automóvel não é exatamente a sua praia.
[00:27:09] Speaker B: Não.
[00:27:10] Speaker A: Mas no início da década de 70 participou num ride que ainda hoje lhe deixa agradáveis memórias.
[00:27:16] Speaker B: Sim. Olhe, Mário, dou-lhe uma novidade. Nós estamos a trabalhar, os que ainda cá estão, com a Stephanie Coimbra na produção de um documentário que reúne as memórias e os depoimentos, os testemunhos de australianos, europeus, americanos, canadianos, portugueses, naturalmente, fomos 11 portugueses selecionados pela CITROEN, se eu posso dizer a marca, porque não havia estelantes nessa altura.
[00:27:49] Speaker A: Estamos a falar desse raid, não é?
[00:27:51] Speaker B: Sim.
Quando fomos convidados por dinamização do Francisco Romãozinho, dinamização em Portugal, a ida central Citroën-Paris, o Sr. Rossier, se eu não me engano, para ir fazer o segundo, já não foi o primeiro, foi o segundo ride Paris-Persepolis-Paris.
Bem, foi uma aventura, porque nós íamos montados em Diane, e só podiam concorrer dois cavalos, Diane e Meari, que eram aqueles vipinhos, na altura, muito engraçados.
Pronto, fomos 400 carros daqui para lá, atravessamos parte da Europa, atravessamos a Turquia toda, num sentido e no outro, sentido oeste-leste e leste-oeste, à volta.
Descemos praticamente até ao Mar Vermelho, perto, menos de uma centenária de quilómetros do Mar Vermelho, à cidade mágica de Persepolis, onde foi feliz o grande imperador Dario, há 2.500 anos.
Foi das últimas grandes gestas internacionais do Shah Reza Pahlavi e da Imperatriz Faradliba.
que celebravam a chamada Revolução Branca que antecedeu e provocou a chegada dos ayatolis ao Irão.
De resto, em todas as portas de todas as casas de banho onde entrávamos, na parte de dentro, havia citações. Sabe que eu estudei ali seis meses de árabe, escrita árabe.
A língua que eles falam lá é o farsi.
e já nessa altura era um farsi, naturalmente.
Mas consegue ler-se e tirar-se o sentido porque a escrita, a grefologia, era, de facto, no resto das línguas árabes. E, portanto, havia coisas que se tiravam pelo sentido.
E já lá estavam, nessa altura, nas partes de trás, nas partes interiores das portas das casas de banho, os vivas, ou ayatollah, ou meini.
Quando ele ainda estava exilado em Paris e prestes a voltar à sua terra e fazer aquilo que estão a fazer, impuseram um regime absolutamente ditatorial, que a mulher não tem lugar na sociedade. É para nós impensável, porque aquilo era um país, não digo que fosse um país europeu, porque não era, mas era um país onde nós fomos acolhidos de braços abertos.
Uma grande operação de charme feita. Fizeram-se estradas para que nós pudéssemos passar.
Tierão, nessa altura, era uma cidade onde não havia calçadas, não havia passeios.
Nem em Istambul, muito menos.
Por exemplo, falar apenas dessas duas cidades.
E, no entanto, foi uma coisa surpreendente para todos nós que vivemos isso e cujas memórias estamos a recuperar com a feitura deste documentário, que é sensacional e que qualquer dia aparece, pelo menos em duas das grandes plataformas mundiais, porque há muito interesse internacional à volta da produção deste documentário. Mas curiosamente, já agora, eu não sou de me ficar, mesmo a Citroën que teve esse, naquela altura, o privilégio de investir nesta operação, que motivou o interesse pelos automóveis de uma gente nova, Da mesma forma, 50 anos mais tarde, a Citroën não apoia a realização, não apoiou a realização deste documentário, que é uma coisa absolutamente inacreditável do meu ponto de vista. Ça ne va pas s'en dire.
[00:32:12] Speaker A: Ó Renan Martins, foi um gosto tê-lo aqui. Muito se poderia falar, mas infelizmente...
[00:32:18] Speaker B: O tempo é curto, sim.
[00:32:19] Speaker A: Exatamente.
Muito obrigado por ter vindo ao estúdio.
[00:32:21] Speaker B: De nada. Gostei muito, Mário. Obrigado pela sua recepção e do apóvio ao clube.
[00:32:27] Speaker A: Muito obrigado.
E obrigado por estarem desse lado. Podem seguir-nos no Spotify, Soundcloud, Apple Podcast e nas redes sociais do ACP.